A “Stela Matutina” na vida de
Frederico Ozanam
Todas as maravilhas do sistema planetário sempre foram santamente
aplicadas por antonomásias aos fulgores morais e aos esplendores físicos da
Virgem Mãe Santíssima de Deus e dos homens. Assim, nas magnificências da
"Stela Matutina", Nossa Senhora as designas e mostra através das cintilações dos seus dons e virtudes;
do brilho de suas prendas e graças.
Essa natural analogia figurativa, simbólica, que estabelece
a comparação entre Ela e esses astros luminosos é perfeita e feliz, certa e
justa, beata e sublime:
"Astros
que saltam como espumas de ouro,
O mar
em troca acende as ardentias,
Constelações
do líquido tesouro ".
Brilhantes sem jaça, focos sem arestas, clarões lucilantes... estrelas exatamente sugerem, inspiram, extasiam e seduzem!
Por isso a mesma inspiração afetada de Castro Alves
decantara:
Nos
claustros ermos e vãos,
Passam
as contas douradas,
Das
estrelas pelas mãos".
Mas Nossa Senhora, antes de tudo, como "Estrela"
foi a esperança da Redenção, porque a Esperança é Luz!
Uma boa coisa anunciada de longe - o que caracteriza a expectação
- é já uma Luz, um princípio de existência propiciando um antegozo, uma antecâmara
da felicidade!
Já no Paraíso Terrestre, depois da culpa original de Adão fora
a Virgem Santíssima a "Estrela" por Deus prometida.
Desse auspicioso acontecimento que nos replena da mais santa
ufania originou-se a composição do sublime cântico sacro reboante na nave de
nossos Templos Marianos.
"Lá no Édem,
entre nimbos funestos ,
Que estendera. a
serpente infernal,
Foste a Estrela
por Deus prometida
Foste
já da Esperança o Fanal!"
Com efeito,
as estrelas fascinam todo o mundo, porque sabeis, com elas é que os Céus narram
as glória de Deus! ...
A propósito, ouvi, caros Confrades, o episódio que nos
relata o poeta.:
"Uma
vez São Joaquim e Santa Ana rezavam
a Jeová
de Israel, que ternamente amavam.
Dizia
São Joaquim com santa devoção:
"Ó
Deus de nossos Pais, Deus santo de Abraão,
a quem
dissestes Vós em palavras tão belas:
"mais
filhos gerarás que do céu as estrelas",
fazei
que uma estrelinha, ao menos esplendente,
eu
coloque no céu de tão ditosa gente! ...
Minuto
de silêncio! Até mesmo a candeia,
atenta
à oração de amor não bruxoleia...
A prece
de Santa Ana é que o veio quebrar:
“... e também, meu Senhor: as
areias do mar
não hão
de ultrapassar em número infinito
fazei
que ao areal eu de um grãozito! ...
E os
dois, então, em coro: E, assim o sangue nosso
há de
regozijar, ao ver o Ungido Vosso.
O lume da candeia, imóvel, suplicante,
num anseio de amor tornou-se mais brilhante ...
E o
seio de Ana viu, sem mácula, luciléia
a
matinal Estrelinha, o grãozito de areia! ...
Meus caros: como ninguém melhor do que Nossa Senhora, revela
as grandezas de Deus, retrata as magnificências do Criador, decorre a Igreja
haver denomina do a Virgem Santíssima: a "Estrela Matutina! ... "
É "Matutina"
porque, na aurora, as estrelas se nos mostram mais suaves e mais ricas de
expressão.
***
* *
É certo, entretanto, que por maiores os trabalhos, os
sofrimentos e as lutas ocorrentes na rápida trajetória de sua vida, Frederico
Ozanam, jamais perdera a habitual bonomia cristã. Fossem como foram, de alto
teor heroico as suas vicissitudes; a verdade é que nunca, para ele, o dia se
fez sem luz ; jamais, para ele, o Céu se viu sem estrela.
Em cada alvorada, um céu pleno de estrelas franjava o
horizonte e tornava dourado o seu dia.
A "Stela Matutina" era a Vida da sua vida!
No Natal do Salvador, a Estrela levou os Reis Magos à casa
onde Jesus morava. Assim, semelhantemente Nossa Senhora era a "Estrela"
que conduzia Frederico Ozanam nos caminhos da existência.
Através de todos os tempos, os fiéis devotos de Nossa Mãe
Santíssima, sempre a invocaram e a saudaram como sendo a "Estrela
Matutina".
A própria Ladainha Lauretiana, tão tradicional quanto
sublime, tem, sob o titulo "Stela Matutina", uma das mais fúlgidas invocações!
A "Estrela" , porém, que norteou a vida e obra de Ozanam, já fora,
neste mesmo salão de atos, interpretada proficientemente pela Exma. Sra. Santa
Melillo, quando proferiu a sua conferência subordinada ao tema: "Frederico Ozanam e sua devoção a
Nossa Senhora", na qual ideias e fatos, expressões e conceitos, tão
ricos e enricados, constituíram um encantamento de que a assembleia só fruiu
análogo prazer na ocasião em que uma sua irmã, a Exma. Sra. Regina Melillo,
também desenvolvera o seu precioso trabalho sobre “A Poética de Frederico Ozanam".
Essas oradoras, não só, em verdade,honraram a tradição
paterna como despertaram nos parentes, amigos e confrades vicentinos, justa
emulação, pois, não descansando sobre os louros conquistados, continuam
produzindo, laborando como reais valores feministas de pensamento e ação em
nossas letras.
Atidos, pois, ao mesmo assunto, que comporta estudo sob múltiplos
aspectos, como no-lo referira o preclaro confrade Presidente, Comendador Dr.
Vicente Melillo, vimos, aqui, por nossa vez, apenas falar com discrição,
considerando, afirmadamente, Frederico Ozanam, no galardão de católico
integral, de líder do movimento religioso do seu tempo na Sorbone, haver
desempenhado uma influência de autêntico paladino da vocação Mariana. E fora,
nesse poderoso apostolado, nesse verdadeiro Fortim de Salvação, aquinhoado,
favorecido, privilegiado pela receptividade fulgurante da "Stela Matutina".
Seu culto era da mais alta hiperdulia!
Ocorre-nos, neste passo, saber de como o espírito
devocionário de Ozanam para com a Virgem - Medianeira de todas as Graças,
fulcro precioso de todas as Bênçãos, Rainha inexcedível das inteligências e
Soberana isenta dos corações - teria atingido a essas gigantescas proporções
características das almas eleitas, dos justos do Céu?! ...
Quais teriam sido os fatores psíquicos, históricos,
naturais, somáticos, sociais para a ascensão desse modo de ser, dessa maneira
de se devotar - de corpo e alma, espírito e verdade.
à "Estrela" das estrelas celestes, à "Stela
Matutina" de que hoje nos ocupamos ante as influições decisivas de seu matriarcado
na vida e obra sensacional do jovem mariano : ANTÔNIO FREDERICO OZANAM?!
Inicialmente cumpre-nos afirmar que o devotamente de Frederico
Ozanam à Virgem, como no-lo demonstrara a Exma. Sra. Santa Melillo, excedia a
toda a expectativa que se possa imaginar; escapava a todas e quaisquer
previsões, por mais argutas e eletivas que se fossem erigir.
Nem seria caros Confrades, um excesso, um exagerado excesso nosso, se qualificássemos a devoção marial do grande devoto nos típicos moldes
da obsessão - mas obsessão, entenda-se, santa, hiperdúlica, amorável, filialíssima
e fidelíssima; mas elevada ao maior requinte de sua perfectibilidade somática;
amor - veneração, sem raias nem peias. Era, por isso, um estado de alma, um gênero
de ser. uma permanente, ininterrupta, iterativa, ascensional, incoercível
exaltação que escapa as contingências do
tempo e ultrapassa as limitações do espaço....
Mas de como Frederico Ozanam se houvera deixado invadir por
essa aurora do Paraíso, que é a devoção a Maria Santíssima - a "Estrela de
Manhã"?!...
Não só o culto prestado aos pés da Virgem era grandíloquo no
seio da Família Ozanam, segundo os seus biógrafos,especialmente por sua
Veneranda genitora que o teria consagrado, como a todos os seus descendentes,
à filiação de Maria. E, ainda, o santo onomástico, Santo Antônio, entre os
prestígios de que dispunha, desde a infância de Ozanam, teria inspirado no
ânimo do afilhado Antônio Frederico Ozanam o espírito Mariano.
Efetuada a admissão na Congregação, realizara-se a cerimônia
da recepção da Fita Azul para uso a tiracolo, no peito - símbolo da envoltura
ampla da alma de Maria sobre os seus mais consagrados filhos submissos,
vassalos, escravos ditosos do amor por Nossa Senhora!. ..
E, o ser Mariano, já era o hino que lhe arrebatara a alma:
Ser Mariano, é ser moço destemido,
Que ao escárnio, dos todos e mundanos,
Com firmeza à Virtude se acha unido,
Desprezando do vicio os vis enganos.
Ser Mariano, é prostrar-se agradecido,
Ante Deus que, por nós, pobres humanos,
Para ver seu rebanho redimido,
Se entregara ao furor cego dos insanos.
Ser Mariano é achegar-se, com respeito;
A Jesus, na Sagrada Eucaristia;
E também, sempre alegre, satisfeito,
Ter na terra a suprema regalia,
De trazer, com gáudio, sobre o peito,
Uma nesga do manto de Maria!"
Essa, de um modo racional e histórico, a gênese mística da
devoção Mariana que, em Frederico Ozanam, se desenvolvera, se ampliara e
frutificara qual uma loira fértil, fecunda messe - novo e verdejante espécime
de planta por todos louvada, apreciada, desejada. A escola desse grande amor de
Frederico Ozanam à "Virgem Estrela da Manhã" é fácil rememorar sobre os
joelhos maternos teria o infante Antônio, de mãozinhas postas e olhar súplice, balbuciado a sua
primeira "Ave Maria” - em repetição de palavra por palavra dessa oração
enunciada como um hino à Mãe do Céu pela sua própria Mãe da Terra. Depois, nas
aulas de Catecismo teria aprimorado o aprendizado das demais súplicas e ações
Marianas preparatórias para a primeira Comunhão e para o cordigerato franciscano.
Adulto, Frederico Ozanam, qual alpinista do Céu, a subir a
escada luminosa de Jacob, mais se aproxima de Maria - já então, com devoção não
só sentimental como a de menino, mas, agora, também racionalizada de Emérito
Mestre - acatado, prestigiado, cultuado em todos os ciclos científicos e
literários do seu País!
Com a amplitude da sua devoção Mariana, dilatou-se,
igualmente, a projeção do renome de Ozanam, cuja humildade de santo, não nos dá
liberdade para a proclamar como sendo já sua glória, seu triunfo!
A permanência e passagem de Ozanam pelos países da Europa,
sua viagem a Itália, principalmente, notabilizaram-se por suas visitas a todos
os Templos, Basílicas e Ermidas de que a Virgem, a "Estrela da Manhã", fosse a
Padroeira. É um dos traços marcantes na sua existência, na sua peregrinação aos
Santuários _ as demonstrações de seu culto à Nossa Senhora - a Estrela da sua
Vida! Nas armas heráldicas de sua casa - lá estava a dileção de seus amores à Virgem. Santíssima.
No primeiro plano do seu oratório particular, lá se via
ereta a imagem da Gloriosa Mãe de Deus e nossa, num tufo de flores colhidas
diariamente pelas próprias mãos de Ozanam e dos queridos familiares de seu coração. Á frente
da estátua nunca faltava a luzerna votiva em chama vivaz, ardente e perene! ...
Em suas produções poéticas, Nossa Senhora como cúpula culminava,
dominava !. .. Em suas orações, mesmo as acadêmicas, a "Estrela da
Manhã" haveria de iluminar quaisquer dos períodos - fosse o princípio, fosse
o entremeio do assunto, fosse o desfecho ou mesmo a ideia derradeira - que
seria sempre a projeção de sua
"Estrela".
E foi assim que Frederico Ozanam nos deixou um vivíssimo
exemplo, dinamismo estimulo, pelo apostolado Marial, de que ele fora o
protótipo, o que mais se destacou, o arauto!
Ozanam a propósito - como diria São Paulo - oportuna ou
importunamente - a todos transmitia, pela palavra ou pela pena, em particular
ou de público, ao pobre ou ao rico - indistintamente - os carinhos de sua
hiperdulia pela nossa Mãe do Céu - merece ele a nossa superlativa veneração. Era
à Nossa Senhora a quem justa e enternecidamente Ozanam atribui a todos os
triunfos de sua vida. Em tudo sempre concluía, encomendando-se a Maria
Santíssima, principalmente, para que, no dia do chamado divino, nenhum de nós, dizia
ele, venha a faltar ao encontro no Céu: nenhum de nós, deixe de ser recebido na
Bem.aventurança Eterna!
E, é aceitando de coração enternecido esses auspícios formulados
com a gravidade tocante de um codicilo de Ozanam para a bem aventurança de
todos os Confrades, os Congregados e Irmãos, que temos a lembrança clara,
precisa, translúcida de sua notável devoção mariana,
Caros confrades Vicentinos:
Ultimando este rápido contributo em prol das prerrogativas
de que se engrandeciam a alma azul de Frederico Ozanam, ornada também pelo
emblema de Congregado de Nossa Senhora, é momento de vos afirmarmos que, em declínio precoce, ante os imperativos de enfermidade implacável, confirmou Ozanam,
mais uma derradeira vez, a potencialidade luminosa de sua "Estrela",
pois exatamente aos 8 de setembro de 1853, data da "Stela Matutina"
de sua vida terrena, elevou-se para os limites celestes dos Tabernáculos
Eternos.
Eis por que, em conclusão, vemos na vida de Frederico Ozanam
o fulgor de uma "Estrela" - não de incomparável grandeza como Nossa
Senhora para narrar as glórias divinas, mas uma "Estrela" da
Constelação dos Santos, para "ín aeternum" cantar as misericórdias de
Deus:
(decantado através da lira de Durval de Morais):
Coração de Maria. - alegre fonte
De água
pura da Vida e da Esperança ...
Argentino
luar florindo o monte
E
plantando rosais na vaga mansa!
Coração
de Maria - estrela de ouro ...
Estrela
ou flor? Uma aromada estrela,
Suspensa
sobre o triste sorvedouro,
Mas sempre
clara, e, eternamente bela!
Coração
de Maria - excelso fruto,
Alimento
das almas inocentes,
Que
enche de paz os corações em luto,
E enche
de amor os corações descrentes!
Coração
de Maria - oceano em calma,
Berço
de águas azuis cantando à lua,
Para
encantar a solidão de uma alma,
E
consolar uma criança nua!
Coração
de Maria - altar humano,
Onde se
canta a Missa do Calvário:
Estrela,
flor, luar, fonte, oceano;
Berço,
monte, jardim, altar, sacrário! ... "
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