S. S. PIO XII E FREDERICO OZANAM!
Ainda não tivemos na
ampulheta do tempo, o seu escoar natural para viver a realidade! O tempo, neste
caso, é a clemência de Deus que nos abranda o choque emotivo deixando-nos sob a
sombra da dúvida: será que não mais o temos?!
Para se erguer o condigno
elogio à saudosa personalidade de Pio XII deveríamos imitar a Jesus quando, um
dia, como sabeis, referindo-se ao seu precursor João, disse: Era a tocha que ardia... e iluminava!
Ardia, no divino amor; e, iluminava... na luz da Verdade! Papa dos Prodígios! Paladino
da Paz! ”Pastor Angelicus".
Impar na humanidade
quando, invocando a Deus, erguia a destra lirial diáfana e descarnada para o
gesto da Bênção, ocasião em que, no dizer unânime dos fiéis via frontes curvadas
para o chão, joelhos pousados em terra e "até sábios e poderosos, fidalgos
e condecorados, transmudarem a atitude e o porte encurvados, submissos, avassalantes,
servis e reverentes, como que tocados e rendidos, tangidos todos pelos efeitos
da majestosa presença "ao verem surgir, à sua frente, aquela figura magra,
alongada, mística e única, atraente e sedutora, impressivamente paternal! ...
Atuando sobre as
faculdades humanas, além das lágrimas que aperolavam os olhos de todos, em
muitos, os clamores e arremessamentos culminavam em gritos e delírios a que Sua
Santidade incontinente acalmava com o toque delicado de sua destra sobre um
rosto, aqui; o alisar de sua branca mão sobre uma cabeça, acolá; ou, mais além,
fazendo incidir com a expressão de ternura angélica através dos potentes
óculos, um dos seus olhares que tudo diriam aquelas almas assomadas pelos
desmaios e dos êxtases, arrebatadas pela euforia do misticismo! ...
Donde vinha essa força
inexplicável de atração, pergunta um articulista ilustre; donde provinha essa
irradiação potencial que fazia flutuar no ambiente aquele fluído, aquela vibração, aquela força imponderável,
sobrenatural, de enlevo, júbilo, sensibilidade e graça?!...
Decorria, todos o
vislumbravam, da Santidade de Pio XII...O Santo é o homem da plenitude! ... Sobre
a terra não para, mas paira porque é do céu. Sempre, desde menino, Eugênio
Pacelli frequentando a escola primária já manifestara aos próprios condiscípulos
o seu ideal desejo: ser Santo, como sugestivamente a educadora D. Regina
Melillo de Souza nos informa no seu belo conto apostólico para a infância
esperançosa de nossa terra: "Um
Grande Exemplo" recém inserido no Suplemento ilustrado do órgão "O Correio Paulistano", destes dias.
Responsável pelo mais
eletivo mandato católico - "Urbe et Orbe", na vertigem deste século,
era Sua Santidade o "motocontínuo", o "dínamo humano" a
produzir, a tudo acudir, desde o amanhecer do dia até as tenebrosas horas avançadas da noite!...
Era com aquela profundeza do olhar da águia, considerado
pelo consenso dos povos, e até pelos adversos na Fé: "0 maior homem do seu
século!" Provou simultaneamente, que tinha a preocupação social e o pendor
científico de Leão XIII; demonstrou possuir a Piedade e o Amor Eucarístico de
São Pio X; revelou ter a diplomacia e o espírito pacifista de Bento XV; e, não
pode ocultar ser também dotado pelo ardor apostólico de Pio XI. E, mais que
todos, possuía o sentido, o espírito da sua atualidade; a grande acuidade supervisora
das necessidades da sua hora; por isso, entre outras verdades, inspirado,
orientava como um autêntico oráculo :
"Há
mais caridade em orar pelos felizes do mundo do que pelos desditosos dos
cárceres e hospitais."
Tal no-lo observa um analista fidedigno: "Era Sua Santidade o Varão que durante todo o
dia se fizera para todos". “Criatura que, mais do que em si mesma, pensava
nos outros".
Encarnava, assim, em sua augusta
pessoa a valia, o préstimo do intercessor, do medianeiro configurando, até
fisicamente, um traço branco, vertical e
heril qual perfeita coluna de jaspe a ligar o dilema, a unir o binômio:
A
TERRA E O CÉU!
O
Bem que espargiu,
a
Ciência que disseminou,
a
Doutrina que divulgou
a
Operosidade com que assombrou,
Pacifismo
que pugnou,
exemplo
que apostolou
as
conversões que conquistou
os
milagres que operou
a
tenacidade com que empolgou,
enfim,
o Gênio que confirmou -
foram dons supremos com
que Deus Nosso Senhor dotara Pio XII - verdadeiro predestinado a que S. S. correspondera
não como um homem apenas, mas condigno qual uma legião!
Biógrafos consagrados a
PIO XII narram que na ocasião da luta bélica entre os povos, um dos mais
emocionantes episódios da vida de S. S., fora quando, num como que desafio à morte,
mantivera-se de atalaia no próprio terraço de São Pedro, como sentinela
impávida e solerte, na defesa do seu Fortim Sacrossanto! Com a cabeça alta e de
olhos fixos no Céu, o corpo ereto, hierático, conservando as mãos e braços distensos
horizontalmente, assomou aquela atitude que todo o mundo conhece, estatuária de
uma cruz humana de súplica, apelo, pureza, fé, esperança, verdade e amor!
Acolhera, então, todos os foragidos, conseguindo a
conversão do próprio Rabino dos Judeus em Roma! ...
Caros Confrades :
A força espiritual da
vocação sempre exerceu o primado do êxito, do sucesso e da glória na vida dos
grandes homens justamente cognominados os gênios da Humanidade.
Emulo dos maiores vultos,
a todos ultrapassou não só na cultura e supervisão ciclópica, investigadora e
acatada, como também na prática daquela virtude que ilumina até a sombra e que,
como sabemos, torna o pequeno, grande, e, o grande, grandíssimo - a Santa
Humildade vivida até "post mortem" no seu Codicilo em que pedira
simplicidade de campa e declarara renúncia de estátuas!
Ontem, vésperas do florilégio
da Virgem, ano Centenário das Aparições de Lourdes; mês de Nossa Senhora do
Rosário e também dentro da oitava de nosso Pai Seráfico, a cuja Ordem Terceira
S. S. pertencera, na manhã do dia 9 de julho fora a sua alma convocada para a
Eternidade.
Ante o seu trespasse, de
todos os quadrantes do mundo erguem-se as manifestações da Humanidade em
veneração e amor à santa memória do inolvidável Pai Comum da cristandade, o
Supremo Vigário de Cristo! E, em cada órgão publicitário, em cada articulista
exponencial, mesmo os contrários à Religião, cada qual revela a preocupação de
epigrafar e desenvolver as recordações com as ideias mais edificantes e
expressões mais eletivas como: "A celeste ascensão de um Santo" e "A
Igreja precisa de outro sábio para substituir o Santo Pio XII".
Um dos traços
característicos de Pio XII era, por certo, o sentido iluminado com que fazia a
sua palavra pastoral ser confirmada pela ação apostólica. Em todos os atos patenteava,
com a naturalidade dos santos, o seu amor pela Paz na terra aos homens e a
Glória, a Deus, nas alturas - Glória, em cuja apoteose da Visão Beatifica,
estará S. S. lá no Céu, agora fluindo, como todos o afirmam e, entre a plêiade
de escritores, nos revela expressivamente a maviosa poetiza Conceição Ferraz num
soneto plasmado qual se poderia dizer, “oracular fotografia biotipológica”, em
que o perfil de Pio XII nos surge inteiro, em vulto, como era, paternal, sapiente,
angélico, redivivo e Bem aventurado!
"PAX
COELI"
Nos
gestos paternais, quanta nobreza!
Fulgia-lhe
no olhar a inteligência!
O
nome lhe assentava com justeza,
Viveu
pregando a paz com insistência.
Dotado
de brandura e fortaleza,
Quem
alcançou tamanha competência,
Nos
ramos mais sublimes da ciência,
A
par de encantadora singeleza?!
O
nome de Pio XII está na história,
E
o mundo nunca mais há de esquecer
O
Papa que foi grande até morrer.
Plenamente
feliz, hoje na Glória,
Descansa
em paz, contempla a Deus sem véu,
Quem
na terra pregou a PAZ DO CÉU.
Entre os sacros poderes
inerentes à sua superlativa autoridade, estava implícita a recepção de
processos e petitórios de Beatificação daqueles grandes católicos que, por sua
vida e obra, suscitaram a atenção dos fiéis contemporâneos, e que foram
autênticos paladinos da boa causa de Deus, do Evangelho, da Igreja e da
Humanidade!
Com a alma e corpo,
intelecto e coração, vida e obra do nosso ínclito e inolvidável Patrono, neste
curso - o grande apóstolo da caridade - Frederico Ozanam, assim ocorrera: a
apresentação ou introdução da causa de sua Beatificação no glorioso Papado de
Pio XII: aspiração por que se adensam dia a dia, hora a hora, os mais
arregimentados veneradores, os mais afervorados entusiastas.
E, ninguém - nossos
ilustres confrades, teria, vós bem o sabeis, através de sua preciosa vida e
vultosa ação, mais acendrado culto de amor filial e submissão incondicional aos
Santos Pontífices, aos Ministros de Deus, e à Santa Madre Igreja, como está
patente no consenso unânime dos seus contemporâneos, e, o respectivo processo
há de, à saciedade, constatar e proclamar em ponto alto.
Foi aos 12 de janeiro, ano
Marial de 1954, que a Sagrada Congregação dos Ritos publicou a Beatificação de
Antônio Frederico Ozanam, no Papado de Pio XII.
As providências, ao que
consta, já têm sido aqui referidas com motivos de ânimo e justificada
expectativa.
Nesta oportunidade,
portanto, em que se presta comovida homenagem à memória de Pio XII - o maior e
condigno titular do cenário universal nestes últimos tempos – parece-nos criar-se
também um ensejo para pormos em relevo a boa-vontade e alta intuição com que o
trabalho, na Santa Sé, se teria desenvolvido em prol da causa de nosso valoroso
orago dos pobres, desvalidos e indigentes - Frederico Ozanam!
Se, já aqui na vida terrena, Pio XII, qual timoneiro
destro da barca de Pedro, tudo soube traçar sob rumos certos e firmes,
inspirados e santos, como não há de agora, ainda mais aconchegado ao trono de
Deus, auxiliar a realização do bendito almejo por que a "una vox" se empenham Cristãos e Vicentinos,
Marianos e Franciscanos: a Canonização de Frederico Ozanam?! ...
*
* *
É convictos, é confiantes nessas esperanças que, nesta
pálida lembrança de Pio XII, cujo trespasse produziu no mundo o efeito que, nas
forças telúricas, causa um abalo sísmico, nós - reclinando nossa alma sobre o
sacro esquife de Sua Santidade - In osculo Domine deixaremos o nosso
coração vibrando nas estrofes que vimos dedicar à santa memória de Pio XII:
Nesta hora amara para a Santa
Madre Igreja,
Quando em Roma, que vibra em
nosso coração,
Todo o mundo presente ajoelha-se
e beija.,
No próprio esquife a sua
dadivosa mão;
E a humanidade presta a
homenagem devida
Ao Vigário de Cristo e nosso
Irmão Terceiro,
E em prece mais solene, humilde
e comovida,
Sufraga ao Pastor, que foi do
mundo inteiro!
Em Santa comunhão, todos, nos
prosternando,
Sentimos a emoção do céu, na
Eternidade,
Pois Santo e Sábio foi Pio XII,
venerando,
Filho de São Francisco e Pai da
Humanidade!
Cfd. VASCO DA GAMA PAIVA
10-10-1958
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