CURSO BÁSICO DE FORMAÇÃO VICENTINA
VÍDEO AULA Nº 14
ASSISTIDOS
Apresentação
FREDERICO
OZANAM AMAVA TODOS OS EXCLUÍDOS
Desde sua juventude, tomou consciência de que não era suficiente falar da caridade e da missão da Igreja no mundo: isto devia traduzir-se por um engajamento efetivo dos cristãos nos serviço dos pobres.
Reencontrava, assim, a intuição de São Vicente de Paulo: “amemos a Deus, mas que seja à custa do suor dos nossos rostos”. (S. Vicente de Paulo, XI-40). “Para manifestá-la concretamente na idade de seus vinte anos, com um grupo de amigos, criou as conferências de São Vicente de Paulo, cujo objetivo era a ajuda aos mais pobres, dentro do espírito de serviço e de partilha”.
Papa João Paulo II
(Trecho de sua homilia na cerimônia de Beatificação de Ozanam – 22/8/1997).
“Deveríamos cair aos seus pés e dizer como o apóstolo: vocês são nossos
mestres e seremos seus servos; vocês são para nós as imagens sagradas deste Deus que não enxergamos, e, não sabendo ama-Lo de outro jeito, nós O amamos em suas pessoas”.
Frederico Ozanam
Assista o vídeo abaixo
Quem é ou devem ser os assistidos?
Qual o nosso papel com relação a eles?
Antes de a atendermos aos objetivos dos
questionamentos acima, vejamos o que se entende por Caridade e por Pobre.
CARIDADE: Aprendemos pelo catecismo que são três
as virtudes teologais: FÉ, ESPERANÇA E CARIDADE, e que a Caridade é a única que
não desaparecerá no fim dos séculos. Aprendemos mais a distinguir as virtudes
teologais das virtudes cardeais. As primeiras, dom gratuito de Deus, vindas do
alto, em linha vertical, estabelecendo o nosso relacionamento com Deus e, as
segundas, adquiridas pelo homem, com esforço próprio, favorecido pela graça,
estabelecendo, em linha horizontal, o bom relacionamento com os seus semelhantes
e com toda a criatura, produzindo a paz que é fruto da justiça. A justiça, a
prudência, a fortaleza e a temperança são virtudes cardeais.
Para muita gente e, infelizmente, a maioria,
“caridade” quer dizer simplesmente dar esmolas, ter dó dos infelizes,
compadecer-se dos que sofrem, atender quando possível, os nossos irmãos
necessitados e outras coisas mais.
Todo esse cortejo de miséria atrás da palavra
caridade não pode deixar, sem dúvida, de modificar-lhe o sentido, apresentando-lhe
um aspecto muito desfavorável, bastante tétrico, que induz, por associação de
ideias, a não gostar de ouvir falar de caridade como algo agourento.
É, portanto, indispensável que tenhamos um
conhecimento exato do que é caridade, no seu sentido legítimo e cristão,
aliado a um ardente desejo de que ela inspire todos os nossos atos a fim de que
possamos restabelecer o prestígio da Caridade, com “C” maiúsculo, entre os
homens.
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O apóstolo São Paulo, na sua primeira carta aos
Coríntios, fornece-nos os traços que compõem a verdadeira fisionomia da
Caridade Cristã: (1Cor, 13).
“Ainda que eu falasse a língua dos
homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como um bronze que soa, ou como
um címbalo que retine. Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse
todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de
transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada. Ainda que
distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse
meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria! A caridade
é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa.
Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se
irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a
verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade jamais
acabará. As profecias desaparecerão, o dom das línguas cessará, o dom da
ciência findará. A nossa ciência é parcial, a nossa profecia é imperfeita.
Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá. Quando eu era
criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança.
Desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança. Hoje vemos como por
um espelho, confusamente; mas então veremos face a face. Hoje conheço em parte;
mas então conhecerei totalmente, como eu sou conhecido. Por ora subsistem a fé,
a esperança e a caridade – as três. Porém a maior delas é a caridade.”
Aí temos um retrato da caridade cristã.
O Padre J. L. Lebret, em seu livro “Dimensões
da Caridade”, falando sobre a natureza da caridade disse que ela “torna o homem
capaz de um gesto infinito em si mesmo. Mas há vários graus nesse gesto, desde
a caridade insipiente, até a caridade unificadora. A resposta da alma a Deus
pode ser mais ou menos vigorosos, seu movimento mais ou menos intenso, seu dom
mais ou menos completo. Enquanto o homem está na terra, a sua caridade pode
crescer e não há, objetivamente, limite para esse crescimento”. (...) “A
caridade é um dom gratuito de Deus”.” Se Ele a concede aos batizados e aos
homens de boa vontade, que o procuram sem ter recebido a mensagem, reserva-se,
entretanto, a faculdade de intensificar mais ou menos seu crescimento. Aqueles
que a possuíram podem perdê-la ao preferirem uma criatura a Deus; aqueles que a
possuem podem deixar que se entorpecesse; sem a destruir, praticam-na no mínimo
necessário para que não se extinga de todo. Mas, aqueles que atentos aos
impulsos do Espírito Santo em suas almas, procuram fielmente conformar-se com a
totalidade de suas exigências, são levados a realizar grandes obras por Deus e
pela humanidade”.
É com humildade que reconhecemos que
muito pouco sabemos a respeito da caridade, como, também, sabemos que
não se ama aquilo que não se conhece. Procurando conhecer melhor o que é
realmente caridade, ficamos sabendo que a caridade é um dom de Deus e que não
floresce sem a castidade. Sabemos que a caridade é tudo aquilo que São Paulo
expõe no capítulo 13 da 1ª carta aos Corintios. E para compreendermos melhor a
caridade, teremos que saber o que vem a ser castidade, chamada virtude
angélica.
Aquilo que a princípio acreditávamos ser muito simples, conhecer a
caridade, talvez não baste a nossa curta existência para convencermo-nos de que
a caridade é um mistério fundamentado na própria divindade, porque Deus é
caridade, no dizer de São João, conforme sua 1ª epístola, cap.4, 8. Resta-nos,
porém o conforto daquelas palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Eu te bendigo
Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e
entendidos e as revelastes aos pequeninos”. (Mt 11,25). Se nos colocarmos no número dos pequeninos, é
certo que estas coisas nos serão reveladas.
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O POBRE – Vamos falar sobre o Pobre e na defesa dos interesses dele, falaremos
sobre a miséria. A respeito desse
assunto, o Rev. Padre Lebret assim se manifestou: “O combate contra a miséria impõe um compromisso sem reservas. Não somos
chamados a combater todas as formas de miséria. Ninguém pode enfrentar todas as
frentes. Cada um tem seu campo de batalha, conforme os dons que recebeu, a sua
personalidade e a intensidade do seu amor. O essencial é não perder tempo em
retroceder e ficar procurando caminhos indefinitos e sem decisão de escolha.
Deus conduz aqueles que O amam e, um dia, lhes propõe determinado setor de
trabalho. Nem sempre será aquele de sua preferência. Provavelmente será algum
campo em que faltam trabalhadores ou algum extremamente necessário e que
ninguém se dispõe a trabalhar. Será esse. É uma aventura divina que começa. A
estrada a percorrer será desconhecida, terá que atravessar precipícios,
suportar tempestades, aceitar desafios e oposições. Frequentemente ficará
sozinho a sustentar, num esforço supremo, o edifício que ameaça ruir. Tudo
dependerá da fidelidade à promessa feita a Deus. Com muita fé, coragem e
decisão inabalável, verá que nada o impedirá, pois Deus estará presente. O
impulso que dá a alma e irresistível, o salto ao impossível é Lei. Todos os
obstáculos serão vencidos. Os que se opõem serão aliados. Novos amigos
surgirão. O sopro do amor a de se propagar. O amor vigoroso tem vitórias
imprevisíveis. Deus só nos coloca numa aventura para ensinar-nos a contar
unicamente com Ele; a amar, apesar de tudo, a superabundar de amor
incompreendido. As oposições não tem importância: é o começo da aceitação. A
voz de João clamou no deserto longo tempo, e era o prelúdio da ação do Senhor.
(Pe. Lebret – “Dimensões da Caridade” –pg.170).
OBJETIVOS
Saber como escolher os assistidos
Entender que o nosso trabalho não é
assistencialismo,
mas dar dignidade ao Pobre
O vicentino, de certo modo, já escolheu o seu caminho ao ingressar
numa Conferência, pretendendo dedicar um pouco daquele pouco tempo de que
dispõe, a serviço do Pobre. Se realmente pretende servir o Pobre e combater a
miséria, que traiçoeiramente ronda a pobreza deverá o nosso confrade, com a
devida atenção, procurar conhecer aqueles a quem pretendem servir e o campo
onde deverá ser travada a batalha contra a miséria, a fim de ser bem sucedido
nesta difícil empresa.
Conhecer o Pobre! Tarefa dificílima.
Poucos são os que realmente conseguem conhecer o Pobre e é tão
necessário que o conheçamos bem para bem servi-lo. As suas ordens serão
transmitidas por um processo desconhecido e só serão captadas por quem tiver o
coração devidamente regulado para atender os impulsos do amor fraterno que é a
mola propulsora de toda a nossa atividade e de todo o nosso zelo em busca do
verdadeiro bem daqueles a quem amamos.
QUEM SÃO OS ASSISTIDOS?
Visão do mundo:
OS POBRES
A voz de Deus, varando a noite do tempo,
chega, até nós através do escritor sagrado para advertir-nos das vaidades das
riquezas, falando-nos de uma dolorosa
miséria:
"Vi
uma dolorosa
miséria debaixo do sol: as riquezas que um possuidor guarda para sua
desgraça... nu saiu ele do ventre da sua mãe; tão nu como veio, nu sairá desta vida, e, pelo
seu trabalho, nada receberá que possa levar em suas mãos.
Sim, é uma dolorosa miséria que ele se vá assim como
veio; e que vantagem terá ele por ter trabalhado para o vento? Todos os seus
dias foram consumidos numa sombria dor, em extrema amargura, no sofrimento e na
irritação". (Ecl. - 5 - 12-14/16).
Sim, é uma dolorosa miséria,
verdadeiramente uma dolorosa miséria, miséria que muitas vezes é a causa de
tantas outras misérias, quando a cobiça desordenada de alguns, em acumulando
riquezas para a sua desgraça vem impedir que
muitos outros se beneficiem dos bens materiais que Deus colocou na terra para
servir a todos os homens, como filhos do
mesmo Pai.
Não é tarefa fácil conhecer o pobre e não é
tarefa fácil conhecer a miséria e por essa razão não é tarefa fácil saber quem é pobre e o que é miséria.
·
Visão do Evangelho: Herdeiros do Reino
As Sagradas Escrituras nos falam da
dolorosa miséria dos ricos que partem desta vida sem nada receber
pelo seu trabalho, que possa levar em suas mãos, e Nosso Senhor Jesus Cristo vem nos falar da incomensurável riqueza do pobre:"
·
Bem aventurados vós que sois
pobres, porque vosso é
o reino de Deus (Lc 6, 20)
·
Bem aventurados
os mansos porque possuirão a terra. (Mt 5, 5 )
Sabemos que nosso Pobre comum, aquele que julgamos conhecer, é de
ordinário, humilde, pacífico, aceita com resignação os seus sofrimentos; não
anda alardeando valentia, nem vociferando ameaças e por isso supomos que seja
realmente manso.
Se for verdade incontestável, pois foi a própria verdade, que é Cristo
Senhor Nosso quem no-lo disse, que o pobre de espírito é possuidor do Reino de
Deus e que os mansos possuirão a terra, este tipo de pobre nada mais é que o
felizardo possuidor de uma fabulosa e imperecível riqueza, dispondo de um
tesouro que os ladrões não conseguem roubar e nem as traças e a ferrugem
corroer, e foi pela palavra do mesmo Deus que ficamos sabendo que o nosso rico,
tão nu como saíra do ventre da sua mãe, tão nu sairá da vida pela porta da
morte, na mais triste indigência, nada levando em suas mãos pelos seus
trabalhos e pelos seus dias “consumidos numa sombria dor, em extrema amargura,
no sofrimento e na irritação...”
Não seria este o pobre
que procuramos?
Serão aqueles que
carecem de bens materiais para viver?
Que espécies de bens
materiais e qual a quantidade?
Para não andar às tontas a procura do Pobre, de dia ou de noite, em qualquer
lugar ou onde quer que esteja, o vicentino deverá recorrer ao seu Santo
Patrono, São Vicente de Paulo, aquele que tão bem conheceu o Pobre, servindo-o
até o derradeiro instante da sua vida, implorando a sua ajuda, a fim de que
possa encontrar o Pobre e ao mesmo tempo
lhe seja ensinada a maneira de bem servi-lo e lhe seja dada a perspicácia para
reconhecer as causas da miséria e a coragem para combatê-la na medida das suas
forças.
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SÃO VICENTE DE PAULO
Podemos ouvir a voz de São Vicente através dos seus exemplos, pois ele
soube atender a toda a sorte de miséria.
Miséria
material, miséria moral, miséria espiritual.
POBRES MATERIAIS:
explorados, incapazes, excluídos...
POBRES IMORAIS: explorados na
imoralidade, prostituição e outros descaminhos
POBRES ESPIRITUAIS: sem estudo, sem
valores humanos, sós, doentes...
No combate a miséria material acudiu a todos os necessitados. Os órfãos, os enfermos, os
inválidos, os velhos, os perseguidos, os escravos
resgatando-os, os encarcerados tornando-se um deles
para melhor servi-los, os famintos e, com particular carinho, os pobres envergonhados.
São Vicente
sabia que muitos preferiam morrer de fome a sofrer a humilhação de pedir ou de ser encontrado
num estado de indigência extrema. Sabia que não eram tão poucos os que assim
preferiam e sempre teve muito cuidado em não expor os seus pobres a curiosidade pública,
Sabia o quanto era dura, para muitos, pedir, mas sabia como pedir pelos que não
pediam. Sabia qual a razão que Nosso
Senhor Jesus Cristo nos ensinou a pedir no " PAI NOSSO:" "o pão nosso de cada
dia nos dai hoje". Sabia que não era a
recomendação de um
Senhor prepotente que, no uso de seu imenso poder, que quer forחar um subordinado a
reconhecer a sua subordinação, ou um infeliz sentir a sua triste condição
de dependente, mas.constituía-se a manifestação
de uma delicadeza extrema daquele que
tudo podendo anuncia a sua amorosa
disposição de atender prontamente aos que a Ele recorrerem, sem querer forçar o dependente
a receber de suas mãos aquilo que não poderia recusar ou que não fosse do seu
agrado.
Deus não força o homem a aceitar o que Ele oferece, nem mesmo a
participação na sua felicidade eterna, porém, está pronto
a dar com abundância tudo aquilo que lhe for pedido. Eis a razão porque São Vicente tinha
muito cuidado ao lidar com o pobre.
No combate à miséria moral procurava amparar o pecador, afastando-o do
meio pecaminoso, e ocupou-se, com rara solicitude, das pobres mulheres decaídas,
oferecendo-lhes o Asilo da Madalena para proteger-lhes
a virtude recuperada.
Maior cuidado dispensou a miséria espiritual, fonte de todas as
outras e, por isso, fundou a sua ordem dos Padres da Missão, promovendo
instrução para o povo, trabalhando pela reforma do clero e pela instituição de seminários
para a formação dos sacerdotes e,não se admirem, promovendo "retiros para os leigos" exemplos que os nossos
dirigentes da Sociedade de São Vicente de Paulo sempre procuraram seguir.
Tratando dos "retiros para os leigos", fala um dos biógrafos de São Vicente, o Revmo Pe. Guilherme Vaessen C.M.: "apenas instalado
na vasta casa de São Lázaro,
Vicente deu um impulso extraordinários aos retiros fechados. Ricos e pobres, sábios
e ignorantes, senhores e criados,eram carinhosamente
recebidos, hospedados, alimentados, e beneficiados com os “exercícios espirituais".
Por ser difícil conhecer o pobre e os seus problemas é que
precisamos de um preparo cuidadoso, a fim de evitar que a nossa falta de conhecimentos
nos leve a incorrer, involuntariamente sem dúvida, em graves erros com sérios
prejuízos para aqueles a quem pretendemos ajudar. Raramente chegamos a perceber
os nossos erros, mas nem por isso os deixam de agravar a situação das suas vítimas.
Uma dama de caridade, filha de São Vicente de Paulo, de
nome Conceição Arenal de G. Carrasco, num interessante trabalho a que, com
muita propriedade, foi dado o título de "MANUAL DO VISITADOR DO POBRE", procurando
mostrar "QUEM É ֹ O POBRE"
e falando
sobre a miséria assim nos adverte:
"Para bem falar da miséria é necessário conhecê-la, é preciso tê-la
estudado. Este estudo quem o fez ou tem feito? Respondemos sem hesitar, ninguém.
O ator do terrível drama da miséria sofre apenas; porém, nós, os espectadores,
não possuímos ponto de vista suficiente para bem julgar; em uns, o excesso de
indiferença, em outros, de sensibilidade, em todos a grande distância que não
permite formar uma ideia exata da miséria. Não sabemos o que é pobreza;
ignoramos o que ela faz sofrer, as provações que impõe e como modifica
moralmente o infeliz que imola e, não obstante, queremos ditar-lhes leis.
Que
diríamos do legislador que formulasse um código, sem conhecer a história, os
costumes, as leis anteriores, a religião, o estado social e mesmo o país do
povo que fosse reger? Pois bem, esse legislador somos nós. Ignoramos o que seja
a miséria, mas dizemos ao miserável: “ segue essa ou aquele lei, ou receberás o
anátema do seu desprezo e do seu abandono”.
Não é fácil conhecer o Pobre, nem tão fácil
como pensamos conhecer ou reconhecer a miséria. À medida que vamos conseguindo
identificar as causas de muitas misérias, constataremos que uma porcentagem
muito elevada deve ser atribuída às desordens morais, quer dos miseráveis,
pelos seus próprios crimes, quer da sociedade paganizada e egoísta, quer dos
governantes dos grandes centros, e de tanto fatores que contribuem para o
desajuste social.
E
HOJE, QUEM SÃO OS POBRES?
Parece
muito clara na intenção dos fundadores da Sociedade de São Vicente de Paulo a
noção de pobre:
“Socorramos, pois, o nosso próximo como fazia
Jesus Cristo e ponhamos nossa fé sob a égide da caridade”.
Hoje
em dia, a noção de pobre é mais ampla, pois quem vive só de seu salário é
pobre. Mas, para a Conferência, pobre é aquele que não tem o necessário para
viver com a dignidade de pessoa humana. São os pobres carentes e, por isso
mesmo, quase sempre os mais abandonados, são os pobres mais pobres. De modo
geral, os pobres, materialmente falando, são também pobres, espiritualmente
falando. A uma e outra coisa o Vicentino acorre com sua assistência caritativa.
Entretanto,
convém salientar desde o início que, após o Concílio Vaticano II,
especialmente, temos uma nova modalidade em termos de caridade – A PROMOÇÃO DOS
POBRES – isto é, fazer que ele mesmo se sustente com seu trabalho. Essa já era
a orientação simples que São Vicente de Paulo dava aos seus colaboradores –
Urge a necessidade e obrigação do pobre se promover e sem deixarmos de assistir
aos que realmente não tem condição de se prover a si mesmos mediante um
trabalho.
São
Vicente de Paulo escreveu: “ (XII, 447 de Pierre Coste).
“Os
diretores de Associação (Confrarias de Caridade) farão com que as crianças
aprendam um ofício, desde que tenham idade suficiente: distribuirão,
semelhantemente, aos pobres e idosos, QUE NÃO PODEM TRABALHAR, o que lhes for
necessário para viver... quanto aos que podem ganhar um pouco, a Associação
dará o restante”.
Que
sabedoria! Afasta-se assim o perigo do puro assistencialismo, paternalista e
prejudicial.
E
São Vicente desce ainda aos pormenores de seu pensamento, quando escreve: (XII,
507 P.C.) – “Todos os POBRES, isto é, CRIANÇAS de 4 a 7 anos, adolescentes de 9
a 15 anos ou pessoas de mais idade, mas INCAPAZES ou INCAPACITADAS DE GANHAR A
VIDA, e os decrépitos que nada mais podem fazer, às crianças, aos incapazes e
aos idosos dar-se-á por semana o que lhes for necessário para viver. Aqueles
que podem ganhar um pouco se lhes dará o restante... aos jovens ensinar-se-á
uma profissão, como a de tecelão, ou se organizará um artesanato mais fácil,
onde possam aprender a produzir. É uma outra forma do provérbio chinês: Em vez
de se dar o peixe, dá-se a vara com o anzol, a fim de que a pessoa possa ter o
peixe toda a vez que precisar de comer”.
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Como
são os Pobres?
·
Aos olhos do mundo
Aos
olhos dos homens, a pobreza é um castigo da preguiça, da má sorte ou da vida
desregrada. E, de um modo geral, os pobres são tidos como indignos pelo peso
que representam para a sociedade, pela sujeira ou pela má educação, pois nada
produzem. Numa sociedade onde o lucro e a produção são os critérios e a base do
poder, do prestígio e do triunfo, é fácil compreender como não haja nem lugar
nem vez para o pobre como pessoa humana. Mas, é natural que haja um senso de
filantropia ou atendimento coletivo aos problemas sociais levantados pelos pobres,
não tanto pelo amor de Deus ou do pobre como tal, mas como condição de paz
social e bem-estar dos outros.
·
Aos olhos da fé
A
pobreza não é um mal tão grande que se chegue a comparar com os males morais.
“Mais vale um pobre, de proceder irrepreensível, do que o de costumes
perversos, embora rico. A liberdade é vantajosa para o homem, e é melhor ser
pobre do que MENTIROSO”. (Cf. Prov. 19, 1-22). “Vale mais um jovem pobre, mas
sábio, do que um rei velho, mas insensato, que já não sabe aceitar conselhos.”
(Ecl. 4,13).
Os
pobres são geralmente mais dóceis à graça de Deus. Na parábola do homem rico,
que ofereceu um banquete a muitos convidados que não compareceram, assim
determina o dono da festa, indignado, aos seus criados: “Saí sem demora às praças
e às ruas da cidade e trazei para cá os pobres, os cegos e os coxos... Disse o
senhor aos criados: Saí pelos caminhos e pelos trilhos, e compeli-os a entrar
para que se encha a casa. Pois vos digo que nenhum daqueles que foram
convidados provará do meu banquete”. (Lc. 14,23).
O SERVIÇO DOS POBRES
POBREZA
por pobreza jamais será ideal de ninguém.
Haverá sim, sempre a pobreza voluntária de que falamos por amor de Cristo. A
outra pobreza é aquela que é imposta pelas circunstâncias da vida: nascimento –
incapacidade física de trabalhar – falta de oportunidades em que entra muito o
fator sorte (ou melhor Providência Divina) etc... Tudo isto está previsto nos
planos de Deus, muitas vezes insondáveis aos nossos raciocínios, mas sempre
amorosos para com aqueles que o amam... Haverá soluções se os homens entenderem
as mensagens evangélicas, cujas primícias Cristo colocou como frontispício de
sua Boa-Nova e que agora vamos meditar e procurar entender.
1. Somos todos irmãos de Jesus Cristo, filhos do mesmo Pai
Celeste. São vários os textos relativos a essa verdade afirmada por Cristo.
“Vós
não quereis ser chamados RABI, pois um só é vosso Mestre, e todos vós sois
irmãos”. (Mt 23,8).
“Um
só é vosso Pai que está nos céus”. (Mt 23,9).
Essa
é a fraternidade universal desejada por Cristo e inculcada na sua mensagem
fundamental. A respeito, outras passagens evangélicas podem ser vistas, tais
como Mt 12, 47-50; Mt 25,35.
2. Não menos importante e fundamental é o SERVIÇO prestado
ao irmão, Na nova sociedade, inaugurada por Cristo e com seus amigos e
discípulos, o relacionamento entre eles será diferente do que se costuma ver
das cortes e no meio do povo em geral. Há uma noção nova de autoridade e de
poder.
“Houve
entre os discípulos uma discussão: qual deles seria o maior? Jesus, porém,
conhecendo os pensamentos dos seus corações, tomou uma criança, colocou-a a seu
lado e disse-lhes: Aquele que receber uma criança como esta por causa do meu
nome, recebe a mim; e aquele que me receber recebe aquele que me enviou. Com
efeito, aquele que no vosso meio for o menor, este será grande”. (Lc 9, 46-48).
O mesmo evangelista em 22, 24 relata outra discussão entre os discípulos: Qual
será o maior? Jesus lhes disse: Os reis das nações as dominam e os que a
tiranizam são chamados Benfeitores. Quanto a vós, não deverá ser assim; pelo
contrário, o maior dentre vós torne-se como o mais jovem, e o que governa como
aquele que SERVE. Pois qual é o maior? O que está à mesa ou aquele que serve?
Não é aquele que está a mesa? Eu, porém, estou no meio de vós como aquele que
SERVE”.
SERVIR
eis a novidade da grandeza no Reino de Deus. Autoridade não é domínio, não é
gozo, não é mando autoritário. Autoridade do novo reino é serviço! A glória do
discípulo é servir ao irmão. (Veja Jo 13,2 – Mt 20,24).
O
Concílio Vaticano II retomou a mensagem do
Mestre Divino: (GS, 204) “Nenhuma ambição terrestre move a Igreja. Com efeito,
guiada pelo Espírito Santo, ela pretende somente uma coisa: continuar a obra do
próprio Cristo, que veio ao mundo para dar testemunho da verdade, para salvar e
não para condenar, para SERVIR e não para SER SERVIDO.
(Decreto
AD GENTES, 889) “De forma alguma pretende a Igreja imiscuir-se no governo do
Estado. Não reclama para si nenhuma outra autoridade que a de SERVIR aos homens
caridosa e fielmente, ajudada por Deus”. Por isso o Santo Padre assina: SERVO
DOS SERVOS. A maior glória e nossa razão de ser como discípulo de Cristo é
SERVIR AO IRMÃO em nome de Jesus. Com razão, bastariam essas duas premissas, o
de nossa identidade como irmãos da mesma e grande família humana realizada em
Cristo, bem como a maior glória o SERVIR EM NOME DE CRISTO, para estabelecermos
uma nosa ordem no universo – A FRATERNIDADE VERDADEIRA UNIVERSAL.
3. CONCLUSÃO
É importante concluir: Como é fundamental
para o Vicentino saber SERVIR. O serviço dos Pobres, pois, é a glória do
Vicentino, E é sua missão no mundo. Essa missão continua de perto a obra de
Cristo e concretamente a torna visível aos olhos dos homens para glorificarem o
Pai.
QUEM NÃO VIVE PARA SERVIR, NÃO SERVE PARA
VIVER!
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
a) NOSSO TRABALHO COM OS
ASSISTIDOS É:
·
Entender individualmente
qual a real necessidade do assistido.
·
Uma ação ajustada a cada
necessidade do assistido.
·
Uma obrigação de dar
dignidade ao assistido (como cidadão e cristão).
·
Uma obrigação de fazer o
assistido deixar de ser assistido, quando possível.
b) NOSSO TRABALHO COM OS
ASSISTIDOS NÃO É
● Só levar a sacola de
alimentos, ou o “Vale”, ou a cesta básica.
(ou qualquer outro tipo de auxílio).
·
Uma ação igual para todas
as famílias.
·
Uma obrigação de visita
semanal.
·
Uma obrigação de
quantidade mínima de famílias assistidas.
·
Um trabalho
assistencialista:
◊ feito por pena ou desencargo de
consciência.
◊ que gere dependência do assistido em
relação a nós.
c) O QUE SIGNIFICA “DAR DIGNIDADE”?
·
Dar ao assistido
condições de igualdade social para que ele possa se desenvolver sem a nossa
ajuda (ex.: moradia, educação, saúde).
·
Cobrar do assistido uma
melhoria contínua de suas condições, desde que ele tenha as condições básicas.
·
Dar ao assistido a
oportunidade de conhecer o que é ser cristão.
●●●
Utilizei na confecção
desse trabalho:
Palestra sobre “Os
Pobres” do cfd. Helio G. de Morais
Apostilha do Curso
Básico, Ed.1987 do CSB
Curso de Formação –
modulo III: Cfs. Sideny de Oliveira Filho e
Eduardo Marques.
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