1º DOMNGO DO ADVENTO

Marcos 13,33 – 37

Ficai de sobreaviso, vigiai; porque não sabeis quando será o tempo. Será como um homem que, partindo de uma viagem, deixa a sua casa e delega sua autoridade aos seus servos, indicando o trabalho de cada um, e manda ao porteiro que vigie. Vigiai, pois, visto que não sabeis quando o senhor da casa voltará, se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã, para que vindo de repente, não vos encontre dormindo. O que vos digo, digo a todos: vigiai!

Comentário

Já é hora de acordar! Eis o apelo de Jesus no Evangelho que inaugura este tempo do Advento. Uma nova aurora surge no horizonte da humanidade, trazendo a esperança de um novo tempo de um mundo renovado pela força do Evangelho. Neste tempo de graça, somos convocados a sair do torpor de uma prática religiosa inócua, a acordar do sono dos nossos projetos pessoais vazios e egoístas. Despertos e vigilantes, somos convidados a abraçar o projeto de Deus que vem ao nosso encontro, na espera fecunda do Tempo do Advento, temos a chance de reanimarmos em nós e os compromissos assumidos em favor da construção do Reino, reavivando as forças adormecidas, para a construção de uma humanidade nova, livre das trevas do sofrimento, da marginalização e da morte.

Frei Sandro Roberto da Costa, OFM - Petrópolis/RJ

2º DOMINGO DO ADVENTO

Marcos 1,1 – 8

Conforme está escrito no Profeta Isaias: Eis que envio meu anjo diante de ti: Ele preparará teu caminho. Uma voz clama no deserto: Traçai o caminho do Senhor, aplainai suas veredas (Mt 3,1); Is 40,3). João Batista apareceu no deserto e pregava um batismo de conversão para a remissão dos pecados. E saiam para ir ter com ele toda a Judéia, toda Jerusalém, confessando os seus pecados. João andava vestido de pelo de carneiro e trazia um cinto de couro em volta dos rins, e alimentava-se de gafanhotos e mel Sivestre. Ele pôs-se a proclamar: “depois de mim vem outro mais poderoso do que eu, ante o qual não sou digno de me prostrar para desatar-lhe a correia do calçado. Eu vos batizei com água; ele, porém, vos batizará no Espírito Santo”.

Comentário

“Preparai o caminho do Senhor, aplainai as suas veredas”. Clamando pelo deserto, João Batista nos indica que procurar viver conforme a Boa-Nova que Jesus nos trouxe não se trata, simplesmente, de viver dentro de um sistema religioso com certas práticas que nos identificam com tais. Talvez ele queira nos indicar que a fé, antes de tudo é um percurso, uma caminhada, onde podemos encontrar momentos fáceis e difíceis, dúvidas e interrogações, avanços e retrocessos, entusiasmo e disposição, mas também cansaço e fadiga. No entanto, o mais importante é que nunca deixemos de caminhar, pois o caminho se faz caminhando. Boa caminhada de Advento e preparação!

Frei Diego Atalino de Melo

sábado, 10 de setembro de 2016

ASSISTIDOS - aula 14



CURSO BÁSICO DE FORMAÇÃO VICENTINA


VÍDEO AULA Nº 14

ASSISTIDOS


Apresentação




FREDERICO OZANAM AMAVA TODOS OS EXCLUÍDOS

Desde sua juventude, tomou consciência de que não era suficiente falar da caridade e da missão da Igreja no mundo: isto devia traduzir-se por um engajamento efetivo dos cristãos nos serviço dos pobres.
Reencontrava, assim, a intuição de São Vicente de Paulo: “amemos a Deus, mas que seja à custa do suor dos nossos rostos”. (S. Vicente de Paulo, XI-40). “Para manifestá-la concretamente na idade de seus vinte anos, com um grupo de amigos, criou as conferências de São Vicente de Paulo, cujo objetivo era a ajuda aos mais pobres, dentro do espírito de serviço e de partilha”.
                                Papa João Paulo II
(Trecho de sua homilia na cerimônia de Beatificação de Ozanam – 22/8/1997).


“Deveríamos cair aos seus pés e dizer como o  apóstolo:  vocês  são  nossos 
mestres e seremos seus servos; vocês são para nós as imagens sagradas deste Deus  que  não  enxergamos,  e,  não sabendo ama-Lo de outro jeito, nós O amamos em suas pessoas”.
                                
                                   Frederico Ozanam



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Quem é ou devem ser os assistidos?
Qual o nosso papel com relação a eles?

Antes de a atendermos aos objetivos dos questionamentos acima, vejamos o que se entende por Caridade e por Pobre.

CARIDADE: Aprendemos pelo catecismo que são três as virtudes teologais: FÉ, ESPERANÇA E CARIDADE, e que a Caridade é a única que não desaparecerá no fim dos séculos. Aprendemos mais a distinguir as virtudes teologais das virtudes cardeais. As primeiras, dom gratuito de Deus, vindas do alto, em linha vertical, estabelecendo o nosso relacionamento com Deus e, as segundas, adquiridas pelo homem, com esforço próprio, favorecido pela graça, estabelecendo, em linha horizontal, o bom relacionamento com os seus semelhantes e com toda a criatura, produzindo a paz que é fruto da justiça. A justiça, a prudência, a fortaleza e a temperança são virtudes cardeais.

Para muita gente e, infelizmente, a maioria, “caridade” quer dizer simplesmente dar esmolas, ter dó dos infelizes, compadecer-se dos que sofrem, atender quando possível, os nossos irmãos necessitados e outras coisas mais.

Todo esse cortejo de miséria atrás da palavra caridade não pode deixar, sem dúvida, de modificar-lhe o sentido, apresentando-lhe um aspecto muito desfavorável, bastante tétrico, que induz, por associação de ideias, a não gostar de ouvir falar de caridade como algo agourento.

É, portanto, indispensável que tenhamos um conhecimento exato do que é caridade, no seu sentido legítimo e cristão, aliado a um ardente desejo de que ela inspire todos os nossos atos a fim de que possamos restabelecer o prestígio da Caridade, com “C” maiúsculo, entre os homens.

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O apóstolo São Paulo, na sua primeira carta aos Coríntios, fornece-nos os traços que compõem a verdadeira fisionomia da Caridade Cristã: (1Cor, 13).
       Ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como um bronze que soa, ou como um címbalo que retine. Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada. Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria! A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade jamais acabará. As profecias desaparecerão, o dom das línguas cessará, o dom da ciência findará. A nossa ciência é parcial, a nossa profecia é imperfeita. Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá. Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança. Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então veremos face a face. Hoje conheço em parte; mas então conhecerei totalmente, como eu sou conhecido. Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade – as três. Porém a maior delas é a caridade.”
Aí temos um retrato da caridade cristã.  

O Padre J. L. Lebret, em seu livro “Dimensões da Caridade”, falando sobre a natureza da caridade disse que ela “torna o homem capaz de um gesto infinito em si mesmo. Mas há vários graus nesse gesto, desde a caridade insipiente, até a caridade unificadora. A resposta da alma a Deus pode ser mais ou menos vigorosos, seu movimento mais ou menos intenso, seu dom mais ou menos completo. Enquanto o homem está na terra, a sua caridade pode crescer e não há, objetivamente, limite para esse crescimento”. (...) “A caridade é um dom gratuito de Deus”.” Se Ele a concede aos batizados e aos homens de boa vontade, que o procuram sem ter recebido a mensagem, reserva-se, entretanto, a faculdade de intensificar mais ou menos seu crescimento. Aqueles que a possuíram podem perdê-la ao preferirem uma criatura a Deus; aqueles que a possuem podem deixar que se entorpecesse; sem a destruir, praticam-na no mínimo necessário para que não se extinga de todo. Mas, aqueles que atentos aos impulsos do Espírito Santo em suas almas, procuram fielmente conformar-se com a totalidade de suas exigências, são levados a realizar grandes obras por Deus e pela humanidade”.

É com humildade que reconhecemos que  muito pouco sabemos a respeito da caridade, como, também, sabemos que não se ama aquilo que não se conhece. Procurando conhecer melhor o que é realmente caridade, ficamos sabendo que a caridade é um dom de Deus e que não floresce sem a castidade. Sabemos que a caridade é tudo aquilo que São Paulo expõe no capítulo 13 da 1ª carta aos Corintios. E para compreendermos melhor a caridade, teremos que saber o que vem a ser castidade, chamada virtude angélica.
Aquilo que a princípio acreditávamos ser muito simples, conhecer a caridade, talvez não baste a nossa curta existência para convencermo-nos de que a caridade é um mistério fundamentado na própria divindade, porque Deus é caridade, no dizer de São João, conforme sua 1ª epístola, cap.4, 8. Resta-nos, porém o conforto daquelas palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Eu te bendigo Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e entendidos e as revelastes aos pequeninos”. (Mt 11,25).  Se nos colocarmos no número dos pequeninos, é certo que estas coisas nos serão reveladas.



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O POBRE – Vamos falar sobre o Pobre e na defesa dos interesses dele, falaremos sobre a miséria.  A respeito desse assunto, o Rev. Padre Lebret assim se manifestou: O combate contra a miséria impõe um compromisso sem reservas. Não somos chamados a combater todas as formas de miséria. Ninguém pode enfrentar todas as frentes. Cada um tem seu campo de batalha, conforme os dons que recebeu, a sua personalidade e a intensidade do seu amor. O essencial é não perder tempo em retroceder e ficar procurando caminhos indefinitos e sem decisão de escolha. Deus conduz aqueles que O amam e, um dia, lhes propõe determinado setor de trabalho. Nem sempre será aquele de sua preferência. Provavelmente será algum campo em que faltam trabalhadores ou algum extremamente necessário e que ninguém se dispõe a trabalhar. Será esse. É uma aventura divina que começa. A estrada a percorrer será desconhecida, terá que atravessar precipícios, suportar tempestades, aceitar desafios e oposições. Frequentemente ficará sozinho a sustentar, num esforço supremo, o edifício que ameaça ruir. Tudo dependerá da fidelidade à promessa feita a Deus. Com muita fé, coragem e decisão inabalável, verá que nada o impedirá, pois Deus estará presente. O impulso que dá a alma e irresistível, o salto ao impossível é Lei. Todos os obstáculos serão vencidos. Os que se opõem serão aliados. Novos amigos surgirão. O sopro do amor a de se propagar. O amor vigoroso tem vitórias imprevisíveis. Deus só nos coloca numa aventura para ensinar-nos a contar unicamente com Ele; a amar, apesar de tudo, a superabundar de amor incompreendido. As oposições não tem importância: é o começo da aceitação. A voz de João clamou no deserto longo tempo, e era o prelúdio da ação do Senhor. (Pe. Lebret – “Dimensões da Caridade” –pg.170).

OBJETIVOS
         Saber como escolher os assistidos

     Entender que o nosso trabalho não é assistencialismo,
mas dar dignidade ao Pobre

O vicentino, de certo modo, já escolheu o seu caminho ao ingressar numa Conferência, pretendendo dedicar um pouco daquele pouco tempo de que dispõe, a serviço do Pobre. Se realmente pretende servir o Pobre e combater a miséria, que traiçoeiramente ronda a pobreza deverá o nosso confrade, com a devida atenção, procurar conhecer aqueles a quem pretendem servir e o campo onde deverá ser travada a batalha contra a miséria, a fim de ser bem sucedido nesta difícil empresa.  
Conhecer o Pobre! Tarefa dificílima.

Poucos são os que realmente conseguem conhecer o Pobre e é tão necessário que o conheçamos bem para bem servi-lo. As suas ordens serão transmitidas por um processo desconhecido e só serão captadas por quem tiver o coração devidamente regulado para atender os impulsos do amor fraterno que é a mola propulsora de toda a nossa atividade e de todo o nosso zelo em busca do verdadeiro bem daqueles a quem amamos.

QUEM SÃO OS ASSISTIDOS?
                
          Visão do mundo: OS POBRES
A voz de Deus, varando a noite do tempo, chega, até nós através do escritor sagrado para advertir-nos das vaidades das riquezas, falando-nos de uma dolorosa miséria:

"Vi uma dolorosa miséria debaixo do sol: as riquezas que um possuidor guarda para sua desgraça... nu saiu ele do ventre da sua mãe; tão nu como veio, nu sairá desta vida, e, pelo seu trabalho, nada receberá que possa levar em suas mãos. Sim, é uma dolorosa miséria que ele se vá assim como veio; e que vantagem terá ele por ter trabalhado para o vento? Todos os seus dias foram consumidos numa sombria dor, em extrema amargura, no sofrimento e na irritação". (Ecl. - 5 - 12-14/16).

Sim, é uma dolorosa miséria, verdadeiramente uma dolorosa miséria, miséria que muitas vezes é a causa de tantas outras misérias, quando a cobiça desordenada de alguns, em acumulando riquezas para a sua desgraça vem impedir que muitos outros se beneficiem dos bens materiais que Deus colocou na terra para servir a todos os homens, como filhos do mesmo Pai.

Não é tarefa fácil conhecer o pobre e não é tarefa fácil conhecer a miséria e por essa razão não é tarefa fácil saber quem é pobre e o que é miséria.

·        Visão do Evangelho: Herdeiros do Reino

As Sagradas Escrituras nos falam da dolorosa miséria dos ricos que partem desta vida sem nada receber pelo seu trabalho, que possa levar em suas mãos, e Nosso Senhor Jesus Cristo vem nos falar da incomensurável riqueza do pobre:"

·        Bem aventurados vós que sois pobres, porque vosso é o reino de Deus (Lc 6, 20)

·        Bem aventurados os mansos porque possuirão a terra. (Mt 5,  5 )

Sabemos que nosso Pobre comum, aquele que julgamos conhecer, é de ordinário, humilde, pacífico, aceita com resignação os seus sofrimentos; não anda alardeando valentia, nem vociferando ameaças e por isso supomos que seja realmente manso.

Se for verdade incontestável, pois foi a própria verdade, que é Cristo Senhor Nosso quem no-lo disse, que o pobre de espírito é possuidor do Reino de Deus e que os mansos possuirão a terra, este tipo de pobre nada mais é que o felizardo possuidor de uma fabulosa e imperecível riqueza, dispondo de um tesouro que os ladrões não conseguem roubar e nem as traças e a ferrugem corroer, e foi pela palavra do mesmo Deus que ficamos sabendo que o nosso rico, tão nu como saíra do ventre da sua mãe, tão nu sairá da vida pela porta da morte, na mais triste indigência, nada levando em suas mãos pelos seus trabalhos e pelos seus dias “consumidos numa sombria dor, em extrema amargura, no sofrimento e na irritação...”

Não seria este o pobre que procuramos?
Serão aqueles que carecem de bens materiais para viver?
Que espécies de bens materiais e qual a quantidade?

Para não andar às tontas a procura do Pobre, de dia ou de noite, em qualquer lugar ou onde quer que esteja, o vicentino deverá recorrer ao seu Santo Patrono, São Vicente de Paulo, aquele que tão bem conheceu o Pobre, servindo-o até o derradeiro instante da sua vida, implorando a sua ajuda, a fim de que possa  encontrar o Pobre e ao mesmo tempo lhe seja ensinada a maneira de bem servi-lo e lhe seja dada a perspicácia para reconhecer as causas da miséria e a coragem para combatê-la na medida das suas forças.

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SÃO VICENTE DE PAULO

Podemos ouvir a voz de São Vicente através dos seus exemplos, pois ele soube atender a toda a sorte de miséria. 
Miséria material, miséria moral, miséria espiritual.

POBRES MATERIAIS: explorados, incapazes, excluídos...
POBRES IMORAIS: explorados na imoralidade, prostituição e outros descaminhos
POBRES ESPIRITUAIS: sem estudo, sem valores humanos, sós, doentes...

No combate a miséria material acudiu a todos os necessitados. Os órfãos, os enfermos, os inválidos, os velhos, os perseguidos, os escravos resgatando-os, os encarcerados tornando-se um deles para melhor servi-los, os famintos e, com particular carinho, os pobres envergonhados.
São Vicente sabia que muitos preferiam morrer de fome a sofrer a humilhação de pedir ou de ser encontrado num estado de indigência extrema. Sabia que não eram tão poucos os que assim preferiam e sempre teve muito cuidado em não expor os seus pobres a curiosidade pública, Sabia o quanto era dura, para muitos, pedir, mas sabia como pedir pelos que não pediam. Sabia qual a razão que Nosso Senhor Jesus Cristo nos ensinou a pedir no " PAI NOSSO:" "o pão nosso de cada dia nos dai hoje". Sabia que não era a recomendação de um Senhor prepotente que, no uso de seu imenso poder, que quer forחar um subordinado a reconhecer a sua subordinação, ou um infeliz sentir a sua triste condição de dependente, mas.constituía-se a manifestação  de uma delicadeza extrema daquele que tudo podendo anuncia a sua amorosa disposição de atender prontamente aos que a Ele recorrerem, sem querer forçar o dependente a receber de suas mãos aquilo que não poderia recusar ou que não fosse do seu agrado.

Deus não força o homem a aceitar o que Ele oferece, nem mesmo a participação na sua felicidade eterna, porém, está pronto a dar com abundância tudo aquilo que lhe for pedido. Eis a razão porque São Vicente tinha muito cuidado ao lidar com o pobre.

No combate à miséria moral procurava amparar o pecador, afastando-o do meio pecaminoso, e ocupou-se, com rara solicitude, das pobres mulheres decaídas, oferecendo-lhes o Asilo da Madalena para proteger-lhes   a virtude recuperada.

Maior cuidado dispensou a miséria espiritual, fonte de todas as outras e, por isso, fundou a sua ordem dos Padres da Missão, promovendo instrução para o povo, trabalhando pela reforma do clero e pela instituição de seminários para a formação dos sacerdotes e,não se admirem, promovendo "retiros para os leigos" exemplos que os nossos dirigentes da Sociedade de São Vicente de Paulo sempre procuraram seguir.
Tratando dos "retiros para os leigos", fala um dos biógrafos de São Vicente, o Revmo Pe. Guilherme Vaessen C.M.: "apenas instalado na vasta casa de São Lázaro, Vicente deu um impulso extraordinários aos retiros fechados. Ricos e pobres, sábios e ignorantes, senhores e criados,eram carinhosamente recebidos, hospedados, alimentados, e beneficiados com os “exercícios espirituais".

Por ser difícil conhecer o pobre e os seus problemas é que precisamos de um preparo cuidadoso, a fim de evitar que a nossa falta de conhecimentos nos leve a incorrer, involuntariamente sem dúvida, em graves erros com sérios prejuízos para aqueles a quem pretendemos ajudar. Raramente chegamos a perceber os nossos erros, mas nem por isso os deixam de agravar a situação das suas vítimas.

Uma dama de caridade, filha de São Vicente de Paulo, de nome Conceição Arenal de G. Carrasco, num interessante trabalho a que, com muita propriedade, foi dado o título de "MANUAL DO VISITADOR DO POBRE", procurando mostrar "QUEM É ֹ O POBRE" e falando sobre a miséria assim nos adverte:

"Para bem falar da miséria é necessário conhecê-la, é preciso tê-la estudado. Este estudo quem o fez ou tem feito? Respondemos sem hesitar, ninguém. O ator do terrível drama da miséria sofre apenas; porém, nós, os espectadores, não possuímos ponto de vista suficiente para bem julgar; em uns, o excesso de indiferença, em outros, de sensibilidade, em todos a grande distância que não permite formar uma ideia exata da miséria. Não sabemos o que é pobreza; ignoramos o que ela faz sofrer, as provações que impõe e como modifica moralmente o infeliz que imola e, não obstante, queremos ditar-lhes leis.

Que diríamos do legislador que formulasse um código, sem conhecer a história, os costumes, as leis anteriores, a religião, o estado social e mesmo o país do povo que fosse reger? Pois bem, esse legislador somos nós. Ignoramos o que seja a miséria, mas dizemos ao miserável: “ segue essa ou aquele lei, ou receberás o anátema do seu desprezo e do seu abandono”.


Não é fácil conhecer o Pobre, nem tão fácil como pensamos conhecer ou reconhecer a miséria. À medida que vamos conseguindo identificar as causas de muitas misérias, constataremos que uma porcentagem muito elevada deve ser atribuída às desordens morais, quer dos miseráveis, pelos seus próprios crimes, quer da sociedade paganizada e egoísta, quer dos governantes dos grandes centros, e de tanto fatores que contribuem para o desajuste social.

E HOJE, QUEM SÃO OS POBRES?

Parece muito clara na intenção dos fundadores da Sociedade de São Vicente de Paulo a noção de pobre:

Socorramos, pois, o nosso próximo como fazia Jesus Cristo e ponhamos nossa fé sob a égide da caridade”.

Hoje em dia, a noção de pobre é mais ampla, pois quem vive só de seu salário é pobre. Mas, para a Conferência, pobre é aquele que não tem o necessário para viver com a dignidade de pessoa humana. São os pobres carentes e, por isso mesmo, quase sempre os mais abandonados, são os pobres mais pobres. De modo geral, os pobres, materialmente falando, são também pobres, espiritualmente falando. A uma e outra coisa o Vicentino acorre com sua assistência caritativa.

Entretanto, convém salientar desde o início que, após o Concílio Vaticano II, especialmente, temos uma nova modalidade em termos de caridade – A PROMOÇÃO DOS POBRES – isto é, fazer que ele mesmo se sustente com seu trabalho. Essa já era a orientação simples que São Vicente de Paulo dava aos seus colaboradores – Urge a necessidade e obrigação do pobre se promover e sem deixarmos de assistir aos que realmente não tem condição de se prover a si mesmos mediante um trabalho.

São Vicente de Paulo escreveu: “ (XII, 447 de Pierre Coste).
“Os diretores de Associação (Confrarias de Caridade) farão com que as crianças aprendam um ofício, desde que tenham idade suficiente: distribuirão, semelhantemente, aos pobres e idosos, QUE NÃO PODEM TRABALHAR, o que lhes for necessário para viver... quanto aos que podem ganhar um pouco, a Associação dará o restante”.
Que sabedoria! Afasta-se assim o perigo do puro assistencialismo, paternalista e prejudicial.

E São Vicente desce ainda aos pormenores de seu pensamento, quando escreve: (XII, 507 P.C.) – “Todos os POBRES, isto é, CRIANÇAS de 4 a 7 anos, adolescentes de 9 a 15 anos ou pessoas de mais idade, mas INCAPAZES ou INCAPACITADAS DE GANHAR A VIDA, e os decrépitos que nada mais podem fazer, às crianças, aos incapazes e aos idosos dar-se-á por semana o que lhes for necessário para viver. Aqueles que podem ganhar um pouco se lhes dará o restante... aos jovens ensinar-se-á uma profissão, como a de tecelão, ou se organizará um artesanato mais fácil, onde possam aprender a produzir. É uma outra forma do provérbio chinês: Em vez de se dar o peixe, dá-se a vara com o anzol, a fim de que a pessoa possa ter o peixe toda a vez que precisar de comer”.



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Como são os Pobres?
·       Aos olhos do mundo

Aos olhos dos homens, a pobreza é um castigo da preguiça, da má sorte ou da vida desregrada. E, de um modo geral, os pobres são tidos como indignos pelo peso que representam para a sociedade, pela sujeira ou pela má educação, pois nada produzem. Numa sociedade onde o lucro e a produção são os critérios e a base do poder, do prestígio e do triunfo, é fácil compreender como não haja nem lugar nem vez para o pobre como pessoa humana. Mas, é natural que haja um senso de filantropia ou atendimento coletivo aos problemas sociais levantados pelos pobres, não tanto pelo amor de Deus ou do pobre como tal, mas como condição de paz social e bem-estar dos outros.

·         Aos olhos da fé

A pobreza não é um mal tão grande que se chegue a comparar com os males morais. “Mais vale um pobre, de proceder irrepreensível, do que o de costumes perversos, embora rico. A liberdade é vantajosa para o homem, e é melhor ser pobre do que MENTIROSO”. (Cf. Prov. 19, 1-22). “Vale mais um jovem pobre, mas sábio, do que um rei velho, mas insensato, que já não sabe aceitar conselhos.” (Ecl. 4,13).

Os pobres são geralmente mais dóceis à graça de Deus. Na parábola do homem rico, que ofereceu um banquete a muitos convidados que não compareceram, assim determina o dono da festa, indignado, aos seus criados: “Saí sem demora às praças e às ruas da cidade e trazei para cá os pobres, os cegos e os coxos... Disse o senhor aos criados: Saí pelos caminhos e pelos trilhos, e compeli-os a entrar para que se encha a casa. Pois vos digo que nenhum daqueles que foram convidados provará do meu banquete”. (Lc. 14,23).

O SERVIÇO DOS POBRES

POBREZA por pobreza jamais será ideal de ninguém. Haverá sim, sempre a pobreza voluntária de que falamos por amor de Cristo. A outra pobreza é aquela que é imposta pelas circunstâncias da vida: nascimento – incapacidade física de trabalhar – falta de oportunidades em que entra muito o fator sorte (ou melhor Providência Divina) etc... Tudo isto está previsto nos planos de Deus, muitas vezes insondáveis aos nossos raciocínios, mas sempre amorosos para com aqueles que o amam... Haverá soluções se os homens entenderem as mensagens evangélicas, cujas primícias Cristo colocou como frontispício de sua Boa-Nova e que agora vamos meditar e procurar entender.
1.   Somos todos irmãos de Jesus Cristo, filhos do mesmo Pai Celeste. São vários os textos relativos a essa verdade afirmada por Cristo.

“Vós não quereis ser chamados RABI, pois um só é vosso Mestre, e todos vós sois irmãos”. (Mt 23,8).

“Um só é vosso Pai que está nos céus”. (Mt 23,9).

Essa é a fraternidade universal desejada por Cristo e inculcada na sua mensagem fundamental. A respeito, outras passagens evangélicas podem ser vistas, tais como Mt 12, 47-50; Mt 25,35.

2.   Não menos importante e fundamental é o SERVIÇO prestado ao irmão, Na nova sociedade, inaugurada por Cristo e com seus amigos e discípulos, o relacionamento entre eles será diferente do que se costuma ver das cortes e no meio do povo em geral. Há uma noção nova de autoridade e de poder.

“Houve entre os discípulos uma discussão: qual deles seria o maior? Jesus, porém, conhecendo os pensamentos dos seus corações, tomou uma criança, colocou-a a seu lado e disse-lhes: Aquele que receber uma criança como esta por causa do meu nome, recebe a mim; e aquele que me receber recebe aquele que me enviou. Com efeito, aquele que no vosso meio for o menor, este será grande”. (Lc 9, 46-48). O mesmo evangelista em 22, 24 relata outra discussão entre os discípulos: Qual será o maior? Jesus lhes disse: Os reis das nações as dominam e os que a tiranizam são chamados Benfeitores. Quanto a vós, não deverá ser assim; pelo contrário, o maior dentre vós torne-se como o mais jovem, e o que governa como aquele que SERVE. Pois qual é o maior? O que está à mesa ou aquele que serve? Não é aquele que está a mesa? Eu, porém, estou no meio de vós como aquele que SERVE”.

SERVIR eis a novidade da grandeza no Reino de Deus. Autoridade não é domínio, não é gozo, não é mando autoritário. Autoridade do novo reino é serviço! A glória do discípulo é servir ao irmão. (Veja Jo 13,2 – Mt 20,24).

O Concílio Vaticano II retomou a mensagem do Mestre Divino: (GS, 204) “Nenhuma ambição terrestre move a Igreja. Com efeito, guiada pelo Espírito Santo, ela pretende somente uma coisa: continuar a obra do próprio Cristo, que veio ao mundo para dar testemunho da verdade, para salvar e não para condenar, para SERVIR e não para SER SERVIDO.

(Decreto AD GENTES, 889) “De forma alguma pretende a Igreja imiscuir-se no governo do Estado. Não reclama para si nenhuma outra autoridade que a de SERVIR aos homens caridosa e fielmente, ajudada por Deus”. Por isso o Santo Padre assina: SERVO DOS SERVOS. A maior glória e nossa razão de ser como discípulo de Cristo é SERVIR AO IRMÃO em nome de Jesus. Com razão, bastariam essas duas premissas, o de nossa identidade como irmãos da mesma e grande família humana realizada em Cristo, bem como a maior glória o SERVIR EM NOME DE CRISTO, para estabelecermos uma nosa ordem no universo – A FRATERNIDADE VERDADEIRA UNIVERSAL.

3.   CONCLUSÃO
É importante concluir: Como é fundamental para o Vicentino saber SERVIR. O serviço dos Pobres, pois, é a glória do Vicentino, E é sua missão no mundo. Essa missão continua de perto a obra de Cristo e concretamente a torna visível aos olhos dos homens para glorificarem o Pai.
QUEM NÃO VIVE PARA SERVIR, NÃO SERVE PARA VIVER!

4.  CONSIDERAÇÕES FINAIS
a) NOSSO TRABALHO COM OS ASSISTIDOS É:

·         Entender individualmente qual a real necessidade do assistido.
·         Uma ação ajustada a cada necessidade do assistido.
·         Uma obrigação de dar dignidade ao assistido (como cidadão e cristão). 
·         Uma obrigação de fazer o assistido deixar de ser assistido, quando possível.

b) NOSSO TRABALHO COM OS ASSISTIDOS NÃO É

Só levar a sacola de alimentos, ou o “Vale”, ou a cesta       básica. (ou qualquer outro tipo de auxílio).
·         Uma ação igual para todas as famílias.
·         Uma obrigação de visita semanal.
·         Uma obrigação de quantidade mínima de famílias assistidas.
·         Um trabalho assistencialista:
◊ feito por pena ou desencargo de consciência.
◊ que gere dependência do assistido em relação a nós.

    c) O QUE SIGNIFICA “DAR DIGNIDADE”?
·        Dar ao assistido condições de igualdade social para que ele possa se desenvolver sem a nossa ajuda (ex.: moradia, educação, saúde).
·        Cobrar do assistido uma melhoria contínua de suas condições, desde que ele tenha as condições básicas.
·        Dar ao assistido a oportunidade de conhecer o que é ser cristão.

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Utilizei na confecção desse trabalho:
Palestra sobre “Os Pobres” do cfd. Helio G. de Morais
Apostilha do Curso Básico, Ed.1987 do CSB
Curso de Formação – modulo III: Cfs. Sideny de Oliveira Filho e
Eduardo Marques.



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