Os ramos vicentinos
O CARISMA VICENTINO NA REGRA DA
SOCIEDADE DE SÃO
VICENTE DE PAULO
As
Conferências estando tão ligadas desde o início ao carisma Vicentino, não é de
se surpreender que a Regra da Sociedade exalte o espírito de São Vicente de
Paulo em todos os seus sentidos, especialmente aqueles que tratam da vocação,
do serviço aos pobres, a espiritualidade e as virtudes do vicentino.
É
significativa nesse sentido, a descrição que se faz da vocação vicentina no
número 1.2 da Regra: "seguir a Cristo, mediante o serviço para àqueles que
dela necessitam, e assim ser testemunhas de seu amor compassivo e libertador
". O seguimento de Cristo é certamente uma condição essencial de todo
cristão; mas fazê-lo, entregando-se aos pobres, enfatizando o amor como
distintivo, é próprio do carisma vicentino.
De
fato, na breve exposição desta edição, as expressões que em cada instituição
vicentina são características são enfatizadas: Cristo, serviço, necessidade e
caridade. E, ainda, a mesma pretensão que reflete a Regra de serem
"testemunhas" do amor de Cristo, demonstra o caráter evangelizador do
serviço realizado, que reforça outro dos eixos essenciais do nosso carisma.
A
Regra também enfatiza que a espiritualidade dos vicentinos é eminentemente
cristocêntrica. São chamados a "unir-se a Cristo no amor, que representa a
essência da sua vocação e a fonte da sua inspiração" (2.2) ...
"Esperam que algum dia não sejam eles que amam, mas que o próprio Cristo
ame através deles "(2.1) ... E eles desejam ”compartilhar o amor
compassivo e libertador de Cristo, o Evangelizador e Servo dos pobres".(2.5).
Focalizando em Jesus Cristo, e especificamente neste Jesus Cristo Evangelizador
e Servo, é o fundamento central da espiritualidade Vicentina, como pode ser
visto em quantos ramos surgiram da inspiração de São Vicente.
Também
do carisma vicentino está a visão de Cristo nos pobres, como se afirma na Regra
ao enfatizar como característica espiritual, seguindo São Vicente, "ver
Cristo no pobre e o pobre em Cristo" (2.5), de onde faz sentido servi-los
na esperança, estar disponível a todos os pobres e a todas as pobrezas,
trabalhar pela sua dignidade, comprometer-se com a justiça, abordá-los com
alegria, tratá-los com amor e tantos outros compromissos que são coletados em
toda a Regra. Se Cristo é um dos polos do eixo do carisma vicentino, os pobres
CONSTITUEM O OUTRO POLO.
O
vicentino deve viver a missão e a caridade no meio do mundo. É com os pobres e
entre os pobres que ele deve dar testemunho da ternura de Deus e do amor de
Jesus Cristo. É por isso que a secularidade é outra das nossas características
carismáticas. Esta característica é reconhecida na Regra quando a Sociedade é
definida como "uma organização católica internacional de voluntários
leigos, homens e mulheres" (1.1). O próprio Federico Ozanam é o modelo de
como "alcançou a santidade como leigo vivendo plenamente o Evangelho em
todas as facetas da sua vida" (2.4). Todos os membros da Sociedade têm um
exemplo e um incentivo para viver a sua vocação e missão: ser leigos
conscientes e convencidos do seu lugar na Igreja, que vive todas as dimensões
da vida desde o Evangelho e participar da missão de Cristo no mundo através do
serviço de caridade aos pobres.
A
secularidade das Conferências não diminui a consciência viva de seus membros de
pertencer à Igreja, mas lhe dá o tom próprio. Já no primeiro número das Regras
a Sociedade é reconhecida como "instituição católica desde suas
origens" (1.1)
Reafirma-se
mais adiante que "a Sociedade e cada Vicentino mantêm uma estreita relação
com a Hierarquia da Igreja Católica" (5.1) E, sendo legalmente autônoma,
"a Sociedade reconhece o direito e o dever do Bispo Católico, em sua
Diocese, de confirmar que nenhuma de suas atividades é contrária à fé e à moral
"(5.3).
Se
em algum momento o carisma vicentino das Conferências é evidente, é
precisamente na afirmação das cinco virtudes essenciais de seus membros. Começa
por evidenciar que "os vicentinos procuram imitar São Vicente nas cinco
virtudes que fomentam o amor e o respeito pelos pobres". E estas virtudes
são então propostas juntamente com uma pequena explicação do seu significado:
"simplicidade, humildade, afabilidade, sacrifício e zelo" (2.5.1).
Naturalmente,
estamos diante das virtudes do universo cristão, mas sua seleção responde a uma
clara preferência de São Vicente. Todas as instituições que ele fundou contêm
essas virtudes como pertencentes aos seus discípulos: as Confrarias da
Caridade, a Congregação da Missão e a Companhia das Filhas da Caridade. Porém, são
as virtudes necessárias para levar adiante a caridade e missão.
A
humildade é necessária para se colocar a serviço dos pobres. Com simplicidade se
alcança a proximidade e a comunicação. A afabilidade ou a mansidão favorece
aceitação e entendimento mútuos. O espírito de sacrifício é o que permite a
disponibilidade total. E o zelo supõe paixão por Cristo e pelos pobres e se
entrega completamente à missão de evangelizar pela caridade.
O
carisma vicentino implica, finalmente, a referência a um grupo ou a uma
comunidade como sujeita da missão. Assim como você não pode ser um cristão sem
pertencer à Igreja ou comunidade de fé, nem pode ser Vicentino sem pertencer a
um grupo inspirado por este próprio espírito. A Regra da Sociedade tem muito presente
este princípio quando diz precisamente que "Vicentinos se reúnem como
irmãos e irmãs na presença de Cristo em Conferências que são comunidades reais
de fé e amor, oração e ação" (3.3).
A
Conferência, portanto, não é apenas um grupo de pessoas boas que se reúnem para
fazer caridade. Também não é uma organização filantrópica preocupada com o
bem-estar dos pobres. Cada Conferência é uma comunidade de fé e amor; e isso
implica uma demanda notável por seus membros. Como uma comunidade de fé tem de
adquirir uma formação cristã séria e deve cultivar uma espiritualidade viva,
que compromete seus membros a participarem dos sacramentos da Igreja, a prática
da oração, meditação da Palavra, o cultivo da vida interior. E como comunidade
de amor, devem favorecer a comunhão e a compreensão entre seus membros, o
trabalho em equipe, a proposta de projetos, a disposição de todas as suas
forças para servir os pobres. Por isso, a Regra enfatiza a necessidade de um
vínculo espiritual e amizade entre os membros, bem como o compromisso de uma
missão comum de serviço evangelizador aos necessitados.
Todo
esse caráter vicentino da Sociedade expressado em sua Regra necessariamente
leva a uma estreita relação com os outros ramos da Família Vicentina e envolvimento
sério de todos em projetos comuns (4,3).
Fortalecidos
este ano para a celebração dos 400 anos do carisma, estamos chamando todos os
vicentinos a nos entusiasmar-nos com o vigor desse carisma vivo e a
comprometer-nos com a missão evangelizadora da Igreja a serviço da caridade.
A
Regra enfatiza a necessidade de um vínculo espiritual e amizade entre os
membros, bem como o compromisso de uma missão comum de serviço evangelizador
aos necessitados.
Pe.
Santiago Azcárate, CM
Assessor
religioso da SSVP na Espanha
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