1º DOMNGO DO ADVENTO

Marcos 13,33 – 37

Ficai de sobreaviso, vigiai; porque não sabeis quando será o tempo. Será como um homem que, partindo de uma viagem, deixa a sua casa e delega sua autoridade aos seus servos, indicando o trabalho de cada um, e manda ao porteiro que vigie. Vigiai, pois, visto que não sabeis quando o senhor da casa voltará, se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã, para que vindo de repente, não vos encontre dormindo. O que vos digo, digo a todos: vigiai!

Comentário

Já é hora de acordar! Eis o apelo de Jesus no Evangelho que inaugura este tempo do Advento. Uma nova aurora surge no horizonte da humanidade, trazendo a esperança de um novo tempo de um mundo renovado pela força do Evangelho. Neste tempo de graça, somos convocados a sair do torpor de uma prática religiosa inócua, a acordar do sono dos nossos projetos pessoais vazios e egoístas. Despertos e vigilantes, somos convidados a abraçar o projeto de Deus que vem ao nosso encontro, na espera fecunda do Tempo do Advento, temos a chance de reanimarmos em nós e os compromissos assumidos em favor da construção do Reino, reavivando as forças adormecidas, para a construção de uma humanidade nova, livre das trevas do sofrimento, da marginalização e da morte.

Frei Sandro Roberto da Costa, OFM - Petrópolis/RJ

2º DOMINGO DO ADVENTO

Marcos 1,1 – 8

Conforme está escrito no Profeta Isaias: Eis que envio meu anjo diante de ti: Ele preparará teu caminho. Uma voz clama no deserto: Traçai o caminho do Senhor, aplainai suas veredas (Mt 3,1); Is 40,3). João Batista apareceu no deserto e pregava um batismo de conversão para a remissão dos pecados. E saiam para ir ter com ele toda a Judéia, toda Jerusalém, confessando os seus pecados. João andava vestido de pelo de carneiro e trazia um cinto de couro em volta dos rins, e alimentava-se de gafanhotos e mel Sivestre. Ele pôs-se a proclamar: “depois de mim vem outro mais poderoso do que eu, ante o qual não sou digno de me prostrar para desatar-lhe a correia do calçado. Eu vos batizei com água; ele, porém, vos batizará no Espírito Santo”.

Comentário

“Preparai o caminho do Senhor, aplainai as suas veredas”. Clamando pelo deserto, João Batista nos indica que procurar viver conforme a Boa-Nova que Jesus nos trouxe não se trata, simplesmente, de viver dentro de um sistema religioso com certas práticas que nos identificam com tais. Talvez ele queira nos indicar que a fé, antes de tudo é um percurso, uma caminhada, onde podemos encontrar momentos fáceis e difíceis, dúvidas e interrogações, avanços e retrocessos, entusiasmo e disposição, mas também cansaço e fadiga. No entanto, o mais importante é que nunca deixemos de caminhar, pois o caminho se faz caminhando. Boa caminhada de Advento e preparação!

Frei Diego Atalino de Melo

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

4. OZANAM, MESTRE E EDUCADOR NO SEU TEMPO E NO NOSSO





Ozanam,Mestre e Educador  no seu Tempo e no Nosso (*)



            Falar sobre FREDERICO OZANAM, comentar aspectos de sua atividade polimorfa, isto é, sob muitas formas,  reviver uma das personalidades de maior projeção na primeira metade do século passado. Bem podemos imaginar o que foi essa vida toda dedicada a um programa de atuação pela verdade católica.

            OZANAM viveu numa época bastante difícil, sem dúvida muito mais difícil que a nossa. Lutas e incompreensões, desajustamentos sociais, civilização em mudança, sob o luzeiro das idéias democráticas que então despontavam, fizeram emergir verdadeiros apóstolos das grandes causas.

            Primeira metade do século 18, que viu nascer OZANAM, PASTEUR, JOÃO BOSCO nas duas primeiras décadas; século da atividade de LAMENNAIS, VICTOR HUGO, KARL MARX, de CHATEAUBRIAND e MONTALEMBERT, intelectuais brilhantes que lutaram com ousadia pelos seus ideais! Foi o século das grandes invenções, invenções de habilidade humana que trariam conseqüências, ainda que extraordinárias, causaram desequilíbrio na organização social. A introdução da máquina a vapor viria transformar profundamente o sistema de transportes, e a locomotiva completaria as alterações desse sistema. O telégrafo encurtaria distâncias e haveria de levar a todos os recantos do mundo os conhecimentos de que eram possuidores apenas alguns privilegiados. Em meio a todas estas modificações da estrutura social, proliferavam as mais diversas doutrinas filosóficas; umas, agitando idéias, e outras promovendo lutas pelo desenvolvimento. Não raro essas doutrinas e essas transformações conduziam a convulsões sociais, num remodelar incessante da sociedade. E no meio de tudo isto, vagava, por vezes em mar revolto, a barca de PEDRO, que em Roma sustentava ardorosamente os princípios cristãos.

            A revolução de 1792 se prolongava pelas décadas do século seguinte. Não eram mais os dias tremendos do terror. Não mais decapitavam sacerdotes, aristocratas ou criminosos, mas as idéias sofriam amputações profundas, muito mais importantes que o rolar de cabeças de reis, magistrados ou sacerdotes. Não se encarceravam os homens, mas se aprisionavam as idéias e com elas, muitas vezes, também os ideais.

            Foi na segunda década desse século que ressurgia do caos originário da Revolução Francesa, que apareceu ANTONIO FREDERICO OZANAM. Seu nascimento deu-se numa fase de lutas, em que o domínio de Bonaparte se estendia para além dos Alpes. Nasceu em Milão, sob a dominação francesa, mas radicou-se em Lyon, onde permaneceu durante a adolescência e mantinha sua residência.

            Desde muito jovem, não obstante sua timidez, manifestara um temperamento de lutador. Não procurava lutar, mas, sabia defender-se.

            Toda sua formação processou-se no Colégio Real de Lyon. Colégio bem diferente dos de nossos dias. Dele há uma descrição de EDGARD QUINET, que nos diz o que era esse colégio sob a Restauração. Possui “abóbadas tenebrosas, portas trancadas e gradeadas, capelas úmidas e altos muros que impediam a entrada do sol”. OZANAM foi aluno externo desde 1822. Os estudos referem seus biógrafos, eram rigorosos. O ambiente teve marcada influência  sobre o jovem estudante, mas muito maior foi a ação benéfica que sofreu de um de seus mestres – Padre NOIROT – a quem ele deveu muito de sua formação cristã. NOIROT era realmente um Mestre, e como tal, formava discípulos. Professor de Filosofia era tido em alta estima pelos intelectuais de maior autoridade. COUSIN, entre eles, costumava qualificar o Padre NOIROT “como o primeiro professor de filosofia da França”. (GOYAU).

            No dizer de GOYAU: “A pessoa do Padre NOIROT exercia maior ação que seu sistema; a familiaridade de sua alma produziu ação mais profunda que suas lições, e se a celebridade de seu professorado permitiu aos contemporâneos falar de uma escola lionêsa, é preciso, para bem avaliar a magnitude deste fato intelectual, reler uma página do professor HEINRICH, um dos discípulos de NOIROT: “Esta escola é inigualável, se sê quiser determinar seu sistema e debater os artigos de seu  Credo: ela existe, se sê trata do hábito de um método sábio, do gosto pelas ideias claras, de um possante espírito de análise, de um profundo sentimento do bem intelectual e moral que se deve fazer a seus semelhantes, e geralmente de uma fé refletida nos dogmas do cristianismo”.

             Como se vê, NOIROT não era apenas professor, mas um verdadeiro Mestre. Ele e OZANAM passeavam juntos nos arredores de Lyon e nessas manifestações íntimas de amizade e interesse por sua formação moral e intelectual, firmava-se a fé no coração do jovem discípulo. Vinte anos mais tarde escreveria OZANAM: “Ele – o padre NOIROT – colocou em meus pensamentos ordem e luz”.

            Mas não foi fácil esse período da vida de OZANAM. Mergulhado nos estudos, ávido de saber, com a inteligência viva, todo ele era precocidade. Dedicando-se seriamente aos estudos, era assaltado por dúvidas. Durante o curso de retórica (oratória), de tanto ouvir falar de incredulidade e de gente que não acredita em Deus, foi tomado de dúvida atroz. É o que nos revela uma carta datada de 5 de janeiro de 1830. OZANAM tinha 17 anos, quando escreveu: “É necessário que eu entre em alguns pormenores, sobre um período penoso de minha vida. Esse período começou quando estava no curso de retórica e que terminou no ano passado. A força de ouvir falar de descrentes e incredulidades, eu me perguntava: porque eu cria? Eu duvidava e, entretanto, eu queria crer. Eu repelia a dúvida. Lia todos os livros em que a religião era provada, e nenhum me satisfazia plenamente. Cria, durante um ou dois meses, baseado na autoridade de tal raciocínio: uma objeção sobrevinha ao meu espírito, e eu duvidava ainda. Oh! Como sofria! Sofria porque queria ser religioso. Procurava VALLAR: VALLAR não me satisfazia. Minha fé não era sólida e, no entanto, gostava mais de crer sem razão do que, duvidar, porque isto me atormentava em demasia. Entrei no curso de filosofia. A tese da Certeza perturbou-me. Num instante cri poder duvidar de minha existência”. (O´MEARA, p.11).

            Foi esta a primeira crise de OZANAM, então em plena adolescência. Venceu-a, diz-nos GOYAU (L.c., p.S), graças ao Padre NOIROT. Com ele o espírito de OZANAM encontrou o prumo.

            Esta primeira crise foi bastante dura. Dela OZANAM guardaria impressão profunda, da qual jamais se esqueceria.

            No prefácio das Obras Completas, iria dizer muito mais tarde: “A incerteza do meu destino eterno não me deixava repouso. Segurava-me desesperadamente aos dogmas sagrados e parecia-me senti-los quebrar em minhas mãos. É então que o ensino de um sacerdote filósofo me salvou. Colocou em meus pensamentos ordem e luz: cri desde então com uma fé segura e, tocado de um bem estar tão raro, prometi a Deus votar meus dias ao serviço da verdade que me dava a paz”.

            Como são diferentes os dias da época de OZANAM comparados aos nossos dias ou os dias de hoje! O sistema que adotamos na formação dos nossos adolescentes não deixa tempo para ter dúvidas... e nem certezas! Por certo, muitos serão os estudantes de nossas escolas médias que passam pelas mesmas dificuldades e questionamentos, como OZANAM. Mas onde eles iriam encontrar um padre NOIROT para conduzi-los ao caminho certo? Onde encontrar o ambiente da seriedade, da confiança, da ética, do incentivo do Colégio Real de Lyon? Pobre geração de hoje que não duvida, porque não tem tempo para duvidar. E não tem dúvidas porque não aprendeu a pensar e questionar. Nosso ensino, falto de objetividade, excessivamente de viva voz, oral, desordenado e ineficiente, atua enchendo nossos estudantes de uma pseudociência, que, por ser falsa e incoerente, não chega sequer a suscitar dúvidas no espírito do jovem adolescente. Ele não estuda, porque memoriza. Não compreende, adivinha. Não se forma, informa.

            OZANAM partiu para Paris para ingressar na Faculdade de Direito. Ia só. Suas credenciais eram ótimas, mas não esperava lá encontrar sequer um conhecido. Ia, porém, armado de uma fé robusta. Os cuidados da mãe carinhosa, seus ensinamentos inesquecíveis, a piedade que lhe incutira na alma, eram escudo seguro nos embates que iria dentro em pouco travar.

            O isolamento de Paris era-lhe muito desagradável. Procurava consolar-se com a correspondência ativa dessa época. Assim escrevia ele: “Permita-me querida mãe, que a force a uma despesa de quatorze “sous” para que lhe possa mandar notícias deste pobre Frederico, que tão bem você e eu conhecemos, e que não se julga esquecido em Lyon, ainda que uma distância de cem léguas dela o separe”. E continuou: “Minha alegria fugaz naufragou completamente. Agora que me encontro sozinho, sem distração nem consolo externo, começo a sentir toda a tristeza, o vácuo imenso de minha posição. Eu que tanto me acostumara aos entretenimentos familiares, encontrando tanto encanto e doçura em rever, cada dia, reunidos em torno de mim, os entes queridos, e que tanta necessidade sentia de conselhos e encorajamento, aqui estou desterrado, sem apoio e sem ponto de ligação, nesta Capital do egoísmo, neste turbilhão de paixões e erros. Quem se apieda de mim? Os jovens meus conhecidos residem muito longe para que os possa encontrar frequentemente. Ninguém mais eu tenho senão você, mamãe, para expandir a alma: você só e o bom Deus... Mas estes dois entes, quantos não valem?”.

            Este trecho mostra-nos a sensibilidade da alma de OZANAM. Quantos filhos saberiam hoje ter palavras de tanta ternura!

            A transição na formação de OZANAM de colegial para acadêmico foi crivada de dificuldades. O ambiente estranho, a cidade imensa, a falta de companheiros, tudo contribuiu para acabrunhá-lo. OZANAM ingressa na Sorbona e logo sente profundamente a adversidade envolvente. No velho e famoso instituto universitário dominava o agnosticismo.(¹) Imperava a incredulidade. Os professores valiam-se da famosa liberdade de cátedra para atacar o cristianismo. E a mocidade que frequentava os cursos intoxicava-se. De repente OZANAM se viu no meio dela!

            Não foi na Sorbona que OZANAM  encontrou o Mestre! Fora dela, pelo menos fora dos seus cursos é que ele foi topar com AMPÈRE, o qual, por assim dizer, continuou a obra do Padre NOIROT.

            Desse homem extraordinário, profundamente consciente, OZANAM haveria de lembrar-se durante toda a vida. A generosidade de AMPÈRE foi sempre assinalada por OZANAM. AMPÈRE era, por assim dizer, a ponte de ligação entre Paris e Lyon. Eis o que diria mais tarde a respeito, OZANAM: “Da humilde e tranquila vida familiar que, faz seis meses, é a minha, volta-se meu pensamento para aqueles dias em que, ao deixar Lyon pela primeira vez, chegava eu, jovem ainda de dezoito anos, ao seio da movimentada e perigosa solidão da capital. E recordo, então, a casa tutelar que se abriu para abrigar minha inexperiência, a família que se dignou admitir-me no número de seus filhos, e aquele que, absorvido pelo sem número de ocupações e honrarias, achou vagar, não se desdenhando tal encargo, para me servir de pai. Essas recordações deixam-me sempre em estado de agradecimento e enlevo. Então, comovido por tanta bondade da Providência, pergunto a mim mesmo, inquieto, que pretendeu ela de mim, colocando minha juventude sob tão raros patrocínios? A afeição que, mais de uma vez, me testemunhastes, e, de modo especial, no fim de minha estada em Paris, deixa-me pensar no prolongamento para o futuro dessa influência que tão feliz eu senti no passado. Talvez devemos compreender que sejam desígnios da Providência Divina que certos homens influenciem o destino de outros homens, podendo essa atuação ser hereditária. Entre tantos dos que herdastes, permiti-me incluir esse patrocínio, de que tanto me honrava o vosso pai”.

            Continuando, OZANAM assim se pronunciou: “Em certo colóquio que mantive convosco, no ano passado, eu vos confiei às hesitações que me eram comuns com todos os jovens que passam da vida escolar para a vida prática a minha repugnância pela agitação dos negócios, as minhas tendências pacíficas, os sonhos de estudos e a necessidade moral em que, entretanto, me encontrava de acercar-me de meus pais, levando uma vida de trabalho em Lyon. Confiei à você, igualmente, a idéia que me haviam sugerido, e que parecia conciliar os pendores de meu espírito com as exigências de minha posição”.

            Sob a tutela de AMPÈRE, e depois, no convívio com LACORDAIRE, MONTALEMBERT e, CHATEAUBRIAND, OZANAM fortalecia cada vez mais sua fé. E pode, durante o curso acadêmico, prosseguir naquele programa que o entusiasmo da adolescência lhe ditara, e, mesmo sendo bem conhecido, vale a pena reproduzi-lo. É o trecho de sua carta a FOURTOREL, escrito aos 17 anos: “E se pretendo escrever um livro aos trinta e cinco anos, devo iniciar aos dezoito os numerosos trabalhos preliminares”. “Conhecer uma dúzia de línguas para a consulta às fontes e documentos; ter regular noção de Geologia e de Astronomia para poder discutir sistemas cronológicos e cósmicos dos povos e dos sábios; estudar, enfim, a história universal em toda a sua amplitude, e das crenças religiosas em toda a sua profundidade, eis o que cumpre fazer a fim de atingir a expressão de minha ideia”.

            Este foi o programa que OZANAM levou, ao atravessar as portas da Sorbona. Diz o comentador que essa carta constitui a explicação de toda a sua carreira.

            Na Sorbona OZANAM logo estabeleceu amizades. Seu encontro com LALLIER, do qual não mais se separaria na amizade, deu-se de modo curioso.

            LETRONNE, um de seus professores, como era então muito comum, atacava a Igreja, comentando de modo desairoso a questão do gênese. Concluía pela inexistência do dilúvio tão bem assinalada nas sagradas escrituras. OZANAM, de um lado e LALLIER de outro estavam em brasas. Não se conheciam. Encontraram-se junto ao Padre GIBIER com quem comentaram a aula do referido professor. Novamente se viram juntos no curso de JOUFFROY, então reconhecido anti-católico. Os ataques de JOUFFROY tiveram pronta resposta. OZANAM encabeçava a lista de protesto. Eram poucos os católicos, mas sua atuação foi viva e positiva. Os ataques do velho mestre cessaram.

            Raros são os exemplos como esse nos dias de hoje! E mais raros ainda os estudantes que ousam tomar tais atitudes. Para isso não basta muita coragem, nem muita fé, mas uma convicção sólida e uma cultura suficiente para rebater os argumentos que vêm habitualmente a tona nas discussões desse gênero.

            Conquistada a láurea, OZANAM quase imediatamente se tornou verdadeiro Mestre. Advogou muito pouco tempo. Logo foi nomeado professor de Direito em Lyon. Para ele criou-se especialmente uma cátedra. Seus méritos, sua sabedoria, sua cultura invejável, foram elementos indiscutíveis para que se lhe oferecessem uma cátedra.

            Como o tempo se transformou! Hoje em dia, especialmente entre nós, o caminho para as cátedras é, em geral, o inverso. Criam-se Faculdades – a lei em primeiro lugar – alugam-se casas que se procuram adaptar para que se ministrem as aulas; depois procura-se o catedrático. Modo estranho, sem dúvida. Mas os resultados não são estranhos. Especialmente na América do Sul, constituem mania a proliferação de institutos de ensino mal aparelhados e com professores medíocres. Não é de se estranhar, então, ver tão medíocre o ensino ministrado! Clama-se por todos os cantos: faltam homens!... mas não se cuida de formá-los bem.

            A aula inaugural de OZANAM foi sensacional. Eis como ele mesmo a descreve em carta de 15 de janeiro de 1840 a HENRIQUE PESSONEAUX: “Uma multidão assistia ao discurso de abertura, chegando a quebrar portas e vidros... Desde então, a sala não deixou de estar sempre cheia, embora possa conter mais de duzentas e cinqüenta pessoas. Entrei, entretanto, com ousadia pelo campo das digressões filosóficas e históricas que as matérias podiam comportar, nem mesmo recuando diante das verdades mais duras. Não me furto, porém, ao ensejo de provocar um sorriso no auditório, pois, como diz DE MAISTRE, “a agulha faz passar o fio”.

            Sabemos que a vocação de OZANAM era a das letras e não da jurisprudência. Conquistou logo o grau de doutor em Direito e pouco tempo depois o de doutor em Letras. Em ambas as láureas, mas principalmente na última, OZANAM revelou-se o Mestre profundo conhecedor de sua matéria.

          Sua tese sobre “Dante e a Filosofia Católica” mostra e comprova como ele seguiu fielmente o programa traçado! A reivindicação de Dante como católico e apóstolo, tirando-o do conceito então em moda, de ser considerado mero poeta, bem demonstra como todo o trabalho de OZANAM era votado à procura da verdade!

            Para bem interpretar DANTE fora necessário conhecer muitas línguas como se propusera aos 17 anos. E a cátedra veio-lhe ao encontro. A narrativa do seu concurso dá-nos uma idéia de como era difícil o acesso ao magistério superior. Nada menos que oito provas em latim, grego, italiano, alemão, inglês e espanhol. E eram vários os concorrentes, alguns deles especialistas de renome. E OZANAM era católico militante, o que, na época e mais ou menos ainda hoje, constituía fator negativo ponderável.

            Mas o valor de OZANAM superou todas as dificuldades. E o êxito foi completo! Iniciou seu curso na Sorbona como professor suplementar e quatro anos mais tarde passou a efetivo.

            Memoráveis foram suas lições. Como disse com muito acerto TRISTÃO DE ATHAYDE: “OZANAM era dos mestres que possuíam os três “C”, isto é, a Ciências, a Consciência e a Comunicabilidade”.

       Profundo conhecedor da matéria de sua especialidade, a literatura estrangeira, haveria, por certo, de formar discípulos. OZANAM conta-nos seus biógrafos, terminava a aula recebendo uma salva de palmas. Logo os alunos dele se acercavam e com ele discutiam o tema da preleção. Mas tarde acompanhavam-no ao jardim de Luxemburgo e com ele palestravam animadamente, indo até sua casa onde os recebia e os punha à vontade. Esse o verdadeiro Mestre! Os discípulos comprovam-no.

            Como são raros hoje em dia tais modelos de professor! A vida agitada dos nossos dias não deixa instante para essas reuniões literárias. Acabada uma aula, professor e alunos se repelem como se fossem os pólos do mesmo sinal de uma pilha elétrica. Bem poucos os professores que levam seu ofício como um sacerdócio, tanto do magistério secundário como superior que tenham as atitudes de OZANAM! Essa é a obra intelectual do jovem lionês.

            Mas, sua ação foi também profundamente educativa. Ainda jovem acadêmico lutou com seus companheiros e pode instituir as famosas conferências de “Notre Dame”, onde a palavra eloqüente de LACORDAIRE atraia toda Paris.

            Seu exemplo como professor consciencioso que preparava cuidadosamente suas lições, por certo, haveria de calar fundo na mente de seus discípulos.

            Mas OZANAM tinha um programa. E teria que executa-lo. E o fez na sua obra máxima realizada nos curtos 23 anos de apostolado. Fundou a Sociedade de São Vicente de Paulo.

            Seu início foi a Conferência de História. Eis como OZANAM relata sua atividade nesse setor: “Não ignoras qual era, antes de minha partida de Lyon, o alvo de meus sonhos. Sabes que eu aspirava organizar uma reunião de amigos que, juntos, trabalhassem pela ciência. Longo tempo permaneceu estéril esta ideia. Apenas um amigo abrira-me a porta de uma reunião literária, bem pouco numerosa, resquício de antiga sociedade dos bons estudos, e cujos processos, pouco científicos, quase não deixavam margem ào deixavam margem edade dos bons estudos, e cujos processos, pouco cient  filosofia e à série de investigações. Nos reuníamos em acanhado recinto. Apenas quinze membros mantinham-se fiéis a estas sessões de estudos, e somente questões transcendentais sobre o futuro e o passado ousavam apresentar-se. Agora, graças ao zelo de alguns dos antigos membros, a sociedade progrediu extraordinariamente, contando sessenta sócios e, entre eles, várias celebridades. Numerosos ouvintes assistem às sessões, ficando o amplo salão em que se realizam completamente lotado".

            “Julgamos necessário impor condições bastante severas para a admissão dos candidatos. Não obstante, multiplicam-se as candidaturas e já recrutamos jovens de grande talento. Alguns desses jovens – viajantes precoces – visitaram diversos países europeus e um deles chegou mesmo a fazer a travessia do mundo. Aprofundaram-se uns nas teorias da arte, outros sondaram problemas de economia política. O maior número, porém, entrega-se ao estudo da história e parte ao da filosofia. Existem, ainda, em nossas fileiras duas ou três dessas privilegiadas a quem Deus concedeu asas, e que um dia se tornarão  poetas, se antes a morte ou as tempestades da vida não as colherem no caminho”.

            "O setor tumultuoso da política está fora de nossos debates. Afora isto, existe plena liberdade.  Apresentam-se também, questões de alta relevância, quando jovens filósofos exigem do catolicismo a prestação de contas das suas doutrinas e das suas obras. Então, seguindo a inspiração do momento, um dos nossos lança-se à arena, desenvolve o pensamento cristão, mal compreendido, recorre à História, para patentear as suas gloriosas concretizações, e, encontrando, por vezes, mananciais de eloquência na grandiosidade do assunto, estabelece sobre bases sólidas a união imortal da verdadeira filosofia e da fé. Não se trata, bem entendido, de discutir proposições teológicas, mas, sobretudo, o alcance científico e social do Evangelho. A discussão é franca, e todas as opiniões, mesmo as dos são-simonistas, são admitidas na tribuna. Contudo, sendo os católicos em número equivalente ao dos que o não são, e, por outro lado, sendo eles mais ardorosos, devotados e assíduos, é sempre a favor deles que se inclina a vitória intelectual. Reina, também, entre eles, franca e íntima cordialidade, uma forma de especial fraternidade, mantendo, em relação aos companheiros, constantes benevolência e polidez”.


“Um grupo de dez do qual faço parte, uniu-se de modo particular pelos laços do espírito, e do coração, formando uma espécie de cruzada literária, constituída de amigos dedicados, entre os quais não existem segredos, uns aos outros, desvendando a alma para mutuamente transmitirem alegrias, esperanças e tristezas. Algumas vezes, quando mais puro era o ar e suave a brisa, à claridade do luar que banhava a cúpula majestosa do Panteão, diante desse monumento que parecia querer alcançar o céu e do qual, entretanto, arrancaram a cruz, como a impedir o impulso, pôde um guarda, de olhar inquieto, contemplar seis ou oito jovens, de braços dados, a perambular, durante horas a fio, pela praça solitária". "De fronte serena e passo calmo, suas palavras tinham vibrações de entusiasmo e sensibilidade. Falavam de coisas terrenas e celestes; entretinham-se em pensamentos generosos e piedosas recordações. Eram conversas sobre Deus, os pais, os amigos que desfrutavam a doçura do lar, a pátria, a humanidade". "Não compreendia tal linguagem o parisiense sensual que apressado os acotovelava em busca de prazeres. Era uma língua morta que a bem poucas pessoas era dado conhecer. Eu, porém, os entendia, pois que deles fazia parte, com eles pensando, falando e sentindo dilatar-se o coração".

            Não obstante os numerosos encargos que possuí não descuida da atuação fora da Universidade, isto é, no mundo político. E isso OZANAM comunicava ao amigo FALCONNET, em carta de 21 de julho de 1834: "Quanto às opiniões políticas estamos igualmente de acordo, isto é, desejaria eu também o sacrifício do espírito político em benefício do espírito social. Conservo, certamente, em relação à velha realeza todo o respeito que se deve a um glorioso inválido, mas não me apoiarei nele, porquanto, com sua muleta não poderia mais acompanhar os passos das novas gerações. Na verdade não me oponho nem rejeito qualquer organização governamental, mas não as aceito senão como instrumentos destinados a tornar os homens mais felizes e melhores. Se queres fórmulas, aqui estão algumas: Creio na autoridade como meio, na liberdade como meio, e na caridade como objetivo final. Há duas formas principais, e estas duas formas podem ser animadas de princípios opostos. Ou consistem na exploração de todos em benefício de um só: é a monarquia de Nero, é o tipo de monarquia que tenho horror; ou é o sacrifício de um só, em proveito de todos; é a monarquia de São Luiz, que reverencio com amor; ou se resumem na exploração de todos em favor de cada um: como a república do terror, república amaldiçoada; ou afinal consistem no sacrifício de cada um em proveito de todos, e é esta a república cristã da Igreja primitiva de Jerusalém, e talvez a dos dias vindouros, a mais alta etapa a que se possa alçar a humanidade".

            E continuou OZANAM expondo seu pensamento: "Todos os governos se me afiguram respeitáveis, enquanto representam o princípio divino da autoridade. E é neste sentido que compreendo o "Omnis potestas a Deo" de São Paulo. Penso, porém, que, em face do poder, se torna necessário um lugar para o princípio sagrado da liberdade. Sou de opinião que deva ser criticado e advertido com coragem, de modo intrépido e altaneiro, o poder que explora em vez de se sacrificar. A palavra foi feita para se tornar o obstáculo que se antepõe à força. É o grão de areia contra o qual vem quebrar o mar".


               "A oposição é útil e louvável, mas não a oposição violenta. Obediência ativa, resistência passiva: as "Prisões" de SILVIO PELLICO e não as "Palavras de um Crente".


            Foi nesse época que OZANAM  que, impressionado com a irreligiosidade de seus colegas, e no afã de levar a palavra de Cristo a todos os corações, procurou e conseguiu a instituição das famosas Conferências de Notre Dame. Ele mesmo relata-nos como foi na carta de 15 de março de 1835 à seu Pai:

"São magníficas essas conferências e são assistidas pelos elementos de maiores projeções da capital: LAMARTINE, BERRYER, etc. uma multidão de literatos e de sábios e, grande número de jovens das escolas. O recinto reservado para os homens abrange toda a imensa nave, abrigando cinco a seis mil pessoas. Estou encarregado de fazer o comentário dessas conferências para o jornal "Universo". Pagam-me vinte e cinco francos por cada um, e as conferências serão em número de oito. Se o bolso pouco recebe, garanto-lhe que o espírito nada perde. É impossível ouvir em  parte alguma dissertações mais eloquentes. Contudo, o padre COEUR, nosso compatriota, distingue-se também, pelos seus sermões em Saint-Roch, e, por outro lado, SAUZET proferiu ontem na Câmera dos Deputados um discurso que despertou unânime admiração, tendo sido comparado aos melhores de BERRYER".

            OZANAM não separava suas preocupações do estudo da História e de sua atividade social. Procurava fundamentar esta com aquela. Eis o que vemos nesta sua carta de 13 de novembro de 1836 ao amigo JANMOT: "Oh! Se na idade média a sociedade enferma não pode ser curada senão pela imensa efusão do amor que brotou, de modo especial, do coração de São Francisco de Assis; se mais tarde novos sofrimentos apelaram para as mãos caridosas de São Felipe Néri, de São João de Deus e de São Vicente de Paulo, quanto de caridade, dedicação e paciência não seria agora preciso para curar as dores desses povos miseráveis, mais indigentes que nunca, por terem recusado o alimento da alma, ao mesmo tempo que lhes acabava o pão para o corpo. A questão que divide os homens de nossos dias não é mais uma questão de formas políticas, é uma questão social, consistindo em saber-se qual levará a melhor, se o espírito do egoísmo ou o do sacrifício; se a sociedade não será apenas uma exploração, em larga escala, em proveito dos mais fortes, ou uma consagração de cada um em benefício de todos, e, principalmente, para a proteção dos fracos. Muitos homens existem que possuem em excesso o que mais ainda ambicionam; muito mais numerosos existem que não possuem o suficiente, e mesmo coisa alguma e, que almejam apoderar-se daquilo que não lhes é dado. Entre essas duas classes de homens uma luta se esboça, ameaçando tornar-se tremenda: de um lado, o poder do ouro; de outro, a força do desespero. Entre esses dois exércitos inimigos, seria preciso que nos precipitemos, senão para impedir, ao menos para lhes amortecer o choque. E nossa idade juvenil e nossa condição medíocre mais fácil nos tornam o mister de mediadores, mister já para nós obrigatório pelo título de cristãos. Eis a utilidade possível da nossa Sociedade de São Vicente de   Paulo". 

       Antes da instituição das Conferências de Notre Dame, preocupou-se com a formação de seus companheiros e com BAILLY institui as Conferências de História. Logo depois, seria levado, por força das circunstâncias, à transformação da Conferência de História na Conferência da Caridade. As discussões, quase sempre estéreis das mesmas, acabaram por desagradar-lhe. O clima tornava-se dia a dia mais favorável para a transformação. Chamado ao debate para mostrar o que então fazia a Igreja, viu-se, de repente de mãos vazias. Não vacilou um instante. Convocou seus companheiros de ideal. "Vamos aos pobres!" Foi o brado lançado no pequeno cenáculo. Ressurgiu uma nova ideia. Fundou-se um novo agrupamento que viria  transformar aquela mocidade universitária da Sorbona e de todo o mundo.

             Notem como são expressivas suas palavras, na carta dirigida a CURNIER de 9 de março de 1837: "(...) Não sei se já observaste que coisa alguma facilita mais a familiaridade entre dois homens que o comer, o viajar ou o trabalhar em comum. Ora, se atos puramente materiais têm esse poder, mais ainda o terão atos morais. Se dois ou mais homens se associam para o bem, será perfeita sua união. Assim, pelo menos, assegurou Aquele que disse no Evangelho: "Em verdade vos digo, quando estiverdes reunidos em meu nome, eu estarei no meio de vós". É por este motivo que, em Paris, quisemos fundar nossa modesta Sociedade de São Vicente de Paulo, e é, talvez, também, por essa razão que o Céu a quis abençoar. Você poderá ver na circular que anexei à esta que, sob os auspícios de nosso humilde e ilustre patrono, já se acham reunidos na Capital duzentos e vinte jovens, e que a obra espalhou-se além das colônias, até Roma, Nantes, Rennes e Lyon. Aqui, particularmente, nossos propósitos tomam vulto e se concretizam. Somos mais de trinta; não nos falta dinheiro e a benevolência das autoridades Eclesiásticas, após algumas leves nuvens, mostrou-se em toda a sua plenitude. Verás que em Paris o desejo é apertar os laços dessa confederação de homens de boa vontade, estabelecendo entre eles contatos regulares, a fim de que se conheçam, se animem e sustentem mutuamente pela força do exemplo e da prece. A sociedade de Nimes, a primeira a instalar-se nas províncias, não se negará a essa fraternal imitação, e suas irmãs considerar-se-ão felizes e orgulhosas de entrar em contato com ela. Não achas que é maravilhoso sentir o coração pulsar num único som com os dos duzentos outros jovens espalhados pelo solo de nossa  França? Não achas que, lançando-se a boa obra recém organizada, como se fora uma moeda, no tesouro comum, a ambição é vê-la perder-se no sem número de boas obras que lá foram também lançadas, confundindo-se todas elas em uma só oferenda para Aquele de quem procede todo bem? E, independentemente da alegria presente, que decorre dessa comunhão de caridade, não existem firmes esperanças para o futuro, mesmo temporal, da sociedade, aonde vai tomar assento esta nova geração, e para o futuro eterno de cada um de nós, em cujo benefício será levado em conta o que todos tiverem feito".

                E continuou OZANAM expondo seu pensamento: "Verificamos dia a dia tornar-se mais profunda a cisão surgida com ímpeto na sociedade civil. Não são mais as opiniões políticas que dividem os homens. É bem menos. São os interesses. De um lado, o campo dos ricos, do outro lado os dos pobres. Em um reina o egoísmo que tudo quer reter; em outro o egoísmo que ambiciona de tudo apossar-se"."Entre os dois há um ódio irreconciliável e as ameaças de uma guerra próxima que será de extermínio. Resta um único meio de salvação; colocarem-se os cristãos, em nome da caridade, entre os dois campos. Que eles caminhem, como desertores benfeitores, de um campo para outro, obtendo esmolas dos ricos e dos pobres resignados. Levem eles dádivas aos pobres, e aos ricos, palavras de reconhecimento. Que habituem uns e outros a se olharem novamente como irmãos, e lhes comuniquem um pouco de caridade mútua. E esta caridade, paralisando e abafando o egoísmo dos dois partidos, e diminuindo aos poucos as antipatias recíprocas, fará com que os dois campos se ergam, destruindo as barreiras de preconceitos. Despojando-se, então, de suas armas de cólera, marcharão ao encontro um do outro, não para se baterem, mas para se fundirem, para se abraçarem e não formar mais que um só rebanho sob o cajado de um só pastor".

                A fundação da Sociedade de São Vicente de Paulo constituiu marco indelével na vida de OZANAM. Foi ela o primeiro fruto visível de seu apostolado fecundo. Não contava mais que 20 anos, e já sabia tocar com mãos de mestre na chaga maior daquela Sociedade enferma. Compreendeu muito cedo que primeiro teria de formar Santos e depois apóstolos. Santidade e apostolado haveriam de andar juntos para resolver aquela camada social que, então, dominava a burguesia que o terror levara ao poder sucedendo à aristocracia. E a Sociedade de São Vicente de Paulo se fundiu com OZANAM. Onde quer que ele esteja, haveria de vivê-la intensamente. É o que vemos quando se localizou temporariamente em Lyon.

                 Vejamos o que ele escreveu em carta de 21 de agosto de 1837 ao seu amigo Le Taillandier: “Tens aqui muitos amigos que se rejubilam com tua feliz aliança, mas que, ao mesmo tempo, lamentam ver perdida a esperança que nutriam de tua companhia. Refiro-me de modo especial a CHAURAND, a LA PERRIÈRE e ARTAUD, pois se quisesse nomear todos quantos te querem bem, seria preciso nomear toda a Conferência de São Vicente de Paulo, visto que a de Lyon está intimamente unida à de Paris. Esta união constitui a nossa força, e esta força aumenta cada vez que, em alguma parte, se funda uma nova Conferência, como aconteceu ultimamente em Dijon e Tolosa. Não poderias organizar uma também em Mans? Não queres dar-nos novos confrades, o primeiro fator de nossa Sociedade? Não procedas, como tanto outros, a quem a família fez esquecer tudo o mais. Tens no coração bastante amor para que o possas derramar mesmo fora do lar. Terás necessidade de maior número de graças que no passado. Não será, pois, o caso de praticar menos número de boas obras. Possa cada um de nós, à medida que envelhecemos em idade, envelhecer também em amizade, em piedade e zelo pelo bem. Possa o patrocínio daqueles a quem consagramos a nossa mocidade: Vicente de Paulo, a Virgem Maria e Cristo, nosso Salvador. Adeus. Sempre teu, muito afetuosamente”.

* Palestra proferida durante uma das Reuniões Interprovinciais promovidas pelo Conselho Metropolitano de São Paulo da SSVP.









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