São
Francisco de Sales (I)
1567 - 1621
"Tende paciência com todos, mas, sobretudo convosco, quero dizer, não vos perturbeis por causa das vossas imperfeições e tende sempre coragem para vos emendar delas. Estimo muito que todos os dias recomeceis, porque não há melhor meio de acabar bem a vida espiritual do que sempre recomeçando e não pensando nunca ter já feito muito."
São Francisco de Sales
São
Francisco, o grande apóstolo do seu tempo, modelo perfeito de santidade,
protótipo de bispo e sacerdote, nasceu em 1567, no castelo de Sales, próximo de
Annecy, na Savóia, na França. Os pais eram de alta nobreza e muito religiosos.
Antes do nascimento do filho, já o tinham consagrado a Deus. A mãe, Francisca,
pediu a Deus que antes a privasse do prazer de ser mãe, do que permitir que
desse à luz uma criança que tivesse a infelicidade de ser inimigo do seu Criador.
A
condessa velou com o máximo cuidado pela educação do filho, que, apesar do
nascimento prematuro e da constituição fraquíssima, se desenvolveu
admiravelmente.
O
menino ia com ela à Igreja, e pela palavra e exemplo, implantou no coração do
filhinho profundo respeito à casa de Deus, amor à oração e ao culto divino.
Frequentemente lhe fazia uma leitura da vida dos Santos, condimentando-a com
instruções adequadas. Francisco devia acompanhá-la até nas visitas que fazia
aos pobres e doentes e era quem dava as esmolas aos necessitados.
Com
uma docilidade admirável o menino aceitou as medidas educativas da mãe. De
tenra idade ainda, já era amigo da oração, sincero no falar e agir, e
compassivo com os que sofrem.
Tendo
chegado o tempo de o menino entregar-se aos estudos, houve divergência entre os
pais. Enquanto a mãe, receosa de expor o filho a perigos espirituais, opinava
dever administrar-lhe o ensino em casa, e para este fim contratar professores
particulares. O conde era de opinião que Francisco devia fazer os estudos num
colégio, no meio de companheiros da mesma idade. Bem sabia que o estímulo muito
favorece o progresso nas ciências.
Tendo
seis anos, Francisco frequentou o colégio de Rocheville, e mais tarde se
matriculou em Annecy. Os professores ficaram admirados do talento privilegiado
do aluno. No
meio dos trabalhos escolares, Francisco não se esquecia das práticas
religiosas. Oração e leitura espiritual eram-lhe companheiras inseparáveis.
Bastante preparado nas matérias propedêuticas, era de vontade do pai que o
jovem estudante seguisse para Paris, com o fim de completar os estudos.
Prevendo
a separação do filho, a condessa redobrou de esforços para confirmá-la na
prática das virtudes. Mais do que nunca lhe recomendou o amor a Deus, a oração,
a fuga do pecado e das más ocasiões: "Meu filho, prefiro ver-te morto a
saber um dia que cometeste um pecado mortal".
Em
companhia de um sacerdote, a quem o cuidado paternal o tinha confiado,
dirigiu-se Francisco à Capital. Algum tempo estudou retórica e filosofia no
Colégio dos Jesuítas. Mais tarde frequentou a academia, onde praticou os
exercícios de equitação, esgrima e dança, exercícios estes que fazia, não por
inclinação, mas para obedecer à vontade do pai. Além disso, dedicou-se ao estudo das línguas orientais e
da teologia. Terminados os cursos em Paris, por ordem do pai seguiu para Pádua,
onde ainda devia estudar direito civil e eclesiástico.
Em
todos os lugares Francisco se distinguiu vantajosamente entre os companheiros e
para todos era modelo de virtude. Para se conservar no meio de tantos perigos,
o jovem estudante recebia semanalmente a santa Comunhão e em Paris, na Igreja
de Santo Estevão, fez em honra de Nossa Senhora o voto de castidade perpétua.
Este mesmo voto renovou mais tarde no Santuário de Loreto, e guardou-o
fielmente até o fim da vida. Sem que o soubesse, encontrou-se numa ocasião na
casa duma pecadora. Quando, porém, percebendo quais eram as intenções da mesma,
cuspiu-lhe na cara e fugiu.
Não
com tanta facilidade pode desvencilhar-se das tentações, com que o demônio o
atormentava. A paz que até então o acompanhara, deu lugar a tristeza, a uma
aridez quase insuportável. Por fim martirizou-o a ideia de estar abandonado por
Deus, de não haver possibilidades de salvar sua alma. As orações, os
sacrifícios e práticas de piedade afiguravam-lhe meros sintomas de hipocrisia,
e de valor ilusório.
Estes tormentos influíram desfavoravelmente na
sua saúde, perdendo apetite, a boa disposição, o sono e bom humor. Por entre
lágrimas e suspiros, queixou-se a Deus de sua triste sorte. As seguintes
palavras são a expressão fiel do que sua alma torturada sentia: "Ó meu
Deus, teria eu então perdido a Vossa graça, depois de ter tantas vezes
experimentado o Vosso amor, a Vossa misericórdia?” “Mãe de Deus! Seria eu
excluído da glória celestial”? “Não permitais, peço-Vos, que seja condenado a
Vos amaldiçoar e blasfemar no inferno!" Passou também esta tempestade, e
Deus Se dignou de livrar Seu servo da pesada cruz que o oprimia.
Um
dia Francisco entrou numa Igreja, onde avistou uma imagem de Nossa Senhora.
Debaixo da imagem leu a oração de São Bernardo: "Lembrai-vos, ó puríssima
Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que alguns daqueles que a vós tem
recorrido, foste por vós desamparado". Estas palavras forma-lhe um bálsamo
para o coração.
Prostrado
de joelhos, recitou com muito fervor a mesma oração, renovou o voto de
castidade, e acrescentou a seguinte declaração: "Ó minha Senhora e Rainha,
sede minha intercessora junto de vosso Filho, perante o qual não me atrevo a
comparecer. Queridíssima mãe se tiver a infelicidade de não amar a Deus no
outro mundo, alcançai-me a graça de amar tanto mais enquanto aqui estou!"
Feita esta oração, Francisco entregou-se sossegadamente à Divina Providência e
desde aquele dia cessaram as insídias e perturbações diabólicas e tornou a
voltar-lhe a paz e tranquilidade, e com ela a saúde do corpo. Grato a Maria
Santíssima, o santo devotou-lhe ainda mais amor e não cessou de proclamar-lhe a
grandeza, o poder e misericórdia.
A
seguir a vontade do pai, Francisco, terminados os estudos, havia de voltar a
terra natal, assumir o cargo de senador de Chambery e unir-se em casamento a
uma fidalga da casa de Savóia. Francisco manifestou então o desejo de
ordenar-se, resolução para a qual solicitou o consentimento dos pais.
Conseguiu-o com muita dificuldade e depois de longa resistência.
O
bispo Cláudio, de Genebra, administrou-lhe o sacramento da Ordem, e do Papa recebeu
a nomeação de preboste¹ da Igreja de Genebra. Incumbido pelo Prelado da
pregação de missões nas regiões do bispado onde a heresia calvinista conseguira
tomar pé, o neo-presbítero dedicou-se à obra com todo fervor. É incalculável
quantos sacrifícios, perigos, perseguições se ligaram a esta difícil missão. Os
hereges, vendo-se atacados com vigor e desmantelados os seus argumentos,
votaram ódio ao missionário e planejaram-lhe a morte.
Deus,
porém, protegeu Seu ministro, e este levou a obra da conversão dos hereges para
dentro da cidade de Genebra. Corajosamente se dirigiu ao chefe do calvinismo de
nome Beza, convidando-o a abjurar o erro. Beza convenceu-se da verdade da
Igreja católica, mas não se animou a voltar para a casa paterna. Melhor resultado
teve em outros lugares. Setenta e dois mil calvinistas abandonaram a seita e
voltaram para o seio da Igreja católica.
Pela
morte do Bispo Cláudio, a administração da diocese passou para Francisco. A
nova dignidade fez ressaltar ainda mais as virtudes do jovem Prelado. Impelido
por um zelo verdadeiramente apostólico, Francisco visitou a pé toda a diocese,
visto que o conselho da cidade tinha-lhe cortado todas as subvenções. Aos fiéis
exortava à perseverança e à prática do bem; aos hereges com paciência e mansidão,
mostrava-lhes os erros, e em toda a parte estabelecia o culto da Igreja
Católica. Novamente convidou os mais eminentes oradores do Calvinismo para uma
discussão pública; porém, nenhum deles teve a coragem de medir-se com o Bispo
católico, conhecendo-lhe a força de argumentação.
Nas
horas vagas compôs belíssimos livros de assuntos religiosos, que têm sido até
hoje muito apreciados.
Fundou
a Congregação feminina da Visitação de Nossa Senhora que obteve aprovação
eclesiástica, e achou a mais completa aceitação entre o povo católico.
Durante
vinte anos tinha dirigido os destinos da diocese, e grandes foram os
merecimentos de sua hábil e prudente administração, quando Deus houve por bem
chamar o fiel servo à eterna recompensa. Negócios urgentes requereram a presença
do Bispo em Lião, durante os dias de Natal, quando lhe sobreveio uma grande
doença. A repetidas tonturas seguiu-se uma congestão que o privou do uso dos
membros, exceto a língua. Entre os primeiros que o visitaram, achavam-se os
Padres Jesuítas, aos quais disse: "Estais me vendo num estado, em que de
nada preciso, a não ser da misericórdia divina”. “Peço que a me alcanceis pela
vossa oração". Perguntado por um deles se estava pronto a sujeitar-se à
vontade de Deus, se Ele lhe determinasse a morte, respondeu: "É bom
esperar no Senhor”. “Para mim aquela hora é como qualquer outra”. “Deus é o
Senhor”. “Que Ele de mim faça o que bem lhe parecer. Nunca vontade diferente da
Sua". Dito isso, fez a profissão de fé, na presença de muitas pessoas,
para assim testemunhar que sempre viveu na fé católica e queria morrer. Recebeu os Santos Sacramentos com muita
devoção.
Durante
dias da doença permaneceu em contínua oração. Frequentemente rezava os seguintes versos dos Salmos:
"Meu coração e minha carne alegraram-se no Senhor. Por toda a eternidade
hei de cantar as misericórdias do Senhor. Quando comparecerei diante da Vossa
face? Ó meu Deus, meu desejo a Vós se dirige, e meus suspiros Vós os conheceis.
Meu Deus e meu tudo, meu desejo vai às colinas eternas. Purificai-me, Senhor,
dos meus pecados; tirai de mim a culpa e purificai-me cada vez mais. Senhor, se
faço falta ao Vosso povo, não recuso o trabalho. Sou um servo inútil, de quem
nem Deus nem o povo têm necessidade".
Entrando
em agonia, perdeu a fala. Os circunstantes, de joelhos, rezaram a ladainha de
Todos os Santos. Quando chegaram à invocação: "Santos inocentes, rogai por
ele", Francisco exalou sua bela alma. Era o dia 28 de dezembro de 1621. O
Santo tinha chegado à idade de 56 anos.
O
coração do Santo Bispo foi solenemente transportado para o convento da
Visitação, em Lyon; o corpo descansa no convento da mesma Congregação, em
Annecy. Os milagres com que Deus glorificou o túmulo do Seu servo são
numerosos. O Próprio Papa Alexandre VII, que em 1665 inseriu o nome de
Francisco no catálogo dos Santos, por intercessão do mesmo ficou livre de mal
incurável. A bula da canonização enumera, entre os milagres provados e
documentados, a cura de um cego de nascimento, de quatro paralíticos e a
ressurreição de dois mortos.
Em
1923 foi declarado Doutor da Igreja e Padroeiro da Imprensa e dos jornalistas.
(Biografia
escrita por seu sobrinho Carlos Agostinho de Sales, Cf. Talon, Maupas,
Marsolier, Camus e Francisca de Chantal).
¹)
Antigo magistrado de
justiça militar.
Oração a São Francisco de Sales
“Oh! São Francisco de Sales, que em sua vida mortal se fez sobressair em todas as virtudes, especialmente no amor à Deus e ao próximo, eu humildemente suplico colocar-me sob a sua proteção imediata, para obter de Deus a minha perfeita conversão, e a de todos os pecadores, especialmente... (mencionar os nomes das pessoas para quem você quiser rezar).
Ensina-me, São Francisco de Sales, a fixar os olhos no céu; que eu possa enfrentar todos os obstáculos que se apresentam no meu caminho, e de atingir, um dia, a glória no céu, com auxílio de vossa intercessão.
Obtende também o especial favor... (mencionar intenção). Ajudai-nos, ó Senhor, nós vos suplicamos, através dos méritos de São Francisco de Sales. Que aquilo que os nossos esforços não podem obter, possa ser-nos dada por sua intercessão.
Oremos: Ó Deus, que, para a salvação das almas, fez São Francisco de Sales seu confessor e bispo, que lutava para que todos os homens e mulheres se submetessem a Vossa misericordiosa vontade, e fossem infundidos com a suavidade da caridade, guiados por seus ensinamentos pedimos, pela intercessão deste vosso servo, a graça de obter a felicidade eterna, através de Cristo, Nosso Senhor. Amém. ”
Nenhum comentário:
Postar um comentário