1º DOMNGO DO ADVENTO

Marcos 13,33 – 37

Ficai de sobreaviso, vigiai; porque não sabeis quando será o tempo. Será como um homem que, partindo de uma viagem, deixa a sua casa e delega sua autoridade aos seus servos, indicando o trabalho de cada um, e manda ao porteiro que vigie. Vigiai, pois, visto que não sabeis quando o senhor da casa voltará, se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã, para que vindo de repente, não vos encontre dormindo. O que vos digo, digo a todos: vigiai!

Comentário

Já é hora de acordar! Eis o apelo de Jesus no Evangelho que inaugura este tempo do Advento. Uma nova aurora surge no horizonte da humanidade, trazendo a esperança de um novo tempo de um mundo renovado pela força do Evangelho. Neste tempo de graça, somos convocados a sair do torpor de uma prática religiosa inócua, a acordar do sono dos nossos projetos pessoais vazios e egoístas. Despertos e vigilantes, somos convidados a abraçar o projeto de Deus que vem ao nosso encontro, na espera fecunda do Tempo do Advento, temos a chance de reanimarmos em nós e os compromissos assumidos em favor da construção do Reino, reavivando as forças adormecidas, para a construção de uma humanidade nova, livre das trevas do sofrimento, da marginalização e da morte.

Frei Sandro Roberto da Costa, OFM - Petrópolis/RJ

2º DOMINGO DO ADVENTO

Marcos 1,1 – 8

Conforme está escrito no Profeta Isaias: Eis que envio meu anjo diante de ti: Ele preparará teu caminho. Uma voz clama no deserto: Traçai o caminho do Senhor, aplainai suas veredas (Mt 3,1); Is 40,3). João Batista apareceu no deserto e pregava um batismo de conversão para a remissão dos pecados. E saiam para ir ter com ele toda a Judéia, toda Jerusalém, confessando os seus pecados. João andava vestido de pelo de carneiro e trazia um cinto de couro em volta dos rins, e alimentava-se de gafanhotos e mel Sivestre. Ele pôs-se a proclamar: “depois de mim vem outro mais poderoso do que eu, ante o qual não sou digno de me prostrar para desatar-lhe a correia do calçado. Eu vos batizei com água; ele, porém, vos batizará no Espírito Santo”.

Comentário

“Preparai o caminho do Senhor, aplainai as suas veredas”. Clamando pelo deserto, João Batista nos indica que procurar viver conforme a Boa-Nova que Jesus nos trouxe não se trata, simplesmente, de viver dentro de um sistema religioso com certas práticas que nos identificam com tais. Talvez ele queira nos indicar que a fé, antes de tudo é um percurso, uma caminhada, onde podemos encontrar momentos fáceis e difíceis, dúvidas e interrogações, avanços e retrocessos, entusiasmo e disposição, mas também cansaço e fadiga. No entanto, o mais importante é que nunca deixemos de caminhar, pois o caminho se faz caminhando. Boa caminhada de Advento e preparação!

Frei Diego Atalino de Melo

quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

2. ATO DE ENTREGA AO IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA



                                                            
Memória do Imaculado Coração de Maria
Pe. José Ricardo
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Ato de entrega ao Imaculado Coração de Maria, 
composto pelo Papa João Paulo II

“Ó Mãe dos homens e dos povos, vós que conheceis todos os seus sofrimentos e as suas esperanças, vós que sentis maternalmente todas as lutas entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas, que' abalam o mundo contemporâneo, acolhei o nosso clamor que, movidos pelo Espírito Santo, elevamos diretamente ao vosso Coração: abraçai, com amor de Mãe e de Serva do Senhor, este nosso mundo 'humano, que vos confiamos e consagramos, cheios de inquietude pela sorte terrena e eterna dos homens e dos povos.

De modo especial vos entregamos e consagramos aqueles homens e aquelas nações que desta, entrega e desta consagração têm particularmente necessidade.

“À vossa proteção nos acolhemos, Santa Mãe de Deus"! Não desprezeis as súplicas que se elevam de nós que estamos na provação”!  

Encontrando-nos hoje diante Vós, Mãe de Cristo, diante do vosso Imaculado Coração, desejamos, juntamente com toda a Igreja, unir-nos à consagração que, por nosso amor, o vosso Filho fez de Si mesmo ao Pai:

"Eu consagro-Me por eles - foram as suas palavras - para eles serem também consagrados na verdade" (Jo 17, 19). Queremos unir-nos ao nosso Redentor, nesta consagração pelo mundo e pelos homens, a qual, no seu Coração divino, tem o poder de alcançar o perdão e de conseguir a reparação.

A força desta consagração permanece por todos os tempos e abrange todos os homens, os povos e as nações; e supera todo o mal, que o espírito das trevas é capaz de despertar no coração do homem e na sua história e que, de fato, despertou nos nossos tempos.

Oh, quão profundamente sentimos a necessidade de consagração  pela humanidade e pelo mundo: pelo nosso mundo contemporâneo, em união com o próprio Cristo! Na realidade, a obra redentora de Cris to deve ser participada pelo mundo por meio da Igreja.  
     
Manifesta-o o presente Ano da Redenção: o Jubileu extraordinário de toda a Igreja.

Neste Ano Santo, bendita sejais acima de todas as criaturas, vós, Serva do Senhor, que obedecestes da maneira mais plena ao chamamento Divino!

Louvada sejais vós, que estais inteiramente unida à consagração redentora do vosso Filho! Mãe da Igreja! Iluminai o Povo de Deus nos caminhos da fé, da esperança e da caridade! Iluminai de modo especial os povos dos quais vós esperais a nossa consagração e a nossa entrega. Ajudai-nos a viver na verdade da consagração de Cristo por toda a família humana do mundo contemporâneo.

Confiando-vos, ó Mãe, o mundo, todos os homens e todos os povos, nós Vos confiamos também a própria consagração do mundo, depositando-a no vosso Coração materno.

Oh, Imaculado Coração! Ajudai-nos a vencer a ameaça do mal, que se enraíza tão facilmente nos corações dos homens de hoje, e que, nos seus efeitos incomensuráveis, pesa já sobre a vida presente e parece fechar os caminhos do futuro!
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Da fome e da guerra, livrai-nos!

Da guerra nuclear, de uma autodestruição incalculável, e de toda espécie de guerra, livrai-nos!

Dos pecados contra a vida do homem desde seus primeiros instantes, livrai-nos!

Do ódio e do aviltamento da dignidade dos filhos de Deus, livrai-nos!

De todo o gênero de injustiça na vida, social, nacional e internacional, livrai-nos!

Da facilidade de calcar aos pés os Mandamentos de Deus, livrai-nos!

Da tentativa de ofuscar nos corações humanos a própria verdade de Deus, livrai-nos!

Da perda da consciência do bem e do mal, livrai-nos!

Dos pecados contra o Espírito Santo, livrai-nos, livrai-nos!

Acolhei, ó Mãe de Cristo, este clamor carregado do sofrimento de todos os homens!  Carregado do sofrimento de sociedades inteiras!

Ajudai-nos com a força do Espírito Santo a vencer todo o pecado: o pecado do homem e o "pecado do mundo" , enfim o pecado em todas as suas manifestações.

Que se revele uma vez mais, na história do mundo, a força salvífica infinita da Redenção: a força do Amor misericordioso! Que ele detenha o mal! Que ele transforme as consciências! Que se manifeste para todos, no vosso Imaculado Coração, a luz da Esperança!

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Irmã Lúcia confirmou pessoalmente que este ato, solene e universal, de consagração, correspondia àquilo que Nossa Senhora queria:
"Sim, está feita tal como Nossa Senhora a pediu, desde o dia 25 de Março de 1984". (carta de 08 de Novembro de 1989),
Fonte: "A Mensagem de Fátima", Congregação para a doutrina da fé.
Site do Vaticano.




quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

6. FREDERICO OZANAM E O CULTO A MARIA










FREDERICO OZANAM - CULTO A MARIA

É uma grande felicidade podermos estar aqui reunidos, como estamos, neste recinto acolhedor e amigo - jardim fechado - onde não chegam sequer os rumores próprios das grandes cidades, e onde, orientados por um ideal comum, nos é possível orar, pensar e falar, na presença d'Aquele que prometeu estar entre os que se reunissem em Seu nome.

Procurando ser perfeitos e enaltecendo aqueles que o são, em busca de exemplos para reforma de nossa vida e de incentivo para todas as lutas, certamente estamos reunidos em nome de Jesus Cristo.

Aqui, cada ouvinte é um cristão, cada cristão um vicentino, todos os vicentinos veneram Frederico Ozanam, e é para eles que vamos falar sobre "Frederico Ozanam e sua devoção à Virgem Santíssima.

Dentro deste silêncio que, mais do que de atenção é de união de almas, emerge, desde logo, a figura querida do santo e lembramo-nos daquele "odor de catolicismo e fraternidade" de que falava Ozanam, quando se referia às suas tão caras reuniões, as "Conferências" centro de estudos e debates, de onde sairia aquela fagulha ardente de caridade que um dia incendiaria a França e o mundo.

Foi, com efeito, desse viveiro de aspirações cristãs que nasceu, em pleno mês ele maio, mês de Maria, a Sociedade de São Vicente de Paulo, concretizando em obras a grande fé de um pugilo de jovens tementes a Deus, que tiveram a coragem de transplantar no solo minado da corrupta cidade de Paris, as limpas raízes de uma árvore que já crescia demais nos seus corações de vinte anos!

E como essas raízes levaram consigo o ardente e piedoso coração de Frederico Ozanam, decorridos mais de um século, suas frondes chegam até nós e, ainda hoje e até o "amanhã" que não veremos, darão sombra a todos os deserdados e alimento a todos os famintos de pão e de Verdade!

É que Deus não poderia falhar com sua Providência nem deixar sem efeito as aspirações tão santas de seu dedicado filho que, na exaltação própria da juventude e cheio de incontrolável entusiasmo, escrevia a um d seus companheiros:

"Eu gostaria que todos os jovens de cérebro e coração se unissem para qualquer obra caridosa e que se formasse em todo o país uma grande associação generosa para alivio das classes populares".

E ainda:

"Que essa associação invadisse, não somente a França, mas o universo inteiro".

Quando esse ideal tão belo e arrojado transbordou, em palavras, do coração de Frederico Ozanam, para os corações também inflamados de seus companheiros, lançado estava o alicerce da Sociedade de São Vicente de Paulo!

É então que sobe à tona o grande, o acendrado amor que ele dedica à Maria Santíssima, devoção básica de sua vida, sem a qual para todas as almas virtuosas a fé se anula e as obras perecem ...

Assim como não se pode amar a Cristo sem amar ao Pai, não se pode amar o Filho sem venerar-lhe a Mãe, quando essa Mãe é a Mãe de Deus e nossa Mãe!

Desde logo propõe Ozanam seja a Sociedade colocada sob a proteção da Virgem e escolhida a magna festa de 8 de dezembro para ser, entre eles, especialmente honrada.

O grande amor que dedicava à Nossa Senhora, que palpitava em muitos de seus versos, que guiava todos os seus passos e inspirava todas as suas obras, precisava estar presente, também, no da em que o seu mais belo sonho se realizava.

Assim, a recitação da Ave-Maria junto às preces ordinária das reuniões foi outra homenagem prestada por ele à santa Mãe de Deus.

Se intentarmos segui-lo em suas múltiplas viagens não será como turista que o descobriremos em suas peregrinações às igrejas e catedrais, às basílicas e abadias, não medindo sacrifícios nem canseiras...

Encontra-lo sempre de joelhos aos pés das Virgem, que lhe aparecerá vestida de pedra ou talhada na madeira.eternizada no mármore ou nas telas dos mestres, coberta de prata ou vestida de veludo negro, com seu lenço rendado nas finas mãos e o punhal cravado no peito, tal como a viu em muitas capelas da Espanha...

Virgens de mãos postas e olhos baixos, de braços abertos e corações à mostra , chorando ou sorrindo, com o rosário preso à cintura ou o Menino Jesus ao colo... Maria, sempre Maria, que o abençoava e protegia e diante de quem Ozanam se esquecia do mundo e dos homens!

Catedral de Nossa Senhora de Chartres


Todas as indeléveis recordações dessas visitas, assim as gravava ele:

"Santa Virgem minha Mãe! que poderosa Senhora vós sóis! Em troca de vossa casa de Nazaré, quantas casas admiráveis vosso divino Filho v oz fez construir! Eu conhecia muitas e muito belas: Nossa Senhora de Colônia, de Santa Maria Maior, de Santa Maria de Florença e Nossa Senhora de Chartres. Mas era pouco por ao vosso serviço os italianos, os alemães, os franceses. Até os espanhóis, menos destros, abandonam suas espadas e se tornam pedreiros a fim de que tenhais uma morada entre eles".
"Virgem bondosa, que tais milagres obtivestes, alcançai, também, algo para nós e para os nossos. Consolidai esta frágil e avariada casa dos nossos corpos. Fazei subir até o céu o edifício espiritual de nossas almas".  

Quem se dirige à grande Mãe de Deus com tanta simplicidade e afeto como se estivesse a escrever uma carta a um amigo distante, só pode ser alguém que, à força de muita dedicação, de muito carinho, de muita piedade, certamente já tinha conquistado o amor total de Maria. Porque, salvo excepções, a devoção à Maria Santíssima não se improvisa. 

Quando temos a felicidade de possuir uma piedosa Mãe, podemos dizer que, desde o berço, ela nos é transmitida. Resta-nos conservar tamanha riqueza no decorrer da vida para assegurar nossa própria felicidade terrena e futura, tal como fez Ozanam.

Eis o esboço de um retrato de sua Mãe, delineado pelo padre Ozanam, seu irmão: 

"Sua felicidade era, sobretudo, dar aos seus filhos as primeiras lições de piedade e de religião. A noite os fazia deitar sob suas vistas, habituando-os a fazê-lo com modéstia e lhes ditava a maneira de dar seus corações a Deus. Enfim, para adormecermos com os santos pensamentos, dizia algumas palavras sobre Deus, a Santa Virgem, o Anjo da Guarda e os santos, entremeando suas doces palavras com seus beijos de mãe que penetram até o fundo da alma e a perfumavam para sempre".

Portanto, o amor de Ozanam à Virgem teve suas profundas raízes no coração de sua mãe, essa mulher extraordinária, mãe de 14 filhos, que, além dos múltiplos deveres do lar , cumpridos todos com excepcional perfeição, ainda fazia sobrar tempo para dá-lo em visitas e vigílias, aos pobres e aos doentes na medida de suas forças, prolongadas, por virtude, até o heroísmo.

Dela , pois, herdou a bela devoção à Maria, e foi essa preciosa devoção que o salvaguardou de todos os perigos quando, deixando pela primeira vez o lar paterno, iniciou seus estudos na grande universidade de Paris.

Lá, a santa Mãe de Deus o amparou, quase que visivelmente, quando seu espírito foi atormentado por dúvidas contra a fé e angustiantes escrúpulos.

Isso aconteceu precisamente no dia em que, entrando num templo, cheio de tristeza, para pedir a Deus o amparo de que necessitava, viu num recanto obscuro, recolhido em humilde oração e profundamente inclinado, o grande Ampere, o gênio imortal da França que ele tanto admirava.

Estava vencida a crise e essa vitória lhe fora propiciada certamente por Maria que pagava amor com amor.

Num longínquo 15 de agosto, festa da Assunção de Nossa Senhora e onomástica de sua querida mãe, data por demais cara a Ozanam e a toda a sua família, compunha ele estes versos:



Nossa Senhora de Chartres



          "Eu vi a santa Virgem no esplendor!
          Sobre ela os serafins cheios de amor,
          Inteiros derramavam seus tesouros.
          Tão bela era que ninguém
          Lhe assemelhava entre os santos!
          E tantos eram seus encantos
          Que parecia igual a Deus!

          O arcanjo, que outrora a nova lhe dava:
          "Que lhe nasceria um filho", diante dela estava
          De pé e, desdobrando suas asas de ouro, cantava.
          O coro dos eleitos todo inteiro se agitava ..
          E os espaços do encantado céu enchendo:
          Salve, cheia de graças! mil vozes iam redizendo.



Diante da vida de Frederico Ozanam - essa criatura privilegiada, cheia de inconfundíveis talentos, admirada e querida no seu tempo por grandes homens e notáveis pensadores, com tantas reservas de inteligência para desbaratar inimigos poderosos, terçando com tanta desenvoltura as armas da palavra, dos conceitos, das controvérsias, como verdadeiro esgrimista intelectual, - ficamos maravilhados ao constatar que nunca foi vencido pelo demônio do orgulho.

Quando o mundo lhe acena com um promissor futuro de glória, resolve votar-se aos pobres e tornar-se poder chegar aos pequeninos!

Vai aos lares humildes, entre rudes e analfabetos, a mesma simplicidade com que toma lugar na cátedra da Sorbonne, senta-se nos caixotes vazios - que são as cadeiras dos pobres, - para ouvir-lhes as histórias, atender-lhes os pedidos, fazer seus seus sofrimentos, reivindicar-lhes os direitos, dar-lhes o pão do corpo e da palavra de Deus!

Quem lhe terá ensinado tamanha humildade senão a humilde Virgem Maria, Aquela que pisou aos pés a serpente do orgulho, Aquela que é Mãe do próprio Deus e que nunca se lembra de seu glorioso lugar quando desce até a nossa miséria para ensinar-nos o verdadeiro caminho?

Essa humilde Virgem Maria é que o acompanha sempre nas tristezas, nas alegrias, nos trabalhos, nas enfermidades. E ele lhe devolve com carinho as atenções.

Quando teve a felicidade de ser pai, deu à filha o nome de Maria, em honra da poderosa padroeira à qual atribuía esse feliz nascimento, conforme escreveu a um dos seus amigos.

No momento de regressar a Paris escrevia também:
"Para os dois anos que me restam a passar na capital, tomei a resolução de completa reforma moral. Coloquei meus desejos sob os auspícios da Mãe Celeste, confiando o resto ao seu bel prazer". Era o dom de si mesmo. Nada mais faltava Lhe ofertar...

Três meses antes de sua morte, Ozanam já bem doente, se lembra d'Ela nestes versos repassados de ternura:

     "Nosso barco encalhado numa rocha
     Espera pela onda que ao porto a levará
     E a Virgem, a quem foi ele consagrado,
     Parece que não ouve nossa voz ...
     Jesus Menino dorme!
     Mas, eis que a Virgem nos contempla

(e isto parece que basta para lhe despertar a esperança quando exclama num transporte):
     
     Dentro em pouco Jesus acordará! 

Na véspera do dia da Assunção, prestes a encerrar sua curta passagem por esta terra, combalido pela insidiosa enfermidade que o prostrava no leito, há muito tempo, declarou aos seus que iria à Igreja assistir à santa missa e comungar em honra do triunfo de Maria.

Chegada a hora e apesar da extrema fraqueza, dispensa a carruagem que lhe trazem à porta, dizendo: Será talvez
este meu último passeio neste mundo. Quero que seja para visitar o meu Deus e Sua Mãe!

Com efeito, três semanas depois desta despedida, feita com tamanho sacrifício à sua Mãe Santíssima, com o que provou ainda uma vez a sua inabalável devoção, extinguia-se a grande e curta vida de Frederico Ozanam.

E o Padre Ozanam assim se refere à sua morte: "A Virgem Maria para celebrar solenemente o dia do Seu bem-aventurado nascimento, quis fazer entrar na eterna glória um dos seus mais diletos filhos.

Meus senhores: Já há um decreto de Introdução da causa de Frederico Ozanam, procedente da Sagrada Congregação dos Ritos, da cidade Eterna.

Sublinhamos, com imensa alegria, esta frase nele contida o que, por si só, vale uma tese:

"Sua vida, se bem que breve, foi prodigiosamente ativa, santificada por admirável piedade, por fervorosa devoção à santa Eucaristia, à Bem-aventurada Virgem e aos Santos, e, em mais alto grau, por sua caridade para com o próximo."

Quando um dia Frederico Ozanam subir aos altares, como esperam todos os pobres e todos os vicentinos do mundo, muito deverá à grande devoção que teve por Maria Santíssima! 

                                                            SANTA MELlLLO DE MAGALHAES
                                                                               27-6-1958












quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

13. O CARISMA VICENTINO NA REGRA DA SSVP







Os ramos vicentinos




O CARISMA VICENTINO NA REGRA DA 
SOCIEDADE DE SÃO VICENTE DE PAULO

                                     
As Conferências estando tão ligadas desde o início ao carisma Vicentino, não é de se surpreender que a Regra da Sociedade exalte o espírito de São Vicente de Paulo em todos os seus sentidos, especialmente aqueles que tratam da vocação, do serviço aos pobres, a espiritualidade e as virtudes do vicentino.

É significativa nesse sentido, a descrição que se faz da vocação vicentina no número 1.2 da Regra: "seguir a Cristo, mediante o serviço para àqueles que dela necessitam, e assim ser testemunhas de seu amor compassivo e libertador ". O seguimento de Cristo é certamente uma condição essencial de todo cristão; mas fazê-lo, entregando-se aos pobres, enfatizando o amor como distintivo, é próprio do carisma vicentino.

De fato, na breve exposição desta edição, as expressões que em cada instituição vicentina são características são enfatizadas: Cristo, serviço, necessidade e caridade. E, ainda, a mesma pretensão que reflete a Regra de serem "testemunhas" do amor de Cristo, demonstra o caráter evangelizador do serviço realizado, que reforça outro dos eixos essenciais do nosso carisma.

A Regra também enfatiza que a espiritualidade dos vicentinos é eminentemente cristocêntrica. São chamados a "unir-se a Cristo no amor, que representa a essência da sua vocação e a fonte da sua inspiração" (2.2) ... "Esperam que algum dia não sejam eles que amam, mas que o próprio Cristo ame através deles "(2.1) ... E eles desejam ”compartilhar o amor compassivo e libertador de Cristo, o Evangelizador e Servo dos pobres".(2.5).

Focalizando em Jesus Cristo, e especificamente neste Jesus Cristo Evangelizador e Servo, é o fundamento central da espiritualidade Vicentina, como pode ser visto em quantos ramos surgiram da inspiração de São Vicente.

Também do carisma vicentino está a visão de Cristo nos pobres, como se afirma na Regra ao enfatizar como característica espiritual, seguindo São Vicente, "ver Cristo no pobre e o pobre em Cristo" (2.5), de onde faz sentido servi-los na esperança, estar disponível a todos os pobres e a todas as pobrezas, trabalhar pela sua dignidade, comprometer-se com a justiça, abordá-los com alegria, tratá-los com amor e tantos outros compromissos que são coletados em toda a Regra. Se Cristo é um dos polos do eixo do carisma vicentino, os pobres CONSTITUEM O OUTRO POLO.

O vicentino deve viver a missão e a caridade no meio do mundo. É com os pobres e entre os pobres que ele deve dar testemunho da ternura de Deus e do amor de Jesus Cristo. É por isso que a secularidade é outra das nossas características carismáticas. Esta característica é reconhecida na Regra quando a Sociedade é definida como "uma organização católica internacional de voluntários leigos, homens e mulheres" (1.1). O próprio Federico Ozanam é o modelo de como "alcançou a santidade como leigo vivendo plenamente o Evangelho em todas as facetas da sua vida" (2.4). Todos os membros da Sociedade têm um exemplo e um incentivo para viver a sua vocação e missão: ser leigos conscientes e convencidos do seu lugar na Igreja, que vive todas as dimensões da vida desde o Evangelho e participar da missão de Cristo no mundo através do serviço de caridade aos pobres.

A secularidade das Conferências não diminui a consciência viva de seus membros de pertencer à Igreja, mas lhe dá o tom próprio. Já no primeiro número das Regras a Sociedade é reconhecida como "instituição católica desde suas origens" (1.1)

Reafirma-se mais adiante que "a Sociedade e cada Vicentino mantêm uma estreita relação com a Hierarquia da Igreja Católica" (5.1) E, sendo legalmente autônoma, "a Sociedade reconhece o direito e o dever do Bispo Católico, em sua Diocese, de confirmar que nenhuma de suas atividades é contrária à fé e à moral "(5.3).

Se em algum momento o carisma vicentino das Conferências é evidente, é precisamente na afirmação das cinco virtudes essenciais de seus membros. Começa por evidenciar que "os vicentinos procuram imitar São Vicente nas cinco virtudes que fomentam o amor e o respeito pelos pobres". E estas virtudes são então propostas juntamente com uma pequena explicação do seu significado: "simplicidade, humildade, afabilidade, sacrifício e zelo" (2.5.1).

Naturalmente, estamos diante das virtudes do universo cristão, mas sua seleção responde a uma clara preferência de São Vicente. Todas as instituições que ele fundou contêm essas virtudes como pertencentes aos seus discípulos: as Confrarias da Caridade, a Congregação da Missão e a Companhia das Filhas da Caridade. Porém, são as virtudes necessárias para levar adiante a caridade e missão.

A humildade é necessária para se colocar a serviço dos pobres. Com simplicidade se alcança a proximidade e a comunicação. A afabilidade ou a mansidão favorece aceitação e entendimento mútuos. O espírito de sacrifício é o que permite a disponibilidade total. E o zelo supõe paixão por Cristo e pelos pobres e se entrega completamente à missão de evangelizar pela caridade.

O carisma vicentino implica, finalmente, a referência a um grupo ou a uma comunidade como sujeita da missão. Assim como você não pode ser um cristão sem pertencer à Igreja ou comunidade de fé, nem pode ser Vicentino sem pertencer a um grupo inspirado por este próprio espírito. A Regra da Sociedade tem muito presente este princípio quando diz precisamente que "Vicentinos se reúnem como irmãos e irmãs na presença de Cristo em Conferências que são comunidades reais de fé e amor, oração e ação" (3.3).

A Conferência, portanto, não é apenas um grupo de pessoas boas que se reúnem para fazer caridade. Também não é uma organização filantrópica preocupada com o bem-estar dos pobres. Cada Conferência é uma comunidade de fé e amor; e isso implica uma demanda notável por seus membros. Como uma comunidade de fé tem de adquirir uma formação cristã séria e deve cultivar uma espiritualidade viva, que compromete seus membros a participarem dos sacramentos da Igreja, a prática da oração, meditação da Palavra, o cultivo da vida interior. E como comunidade de amor, devem favorecer a comunhão e a compreensão entre seus membros, o trabalho em equipe, a proposta de projetos, a disposição de todas as suas forças para servir os pobres. Por isso, a Regra enfatiza a necessidade de um vínculo espiritual e amizade entre os membros, bem como o compromisso de uma missão comum de serviço evangelizador aos necessitados.

Todo esse caráter vicentino da Sociedade expressado em sua Regra necessariamente leva a uma estreita relação com os outros ramos da Família Vicentina e envolvimento sério de todos em projetos comuns (4,3).

Fortalecidos este ano para a celebração dos 400 anos do carisma, estamos chamando todos os vicentinos a nos entusiasmar-nos com o vigor desse carisma vivo e a comprometer-nos com a missão evangelizadora da Igreja a serviço da caridade.

 A Regra enfatiza a necessidade de um vínculo espiritual e amizade entre os membros, bem como o compromisso de uma missão comum de serviço evangelizador aos necessitados.

Pe. Santiago Azcárate, CM
Assessor religioso da SSVP na Espanha