Eucaristia e
Trindade
I
- EUCARISTIA, MISTÉRIO DE AMOR
1)
São João diz que Jesus Cristo, tendo amado os seus, amou-os até o limite do amor.
Todo
o mistério da vida de Jesus é um mistério transbordante de amor: a encarnação,
a pregação do Reino, sua convivência com os pobres e os humildes, mas principalmente
sua morte na cruz. O próprio Cristo nos revela, como prova suprema de amor
humano: dar a vida pelos amigos. Com efeito, morrendo na Cruz, Ele nos leva a
dar a prova máxima de amor: entregar a vida, não só pelos amigos, como também
pelos inimigos.
O
que mais poderia fazer Deus por nós?
Os
homens, quando devem separar-se, costumam dar alguma lembrança, como sinal de
seu amor, e com a finalidade de tornarem-se presentes durante a sua ausência.
Algo
semelhante aconteceu ao Senhor, ao concluir o tempo de sua peregrinação na
terra: "Sai do Pai e vim ao mundo. De novo deixo o mundo e volto ao Pai”.
Seu Pai o reclamava. Seu amor pelo Pai o
impulsionava a voltar para junto do Pai. Seu amor pelos homens, com os quais
havia convivido tantos anos o impelia a ficar com eles.
Conhecia
a fragilidade humana: Madalena, Judas, Pedro... Havia sentido, em sua própria
carne, as dores e as lágrimas dos enfermos e dos atribulados. Havia comprovado
que tais misérias eram, em parte, o patrimônio de toda a raça de Adão, como
consequência do pecado de nossos primeiros pais.
Naquela
noite da ultima ceia, Jesus Cristo nos teve presentes, a todos os filhos de Adão, a ti e a
mim; pensou em todos e em cada um... O coração terno de Jesus foi, por assim
dizer, o palco de uma luta entre dois amores: o amor ao Pai que o impulsionava
a voltar para junto Dele. É o seu amor por nos que não permitia que nos
abandonasse a mercê de nossas fraquezas e misérias. O que fazer?
Não
bastaria ter-nos deixado um dos pregos com os quais foi crucificado? Ou um
pedaço da Cruz? Para nós talvez, tais demonstrações teriam sido suficientes;
mas não para Jesus Cristo. Deus, quando ama, ama "à maneira de Deus",
isto é, infinitamente, sem limites.
Por
isso, ultrapassando toda nossa compreensão... dos tesouros inesgotáveis de sua
sabedoria infinita, do abismo infinito de seu amor, inventou a maravilha de amor
que só a um Deus poderia ocorrer: satisfazer ao mesmo tempo à dupla exigência
de seu amor: iria ao Pai e também ficaria conosco.
Como?
Instituindo a Eucaristia.
Esta
invenção de amor de Jesus Cristo superou todos os cálculos e toda a possível
imaginação. Seu amor pelos homens, imperceptível num primeiro momento, foi
crescendo de volume, em suas manifestações, como ondas do mar, até que, com a
Instituição da Eucaristia, chegou ao seu limite máximo. O Evangelista São João
diz que, com a Instituição da Eucaristia, Cristo nos amou até o fim, quer
dizer, até não poder amar mais.
Se
tivéssemos sido seus contemporâneos, quantos de nós poderíamos tê-lo visto,
quanto lhe poderíamos ter falado? Poucos. Muito poucos.
Teria
Ele visitado nosso povo, nossa cidade, nossa comunidade? Talvez nunca. Por
acaso uma vez na vida poderíamos tê-lo visto e falado com Ele? Não teria sido acessível
a todos como o que ocorre com o Papa quando visita um país: nem todos podem
vê-lo,nem com ele conseguem falar.
Pois
bem, Cristo, ao ficar sacramentado, está presente em todos os lugares do mundo.
Se formos ao Polo Norte ou ao Polo Sul, às aldeias mais remotas ou aos centros
urbanos, em todos os lugares esta Cristo. Por ti e por mim!
Em
todos os sacrários da terra, Cristo está pensando em cada um de nós: em ti e em
mim, como se apenas tu e eu unicamente existíssemos para Ele. Assim, temos oportunidade
de contemplá-lo e Lhe falar, sempre que desejarmos... e encontrar o remédio a
todas as nossas necessidades.
Conta-se
que certo pastor protestante que, tendo lido as maravilhas do amor de Cristo ao
instituir a Eucaristia, disse estas palavras:-"Se eu tivesse fé na presença
real de Cristo na Eucaristia, passaria minha vida ajoelhado aos pés de um
sacrário"· E nós, que temos fé na presença real de Jesus Cristo no sacrário,
pelo menos fé teórica, aí permanecemos longo tempo? É a grande pergunta que
devemos nos formular hoje. Desgraçadamente não.
O
que ocorre? É muito simples; falta-nos fé; ou, melhor, temos uma fé adormecida.
A
Eucaristia é, não só expressão do amor de Cristo, mas também do amor do Pai e
do Espírito Santo.
2)
De tal maneira o PAI amou o homens, nos disse Jesus Cristo, que lhes deu seu
próprio Filho! Às vezes entendemos estas palavras do Senhor de uma forma um tanto genérica, como se não nos afetasse individualmente.Tal doação genérica
que o Pai fez aos homens na Encarnação, realizou-se concretamente na
Eucaristia, à cada Comunidade cristã; e, na comunhão, a cada um de nós.
Em
cada sacrário, em cada Missa, em cada comunhão da qual participamos, podemos e
devemos entender as palavras do Senhor dita a nós: “De tal maneira te amou o
Pai a ti, como a uma pessoa inconfundível, que te deu Seu Filho e O entrega em
cada missa e em cada comunhão, para que Ele seja teu".
"Meu
Deus e meu tudo”, dizia Francisco de Assis. Também nos deveríamos dizer em cada
comunhão e em cada missa: "Meu Deus e meu tudo"! Quem mais rico do
que eu, se possuo o próprio Deus? O Pai, ao dar-me seu Filho, nEle Se está dando também a mim. Ó bem-aventurada
Eucaristia que confere o céu na terra. A comunhão e, sem duvida, o começo da
Eternidade.
3)
A Eucaristia é também a maravilha do amor do ESPÍRITO SANTO . Ele é o amor do Pai
e do Filho. Em, e pelo Espírito, o Pai e o Filho se dão; e é no Espírito, isto
é, sob seu impulso, que o Pai nos dá seu Filho, e o Filho se entrega na Cruz e
na Eucaristia. Portanto, é o Espírito Santo, como Amor do Pai e do Filho, que
inspirou esta maravilha de amor de ambos, ao Se nos dar no Sacramento que, por
antonomásia, qualificamos como “SACRAMENTO DO AMOR" !
II
- EUCARISTIA, MISTÉRIO DE PRESENÇA
A
Eucaristia nos oferece, aqui e agora, como que condensados, todos os mistérios
de Salvação.
Encarnação: não temos motivos para nos
entristecer por não termos vivido há dois mil anos antes; de não termos estado
na Palestina, no Cenáculo, no Calvário. Todos os dias é "Natal",
pois, cada dia, na Missa, Jesus Cristo "nasce" no Sacrário, para nós.
"Emanuel", "Deus conosco”, assim celebra a Sagrada Escritura ao futuro
Messias. Cristo se dá a nós através dos símbolos eucarísticos.
Vida
oculta:
quanta glória ao Pai não deu Jesus Cristo naqueles anos de aparente
inoperância. Essa mesma glória se prolonga no sacrário. Na penumbra de nossas
Igrejas, no silêncio da Eucaristia, no Tabernáculo, Cristo é o grande adorador
do Pai! Nessa vida oculta em nossos sacrários, o Pai está recebendo uma glória
infinita de Jesus seu Filho.
Vida
pública: o
aparente silêncio de Jesus no sacrário é também o mais eloquente que podemos
descobrir neste mundo. Não é verdade que, muitas vezes, permanecendo na
penumbra e no silêncio da Capela, sentimo-nos mais iluminados e fortalecidos e
muito mais instruídos do que através de livros e mestres espirituais?
Mistérios
de morte, ressurreição, Ascensão e Pentecostes: são autênticos mistérios que se
encontram no sacrário. Reproduzem-se para nosso beneficio e utilidade: teu e
meu!
REALIDADE
DE DEUS OU PRESENÇA DE DEUS UNO E TRINO!
O
conteúdo fundamental e prioritário da Eucaristia é a própria realidade de Deus
Uno e Trino. Este fato deveria ser a principal atração que a Eucaristia
representa para todos os cristãos.
Todo
o plano divino de salvação se ordena para a posse de Deus Uno e Trino:
-
Aqui na terra pela graça.
- Na pátria celeste pela visão face a
Face de Deus.
O
homem do Antigo Testamento suspirou pela posse de Deus.
Os
israelitas aspiravam pelo Templo de Jerusalém, por que nele morava Javé.
Fazendo-se
eco de seu povo, o salmista assim se exprimia:“Um dia no vestíbulo de tua casa
é melhor do que mil anos nos palácios suntuosos dos pecadores!" Este desejo dos Israelitas se realiza conosco
pela presença real de Deus no Sacrário: "Deus está aqui" repete incansavelmente
o povo cristão.
Deus
está no sacrário como Ele é: onipotente, sábio, bom, paciente, providente e
amoroso. Ele é “nosso". No sacrário, este Deus, plenitude de toda a
perfeição, está se auto doando a nós como Deus. Com São Francisco podemos
repetir: "Meu Deus e meu tudo"! Aquele que será nosso descanso
definitivo para além das fronteiras do tempo, já e nosso na terra, no sacrário.
Por
que, então, não experimentamos a mesma felicidade dos Israelitas, por essa
presença de Deus em nosso meio? Este Deus em três Pessoas, o Deus cristão,
nosso Deus, é Pai, Filho e Espírito
Santo. Portanto, na Eucaristia estão as Três Pessoas: PAI, FILHO, ESPÍRITO SANTO,
entregando-se e dando-se a nós, como PESSOAS INCONFUNDÍVEIS!
- Que alegria não experimentamos quando
estamos com nosso pai terreno? E quando sabemos que é nosso PAI CELESTE que nos
espera no sacrário? Nós, a geração de hoje, parece que padecemos todos de uma terrível
orfandade! Falta-nos o calor do Pai do céu. Nós acreditamos que o podemos
encontrar no Sacrário?
- Na Eucaristia está, sobretudo a
Segunda Pessoa da Trindade, associando-nos à sua filiação, Jesus Cristo, que
leva-nos consigo até o Pai, e está no sacrário para unir os corações e permitir
que nos associemos a Ele, e que vivamos nossa filiação, comungando com todos os
seus sentimentos filiais para com o Pai. Toda a realidade do VERBO está aí. Ele
esta falando conosco, nos está manifestando ao Pai. Esta é sua missão.
- Está também o ESPÍRITO SANTO, a
terceira Pessoa da Trindade, para nos manifestar quem e: o Amor! O ESPÍRITO SANTO
é o coração do Pai e do Filho, a Luz, a Força, o Amor. Está no sacrário para
ser, em nós, a fonte de nosso amor ao Pai e ao Filho; à Virgem, à Igreja e a
cada um de nossos irmãos em Jesus Cristo. Está para ser fonte de luz e de
fortaleza., para que sejamos consequentes com todas as exigências que comporte
nossa vocação cristã.
- Mas, na Eucaristia está, também,
Cristo como VERBO ENCARNADO, isto é, JESUS CRISTO em sua qualidade de Mestre.
Está através de sua Palavra que se proclama na Eucaristia. Em cada Missa, nos
diz o Concilio, quando se proclama a Palavra de Deus, é Cristo que fala como há
dois mil anos atrás: “Um só é vosso Mestre e todos vós sois irmãos”. (Mt 23,
8). Esse Mestre está no Sacrário.
“Eu sou o caminho, a verdade e a vida”
(Jo 14,6).
“Eu sou a luz do mundo. Quem me segue
não andará nas trevas, mas terá a luz da vida”. (Jo, 8,12).
Lembremo-nos daquelas palavras de Pedro
a Jesus Cristo: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna”. (Jo
6,68).
Realmente,
no mundo em que vivemos, necessitamos de alguém que nos garanta que caminhamos
no rumo certo. Dentro de tantas correntes filosóficas, teológicas, a quem
podemos recorrer? Onde podemos ter a garantia e a segurança de encontrarmos a
verdade? Só em Jesus Cristo...
Em
cada Eucaristia. Jesus Cristo derrama seu sangue de modo incruento, mas real,
por ti e por mim! É também na Eucaristia que Cristo se imola por ti, como se só
tu existisse no mundo.
Os
merecimentos infinitos de Cristo te pertencem; oferecendo Cristo ao Pai, Lhe
dás uma glória infinita. Suas reparações de valor infinito, mais do que suas,
são tuas. Oferecendo-as ao Pai, pagos infinitamente mais do que deves. Por
grandes que sejam tuas dívidas, o que são elas em comparação do que pagas?
Infinitamente menos do que uma gota de água no imenso oceano!
Cada
dia, pelo poder de intercessão que temos em Cristo, com frequência recorremos
aos santos, o que é bom; e também à Virgem Maria, o que é muito melhor. Mas, os
santos e a própria Virgem Santíssima são servos de Deus que pedem a Deus.
Na
Santa Missa, é Deus que pede a Deus: Deus Filho pede por nós a Deus Pai! A
oração de Cristo na Eucaristia é absolutamente eficaz!
Oxalá
possamos nos persuadir que não podemos fazer obra de maior glória a Deus e mais
eficaz para nós que celebrar ou participar da EUCARISTIA!
Pe. Nereo Silanes
Ordem dos Trinitários
Salamanca - Espanha------------
<><><><><>
NOTA
DA TRADUTORA:
É
de grande auxílio para a convivência com as pessoas divinas, o sabermos que
podemos encontrá-las, todas as Três, presente em nós pela Graça, e presentes no
sacrário, pelo sacramento da Eucaristia.
Com
efeito, nossa existência terrena decorre em meio a circunstâncias externas e
internas muito variáveis que podem dificultar dolorosamente nossa capacidade de
concentração.
Citemos,
como exemplos:
- preocupações
internas com problemas a serem resolvidos;
- recordações
do passado;
- notícias
desagradáveis e inesperadas;
- dores
físicas;
- poluição
sonora que, principalmente nos grandes centros urbanos, fazem parte integrante
da trama habitual da vida.
Tudo
isso pode provocar grandes e frequentes distrações, na dependência da
constituição física e psíquica das pessoas.
Assim
sendo, o encontro com a Trindade se torna, por vezes fácil na Capela; e, outras
vezes, na solidão de nosso quarto.
Todos
nós sofremos com a onda de diplomacia, mentira, egoísmo, ganância e violência
que avassala o mundo inteiro, e, mais de perto, nosso querido e sofrido povo
brasileiro!
Que
a fé na Providência que tudo governa e nos ama, nos mantenha inabaláveis na
vivência de nossa espiritualidade trinitária.
Continuemos
acreditando firmemente que a TRINDADE já mora ou quer habitar em todos os seres
humanos pelos quais sacrificou o PAI seu próprio Filho, e quer que nós nos
tratemos como irmãos em Jesus Cristo Redentor,
pela força libertadora e portanto transformadora, do Espírito Santo!
Irmã
Maria Celeste Ferreira
Centro de Espiritualidade Trinitária
Rua Domingos de Santa Maria, 395
Vila Guarani - São Paulo - SP
Nenhum comentário:
Postar um comentário