1º DOMNGO DO ADVENTO

Marcos 13,33 – 37

Ficai de sobreaviso, vigiai; porque não sabeis quando será o tempo. Será como um homem que, partindo de uma viagem, deixa a sua casa e delega sua autoridade aos seus servos, indicando o trabalho de cada um, e manda ao porteiro que vigie. Vigiai, pois, visto que não sabeis quando o senhor da casa voltará, se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã, para que vindo de repente, não vos encontre dormindo. O que vos digo, digo a todos: vigiai!

Comentário

Já é hora de acordar! Eis o apelo de Jesus no Evangelho que inaugura este tempo do Advento. Uma nova aurora surge no horizonte da humanidade, trazendo a esperança de um novo tempo de um mundo renovado pela força do Evangelho. Neste tempo de graça, somos convocados a sair do torpor de uma prática religiosa inócua, a acordar do sono dos nossos projetos pessoais vazios e egoístas. Despertos e vigilantes, somos convidados a abraçar o projeto de Deus que vem ao nosso encontro, na espera fecunda do Tempo do Advento, temos a chance de reanimarmos em nós e os compromissos assumidos em favor da construção do Reino, reavivando as forças adormecidas, para a construção de uma humanidade nova, livre das trevas do sofrimento, da marginalização e da morte.

Frei Sandro Roberto da Costa, OFM - Petrópolis/RJ

2º DOMINGO DO ADVENTO

Marcos 1,1 – 8

Conforme está escrito no Profeta Isaias: Eis que envio meu anjo diante de ti: Ele preparará teu caminho. Uma voz clama no deserto: Traçai o caminho do Senhor, aplainai suas veredas (Mt 3,1); Is 40,3). João Batista apareceu no deserto e pregava um batismo de conversão para a remissão dos pecados. E saiam para ir ter com ele toda a Judéia, toda Jerusalém, confessando os seus pecados. João andava vestido de pelo de carneiro e trazia um cinto de couro em volta dos rins, e alimentava-se de gafanhotos e mel Sivestre. Ele pôs-se a proclamar: “depois de mim vem outro mais poderoso do que eu, ante o qual não sou digno de me prostrar para desatar-lhe a correia do calçado. Eu vos batizei com água; ele, porém, vos batizará no Espírito Santo”.

Comentário

“Preparai o caminho do Senhor, aplainai as suas veredas”. Clamando pelo deserto, João Batista nos indica que procurar viver conforme a Boa-Nova que Jesus nos trouxe não se trata, simplesmente, de viver dentro de um sistema religioso com certas práticas que nos identificam com tais. Talvez ele queira nos indicar que a fé, antes de tudo é um percurso, uma caminhada, onde podemos encontrar momentos fáceis e difíceis, dúvidas e interrogações, avanços e retrocessos, entusiasmo e disposição, mas também cansaço e fadiga. No entanto, o mais importante é que nunca deixemos de caminhar, pois o caminho se faz caminhando. Boa caminhada de Advento e preparação!

Frei Diego Atalino de Melo

sábado, 3 de janeiro de 2015

3. RESUMO DA VIDA DE SÃO VICENTE DE PAULO



  1. São Vicente de Paulo



Hino à São Vicente de Paulo, de Pe. Zezinho e Isa Vieira
"São Vicente, amigo dos pobres, amigo da gente, amigo de Deus".









ORAÇÃO A SÃO VICENTE DE PAULO 

Ó São Vicente de Paulo, que olhastes 
fraternalmente para os pobres e miseráveis, e 
formastes mulheres e homens para o trabalho da 
evangelização dos pobres e da promoção humana, 
inspira-nos, pela vossa intercessão ao nosso Deus, 
em nossa ação missionária dentro da presente 
realidade. 

Faz com que vejamos a miséria humana em que 
vivem milhões de irmãs e irmãos nossos. 
Desperta em nossa vida o senso de paz e de justiça 
num mundo de tantas desigualdades sociais. 
Ensina-nos a humildade e a mansidão quando 
procuramos a grandeza e a fama a custa da 
exploração de nossos irmãos. 

Fortalece nossas ações em favor das crianças 
abandonadas, aos jovens desnorteados, dos idoso 
solitários, dos desempregados, dos sem terra e sem
teto, dos que sofrem por causa do nosso egoísmo, 
da multidão dos marginalizados e excluídos que 
passam fome e que não têm nem voz e nem vez em 
nossa sociedade. 

Ajuda-nos a seguir Jesus Cristo "evangelizador dos 
pobres" e a deixarmos "Deus por Deus" quando 
servimos efetivamente nossos irmãos. 
Amém. 




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RESUMO DA VIDA DE

SÃO VICENTE DE PAULO  "O APOSTOLO DA CARIDADE"

1. Nascimento de São Vicente de Paulo

Vicente de Paulo, nasceu no dia 24 de abril de 1581 na Vila de Pouy, Departamento de Landes, a pequena distância da cidade de Dax, no sul da França.

Seus pais, João de Paulo (Depaul)  e Bertranda de  Moras, eram humildes camponeses. Deus abençoou essa família profundamente cristã, com seis filhos, dos quais Vicente era o terceiro. Foi batizado na Igreja Paroquial de Pouy, no mesmo dia de seu nascimento. Deram-lhe o nome de Vicente, em homenagem ao Padroeiro de Dax, São Vicente de Xaintes, o primeiro Bispo da Diocese, martirizado na Espanha.

O Santuário de Landes também tem sua historia. Em 1570, hordas fanáticas da protestante Joana d'Albert, comandadas por Montgomery, se aproximavam de Dax. Os fieis enterraram a imagem da Virgem em um alagadiço, para protege-la da impiedade dos huguenotes, que incendiavam todas as igrejas. O tempo passou, e todos os que sabiam do segredo tinham morrido. Foi preciso que se desse um acaso providencial ou um milagre, para se descobrir a preciosa imagem. Em 1620, um pastorzinho admirado de ver um dos bois retirar-se sempre para o mesmo ponto do alagadiço, teve a curiosidade de perscrutar a causa. Qual não foi o seu espanto, ao achar-se diante de uma imagem de Maria Imaculada, inteiramente limpa de lama. O boi a limpara com a sua língua. A piedade popular deu ao lugar o nome de Buglôse (lingua de boi).

2. Amor a Deus e devoção a Virgem Maria

Vicente recebeu de seus pais, uma sólida formação religiosa, na qual cresceu e perseverou até o fim de sua vida. Quando menino, Vicente trabalhava em casa, ajudando seus pais na criação de porcos e ovelhas. Enquanto apascentava as ovelhas, Vicente sempre encontrava tempo para exprimir o seu amor a Deus, por meio de orações feitas ao pé de tosca imagem da Santíssima Virgem, que ele mesmo havia colocado no oco do tronco de carvalho plantado no meio do pasto. Desde criança, Vicente dedicava imenso amor a Deus e especial devoção à Santíssima Virgem Maria. Vê-se que sua devoção à Virgem sempre foi grande e sua confiança ilimitada.

Em 1852, Frederico Ozanam, o mais glorioso discípulo de Vicente de Paulo, o principal fundador da nossa grande Sociedade, teve a ventura de visitar esses lugares e extasiado diante desse carvalho venerável, exclamou: "Eis aqui a imagem das fundações do nosso grande Vicente de Paulo, assim como este carvalho, já nada mais tem que o prenda à terra e todavia se mantém de pé, assim suas fundações, nada tem de humano que as sustente, entretanto, triunfam dos séculos e sobrevivem a todas as revoluções do mundo..." E Ozanam, continuava dizendo: "Nossas Conferências são a relva que se alastra junto do carvalho; ela cresce e se aumenta, mas, sempre rasteira e pequenina, cobrindo muita terra, mas, nunca tendo a pretensão de ser o carvalho..."

3. Estudos e prodígios

A vida de Vicente de Paulo, caminhou sempre humilde e obscura, sobressaindo apenas pelos rasgos de uma caridade sem igual, raramente presenciada em crianças da sua idade.

O pai notou a boa índole do filho e, levado por cálculo de interesse humano, natural e inocente em coração paterno, resolveu faze-lo estudar latim, para mais tarde ser padre, e ser arrimo de família. Havia em Dax, um convento de Franciscanos e nesse Colégio, Vicente iniciou os seus estudos. Ai, o jovem aluno cresceu em piedade e talento, ultrapassando as esperanças do pai e dos mestres. 

Tal foi o seu progresso, que logo aos 16 anos de idade, estava habilitado a ensinar e assim começara a pagar com o seu trabalho as despesas de seus estudos.

De Dax, passou para a Universidade de Toulouse. Vicente de Paulo era pobre e não possuía protetor em Toulouse, de modo que passou dificuldades financeiras no primeiro ano universitário, contraindo dividas. Nessa época aumentara nele o desejo de ser sacerdote e a conclusão do curso de Teologia era o último requisito que lhe faltava para ingressar na vida clerical.

A 27 de fevereiro de 1598 recebia Vicente as Ordens de Sub-Diácono e a 19 de março as de Diácono. 



Seu pai faleceu em 1599. No testamento declarava   que  queria que seu filho Vicente fosse ajudado a prosseguir  nos   estudos,  com  os  poucos bens que deixava. Vicente, porém não  quis  privar  sua  mãe  e seus  ir- mãos do necessário à parca subsistência. O seu caráter não podia   con- formar-se em viver às custas das privações da família,  preferiu   passar pobremente, contentando-se com as módicas pensões que lhe pagavam os alunos que ele tanto amava.

4. Ordenação Sacerdotal

Finalmente a 23 de setembro de 1600, foi ordenado Ministro do Senhor, recebendo a unção sacerdotal das mãos do Bispo de  Périgueux, Dom Francisco Bourdeile, na capela privada desse prelado. Dias depois, com assistência única de um padre e fiéis, em uma modesta capelinha no meio do bosque, celebrou o padre Vicente de Paulo, a sua primeira missa, em louvor de Nossa Senhora das Graças!

Não foi sem muitos sacrifícios, trabalhos e fadigas que conseguiu se ordenar e grande era o seu pavor, reconhecendo, depois, a responsabilidade do estado sacerdotal. Encarando assim a grandeza do sacerdócio, não se cansava de exclamar: "Se eu soubesse qual a grandeza e responsabilidade do estado eclesiástico, quando por temeridade, nele penetrei, oh! minha preferência seria, por certo, continuar nos campos e vigiar os rebanhos e trabalhar na terra!" 

A consideração da grandeza do sacerdócio o extasiava. Pensar que um homem, um simples e pobre camponês que era, podia, com algumas palavras de sua boca, fazer Jesus Cristo descer do céu e coloca-lo sobre o altar, o enternecia. Sabia que, para celebrar condignamente tão Augusto Mistério, seria necessário um Anjo mais puro, mais ardente que um Serafim. E ele, Vicente, quem era? Um miserável!

Este sentimento o dominou durante os seus sessenta anos de sacerdócio, a ponto de declarar: "Teria sido melhor para ele ficar, ou ter ficado em casa cultivando a terra, do que ter abraçado estado tão temeroso.”

Entretanto, São Vicente de Paulo era o Padre de quem São Francisco de Sales dizia: "Este é o Padre mais Santo do século". 

A Providencia Divina, nos seus desígnios insondáveis, permitiu que São Vicente de Paulo fosse submetido ao cativeiro dos turcos, a fim de mostrar-lhe a fragilidade das coisas humanas. Certa vez empreendeu ele uma viagem para Marselha para tratar de pequenos negócios e recuperar o que era seu. Sucedeu-lhe, então, perder tudo; sua dignidade humana, sua liberdade, sua condição de Sacerdote de Cristo, e até a sua própria nacionalidade. Esta viagem, para Vicente de Paulo foi bastante funesta, mas considerada as luzes da fé, foi o caminho certo e seguro que a Providência Divina abriu para transformar o jovem padre, ainda ambicioso, em grande santo, um dos luminares da Igreja Católica.

5. A primeira provação

Na volta para Toulouse, padre Vicente resolveu, por questão de economia e rapidez, fazer parte da viagem de barco até o porto de Narbonne. Na travessia do Mediterrâneo, o barco foi atacado por piratas turcos e todos os que estavam a bordo foram aprisionados e levados para o mercado de escravos. Foi transportado para a Barbaria e, posteriormente, a Tunis, onde acorrentado, foi vendido a um pescador. Este o vendeu imediatamente a um conceituado médico e químico, que durante cinquenta anos, procurava descobrir a Pedra Filosofal. Com a morte deste químico, foi Vicente vendido pela terceira vez a um renegado francês, nascido em Nice e que para escapar aos suplícios da escravidão imposta pelos turcos, renunciou a religião católica e tornou-se maometano. Homem desumano e cruel, possuidor de três mulheres, uma grega, uma muçulmana e uma turca. Vicente de Paulo, apesar dos trabalhos forçados e do sofrimento, conservava uma firme esperança na proteção da Virgem Santíssima.

O pobre escravo passava o dia inteiro ao sol ardente, cultivando as terras secas que quase nada produziam. Uma das três mulheres do fazendeiro, apesar de muçulmana, vendo a humildade, a obediência e a resignação de Vicente de Paulo, diante de tamanho sofrimento, passou a interessar-se pelo modo de viver dos cristãos. Depois que o Santo lhe explicou o verdadeiro sentido do cristianismo e a razão da vinda de Cristo à terra, a mulher ficou tão maravilhada e emocionada, que chegou a ponto de censurar veementemente o marido, por ter abandonado uma religião tão bela.

6. A conversão do fazendeiro

Ante as ponderações de sua mulher e tocado pela graça de Deus, o fazendeiro ficou tão comovido que foi procurar Vicente de Paulo para lhe comunicar a resolução de voltar a França e reconciliar-se com Deus.

Vicente de Paulo mantinha plena confiança em Maria Santíssima que o alentava, dando-lhe esperança. Diariamente aumentava as  suplicas à Mãe de Deus, e sentia dentro do peito uma voz que esmagava as suas lagrimas e dizia: "Coragem! A hora da libertação está próxima." Maria Imaculada estava prestes a satisfazer-lhe os rogos, de modo inesperado e que toca ao milagre. 

Depois de 10 meses de espera, surgiu o momento oportuno. Usando uma pequena embarcação à vela e aproveitando o vento que soprava favoravelmente, Vicente de Paulo e o recém reconvertido, atravessando o Mediterrâneo, fugiram da Tunísia para a França, onde Monsenhor Montório - Núncio Apostólico - recebeu e absolveu o renegado, que já se havia convertido, e o readmitiu na Igreja Católica.

Finalmente depois de dois anos de cativeiro, em que fora submetido a penosos trabalhos, as suas preces foram ouvidas por Deus: Vicente estava novamente livre na França. Tamanha graça foi atribuída à intercessão da Virgem Santíssima, de quem o Santo era grande devoto e a quem havia confiado a reconquista de sua liberdade.

Nesse acontecimento, não se sabe o que mais admirar, se a firmeza de sua Fé e confiança em Deus, se o ardor das orações à Maria Santíssima. Vicente de Paulo sofreu resignadamente todos os vexames e os duros trabalhos da escravidão, sem soltar uma palavra sequer contra os turcos, "piores que os tigres".

Monsenhor Montório estava encantado com Vicente de Paulo: sua cultura, humildade, a prudência e principalmente a firmeza de sua fé, mantida depois de todas as provações sofridas durante o cativeiro, tinham-no impressionado de tal modo que, querendo desfrutar de sua agradável companhia, acabou convidando-o a permanecer em sua casa. Padre Vicente aceitou o convite. Porém, tendo o Monsenhor que viajar para levar a Roma o recém-convertido que, por voto, se comprometera a tornar-se religioso em Mosteiro daquela cidade. Monsenhor Montório resolveu também levar o Padre Vicente - o "instrumento" de que Deus se serviu para operar a conversão do fazendeiro.

7. Padre Vicente de Paulo em Roma

Aproveitando sua estada em Roma, Vicente de Paulo resolveu frequentar o curso de Teologia ministrado na Universidade Romana. Durante o curso, a sua capacidade de relacionamento, as suas virtudes, a inteligência, seu bom-senso e seus conhecimentos de química, adquiridos com o médico árabe durante o cativeiro, firmaram seu prestígio junto aos prelados romanos, a ponto de atrair a atenção do Papa Paulo V, que o enviou a Paris para, como seu delegado, cumprir missão confidencial junto ao Rei Henrique IV.

8. De volta a França

Chegando a Paris, o Padre Vicente desincumbiu-se tão bem de sua missão que o Rei Henrique IV, para recompensá-lo, resolveu nomeá-lo capelão da Rainha Margarida. 

A Rainha, então, encarregou Vicente da distribuição das esmolas  aos pobres que, diariamente, assediavam o palácio; incumbiu-o, também de, em seu nome, visitar os enfermos internados  no Hospital de Caridade. Deste contato direto com os pobres e enfermos, o Padre Vicente pôde, então, avaliar a extensão do espetáculo de miséria que assolava Paris.

Foi assim que Padre Vicente saiu do anonimato para uma posição privilegiada - vida palaciana cercada de luxo e conforto - que lhe poderia ter garantido o sucesso financeiro e futuro tranquilo para toda sua família. Entretanto, as provações do cativeiro, o aperfeiçoamento de sua vida espiritual, quando em Roma, e o contato direto com os pobres e enfermos que lhe foram confiados pela Rainha Margarida haviam mudado completamente o modo de pensar que Padre Vicente acalentava, ao abraçar a vida clerical, a ponto de entender que o padre se ordena não para ter subsistência garantida ou para ser arrimo de família, mas, sim, para servir e se dedicar, inteiramente, aos irmãos mais necessitados.


9. Mais duas provações - A consagração de Vicente de Paulo 
    ao serviço dos Pobres


Padre Vicente na qualidade de capelão real, podia ter usufruído das mordomias do palácio real, mas, por modéstia e humildade dispensou todo conforto que lhe fora oferecido, indo residir num modesto quarto de hotel que partilhava com um seu conterrâneo, o Juiz de Paz de Soré, Bertrão Dulou.

Durante este tempo, Deus ia depurando a   alma de Vicente e submeten- do-o a duras provações, que, de ordinário, antecedem as grandes obras.
Entre as provações a que se submeteu Vicente de Paulo, houve uma bem mais terrível que as outras e capaz de abater as mais robustas energias. 


Como foi dito, Vicente partilhava com o Juiz de Paz, Bertrão Dulou, um modesto quarto. Um dia, em 1609,   o   Juiz saíra   para   seus negócios, esquecendo-se de fechar o armário onde guardava o dinheiro: quatrocentos a quinhentos Francos. O humilde padre Vicente estava adoentado, e teve que recolheu-se ao leito e mandou preparar um remédio. Vindo o empregado da farmácia trazer-lhe o medicamento, teve de procurar um copo no armário semi-aberto. Viu o dinheiro e não resistiu à tentação de rouba-lo. De volta, o Juiz procurou o dinheiro e, não o encontrando, perguntou ao companheiro de quarto pelo sucedido. Este, admirado, respondeu que não tinha tirado, e nem visto quem o tirara. Enraivecido pela resposta, o Juiz grita, calunia-o e o expulsa do quarto , difamando-o entre amigos e conhecidos, até mesmo perante as autoridades eclesiásticas. Vicente de Paulo, limitou-se a responder: Deus sabe a verdade!

Disse essas palavras com tal doçura e modéstia, que a todos encantou. Seis anos depois, o ladrão foi preso em Bordeaux por outros latrocínios. Oprimido   pelo remorso,   o ladrão   mandou   chamar   o Juiz    de Soré,
confessou o roubo e prometeu restitui-lo. A cólera do Juiz transformou-se logo em grande veneração pelo antigo companheiro de quarto. Escreveu-lhe tocante carta, pedindo perdão e dizendo que iria procura-lo para receber de joelhos e com a corda ao pescoço o perdão de sua falta. 


Em outra ocasião, um teólogo experimentava o suplício de uma terrível
tentação contra a fé, a ponto de querer suicidar-se   para não renunciá-la. Tendo conhecimento do fato, Vicente ofereceu-se a Deus para  subs- tituir o aflito teólogo. O sacerdote viu-se, de repente, livre  das    tenta-ções e, imediatamente,   Vicente   passou   a conviver  permanentemen-
te com elas. Depois de quatro longos anos, cansado e completamente esgotado já a ponto sucumbir, Vicente, para se ver livre dos ataques diabólicos, que aumentavam cada vez mais, em número e em intensidade, tomou a resolução irrevogável (por voto) de consagrar toda a sua vida ao serviço dos aflitos e dos pobres. Deus acolheu a sua resolução, livrando-o completamente das tentações. Todas as suas dúvidas dissiparam-se a partir desse momento; a paz inundou a sua alma de consolações; ele mesmo declarou que desde esse dia "as verdades da fé foram para seu espírito tão indiscutíveis como as verdades mais evidentes, porque são baseadas nas palavras de Deus". Essa grave e longa tribulação foi o meio extraordinário que a Divina Providência empregou para purificar o espírito de Vicente.

10. Esmoler da rainha Margarida de Valois

A Rainha Margarida, filha de Henrique II , esposa repudiada por Henrique IV, convida Vicente de Paulo para orientá-la e para exercer as funções de esmoler (pessoa encarregada de distribuir esmolas) em seu luxuoso palácio. O humilde esmoler, contudo, não se sentia bem, só comparecia a palácio para desempenhar os atos de seu Ministério, e fugia de todo a agitação que o cercava. Enquanto piedosos sacerdotes procuravam curar as chagas da Igreja fundando Congregações, a fim de
formar um Clero fervoroso no silencio dos seminários, havia um grupo de sacerdotes, sábios doutores, que deploravam igualmente essas chagas, mas,   não tendo bastante   fé na vida   indefectível   da   Igreja,
procuravam regenerá-la por meios errados. Os dois principais chefes deste grupo de inovadores chamavam-se Jansen ou Cornelius Jansénius e João Vergier de Hausanne.

O Padre Vicente se colocou em oposição às idéias de Jansen. Condenava o jansenismo e o Calvinismo.

11. Vigário de Clichy


Em 1611, por determinação do Cardeal de Bérulle, Padre Vicente deixa de ser capelão da rainha para tomar conta da paróquia de Clichy, uma pequena paroquia perdida num subúrbio de Paris. Muito extensa, porém muito pobre, onde quase todos os fiéis eram modestos horticultores. Dada sua experiência de camponês, Padre Vicente imediatamente identificou-se com essa gente simples e humilde. Foi modelo de pároco, pela sua humildade, sabedoria e paciência. Instituiu a Comunhão Geral  em todos os primeiros domingos de cada mês, tendo em pouco tempo cativado seus paroquianos, transformando os seus corações e alcançando resultados extraordinários, que foram abençoado por Deus. Reconstruiu a igreja que estava completamente em ruínas e, não obstante a sua pobreza, ainda mantinha em casa doze meninos pobres, aos quais dava sustento e instrução.

Por isso Padre Vicente na velhice recordava os belos dias de Clichy com profunda emoção:  "Fui vigário   no campo, e  o   povo   dava-me   tanta consolação que dizia comigo: meu Deus! como tu és feliz em possuir um povo tão bom; penso que nem o papa é tão feliz como o vigário que tem um povo de tão bom coração. Um dia o  Cardeal de  Retz perguntou-me: então, senhor vigário, como está? Respondi-lhe:  Eminência,  estou   tão contente que nem sei dizer - Por que? - Porque tenho um povo tão bom, tão obediente a tudo que recomendo, que penso que nem o santo padre e nem vós, Eminência, sois tão feliz como eu".

12. No palácio dos "de Gondi"


Um ano depois de estar em Clichy, o Cardeal de Bérulle mandou que ele confiasse a paróquia a um coadjutor e fosse desempenhar as funções de preceptor na casa do nobre senhor Felipe Manuel de Gondi, General das Galeras do Levante e conde de Joigny. Em vista do espírito organizador do zeloso vigário, o sábio diretor pensou que devia colocá-lo numa família, donde saiam, periodicamente, cardeais, bispos e ministros, a fim de que os filhos do conde de Gondi, educados sob as vistas desse homem compenetrado do espírito de Deus, se tornassem úteis à Igreja e a pátria. O bom padre Vicente obedeceu prontamente, mas com o coração dilacerado.


A Família De Gondi, em cujo palácio Vicente de Paulo entrou como preceptor de seus filhos, era uma das mais nobres e de maior evidencia na França da época. No exercício de tas funções junto à nobreza, Vicente de Paulo prepara-se para realizar a sua grande e divina missão de benfeitor da humanidade.

13. Pároco de Châtillon-les-Dombes

Foi numa viagem a um dos domínios da família Gondi, que o Padre Vicente pôde avaliar a exata dimensão do abandono espiritual em que se achava o "pobre povo do interior".

Apos se ter confessado, um camponês moribundo declarou à Senhora "de Gondi" que teria morrido em estado de condenação eterna, não fosse a providencial presença do Padre Vicente, que, pelo resto de sua vida, recordará este episódio, como a sua primeira "missão".


Chocado com o drama do camponês moribundo, Padre Vicente procurou o Cardeal Bérulle para se aconselhar a respeito da conveniência de sua permanência em palácio rico e confortável, enquanto, nos campos, muitos morriam sem nenhuma assistência religiosa.


Entendendo perfeitamente o drama que o Padre Vicente estava enfrentando, o Cardeal Bérulle resolveu confiar-lhe uma paróquia em Chântillon, distante uns 300 quilometros de Paris, onde a população, em disputas frequentes, dividia-se entre a religião católica e o protestantismo.


O prédio da Igreja estava totalmente em ruínas; servia de morada para os pobres abandonados e, durante a noite, de abrigo para animais. Muitos católicos, além do mau exemplo que davam, já haviam perdido inteiramente a fé e esquecido completamente a existência de Deus.


Vicente seguiu a mesma linha de ação que adotou em Clichy. Em consequência, as conversões multiplicaram-se e, em cinco meses, a vida religiosa do vilarejo havia se transformado milagrosamente.


14. As Senhoras da Caridade (AIC)

Num dia de festa em Châtillon, antes do início da Santa Missa, o Padre Vicente foi alertado de que a família inteira de um lavrador estava doente, não podendo sequer preparar a própria alimentação, que também já era escassa. No sermão, Vicente recomendou aos fiéis a necessidade urgente de socorrer estes irmãos carentes. De tarde, ele mesmo fez questão de levar o conforto espiritual à família enferma e, quando lá chegou, encontrou uma multidão de pessoas e a casa cheia de alimentos.

Diante de tanta solicitude, Padre Vicente ponderou: "Eis uma grande caridade, porém mal ordenada. São provisões demais, muitas se perderão e, daqui a poucos dias, será a mesma miséria". Com seu peculiar espírito de organização, estabeleceu uma escala de visitas, para que não viesse a faltar assistência àquela família, até sua total recuperação.


Estava assim lançada a pedra fundamental que originou, mais tarde, A Associação das Damas de Caridade, hoje denominada de Associação Internacional da Caridade - AIC.


Convém notar que, pela primeira vez da Igreja, surgia uma associação de senhoras da sociedade, livres de votos, continuando a viver na própria família e dedicando-se a visita aos pobres em suas moradas, para servi-los com perfeita caridade. São Vicente de Paulo, do primeiro lance, fundou uma obra-prima.


15. Regresso à casa "de Gondi"

Mais uma vez, acatando a determinação do Cardeal de Bérulle, Padre Vicente volta para o palácio do General das Galeras. Se, o senhor e a senhora de Gondi ficaram desolados quando Padre Vicente partira para Châtillon, agora, nesta véspera de Natal de 1617, é recebido "como um anjo do céu", e é onde será encontrado durante oito anos, operando prodígios e preparando-se para fundar os grandes exército de caridade.

A condessa de Gondi, no auge da alegria, obteve do Padre Vicente a promessa de jamais abandoná-la e ainda a de assisti-la à hora da morte, pressentindo, talvez, que não viveria por muito tempo.


A passagem por Châtillon foi para Vicente uma revelação; o contanto com os camponeses abriu-lhe nova luz no espírito. Pensava ele: "Quanto se fez na pequena paróquia de Bresse, por que não se fará em toda a parte?" "Por que não experimentar, pelo menos, nas terras dos Gondi?" Estava decidido a trabalhar com todas as forças para a salvação das almas.


16. São Vicente de Paulo, Capelão das Galeras (1618 a 1623).  

A família de Gondi passava o inverno em Paris. Durante esses meses, Padre Vicente estendia a sua caridade a todas as misérias. Ouvira falar dos horrores que sofriam, nas prisões da Conciergerie e de Châtelet, os condenados às galés, enquanto esperavam a partida da corrente para Marselha, quartel geral das galeras do rei. Um dia foi visitar as prisões.

Os condenados a trabalhos forçados viviam nessa época, miseravelmen- te amontoados em subterrâneos úmidos e imundos. Mal vestidos e alimentados com pão e água, comidos pelas bicheiras, sofriam muito aqueles pobres infelizes. As prisões eram verdadeiros infernos. Vicente de Paulo, sentindo na sua própria carne aquelas torturas, lutou até conseguir a sua nomeação como Capelão das Galeras, de 1618 a 1623. Nesse mister deixou marcada a sua passagem. Ao furor sucedeu a brandura; ao desejo de vingança, o arrependimento; ao desespero, a resignação; às blasfêmias, a oração.


A compaixão de Vicente não teve limites. Por seus esforços foi comprado o vasto hospital abandonado, do arrabalde Santo Honorato, próximo a Igreja de São Roque. Mandou restaurá-lo e adaptá-lo à prisão.  O seu trabalho e empenho contínuo para o alívio, alimentação e tratamento de moléstias dos forçados suscitaram louvores que chegaram aos ouvidos de Luiz XIII. O rei chamou o General das Galeras e quis saber ao certo o que havia. A narração que o senhor de Gondi fez ao soberano, do prodígio realizado pela piedade, zelo e dedicação heroica do humilde padre, deixou o rei tão encantado, que deliberou logo estender a todo o reino a maravilha que acabava de se dar em Paris, e criou, a 8 de fevereiro de 1618, para o Padre Vicente, o cargo, novo, de "Capelão geral e real das galeras de França, com a côngrua de seiscentas libras por ano, e posto de oficial da marinha do Levante, tendo sob as suas ordens todos os capelães das galeras".


17. Origem da Congregação da Missão

Apesar de suas numerosas ocupações: de capelão da casa de Gondi, de superior da Visitação de Paris, de vigário de Clichy, Vicente de Paulo achava tempo para estudar, frequentando a Sorbone, e, em 1623, recebeu o diploma de licenciado em teologia.

Inicia nessa época o período mais fecundo de sua existência; do seu gênio vai sair a congregação da Missão, espalhada hoje pelo mundo inteiro, dedicada exclusivamente à evangelização dos camponeses e a direção de seminários. A primeira ideia brotou do coração da angélica senhora de Gondi. Essa dama benemérita tinha coração de apóstolo. Doía-lhe ver os quase oito mil habitantes de suas terras vivendo na ignorância religiosa, e imaginava meios de os instruir e salvar. Seu marido, o senhor de Gondi apoiava a ideia e destinou a quantia de 45.000 libras, podendo com este capital pensar em dar começo a esta humanitária obra. Em seguida, a senhora de Gondi foi comunicar o seu grandioso intento ao seu cunhado, Monsenhor João Francisco de Gondi, arcebispo de Paris, que, não só o apoiou o projeto, como cedeu o velho colégio chamado dos "Bons-Enfants", que acabava de receber os seus direitos em doação. Seria esse colégio o núcleo da congregação projetada. Tudo concorria para o nascimento do pio instituto; o corpo estava pronto, faltava-lhe a alma. A alma seria Vicente de Paulo. O difícil seria vencer a humildade dele. E após uma reunião entre os quatro personagens citados, Padre Vicente solicitou um tempo para refletir sobre a proposta que lhe fizeram. Enfim, o contrato de fundação foi assinado a 17 de abril de 1625, no palácio dos Gondi, pelo senhor de Gondi e sua esposa, que se atribuem a iniciativa da fundação, e por Vicente de Paulo. O nome de São Vicente apenas aparece no texto do contrato, sem o menor elogio, porque foi ele o autor do documento, fixando por escrito os seus pensamentos lenta e profundamente amadurecidos.


18. Luísa de Marillac - As Irmãs de Caridade

Vicente de Paulo conhecera Luísa de Marillac que, aos 34 anos, logo após a morte do marido, Antonio Le Gras, renunciou aos atrativos do mundo, para dedicar-se totalmente a Deus e aos pobres. Orientada por Padre Vicente, Luísa tornou-se uma de suas mais valiosas e eficientes colaboradoras.

Enquanto Padre Vicente se ocupava com as missões, as galés e com a orientação dos Padres Lazaristas, Luíza organizava as "Associações das Senhoras de Caridade", animava as senhoras que delas participavam e ensinava-lhes como servir melhor aos doentes.


Motivada pelo mesmo desejo de servir a Deus na pessoa do pobre, Margarida Naseau, uma humilde camponesa, juntou-se a Luísa de Marillac para ajudá-la e, pouco depois, outras jovens imitaram-lhe o exemplo.


Acontecia, porém, que o constante aumento do número de enfermos indigentes impossibilitava que, a par de suas obrigações familiares, as "Senhoras da Caridade" pudessem cuidar satisfatoriamente de todos eles. Por isso, viviam atirados aos leitos dos hospitais públicos, em clima de promiscuidade e entregues à própria sorte. Os gritos de dor e os gemidos de sofrimento eram entrecortados de blasfêmias e maldições.


Diante deste lamentável quadro de miséria corporal e espiritual, São Vicente confiou, então, a Luísa de Marillac e às suas companheiras a missão de ajudar as "Senhoras da Caridade" no tratamento dos enfermos, reservando-lhes, porém, os trabalhos mais difíceis e penosos desta tarefa.


O que começou como um simples e despretensioso grupo de apoio ao trabalho das "Senhoras da Caridade" tornou-se, mais tarde, uma Comunidade, cuja técnica operacional revolucionou a estrutura e a eficiência das obras assistenciais.


E foi assim que, na casa de Luísa de Marillac, nasceu a "Companhia das Filhas da Caridade", a 29 de novembro de 1633.


19. As realizações de São Vicente

A grande preocupação de Vicente de Paulo foi trabalhar com toda a energia , doçura e zelo para renovar a Igreja da França, dando-lhes bons e santos e Sacerdotes. Para atingir esse objetivo, fundou os Seminários e instituiu os Retiros Espirituais.

Poucos Santos tiveram na Igreja de Deus, uma missão tão vasta e tão fecunda como Vicente de Paulo. Deus o destinou não só a ser o reformador  do  Clero  e  Embaixador  da Caridade,  mas  ainda,  a  ser  o
restaurador do Episcopado francês, então decaído do seu antigo esplendor.

Luis XIII, rei da França, ouvindo falar da santidade de Vicente de Paulo, do seu amor sem limites aos pobres, dos esforços pela santificação do Clero, das grandes obras de caridade, quis vê-lo e ser assistido em seus últimos dias pelo bondoso Santo sacerdote. 

A morte de Vicente de Paulo ocorreu no dia 27 de setembro de 1660. O seu coração foi extraído do seu corpo no mesmo dia de sua morte e depositado em um relicário de prata, presente da Duquesa D'Aquillon.

Depois da beatificação de Vicente de Paulo, ocorrida em 13 de agosto de 1729, foram os seus ossos depositados em um relicário de ouro e prata, o qual foi colocado no  retábulo (espécie de armário)  do altar de São Lázaro. Acima, via-se um grande quadro, representando o Servo de Deus, subindo aos céus, entre os Anjos.


Durante a revolução francesa, dois dias antes da tomada da Bastilha, portanto a 12 de julho de 1789, cerca de duzentos revolucionários pilharam o priorado de São Lázaro, destruindo a biblioteca e depredando os depósitos de cereais. Perderam-se nesse dia, os dois retratos autênticos do Santo e muitos pergaminhos de valor, alem de varias relíquias. Contudo os assaltantes respeitaram a Igreja e  o relicário que continham os ossos do Santo.

Quatro anos mais tarde, em 1792, os comissários de policia, por ordem do Governo do Terror, apresentaram-se em São Lázaro, reclamando todos os objetos de ouro e prata. Felizmente não profanaram o corpo do
Santo, deixando-o entregue aos Padres da Missão, contentado-se em levar o relicário. Os padres, temendo novas invasões, esconderam a preciosa relíquia em uma caixa de carvalho, confiando-a ao Senhor Clairet, notário de São Lázaro, que o guardou durante três anos.


Em 1795, os Lazaristas  conservaram   oculta  a  referida   caixa,   sob a guarda do padre Daudet, Procurador Geral, na rua Saint-Etiene. Em 1806, tendo voltado a paz à França,   os   ossos de São Vicente de Paulo,
foram confiados às Irmãs de Caridade, da rua Vieux Colombiers; estas os veneraram durante mais de vinte anos, na capela do noviciado.

Em 1827, quando os Padres da Missão puderam instalar-se definitivamente no antigo Hotel dos Lorges, na rua de Sevres 95, onde estão até hoje, pensaram em trasladar a venerável relíquia para a nova Casa-Mãe, cuja capela é dedicada ao fundador.


Nesse mesmo ano de 1827, Monsenhor de Quelen, Arcebispo de Paris, resolveu prestar ao humilde Pai da Caridade, o mais brilhante culto de veneração, realizando a solene trasladação das relíquias de São Vicente
de Paulo.

Essa solenidade deveria se realizar em 1827, mas as perturbações civis, amotinando a  cidade  de  Paris, retardaram   em   quase  três anos esse preito de veneração ao humilde Santo da Caridade.

Em 1830, serenados os ânimos, Monsenhor de Quelen, anunciou ao clero e aos fieis de toda a França, a majestosa ovação a São Vicente de Paulo. Uma comissão de eclesiásticos e de médicos procedeu a minucio-
so exame dos ossos, que foram conscienciosamente ligados com fio de ouro e prata. Realizado esse trabalho, cobriram o crânio e as mãos com cera, representando tanto quanto possível a fisionomia do Santo.

E a 25 de abril de 1830, domingo do Bom Pastor, precisamente no segundo domingo depois da Páscoa, no antigo calendário litúrgico, realizou-se a solene Trasladação das Relíquias de São Vicente de Paulo, da majestosa Catedral de Notre Dame, para a Igreja Mãe de São Lázaro.

Foi um acontecimento que empolgou a França e o mundo no século passado. Durante as festividades programadas, Sua Majestade Carlos X, Rei da França, acompanhado de príncipes e princesas e de toda a Corte,
visitou oficialmente as relíquias de São Vicente de Paulo. Ajoelhando-se diante das relíquias, recitou uma prece que a história guardou:


     "Vindo venerar as Relíquias deste Santo Sacerdote, tão caro à humanidade, tenho o grande desejo de alcançar, por sua intercessão, paz para a França e tranquilidade para o meu povo. Pedirei a São Vicente de Paulo que apresente a Deus este meu voto, o mais caro do
do meu preito, e não duvido que as orações serão atendidas."

O verdadeiro retrato de São Vicente de Paulo, o mais querido e popular de toda a França, se constitui dos seguintes elementos:

     Sua Vida. Sua Ação. Sua Providência. Sua Humildade. Sua Influência      na Igreja e em todas as Obras Assistenciais que se  espalharam pelo      mundo para suavizar as dores,   mitigar os  sofrimentos, consolar os      aflitos e enxugar as lagrima dos que choram.

Como Deus é admirável nos seus Santos! Deus na sua sabedoria infinita, o suscita e os glorifica no lugar e no tempo, de acordo com  as   necessi- dades de cada época. Assim, suscitou  São   Vicente de Paulo   no século
XVII, depois das lutas dos reformadores protestantes, a fim de dar esta nova prova de divindade da Igreja; evidencia que a verdade cristã total está somente onde se pratica Caridade Total. E, no fim do século XIX, Deus o Glorifica de modo maravilhosos porque em nossos dias a Igreja deve e precisa reconquistar o mundo que está profundamente enfermo. 
Hoje, as nações querem secularizar tudo: meios de comunicação, educação da juventude e até a caridade.

É necessário e urgente, portanto, demonstrar pelo exemplo e pelas obras de São Vicente de Paulo, principalmente através das Conferencias Vicentinas, essa rede imensa de  fraternidade cristã   sobre a terra,  que
nenhum filantropo poderá igualar jamais o discípulo dileto de Jesus Cristo, que bebe as suas inspirações no Coração do Amor Divino.

Não basta ao Clero, aos vicentinos, aos promotores da ação católica de nossos dias, admirar a vida, a obra, o dinamismo e a santidade deste grande benfeitor da humanidade.


É necessário imitar o seu exemplo e as suas virtudes, iluminando o espirito com a mesma Fé que o iluminava, e confortando o coração com o mesmo fogo sagrado do amor ao    próximo como   fez o    nosso Santo
protetor. Imitemos São Vicente de Paulo, se realmente quisermos ser seus filhos.

As obras de caridade são a nossa grande força nas lutas presentes de todos os dias. Precisamos mostrar ao mundo e aos incrédulos deste século paganizado e materialista, a divina caridade ensinada por Jesus e praticada por São Vicente de Paulo. É este o grande e único meio de transformar as sociedades modernas, elevando as potências da alma humana para o sobrenatural. A Igreja de Cristo, longe de ser um obstáculo ao progresso das nações e dos povos, é a auxiliar autêntica e indispensável de todo o bem.

GLORIA E LOUVOR AO ÍNCLlTO SÃO VICENTE DE PAULO!



¹) O padre Pedro de Bérulle nasceu em Paris, a 4 de fevereiro de 1575. Era, portanto, cinco anos mais velho do que São Vicente. Era oriundo de uma família de magistrados. Sua mãe, da família de Séguier, depois de viúva, fez-se carmelita e viveu em odor de santidade.  Segundo Bossuet, "Pedro de Bérulle, homem eminente e verdadeiramente ilustre, cuja dignidade era tanta, que a púrpura romana em nada a aumentou, tanto ele já se notabilizara pelo mérito de sua virtude e de sua ciência, começava a espargir sobre toda a Igreja da França as luzes mais puras e sublimes do sacerdócio cristão e da vida eclesiástica". Dotado de inocência angélica e edificante humildade, o padre de Bérulle viu todas as dignidades da Igreja se precipitarem para ele, sem que ele as quisesse receber. São Francisco de Sales gostava de gracejar dizendo: "Se eu pudesse escolher ser alguém, eu quisera ser o Padre de Bérulle, e com prazer deixaria o meu posto para me colocar sob a direção desse grande homem".



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Os dados acima foram transcritos das seguintes fontes:

a) Aula sobre São Vicente da Escola de Caridade Frederico Ozanam do
    Conselho Central Norte de São Paulo.
b) Apostilha do Curso Básico, 3a. edição - 1987 - do CSB da SSVP
c) São Vicente de Paulo, de autoria de Pe. Jerônimo P. de Castro - CM.

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