A ATUALIDADE DE
FREDERICO OZANAM:
"O DESPERTAR DO AMOR E A CÁTEDRA DE LITERATURA"
2a. Parte
Nas
férias de Páscoa de 1840 Frederico Ozanam vai a Paris
e é recebido pelo Ministro da Instrução Pública em sua residência, o filósofo Victor Cousin. Este, demonstrando-lhe afeto lhe assegura que pode contar com sua influência para obter a cátedra de Literatura Estrangeira em Lyon. Mas, diz-lhe Cousin, "só
coloco uma condição, que acredito que lhe agra dará: quero que você se inscreva no Concurso de Agregação que acabei de instituir para a cátedra de Literatura Estrangeira na Sorbona e que se
realizará dentro de seis meses. Tenho o conhecimento de que vários concorrentes vêm se preparando a mais ou menos um ano e por isso creio que você, provavelmente, não vencerá. Porém, como o Concurso se realizará pela primeira vez, quero para o seu maior brilho, que dele tomem parte um grupo de jovens de talento. Peço-lhe, pois, que me proporcione este grande prazer. Uma vez feito os exames,
aconteça o que acontecer lhe garanto que você terá a cátedra em Lyon". Ele aceita o desafio, inscrevendo-se no Concurso.
No início de setembro de
1840 retoma a Paris para participar do temível
Concurso de Agregação, cujo programa compreende três literaturas clássicas e quatro estrangeiras. Frederico Ozanam se empenhou de corpo e alma no estudo. Chegou há certos dias estudar, cerca de, 18 ho- ras, procurando aumentar a probabilidade de vitória sobre os outros seis candidatos. Nem por isso deixou decair sua atuação frente a cate- dra de Direito Comercial, e nem de atuar nas obras de caridade de sua Conferência Vicentina.
Terminado os exames
houve uma apuração definitiva, computando as médias das notas obtidas nas diferentes provas realizadas, resultando que no final, Frederico Ozanam triunfa, obtendo
a maior nota e assim conquistando o primeiro lugar. Diante do fato, o
decano da Faculdade de Letras, Dr. Victor Le Clerc, remete em 3 de outubro de 1840
ao Ministro da Instrução Pública, o seguinte informe:
“O professor Ozanam, conhecido já
em nossa Faculdade, tendo merecido o primeiro posto, não tanto por seus
conhecimentos clássicos (que são sem dúvida alguma, muito extensos, ainda,
quiçá igual aos outros professores),
como por sua maneira ampla e firme de compreender um autor ao expor um tema,
como assim, também, por elevação de seu comentário e por um linguajar que, ao
unir a originalidade a razão, e a imaginação a seriedade, indica que está
eminentemente capacitado para o professorado público. Foi, também, o único dos
candidatos que deu provas de um profundo conhecimento gramatical e literário
das duas línguas mortas e dos quatro idiomas estrangeiros indicados no programa”.
Durante o dito Concurso,
Frederico Ozanam com liberdade e firmeza, causou surpresa e depois admiração ao
auditório, ao expor e defender suas ideias cristãs. Ao ouvir o anuncio de sua vitória, quase não acredita no veredicto, tão grande é sua alegria.
Antônio Frederico Ozanam
agora passa a ser o professor adjunto da Faculdade de Letras de Paris. Apressa-se a comunicar o resultado do concurso ao reitor Soulacoix, que tanto o encorajou. A
partir de 9 de outubro de 1840, uma portaria ministerial o encarrega da suplência do professor Claude Fauríel na cadeira de Literatura Estrangeira da Sorbonne. Frederico Ozanam terá a responsabilidade de, para o ano de 1841, do curso de literatura alemã na idade média.
Por sua vez, o Ministro
da Instrução Pública, Cousin, o nomeia professor titular da cátedra de Literatura Estrangeira em Lyon.
Essas nomeações deixam Frederico Ozanam numa situação embaraçosa. Lyon ou Paris? Outro problema surge, a questão dos honorários. Ganharia em Paris, na suplência, um quarto (1/4) do que
ganharia em Lyon em um ano: 2.500 francos. Além do mais, existe algo que a algum tempo o vem preocupando: existe um outro sentimento que não quer admitir, mas que, sem dúvida alguma o faz vacilar em sua determinação: o amor que dedica a Amélia Soulacroix. Durante sua permanência em Paris, compreende que está profundamente enamorado, "vencido pelos encantos delicados e incompreensíveis do amor", pois pensa nela e sua imagem o acompanha por toda parte.
De volta a Paris
solicita de seu irmão Alfonso que marque uma entrevista com o Dr. Soulacroix para pedir a mão de Amélia. Pe. Alfonso, sendo o membro mais velho da família e na falta dos pais, foi apresentar solenemente Frederico a seu futuro sogro.
Assim
relata Pe. Alfonso em seu livro "Vida de Frederico" o acontecimento:
"O Sr. Soulacroix nos aguardava em seu escritório. O encontro foi dos mais
cordiais; uma bondade tão nobre quanto simples iluminava seu rosto. Faço o
pedido e o Sr. Soulacroix responde que concedia a mão de sua filha e em seguida
nos conduziu a outro aposento aonde se encontravam sua esposa e filha. Todos
estávamos emocionados, e após a troca de felicitações mútuas, a Sra. Soulacoix,
a exemplo dos velhos patriarcas, com o coração transbordando de alegria, tomou
a mão dos dois futuros esposos, enlaçou-os uma na outra entre as minhas e assim
consagrou este enlace que devia estreitar-se para sempre, um pouco mais
tarde".
O
Dr. Soulacroix, manifesta-se dizendo ser seu desejo que Frederico permaneça em
Lyon. Porém Frederico Ozanam, num gesto conciliador diz: deixo a decisão para
Amélia. E dirigindo-se a sua noiva, lhe diz com carinho: "Aqui em Lyon
você seria mais feliz, vivendo próxima de seus país e irmãos, e teria uma
posição mais segura e abastada. Enquanto que, em Paris viverá longe de sua
família e passará momentos de intranquilidade e até de pobreza. Porém,
renunciar a Sorbonne seria abdicar de uma nobre missão cristã que, com a ajuda
de Deus e encorajado por você, eu poderia, sem dúvida, realizar. É por tanto,
pedir-lhe demasiado que tenha confiança em si mesma e em mim? Eu não faço mal
solicitando que suporte os sacrifícios de uma vida modesta sofrendo um pouco,
com paciência, a espera que possa situar-me numa posição melhor?" Sem
vacilar, Amélia coloca sua mão na de Frederico, dizendo-lhe: "Tenho plena
confiança em você. Rogo-lhe que aceite a suplência da Sorbonne".
Após
seis semanas de férias, escreve em 6/12/1840 ao amigo Lallier que residia na
cidade de Sens, propondo-lhe visita-lo no dia 16. Diz- lhe, também, que a
Providência o havia chamado para o terreno escorregadio que era a capital Paris
e que Ele queria dar-lhe um anjo da guarda para o conforto em minha solidão.
Solicitando suas preces, diz-lhe:
"Que Deus conserve para mim,
aquela que parece ter escolhido e
cujo sorriso é o primeiro raio de felicidade que Ele lançou sobre minha vida
desde a perda de meu pobre pai". "Você me achará ternamente
enamorado, mas eu não oculto isso, embora às vezes não possa deixar de rir da
situação. Eu que me julgava ter o coração mais vacinado contra essas
coisas!".
E
assim, Frederico Ozanam confessa ao seu melhor amigo que foi vencido
"pelos encantos delicados e incompreensíveis do amor". Justamente ele
que censurara seus amigos por terem, muito cedo caído na "armadilha do
casamento". Que idade tinha ele? O mais jovem professor a lecionar na
Sorbone tinha apenas vinte e sete anos!
Mario Maríngulo
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