Eucaristia - sinal de esperança
Na Eucaristia encontra-se a fonte da luz mais profunda
da nossa fé e da nossa esperança. A Eucaristia é o estímulo para o compromisso
cristão. Dom Pedro Casaldáliga diz que "se a um povo lhe tiram a esperança,
tiram-lhe tudo" e ainda Dom Oscar Romero repetia sempre, apesar de viver rodeado de perigos:
"Sim, há saída!". Há saída para os Pobres. E a
Eucaristia é a força que não deixará a esperança morrer no meio dos Pobres.
Isso pode ser feito através do serviço que dedicamos a eles.
São Vicente de Paulo dizia que "Deus pede a cada
um que se ponha individualmente a serviço dos Pobres. São nossos senhores. É
por isso que devemos tratá-los com compreensão e cordialidade. Cuide que não
lhes falte nada, nem material nem espiritualmente. Trate-os com respeito, assim
como o fazemos para Jesus Cristo. Ele diz: "O que fizestes por um destes
meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes". É portanto, na realidade,
a Jesus Cristo que está servindo, ao cuidar de um pobre ou um enfermo. Não
basta ter boas maneiras e paciência, trabalhar com os pobres exige também
cordialidade" (SV IX, 119).
Nesse aspecto, a Eucaristia é, por excelência, o sacramento
da pobreza divina. Ela simboliza e concentra toda "humildade" de Deus
que, sendo Deus, rebaixou-se na condição humana para dar à pessoa humana as
graças de sua participação divina. Um cântico de São Paulo expressa toda
profundidade dessa doação: "Ele tinha a condição divina, mas não se apegou
à sua igualdade com Deus. Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo assumindo a
condição de servo e tornando-se semelhante aos homens”."Assim, apresentando-se como simples homem, humilhou-se
a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz! Por isso, Deus
o exaltou grandemente, e lhe deu o nome que está acima de qualquer outro
nome" (FI 2, 6-9). Este "esvaziou-se de si" não consistiu apenas
em nascer como pessoa humana. Foi além. Ele assumiu deliberadamente a identificação
com os mais pobres, os mais pequeninos e os mais desprezados.
Desde o seu nascimento, Jesus Cristo encontra-se em
meio aos excluídos de seu tempo, entre os sem-teto: "Não havia lugar para
eles" (Lc 2,7). Jesus missionário "não tem onde repousar a cabeça"
(Lc 9,58).
Até o fim, na ceia derradeira com seus apóstolos
tornou-se alimento: "Isto é o meu corpo que vai ser entregue ... Este cálice
é a nova aliança do meu sangue, que é derramado por vocês" (Lc 22,19-20).
Por isso, São Paulo fala que "Ele, embora fosse rico, se tornou Pobre por causa
de vocês" (2 Cor 8,9).
Podemos dizer que o principal aspecto teológico da
Eucaristia é considerá-la como sendo o sacramento do empobrecimento de Deus.
Eucaristia - sinal de amor
São João afirma que "Deus é amor" (1 Jo 4,8.16).
Se falarmos que Deus se manifesta na Eucaristia, que a Eucaristia é a manifestação
do amor, podemos também afirmar que amor e Eucaristia se identificam. Da Eucaristia
brota uma comunidade de homens e de mulheres chamados a serem testemunhas do
amor.
A Eucaristia faz a Igreja para manifestar o amor. Ainda
mais, para que ela seja sinal do amor de Deus no mundo. Foi assim que pensava Jesus:
"Amai-vos uns aos outros como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que
aquele que dá a vida por seus amigos" (Jo 15, 13). Foi assim o pensamento
de muitos santos e santas. É no amor ao próximo que se completa a Eucaristia
entre nós. É o sentido da caridade cristã. É prioridade na dinâmica do Reino de
Deus. São Paulo afirmava que o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas paz e
justiça. São Vicente de Paulo, que foi um verdadeiro apóstolo da caridade, podia
dizer: "Felizes os que dedicam o tempo breve de sua vida ao Amor e à
Justiça".
Para esse tipo de espiritualidade não bastam apenas
palavras; são necessárias as ações concretamente realizadas no processo de
experiência do próprio Deus através do serviço aos Pobres. A Eucaristia é por si
o pão dos Pobres e nos envia para os Pobres. São João Crisóstomo questionava:
"O que importa se a mesa de Cristo brilha com cálices de ouro, se Ele
mesmo morre de fome? Aliviai antes as suas necessidades; em seguida com o que
sobrar, enriquecei à vontade a sua mesa. É o que comumente acontece:
ofereceis-lhe um cálice de ouro e lhe recusais um copo de água fria. Por
conseguinte, decorando bem a casa de Deus, não menosprezeis o vosso irmão
Pobre, pois o templo que é este irmão é mais precioso que aquele de Deus".
Assim, há, na Eucaristia, uma exigência de partilha com os outros. É, aliás,
uma exigência fundamental.
Na Quinta-feira Santa Jesus expressa uma atitude que surpreende
seus apóstolos. Faz um gesto significativo; gesto que exprime toda a significação
da doação de sua própria vida. Coloca-se a lavar os pés de seus discípulos. O
que Jesus queria mostrar com isto? Simplesmente queria testemunhar que seu pedido
incessante estaria sempre voltado para que todos tivessem uma atitude de serviço
de uns para com os outros. Adesão ao Cristo deve ser também adesão aos mais
pobres e aos mais desprezados.
A Igreja na América Latina manifestou no documento de
Puebla que "os pobres merecem uma atenção preferencial .. Feitos à imagem
de Deus para serem filhos de Deus, esta imagem é obscurecida e desfigurada. Por
isso, Deus toma a defesa deles e os ama, eles são também os primeiros destinatários
da Missão: evangelizá-los é o sinal por excelência, o sinal e a prova da missão
de Jesus".
Concluindo, se faz necessário lembrar que celebrar a
Eucaristia é fazer a memória de Jesus Cristo. Fazer memória não é apenas recordar
o que Jesus Cristo fez há dois mil anos. "Fazer memória" é reviver em
nossas vidas o que ele viveu, amar os Pobres, servir os Pobres, anunciar-lhes a Boa Nova que Jesus
Cristo veio trazer, em primeira mão, aos Pobres. É assumir os valores do Evangelho,
dispor-se a dar o próprio sangue e a própria carne para que outros tenham
vida.
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