Ozanam, professor dos pobres
Docente Universitário,
jornalista, pai de família, sobretudo antecipador do catolicismo social da
Rerum novarum.
Frederico Ozanam
é de modo geral, pouco conhecido na Itália: a sua fama se deve quase unicamente
ao aspecto caridoso de sua obra, e está na fundação da Conferencia de São
Vicente. A Sociedade de São Vicente de Paulo, de resto, é de fato a síntese da
principal característica de Ozanam: a caridade, o pensamento social, a
apologética.
O pensamento social
É a análise
da causa da miséria que leva Frederico
Ozanam a de- senvolver o seu pensamento social. A questão social para ele não é
só de ordem econômica, mas também moral e como tal põe aí o peso da
responsabilidade da consciência cristã.
Ao dia
seguinte do movimento revolucionário de 1848 em Paris, Ozanam escreveu ao irmão
abade: "Atrás da questão da república que não interessa a outros que a
gente culta, há dois problemas que interessam ao povo como a organização do
trabalho: do descanso semanal, e do salário. De outra parte não se pode pensar em enfrentar estes problemas sem envolver o
crédito financeiro, o comércio, a indústria. Se o Estado intervém entre o
patrão e operário para regular o salário, a liberdade de que o comércio
desfrutou até agora cessa de existir e fica na espera de que essa possa se
reconstituir sob novas leis, quanta dificuldade e sofrimentos deverão enfrentar."
E em outro
lugar: ''O perigo, que os alegra de não mais os ver na estrada, e sim às
escondidas nos sótãos das casas que os apoiam. A revolta é apaziguadora, mas
fica um inimigo que não conhece bastante a miséria!" (L'Ere Nouvelle: Alie
persone per bene" 1848).
Tem um dualismo significativo do ponto de
vista econômico, entre o período histórico em que viveu Ozanam e o atual: o primeiro
era a época da evolução industrial, provocada
pela introdução da máquina a no ciclo produtivo, hoje é o advento da automação
com a introdução do computador, e as consequências sobre o homem-trabalhador
são comparáveis.
Segundo
Ozanam, desde sempre tem se tratado de determinar como e em qual medida os homens teriam participado da
riqueza produzida pelas atividades. No século XlX, a questão do trabalho se apresenta
sob novas expectativas. Na primeira
metade daquele século, se forma a grande indústria e o regime do assalariado
engloba um número sempre maior de indivíduos. Uma concorrência desenfreada se
alastra entre os empreendedores. No centro deste fato os economistas pretendem
orientar a ação para uma liberalidade sempre maior entre o nascente socialismo,
para uma contração que parece necessária.
De primeiro
Ozanam diz que "não tem outra lei no trabalho que aquela do interesse
pessoal, isto é, a insaciabilidade dos patrões". Da escola do socialismo
atribui-se "de verdade todo o mal a uma distribuição viciosa , e acreditam
em salvar a sociedade suprimindo a concorrência". E conclui que
"estes dois sistemas, dos quais um reduz o destino do homem a produzir e o
outro a gozar, deságuam ambos, por via diversas, no materialismo".
Ozanam
apoiando a questão social em um ponto de vista cristão, reconhece que a
religião não exclui a princípio, nenhum regime econômico, porque justiça e
dignidade da pessoa humana são respeitados. Em particular, o respeito não é
devido somente para a pessoa do trabalhador, mas também para sua família, com a
consequente salvaguarda dos deveres e dos encargos que comporta, respeito pelos preceitos
religiosos de onde estes possam em conflito com o trabalho, garantia de higiene
física e moral no lugar de trabalho.
O
pensamento de Ozanam sobre questões de trabalho e daquilo que ele chama "o
salário natural" exposta na lição de direito comercial está assegurada na
lei desde 1840: "O operário é considerado como um instrumento do qual
tirar o maior proveito ao mínimo preço ou então como um sócio, um auxiliar" [
... ] "No primeiro caso é a exploração do
homem, é a escravidão. O operário-máquina não é outro que uma parte do capital" [...], "mas noutro caso, se o operário é tratado como um colaborador humano" [...] "o salário deve compensar os três elementos que o operário põe ao serviço da indústria, a corajosa boa vontade, certo conhecimento técnico, a força. "A vontade lhe dá direito ao necessário para viver. Os seus conhecimentos formam o
capital pelo qual merece receber o interesse e a amortização, com isto pode
pagar a educação dos filhos. Enfim, a força é um capital que um dia se
exaurirá: o operário tem, portanto, direito a pensão, senão seria a sua vida,
um lugar a fundo perdido".
A propriedade
Ozanam toma
posição também sobre questões da propriedade privada, que considera legítima,
mas com deveres anexos: "a justiça exige que cada um tenha o direito
exclusivo sobre as coisas que possui, e a caridade que se pede, é que cada um
esteja disposto a oferecer aos outros na medida do próprio supérfluo e do
necessário alheio". E a tal propósito faz suas as famosas palavras de
Santo Ambrósio: "O pão que vós conservastes é o pão do esfomeado, os
vestidos guardados nos armários são aqueles dos indigentes que ficam nus, os
sapatos que desde muito apodrecem são aqueles do miserável que caminha
descalço, e são os dinheiros dos pobres aqueles que vós enterrastes".
Enquanto
leigo Ozanam foi corajoso também ao solicitar aos sacerdotes de seu
tempo: “Vós amastes os pobres de vossa paróquia, acolhestes caridosamente o
indigente que bate a vossa porta, mas não espera que ao chamá-lo ele esteja lá.
Mas, veio o tempo de se ocupar de outro povo que não mendigam e que vivem normalmente do próprio trabalho e
aos quais não se assegurará mais o direito ao trabalho e a assistência quando
estiverem precisando de ajuda, de
conselho ou de consolo. Foi o tempo de ir a procura daquele que não chamamos,
que relegados aos bairros de má fama, talvez não tenham mais conhecido, nem a
Igreja, nem o sacerdote, nem o doce nome de Cristo!”
Frederico
Ozanam enfim solicita da instituição intermediaria entre o Estado e cidadão em dificuldade e
afirma que "a maioria dos cristãos se enganam acreditando-se com a consciência
limpa para o próximo, para cuidar dos necessitados, como se não houvesse uma
classe imensa não de indigentes, mas de pobres que não perguntam por esmolas,
mas pela situação".
A ação caritativa, tempo também de justiça e de progresso social, Ozanam condiciona a conquista da paz e mostra todo o seu senso profético e a atualidade de seu pensamento na carta de 13/11/1836: ''A questão que divide os homens de hoje não é mais uma questão de forma política, é uma questão social, é saber se vencerá o espírito do egoísmo ou o espírito do sacrifício ... Está-se preparando uma luta entre estas duas classes de homens e esta luta ameaça ser terrível: de uma parte o poder do ouro, da outra o poder do desespero. Temos pressa entre essas duas fronteiras hostis, se não para impedir o impacto, ao menos para atenuá-lo. Ser jovem e de uma medíocre condição social, facilita a tarefa de mediadores que o nosso título de cristãos torna obrigatório. Aqui a possível utilidade da nossa Sociedade de São Vicente de Paulo".
Com apenas
16 anos Federico Ozanam é atraído pelo estudo da religião e pensa em um
trabalho intitulado "Demonstração da Religião Católica através da
antiguidade da crença hebraica, religiosa e moral". Esta obra nunca será
realizada como concebida, mesmo que a ideia ainda esteja em torno do ensinamento
da literatura estrangeira, da qual Ozanam era professor na Sorbona: ele vai se
empenhar em estudar a história da literatura na civilização, na qual o
cristianismo floresceu e nela descobrir, principalmente, o trabalho do cristianismo.
Um grande
amigo de Ozanam, o filho do célebre físico Ampère, disse sobre esses trabalhos que para explorados, é um pouco "como caminhar no estúdio de um escultor que
morreu prematuramente, entre obras já concluídas e outras apenas esboçadas".
Publicado no jornal "L'Osservatore Romano", secção "La voce del populo, em 13/07/1997.
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