1º DOMNGO DO ADVENTO

Marcos 13,33 – 37

Ficai de sobreaviso, vigiai; porque não sabeis quando será o tempo. Será como um homem que, partindo de uma viagem, deixa a sua casa e delega sua autoridade aos seus servos, indicando o trabalho de cada um, e manda ao porteiro que vigie. Vigiai, pois, visto que não sabeis quando o senhor da casa voltará, se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã, para que vindo de repente, não vos encontre dormindo. O que vos digo, digo a todos: vigiai!

Comentário

Já é hora de acordar! Eis o apelo de Jesus no Evangelho que inaugura este tempo do Advento. Uma nova aurora surge no horizonte da humanidade, trazendo a esperança de um novo tempo de um mundo renovado pela força do Evangelho. Neste tempo de graça, somos convocados a sair do torpor de uma prática religiosa inócua, a acordar do sono dos nossos projetos pessoais vazios e egoístas. Despertos e vigilantes, somos convidados a abraçar o projeto de Deus que vem ao nosso encontro, na espera fecunda do Tempo do Advento, temos a chance de reanimarmos em nós e os compromissos assumidos em favor da construção do Reino, reavivando as forças adormecidas, para a construção de uma humanidade nova, livre das trevas do sofrimento, da marginalização e da morte.

Frei Sandro Roberto da Costa, OFM - Petrópolis/RJ

2º DOMINGO DO ADVENTO

Marcos 1,1 – 8

Conforme está escrito no Profeta Isaias: Eis que envio meu anjo diante de ti: Ele preparará teu caminho. Uma voz clama no deserto: Traçai o caminho do Senhor, aplainai suas veredas (Mt 3,1); Is 40,3). João Batista apareceu no deserto e pregava um batismo de conversão para a remissão dos pecados. E saiam para ir ter com ele toda a Judéia, toda Jerusalém, confessando os seus pecados. João andava vestido de pelo de carneiro e trazia um cinto de couro em volta dos rins, e alimentava-se de gafanhotos e mel Sivestre. Ele pôs-se a proclamar: “depois de mim vem outro mais poderoso do que eu, ante o qual não sou digno de me prostrar para desatar-lhe a correia do calçado. Eu vos batizei com água; ele, porém, vos batizará no Espírito Santo”.

Comentário

“Preparai o caminho do Senhor, aplainai as suas veredas”. Clamando pelo deserto, João Batista nos indica que procurar viver conforme a Boa-Nova que Jesus nos trouxe não se trata, simplesmente, de viver dentro de um sistema religioso com certas práticas que nos identificam com tais. Talvez ele queira nos indicar que a fé, antes de tudo é um percurso, uma caminhada, onde podemos encontrar momentos fáceis e difíceis, dúvidas e interrogações, avanços e retrocessos, entusiasmo e disposição, mas também cansaço e fadiga. No entanto, o mais importante é que nunca deixemos de caminhar, pois o caminho se faz caminhando. Boa caminhada de Advento e preparação!

Frei Diego Atalino de Melo

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

4. REZANDO COM OZANAM


Uma oração Marial Vicentina.           
           Rezando com OZANAM                   

No Magnificat, Maria reúne e
sintetiza as aspirações dos po
bres!



Caro leitor, neste mês de maio gostaria de convidá-lo para um momento de oração comunitária, onde você, eu e Ozanam contemplaremos o Magnifícat de Maria, e juntos com ela rezarmos as maravilhas que Deus opera em favor dos pequenos, dos pobres e humildes.
No Magnificat, Maria reúne e sintetiza as aspirações dos pobres, já cantadas de forma excelente pelo salmista e projetadas para o futuro pelos profetas.
Como "pobre-ideal", para a qual foi antecipado o conhecimento do reino, ela marca a sua vida com o sinal da fé-abandono a Deus e da fé compromisso.
O Magnificat, canto da misericórdia de Deus que inverte as situações injustas, é também o hino da igreja que, profeticamente, volta a anunciar a libertação messiânica e a reconciliação com Deus e dos homens entre si. Maria, a mulher mais próxima de Cristo, como serva de Deus e pobre de Javé, é mulher de fé, modelo do cristão que quer servir Cristo.
Quando Ela fala: “A minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito se alegra em Deus, meu salvador porque ele olhou para a humildade de sua serva!" podemos pensar na oração de Ozanam. Essa frase com certeza o ajudou e nos ajuda a rezar, dizendo: "Deus se compraz, sobretudo, em abençoar o que é pequeno e imperceptível, a árvore na semente, o homem em seu berço e as boas obras na timidez de seus inícios". Poderíamos ainda acrescentar: e a Mãe de Deus na pobre de Javé.
Podemos ainda neste canto de Maria continuar rezando quando ela diz: “Todas as gerações, de agora em diante, me chamarão feliz, porque o Todo-poderoso fez para mim coisas grandiosas”.
Falando das virtudes de Maria, poderíamos ver Ozanam contemplando a grandeza do nome de Deus na manifestação de ação de graças do povo que reconhece que Deus realmente agiu na vida dessa mulher. Nossa oração continua quando nos fazemos missionários anunciando como a graça de Deus vem sobre aqueles que creem.
Maria, a mulher de fé, tem em seu coração que a santidade é privilégio de Deus e da criança que está em seu ventre (seu Filho Jesus Cristo), "o único Santo, o único Senhor". Ela expressa com toda convicção: "O seu nome é Santo, e sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem." Diante dessa afirmação de Maria, poderíamos rezar juntos com Ozanam "entrego minha alma a Cristo, meu Salvador. Aterrado pelos meus pecados, mas confiante na misericórdia infinita..." A fé de Maria é modelo daqueles que se abandonam nos braços do Pai. Ainda podemos implorar com ele: "Revigorai este edifício frágil e arruinado dos nossos corpos. Elevai até o céu o edifício espiritual de nossas almas" (Carta, 18-11-1852)
Maria conhecia as escrituras e neste canto faz uma leitura orante da ação de Deus: "Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os que têm planos orgulhosos no coração. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Encheu de bens os famintos. e mandou embora os ricos de mãos vazias”.
Da mesma forma que Maria rezou a sua realidade, assim fez Ozanam; e ele afirmou: "Não é suficiente aliviar o indigente dia-a-dia. É necessário por as mãos nas raízes do mal por meio de prudentes reformas, diminuir as causas reais da miséria pública". E nós podemos continuar essa oração pedindo: Senhor aumentai a nossa fé para sermos profetas dos nossos dias, denunciar a injustiça e anunciar o tempo da graça...
Maria tem certeza da ação de Deus quando afirma que Ele "acolheu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, conforme prometera a nossos pais. em favor de Abraão e de sua descendência para sempre." É essa certeza que também alimenta nossa fé, nossa esperança, somos filhos de um Deus que é todo misericórdia e que olha pelos pobres e humildes.
Ozanam, no seu orar-agir, ao idealizar as conferências de caridade, reza pedindo a humildade e a pureza do coração para seguir a Virgem Maria que se fez uma mulher a serviço de Deus, logo, a serviço dos pobres. O serviço aos pobres de Ozanam dá à Igreja um embrião da Doutrina Social da Igreja que tem como missão fazer a justiça de Deus por meio dos homens e mulheres da Terra. Elevando os humildes e desmontando os planos orgulhosos presentes nos duros corações humanos.
Nesta manifestação de fé de Maria em um Deus que é todo  misericórdia, Ozanam se alimentou em todos os momentos de sua vida. Na certeza de que Deus, por intercessão de Maria, seria pelos seus, pelas conferências e pela Igreja num todo.
Ozanam acreditava no poder de intercessão da Mãe de Deus. Frequentemente rezava por si e pelos outros. Acreditava na intercessora Virgem Maria diante do seu Divino Filho. A sua devoção para com ela estava integrada nas diversas etapas de sua vida e se manifestou de modo especial na devoção poética de sua juventude, nas exigências morais de sua maturidade, na transformação de sua paternidade e na aceitação do sofrimento e de sua morte iminente.
Que Maria, a companheira de todos os dias, a aurora de um novo tempo, seja sempre para nós exemplo de uma pessoa de oração e a serviço de um Deus que faz opção pelos pobres. Amém.


                               Pe. Edson Fridrichsen. CM

sábado, 25 de fevereiro de 2017

2. NOSSA SENHORA DE LORETO




NOSSA SENHORA DO LORETO



A cidade de Nazaré, onde nasceu a Virgem Maria e onde Jesus passou sua infância, hoje é a capital e maior cidade do distrito Norte de Israel.

A casa onde viveu a Sagrada Família era pequena e feita de pedras, do jeito que os nazarenos construíam. É o local onde a Virgem recebeu do Arcanjo São Gabriel a anunciação do Verbo Encarnado, onde Jesus nasceu concebido do Espírito Santo, e onde José ensinou a Jesus o ofício da carpintaria. Ali Eles viviam felizes e Jesus “crescia em estatura, em graça e em sabedoria diante do Senhor”. Nesta Casa Santa temos um centro de piedade precioso, instituído em benefício   do gênero humano.

Este modesto lar foi a capela na qual os apóstolos e discípulos de Jesus meditaram sobre os divinos mistérios, após a Assunção de Maria ao céu, e por isso, quando ocupada pelos turcos, a Terra Santa ficou privada da casa de Nazaré, que desapareceu misteriosamente.

Para se entender bem os fatos acontecidos, relata-se que, devido a invasão dos mulçumanos turcos na Terra Santa que, por onde passavam saqueavam e destruíam principalmente as igrejas católicas e os lugares santos, o Senhor ordenou a seus anjos que transportassem pelos ares a casa de Nazaré, para a cidade de Tersatz, na Dalmácia, em 10 de maio de 1291.

Três anos e sete meses mais tarde, no dia 10 de dezembro de 1294, ainda de forma misteriosa (ou milagrosa) anjos levaram-na para uma colina, coberta de louros e por isso chamada Loreto, em Marco de Ancona, na Itália. O fato extraordinário é um fenômeno que permanece sem explicação cientifica e que demonstra o valor que o próprio Senhor dá a esta casa.

Outro fato registrado foi o testemunho de pastores viram no ar um grande clarão, acompanharam e admirados, assistiram a casa capela descer. Na ocasião, o sacerdote local que estava muito doente, ficou curado instantaneamente e passou a proclamar a visita da Virgem Maria ao local. Ele relata que teve uma visão de Nossa Senhora na qual ela afirmou: “Aquela é a casa onde Jesus foi concebido pelo Espírito Santo e onde a Sagrada Família morou em Nazaré”.

O povo começou a fazer peregrinações até à casa e graças começaram a acontecer. O governador local ficou impressionado com o fato, mas quis confirmar a versão do padre. Por isso, enviou quatro especialistas à Terra Santa para tirarem a prova de que aquela era a casa verdadeira. Os especialistas encontraram em Nazaré somente os alicerces da casa e os nazarenos espantados com o desaparecimento da mesma. E, para espanto de todos, os alicerces tinham as medidas e o tamanho idênticos aos da casa que aparecera em Tersatz. Estes alicerces estão até hoje em Nazaré, na Basílica da Anunciação, onde recebem a visita de peregrinos de todo o mundo. E a casa que estava em Tersatz não apresentava sinais de ter sido demolida e reconstruída. Ao contrário, ela estava intacta como era conhecida em Nazaré. Então, concluíram que Deus, em sua infinita bondade, ordenou que seus anjos transportassem pelo ar a casa em que Nossa Senhora havia recebido a visita do anjo para anunciar a Salvação do mundo. Esse foi o primeiro milagre. A casa logo se tornou centro de peregrinações
.

 O Papa Bonifácio XIII determinou as investigações necessárias para provar a autenticidade da Casa, e com resultado positivo e favorecido por milagres numerosos, foi aquele tesouro de graças transformado no santuário que é hoje magnifica basílica.

Buscando a verdade dos fatos, autoridades governamentais, eclesiásticas e técnicas da época, nada constataram de fictício ao analisarem as fundações que permaneceram em Nazaré ou a própria casa em Tersatz, apoiada apenas em suas paredes, desafiando explicações técnicas e científicas.

A pedido da Igreja, vários estudos mais recentes foram feitos, envolvendo especialistas como engenheiros, arquitetos, físicos, historiadores e estudiosos. A comprovação do milagre causa espanto e admiração, tanto aos mais sábios quanto aos mais modestos, pois, quanto mais se estuda, mais se comprova que um grande milagre aconteceu envolvendo esta casa. Estas foram as principais conclusões:

1.   A casa fica diretamente no chão, sem nenhuma base que a sustente, podendo passar uma barra de ferro em baixo dela.

2.   As pedras de que é feita não existem na Itália, somente na Palestina, na região de Nazaré.

3.   Sua porta é de cedro, madeira que não existe na Itália, sendo muito encontrada na Palestina.

4.   O cimento que liga as pedras das paredes é de sulfato de cálcio e pó de carvão, muito usado na Palestina, usado no tempo de Jesus e desconhecido naquela época na Itália.

5.    As medidas da casa são idênticas às da base que ficou em Nazaré.

6.    A casa é pequena, mostrando a simplicidade da Sagrada Família, porem organizada, e com arquitetura simples, como do povo da época de Jesus.

Para propagar a devoção a Casa de Nazaré, fundou-se “a Cruzada Universal da Santa Casa” que recebeu de Leão XIII por breve de julho de 1883, e de Pio X por breve de 21 de julho de 1906, inúmeras indulgências. 

Esta Congregação conta agora, alistados regularmente, mais de seis milhões de pessoas de todas as línguas e condições sociais, e que pode lucrar uma indulgência de cinquenta dias, apenas dizendo Nossa Senhora de Loreto, rogai por nós, e beijando a sua medalha.

Visitando esta Casa bem conservada dentro da bela basílica e que tanto nos fala ao coração, considerando aquelas paredes, entre as quais tantos anos viveu Nosso Senhor, temos todas as tardes a graça de no altar da “Anunciata” receber a benção do Santíssimo Sacramento, com a recitação do Rosário e da ladainha.

Por ocasião destes acontecimentos,
 os fiéis se lembraram de uma profecia de São Francisco de Assis: "Loreto será um dos locais mais sagrados do mundo. Lá será construída uma Basílica em honra a Nossa Senhora de Loreto". De fato, hoje há uma Basílica que foi construída em volta da casa. Esta Basílica é um dos maiores santuários da Europa.

Em Loreto, quando se reza a oração do Ângelus (O anjo do Senhor anunciou a Maria, e ela concebeu do Espírito Santo), se diz: "O anjo do Senhor, Aqui anunciou a Maria, e ela Aqui concebeu do Espírito Santo."  Existe também a Ladainha Lauretana, ou a Ladainha de Loreto.

A festa de Nossa Senhora de Loreto celebra-se no dia 10 de dezembro.

Por iniciativa do Papa Paulo VI, a Igreja atribuiu a Nossa Senhora de Loreto a proteção aos aviadores que, na direção de seus aviões transportam pelos ares pessoas, mercadorias e o progresso. Desde então, a imagem de Nossa Senhora de Loreto se encontra em vários aeroportos do mundo. Eis a oração a Nossa Senhora de Loreto, padroeira dos aviadores:


 ORAÇÃO DOS PILOTOS E AVIADORES


"Ó Maria, Rainha do Céu, gloriosa padroeira da aviação, ergue-se até vós nossa súplica. Somos pilotos e aviadores do mundo inteiro, e, arrojado aos caminhos do espaço, unindo em laços de solidariedade as nações e os continentes, queremos ser instrumentos vigilantes e responsáveis da paz e do progresso para nossas Pátrias. Em vós depositamos nossa confiança. Sabemos a quantos perigos se expõe a nossa vida. Por isso, velai por nós, Mãe piedosa durante os nossos voos. Protegei-nos do árduo dever cotidiano, inspirai-nos os vigorosos pensamentos da virtude e fazei com que nos mantenhamos fiéis aos nossos compromissos de homens e de cristãos. Reacendei em nossos corações o anelo dos bens celestiais, vós que sois a Porta do Céu, e guiai-nos agora e sempre nas asas da fé, da esperança e do amor. Amém."



Casa de Nossa Senhora em Loreto



Oração a Nossa Senhora de Loreto

Ó virgem imaculada, é com viva fé que meditamos nos grandes mistérios que se realizam nesta tua casa de Nazaré, tão pobrezinha, transportada pelos anjos para as colinas de Loreto. Entre estas sagradas paredes, onde Tu foste concebida sem pecado, e adolescente vivestes da oração e do amor, o anjo te saudou chamando-te Cheia de Graça. Tu, respondestes com as milagrosas palavras que abriram o Céu e fizeram descer o Salvador do mundo. Junto a São José, na contemplação da palavra encarnada, na humildade e no trabalho, aqui serviste o Senhor, preparando o teu espírito para o grande sacrifício; com teu filho, terias oferecido no Calvário, a ti mesma, para se transformar em Mãe de todos os homens, remidos pelo sangue de Jesus. Depois de termos vivido em nossas casas na graça de Deus, como Tu o fizeste na sua, longe do pecado, obedientes à lei e a vontade divina, concede-nos ó Maria, que possamos um dia, morar na casa do Senhor, contigo, por toda a eternidade. Nossa Senhora de Loreto, rogai por nós. Amém. 



sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

4. COLO DE MÃE... ABRAÇO DE DEUS!




COLO DE MÃE... ABRAÇO DE DEUS!

Na sua onipotência, Deus se fez frágil... na sua onisciência, Deus se fez ingênuo... na sua auto suficiência, Deus se fez carente ... E pôde, assim, sentir-se gente, sentir-se, verdadeiramente humano...

Foi então que Deus descobriu, no âmago da sua porção humana, a inestimável necessidade do amor de Mãe! E, assim, Ele estabeleceu a mais sublime parceria com a sua criatura:



Mãe, a co-criadora.
Mãe, o canal que conduz o amor divino!


É por isso que em qualquer lugar, em qualquer época, em qualquer idade, independente de qualquer condição, cada ser humano pode sentir no colo afável da Mãe o abraço amoroso de Deus!

É no colo da Mãe que se descobre o incomparável dom de ser amado, de se sentir aceito como se é...



É no colo da Mãe que se aprende a conhecer o mundo, a beleza, a bondade, a justiça, o respeito o perdão...

É no colo da Mãe que se entende o que é generosidade, doação, paciência, dedicação, desprendimento, compreensão...




É no colo da Mãe que se forma o caráter, lapida a personalidade, desperta a consciência, ilumina o discernimento, modela o coração...

É no colo da Mãe que se sente segurança, recupera a coragem, fortalece a autoestima, descobre o próprio potencial...





É no colo da Mãe que se acalmam as angústias, esclarecem as dúvidas, amenizam as dores, afastam os medos, enfrentam os desafios...















É o colo da Mãe que ampara dos perigos, consola nas tristezas, acolhe nos momentos de desespero...













O colo de Mãe nunca abandona, condena, desiste, nunca se nega a envolver com amor.




Foi no colo da Mãe que Deus quis aprender a ser Homem, quis se preparar para amar e salvar a humanidade.

                                                          
 Ana Maria Pisani

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

1. Vencer com os Pobres, Protagonistas da História









Vencer com os Pobres, protagonistas da História




A destruição dos Pobres


Vivemos em tempos difíceis. A pessoa humana está sendo destruída. Nesse processo, os mais prejudicados são os Pobres. São eles os mais vulneráveis; estão, visivelmente, sendo destruídos. A pobreza enquanto "miséria", isto é, a carência de bens de sustentação que humilha a pessoa humana, comprometendo-lhe a sua dignidade e impedindo o exercício da liberdade, constitui um dos problemas mais dramáticos do mundo contemporâneo. Os Pobres sofrem as mais temíveis ameaças e, entre elas, o direito à própria vida. A vida é ameaçada. Vivemos numa cultura de morte. Esse fenômeno sempre existiu, mas na atualidade ele tornou-se agudo e comprometedor. Primeiro, porque os valores do senso comum não mais existem ou, quando estão presentes, estão orientados ao consumo e ao prazer e não à vida plena. Depois, pelo simples fato de que vivemos num sistema provocador de exclusão jamais visto anteriormente. O neoliberalismo é uma "fábrica" de excluídos e marginalizados.


As conseqüências imediatas são, como se pode ver, a multiplicidade de formas com que a vida é banalizada: violência, fome, desemprego, doença, analfabetismo, corrupção, miséria...

A pobreza e a exclusão social não são uma fatalidade, mas antes, é o resultado de um mundo injusto e desigual. É preciso ir as raízes dos problemas sociais. É necessário detectar as causas geradoras de tamanha pobreza e miséria. Muitos reconhecem que é necessário fazer um trabalho numa base interpessoal e direta, junto do Pobre e do excluído. Outros  verificam que enxugar o chão, se bem que necessário, não basta para estancar uma torneira aberta. Em  outras palavras,  essas  pessoas  entendem  a  pobreza como um problema  que reclama  apoio  pessoal  para  socorrer  as  carências pessoais e imediatas, mas, cujas causas só podem ser removidas  modificando os  fatores  econômicos, sociais culturais que geram os mecanismos de perpetuação da pobreza.


Esse pensamento não é nada recente e inovador. Frederico Ozanam tinha presente a necessidade de tomar ações sistêmicas de  combate à pobreza e à miséria. Buscar as causas geradoras das desigualdades sociais. Dizia: "E muito pouco aliviar o Pobre no dia-a-dia; é necessário pôr as mãos nas raízes do mal e, com eficientes reformas, diminuir as causas reais da miséria pública". Ou ainda: ''A caridade não basta. Ela trata as feridas, mas não os golpes que as ocasionam. A caridade é o samaritano que derrama azeite sobre as feridas do caminhante que foi atacado. O papel da justiça é prevenir os ataques" (Frederico Ozanam, Carta de 30 de abril de 1848).

Mudanças de estruturas


Muitas vezes as ações direcionam-se sobre as conseqüências. As causas ficam esqueci- das. Nesse sentido, muitos se conformam com o dizer de Jesus Cristo: "Pobres sempre os tereis". Pode-se dizer que Jesus dizia isso não como justificativa da pobreza no mundo mas que falava da falta de compromisso a respeito dos valores humanos e dos valores do Evangelho. "Pobres sempre os tereis" porque as vossas preocupações estão fora de foco. Não se ocupam com o essencial. "Pobres sempre os tereis" porque  sempre haverá falta de solidariedade e de amor para com  o próximo  por causa  do  individualismo e da busca dos interesses meramente pessoais. Ir às raízes da injustiça e procurar erradicar a cultura de morte existente nos grupos sociais é a melhor opção que se pode fazer para diminuir o sofrimento de tantas pessoas que vivem acuadas nos labirintos do submundo. Isso é mudança de estrutura.

No seguimento de Vicente de Paulo, o cristão vicentino deve ir ao encontro das necessidades pessoais dos Pobres, nossos irmãos  em  Jesus Cristo, e,  ao mesmo tempo, à luz dos princípios evangélicos, deve tentar reformar as estruturas sociais injustas,  para não perpetuar ou esconder as causas da pobreza. Isto significa que devemos ter "um coração caridoso junto com uma consciência social". As injustiças tomam aspecto estrutural. Parece normal aos olhos do sistema a abundância de alguns e a miséria da grande maioria. A abundância aumenta a desigualdade. Isso é estrutural e é preciso que essas estruturas sejam mudadas. Dar migalhas aos Pobres ou fazer com que vivam na marginalidade parece normal. Esta concepção carece também de mudanças. O combate às mais variadas formas de miséria e pobreza não deve ser feito apenas com sobras ou gestos de generosidade esporádica.

As  causas  da  pobreza  e  da  exclusão  social só podem  ser  eliminadas modificando  os fatores econômicos, sociais e culturais  que geram e perpetuam as condições  favoráveis a elas. Alguns aspectos são de relevante valor para a eliminação  da pobreza: levar em conta a absoluta prioridade da dignidade da pessoa humana e a consciência  de que os bens que a humanidade possui são de todos e devem ser postos ao serviço de todos; os Pobres não podem ser só um problema ou um dado estatístico; a descoberta da  pessoa humana como sendo "o próximo", e que motivará uma atitude inadiável da partilha; a vida concebida  como um   profundo  caminho  espiritual,  cujo   sentido  reside na   busca  do bem  e do amor; a consciência  de  que  a luta  contra a pobreza é  uma luta  contra  todos  os  egoísmos; e a coragem de cada um reconhecer a sua parte de responsabilidade nesta situação do mundo de miséria em que se vive.



Os Pobres são os protagonistas da História


Vencer com os Pobres é respeitá-los como  protagonistas da história. Os Pobres não devem ser tratados como "objeto" no contexto das mudanças sociais. No combate à pobreza e à miséria, os Pobres são sujeitos e atores sociais, promotores de uma cidadania ativa e crítica, capazes de promover processos de empoderamento dos excluídos da cidadania.

Não se deve e nem se pode subestimar ou menosprezar os Pobres e famintos. Vencer com 
os Pobres significa considerá-los como protagonistas de sua  própria libertação. É tratá-los como  seres  humanos  com  inteligência,  capacidade criativa,  com  desejo  de  ser  feliz e capacidade de  governar seu  próprio destino.  

Vencer  com  os  Pobres  é  tomar  parte dos conflitos estruturalmente produzidos pelo anti-projeto do Reino, o capitalismo neo-liberal. Esses conflitos têm o rosto humano concreto das vítimas (Puebla 31-41). Não basta condenar abusos do capitalismo neo-liberal ou querer humanizá-Io. Ele representa o anti-projeto. O anti-projeto é o reino do pão não partilhado, do poder que não se configura como serviço, do privilégio que favorece a acumulação e do prestígio que organiza eventos de ostentação em vez de articular processos de transformação.


Vencer com os Pobres é dar a Eles a oportunidade de serem protagonistas da história da sociedade; é ler a história a partir da ótica dos "vencidos" e não a partir da história dos "vencedores". A Sociedade de São Vicente de Paulo deve tomar uma atitude de uma espiritualidade simplista, mas irradiar uma atitude que manifeste um modo de ser e de agir, uma maneira diferente de ver o mundo, um programa de ação que diz respeito ao homem total - alma e corpo - e o abre às exigências fundamentais do contexto socioeconômico em que vivem os Pobres, encaminhando-os a Deus.


Atitude vicentina


Frente aos grande desafios impostos no processo de destruição dos Pobres, a espiritualidade vicentina deve tomar seu verdadeiro lugar, com urgência. É preciso colocar-se ao lado dos Pobres para vencer com eles. Os Pobres vencem quando sua dignidade é alcançada, quando suas necessidades são atendidas. Vencer com os Pobres significa caminhar com eles rumo aos objetivos comuns a todos, dentro de uma cidadania plena. 

Em primeiro lugar, isto se faz pelo trabalho pessoal na visita feita ao Pobre. É no Pobre que visivelmente Deus se faz presente. Para vencer com os Pobres é preciso considerar que a visita é o meio eficaz para o diálogo e a co-participação no caminhar rumo à plena realização da cidadania e das promessas do Reino de Deus. E a visita que torna visível o testemunho que se dá de Deus e da solidariedade para com os Pobres. É na visita que se pode alimentar a esperança, para que os Pobres conscientizados acerca de sua dignidade, como sujeitos humanos e cidadãos cônscios de seus direitos e deveres, sejam organizados numa grande rede em defesa da justiça frente aos detentores do poder opressor e excludente. Reconhecer o outro pobre em sua dignidade e alteridade significa inclusão e participação. É na visita que, aos poucos, por meio da participação dialógica, o Pobre assistido pelas Conferências passa a ser protagonista de sua história deixando de ser vítima passiva dos meros interesses paternalistas e individuais.

Em segundo lugar,  a   espiritualidade   vicentina,  por  ser  uma  espiritualidade  de  ação, procura despertar  um olhar  de misericórdia  para aqueles  que não  possuem  as  mínimas condições de se levantarem por si mesmos. Como  o Bom Samaritano que "derrama azeite nas feridas do viajante que foi atacado"  procura  ter compaixão  do Pobre sofredor,  vendo nele, a  imagem do próprio Deus. Ser misericordioso é expressão da partilha dos bens e no dom de si; quem vive em comunidade socorre  quem  passa  necessidade  e  coloca-se  ele mesmo  a  serviço.  É contribuir   para  que  as  estruturas  injustas  e  ameaçadoras  sejam mudadas e que estruturas de amor e de misericórdia possam ser o distintivo do testemunho de vida da fé cristã.  Dizer, enfim,  como  Frederico Ozanam:   "Não tenha medo de novos princípios. Seja criativo. Seja inventivo. Organize novas obras de Caridade no serviço ao Pobre. Você  que  tem  energia,  que  tem  entusiasmo, que quer  fazer algo valioso para o futuro, seja inventivo, atire-se, não espere".

                                                                                    Pe. Mizaél Donizetti Pugioli, CM

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

2. O Espírito de Ozanam







O Espírito de Ozanam 

                                                                                               


OSCAR AMARANTE




                                 "Eu não tenho desejo mais ardente do que 
                                 este, de ver propagados, até os confins do
       mundo,  o  espírito  e  a  vida de Ozanam". 


                                     (SS. Papa PIO X) 


   Estimulado por este "desejo mais ardente" de São Pio X, de gloriosa memória, integrado que fui, por demasiada generosidade, nesta tertúlia vicentina que visa precipuamente, difundir o conhecimento da personalidade do Fundador da Soci-edade de São Vicente de Paulo, melhor apreciando sua vida edificante mediante 
o curso de palestras semanais,  em feliz hora instaurado pela benemérita Assis- 
tência Vicentina - julguei oportuno adotar para tema de estudo, nesta noite, "O Espírito de Ozanam", embora em nossa terra,  vítima  de tanta  ignorância pela exploração espiritista, possa esse título gerar eventual interpretação menos correta de sua alta finalidade instrutiva. 

   Já estamos tão habituados, fiéis à tradição que nos conforta,  a  recorrer com 
freqüência ao "Espírito da Sociedade" (seria mais  perigoso dizer-se "invocar"), 
para dirimir tantas  dúvidas  e para evitar controvérsias em nossas reuniões. Manuseando as páginas  de nosso  secular  Manual,  instruídas  pelos comentários, delas haurimos sábios ensinamentos. No capítulo da "introdução" desse admirável código vicentino, lê-se algures: "em cada página deste livrinho se manifesta o espírito das Conferências de São Vicente de Paulo"

   Assim, meus caros  Confrades,  estudando simultaneamente  a vida do Fundador, codificando as suas obras escritas, analisando o sentido profundo de suas palavras dignas de meditação, estaremos formando conceito seguro do "Espírito de Ozanam". Foi, por certo, sob esse critério superior e bem rígido - depois de absolutamente convicto de sua integral ortodoxia católica em todos os seus mínimos atos e atitudes, principalmente nos textos originais de suas variadas obras completas e de esparsas publicações em "L'Êre Nouvelle" - que a Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana, Mestra e Doutora da Verdade, houve por bem declarar OZANAM - SERVO DE DEUS", após o primeiro centenário de sua morte. O Santo Padre Pio XII promulgou o primeiro passo e nos conferiu a grande esperança de breve beatificação de Ozanam que culminará, se Deus quiser, em solene canonização, elevando-o às honras dos altares e incluindo-o no rol dos santos de nossa mais cara devoção. 

Neste modesto trabalho, encontrei maior soma de subsídios e de inspiração no precioso livrinho intitulado "L'Esprit d'Ozanarn", de autoria de S. Excía. Revma. Mons. Villepelet, Bispo de Nantes, França, dos mais ardorosos propagandistas das virtudes de Ozanam, e cujo exemplar me foi ofertado, no Natal de 1949, pelo caro Cf. Paulo Sawaya - "para que o Espírito de Ozanam o ilumine na trajetória da Caridade vicentina", nos termos de sua fraternal dedicatória. 

"Quem é este homem do qual falam com tanto amor e quem são vocês que contam tantas causas tão atraentes de sua vida?" ¹ 

   Esta foi a curiosa pergunta - ainda nos dias em que vivemos a aflorar nos lábios de muitos - que Ambrosio Romero Carranza formulou, numa manhã de 1930, a um grupo de jovens argentinos reunidos na Igreja de Santo Agostinho, na cidade de San Juan. E dessa indagação, desse providencial contato com um grupo de jovens vicentinos, aquele grande católico, - que tivera ancestrais de marcante atuação na história da sociedade, na Argentina, e que antes nem de leve se preocupava com essa obra e muito menos com a figura de Ozanam - levou ele 20 anos de estudos profundos para dar à lume (que exemplo magnífico!) aquele precioso volume "Ozanam y sus contemporâneos".

   Nessa obra de fôlego - dos mais belos estudos sobre a personalidade de Ozanam, reflete-se todo o seu grande espírito de apostolado heróico. Do prefácio do citado opúsculo de Mons. Villepelet extraímos passagens que merecem ser reproduzidas e que nos traçam a fisionomia espiritual daquele que ocupa nossa atenção neste curso de formação vicentina. "Parece-me - argumenta esse autor - que um confrade de São Vicente de Paulo deseja, sobretudo, conhecer a vida interior de Ozanam, a fim de nela se inspirar em sua própria conduta e de nela prolongar a influência. Assim como, sob o título de Espírito de São Francisco de Sales e do Santo Cura D'Ars, tornaram-se acessíveis ao público as palavras e os escritos desses servos de Deus, assim todo discípulo de Ozanam pode legitimamente desejar curto repertório onde, tanto pela sua piedade como pelo seu apostolado, encontrará facilmente com que alimentar e enriquecer sua espiritualidade". ² 

   Nos  dois  volumes  das  Cartas  de  Ozanam,  "nessas confidências íntimas  e espontâneas revela-se melhor a riqueza da espiritualidade de Ozanam!"³ Razão eloquente para que incentivemos a divulgação da edição brasileira, com tanto carinho e amor traduzida pelo caro Confrade João Pedreira Duprat, em todos os meios vicentinos e principalmente nos centros universitários.

  O encanto dos pensamentos e ensinamentos de Ozanam "reside mais na irradiação de uma alma inteiramente voltada para Deus e para o invisível, ao mesmo tempo apaixonadamente preocupada das indigências espirituais e materiais do século que o envolve. É  nisto, principalmente,  que Ozanam nunca envelheceu e que mereceria ser também classificado entre os "mestres da atualidade"(4). Quanta similitude do século ou da época agitada em que Ozanam viveu, sofreu e lutou com heroísmo cristão, até o sacrifício da própria saúde, com o século atual, (ainda na semana última apreciada com autoridade por Mons. Latayete), quando sabemos de tantos sociólogos ou de membros do laicato católico vítimas da incompreensão que também reina em muitos setores da própria Ação Católica! 

   Ainda no saudoso retiro espiritual de Setembro de 1955 na Vila Dom José, em Barueri, o virtuoso Bispo de Botucatu, Dom Henrique Golland da Trindade, nos declarava, na reunião provincial, que reconhece na ação vicentina uma das formas mais legítimas da ação católica. De igual parecer e irrestrito entusiasmo pela obra de Ozanam o dinâmico Bispo de Uberaba, Dom Alexandre Amara!. 

   "O que impressiona,  com  efeito  (diz Mons. Villepelet),  e acima de tudo nos escritos de Ozanam, é a sua atualidade no domínio do apostolado" (5) - como evidenciou Mons. Lafayete no tema que desenvolveu. Vale dizer-se, pois, que Ozanam se revela um apóstolo leigo na "ordem do dia". 

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   Como características notáveis ou temas que melhor informam o "Espírito de 
Ozanam'', traduzido nos seus escritos e ações, louvo-me ainda no depoimento 
respeitável de Mons. Villepelet (6). São assim enumerados, tendo como cúpula e tema central de toda a sua estrutura espiritual apaixonado amor à Verdade:

    1. A submissão à vontade de Deus e a confiança na Providência                   Divina; 
   2. O exato cumprimento dos deveres de estado; 
   3. A prática das virtudes teologais e morais, a busca do desapego e            da humildade; 
   4. O amor aos pobres, e, para exaltação dessa modelar espiritualidade         cristã, apraz-me acrescer; 
   5. A devoção de Ozanam à Santíssima Virgem. 

   Na vida cristã e no exercício do zelo apostólico, essas normas constituem, por 
certo, base comum ou freqüente para tantas almas de eleição, e que não se altera segundo as condições do tempo ou do espaço. Mas Ozanam soube manter todos esses atributos cardeais com absoluto equilíbrio e no mais elevado grau, em tão curta passagem sobre a terra, como atestam a sua vida e as suas obras. 

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1) Submissão a Vontade de Deus e Confiança 
na Providência Divina 

   Como testemunho máximo de sua submissão à vontade divina e filial confian- 
ça na Providência,  bastaria  considerar suas  caminhadas,  às  vezes dolorosas, nos derradeiros dias de sua preciosa existência terrena, minado que era por insidiosa enfermidade que lhe minguava as energias. Ou, então, a leitura do seu testamento tão comovente. 

"O homem tem necessidade de Deus (escreveu ele no 10 tomo da "civilização cristã no V século") e, no entanto, ele tem medo de Deus". 

"Quando eu considero a época presente e que nela vejo tantos talentos incontestáveis, tão fecundas inspirações, pensamentos generosos, eu concluo que Deus nada mais lhe deve, e que não lhe falta para ser grande, por sua vez, senão o trabalho, isto é, a própria vontade". (Do tomo VIII das "Miscelâneas": trecho sobre "o poder do trabalho"). 

   Sua confiança na Providência Divina que governa nossos passos é bem ex-pressa numa carta a Soulacroix, de 27 de janeiro de 1842: 

"Sim, nós o sabemos, no meio das incertezas da sorte, da saúde, da vida, podemos confiar sempre na Providência que não nos abandona-rá, e em nossa família que aqui representa a Providência para nós". 


   Reunindo esses dois sentimentos que norteavam sua vida espiritual, assim 
escrevia em 1844 a Foisset:

"É preciso seguir o movimento inevitável dos homens e das coisas, confiando-se em Deus que o dirige; e estar pronto para todos os sacrifícios, pensando que, se eles, não  servem  para  assegurar o su-cesso da luta presente, terão seu valor cedo ou tarde, neste mundo ou no outro; e que, quando pensamos ter perdido nossos esforços, nosso tempo e nossas penas, muitas vezes a Providência deles extrai um bem muito maior, no qual nós nem havíamos cogitado." (7)

   Ao seu amigo Lallier escrevia a 5 de novembro de 1836: "Vamos simplesmente aonde a misericordiosa Providência nos conduz, contentes de ver a pedra na qual devemos pousar o pé, sem querer descobrir todo o roteiro e todas as sinuosidades do caminho." (8) 

   Contando menos de 21 anos, escrevia a Falconnet a 11 de abril de 1834:

   "... nós não estamos na terra senão para cumprir a vontade da Provi- dência; que esta   vontade  se   cumpra  dia a dia,  e  aquele  que morre   deixando sua tarefa inacabada  está tão próximo do  olhar  da Suprema Justiça como  aquele  que  tem  tempo  de a acabar completamente".

"Os maiores homens são aqueles que nunca avançaram o plano do seu destino, mas que se deixaram conduzir pela mão." (9)

2) O Exato Cumprimento dos Deveres de Estado


   Sob  esse tema  mais vasto, poderíamos  encarar  a personalidade de Ozanam
como filho e irmão exemplar,  esposo e pai  dedicado,  professor emérito, amigo
fiel e, finalmente, como católico  integral e vicentino  modelo. E  nem  se poderá
compreender de outra forma a santidade de  uma alma de eleição cujas virtudes
são apregoadas e apontadas para nossa  edificação a  não ser  no  cumprimento
exato dos deveres cristãos, dos deveres sociais e dos deveres domésticos.

   Alguns desses aspectos de sua vida já terão  sido ventilados durante o curso, ou em aulas subsequentes serão melhor focalizados.

  No presente estudo  que nos infunde o "Espírito de Ozanam" que nos envolve as mentes e acalenta os corações, não será possível abranger  todos as características com as minúcias  hauridas  dos seus  escritos. Consideremo-lo de passagem em suas "santas afeições": no lar e em suas amizades.

   Já em seu tempo escreveu  bastante a  respeito  do divórcio, combatendo ideias correntes  contra a  instituição basilar  da família  e  que constam do volume denominado "Miscelâneas". Assim se exprimia algures:

   "A família é a escola do sacrifício; é ali que o homem   aprende a se privar, a se dominar, a se devotar, a viver por outrem". 
(Tomo VII: miscelâneas do divórcio).

   A 20 de outubro de 1835, escrevia ao amigo Curnier:

   ''A grande ação que agora meditais não servirá senão para redobrar vosso zelo e vossa força. "Quando dois ou mais se reunirem em meu nome, diz o Salvador, eu estarei no meio deles." "É sob esse nome divino que ides unir-vos a uma esposa sensata e piedosa. E a promessa se cumprirá em vós: dando vosso amor a quem vos será tão justamente querida, não o retirais dos pobres e dos infelizes que amastes em primeiro lugar. O amor tem essa afinidade com a natureza divina, que se dá sem empobrecer, que se comunica sem se dividir, que multiplica, presente em todos os lugares simultaneamente, cuja intensidade au-menta à medida que se amplia". (10)

   Ao mesmo Curníer escrevia antes, em 4 de novembro de 1834:

"O laço mais forte, o princípio de uma amizade verdadeira é a caridade; e a caridade não pode existir no coração de muitos sem se difundir; é uma chama que se apaga por falta de alimentos, e o alimento da caridade são as boas obras." (11)

   Este o grande sentido de nossa união fraternal na Sociedade em que nos alis- 
tamos, meus caros confrades. Com esse espírito de Ozanam, que soube fazer irradiar através dos seus escritos ou de suas cartas aos amigos, a caridade nos irmana e é alimentada pela nossa ação vicentina preconizada pelo nosso Funda-
dor - Servo de Deus.

   A respeito do exato cumprimento do dever de estado, encontramos um trecho
sério em carta dirigida por Ozanam a  17/5/1838,  a Lallier, 1º  secretário  geral
da Sociedade fundada em 1833:


       "Há uma responsabilidade vinculada aos nossos encargos, por mais 
modestos que sejam: as faltas que se cometem  são duplamente  graves
quando elas podem recair sobre as obras que dirigimos. Os chefes das associações piedosas deveriam ser santos para atraírem sobre elas as graças de Deus." (12)


3) A Prática das Virtudes, o Desapego e a
Humildade de Ozanam


   Quanto a esse aspeto da vida espiritual de Ozanam, e que serão fatores segu-
ros para a sua beatificação - a sua rápida existência terrena, tão cedo amadure-cida para  a  vida eterna,  é uma  pregação  progressiva  desde  a sua meninice, quando  orientado  pela querida irmã Elisa, aconselhado pela sua caríssima Mãe, ao partir para Paris - cidade luz, contando com o exemplo vivo de um pai cristão e fortalecido por sábia direção espiritual.

   Na sua obra "Miscelâneas",  no tomo VII,  em "reflexões  sobre  a  doutrina de
Saint-Simon", que combateu com tanto ardor apostólico, assim se exprimia:

          ''A vida dum cristão é uma festa contínua".

   Em carta escrita a M. Hommais, a 16 de junho de 1852, dizia:

   "Quando toda a terra tiver abjurado a Cristo, há na inexprimível doçu-ra de uma comunhão, e nas lágrimas que ela faz derramar, uma   potên- cia de convicção que ainda me faria abraçar a cruz e desafiar a  incredu- lidade de toda a terra." (13)

   A seu querido irmão Charles escreveu, no ano de 1842, diversas cartas nas 
quaís extravaza os sentimentos de piedade que lhe inundavam a alma: 

  "É preciso voltar-se para o céu quando magoado sobre a terra!" 

   "À medida que a gente se sente mais isolado na terra, faz-se mister ao contrário tornar-se mais forte e mais corajoso. É preciso nas horas de tristeza, quando a vida pesa para ser levada, é preciso lembrar-se que tudo quanto se passa é curto, e que em alguns anos reencontraremos os que nos faltam. Mas, ao mesmo tempo, nos lembramos que nós não os reencontraríamos, que eles não nos receberiam, se nós nos apresentarmos com as mãos vazias, e que estes dias rápidos passados sobre a terra devem ser bem cumpridos. Não o serão senão pelo cumprimento fiel da vocação à qual se é destinado: esta vocação, é preciso conhecê-la, é preciso observá-la. Muita vez, disso tenho eu tido experiência, Deus nos deixa, a esse respeito, em uma longa incerteza; mas Ele não recusa suas luzes no momento preciso da necessidade. Há, a propósito, na Oração domini-cal, um trecho que talvez não seja bastante meditado: "Que vossa vontade seja feita sobre a terra como no céu"; isto é: não como no inferno onde se cumpre por força e constrangida, não como entre os homens onde muita vez se age com ignorância ou com murmúrio, mas como entre os anjos onde essa vontade é servida com inteligência e com amor." (14)

   Em 24/11/1835 , escrevia a de La Noue, revelando com simplicidade: "Deus 
se  serve com freqüência  de instrumentos  fracos  (como era ele) para executar grandes coisas. É preciso ser chamado para uma missão provi- dencial, e então os talentos e os defeitos desaparecem para dar lugar à inspiração que os guia". 

   Mais tarde, a 5/11/1836, assim se manifestava a Lallier, seu grande amigo e 
confrade, com tanta humildade: 

   "Sim, somos servos inúteis, mas somos servos, e o salário não é dado senão à condição do trabalho que fizermos na vinha do Senhor e no local que nos for designado. Sim, a vida é desprezível, se a considerar- mos pelo uso que dela fazemos; não o será, porém, se a apreciarmos sob o aspecto do uso que dela podemos fazer, se a considerarmos como a obra mais perfeita do Criador, como a veste sagrada com a qual o Salvador quis cobrir-se: a vida então será digna de respeito e de amor." (15)


   O desapego de Ozanam deve ser lembrado por nós, particularmente, na recu-sa a qualquer  cargo  de  direção  superior da Sociedade, tendo recorrido, desde logo, à experiência do Senhor Bailly para presidir, de início, os destinos da nova Sociedade. Preferiu ser simples confrade e trabalhar ativamente pelo incremento da obra providencial que idealizara, com um grupo de denodados companheiros de lutas, em prol da causa da Igreja e da verdade. 

4) O Amor aos Pobres 


    Nesse característico ou tema do "Espírito de Ozanam" reside a maior atração 
devida ao nosso Fundador. Embora  seja  classificado dentre os maiores profes- 
sores universitários, homem de letras e de cultura vasta, escritor abalizado, ora-dor eloquente e empolgante, sábio na verdadeira  acepção  da palavra - de nada lhe teriam valido todos esses predicados, ainda que dotado do dom de profecia no curso dos tempos, se não tivesse tido Caridade. A ele se aplica com justeza plena o elogio máximo da Caridade atribuído a São Paulo. Ozanam terá sido ou feito tudo quanto o grande apóstolo das gentes menciona em sua memorável epístola aos Coríntios, mas sempre exerceu a Caridade, companheira inseparável da Verdade - o grande ideal que animou toda a preciosa existência de 40 anos de Antônio Frederico Ozanam. 

    Sobre esse assunto, quero crer que no dia 30 o Confrade Pedreira Duprat - que versará sobre "Ozanam e as Conferências Vicentinas" - muito nos instruirá, dispensando-me de maior amplitude. Meu estudo visa, tão somente, traçar as linhas mestras do "Espírito de Ozanam" que ora nos empolga. Muitas passagens encontramos nos escritos de Ozanam, reveladoras do seu 
profundo amor aos pobres, exaltando-lhe a virtude da Caridade. 

   "Nós somos como o Samaritano do Evangelho" (Mélanges, tomo VII). 

   ''A caridade é uma mãe terna que tem os olhos fixos sobre a criança 
que ela traz ao seio, que não cuida  de  si própria  e  que  esquece  sua 
beleza pelo seu amor." (Carta a Curnier, 23/2/1835). 

   Muito conhecida aquela página de Ozanam que eu classifico de "Mensagem 
para a atualidade", lida  na  carta  dirigida a Ampére, a  17/2/1837,  na qual aprecia ele os dois campos em antagonismo: "o campo dos ricos, o campo dos pobres", para dizer com ênfase: 


    "Um único meio de  salvação resta: é que,  em  nome da caridade, os 
cristãos se  interponham  entre  os  dois  campos,  que  eles  caminhem, 
trânsfugas benfazejos,  de um  para o outro: que eles obtenham muitas 
esmolas dos ricos e dos pobres muita resignação; que levem aos po-bres presentes, e aos ricos palavras de reconhecimento". 

   E termina, após conselhos sábios, com a expressão evangélica: 

  "Unum ovile, unus pastor!" - Que haja um só rebanho e um único  pastor". 


   No volume das "Miscelâneas" - tomo VII, extratos da publicação "L'Ère nouvelle", à pág. 301, lê-se uma passagem que deve ser meditada: 


   "Os que sabem o caminho da casa do pobre, os que varreram a poeira 
de sua escada, estes nunca batem à sua porta sem um sentimento de respeito: sabem que, recebendo deles o pão como de Deus ele recebe a luz, o indigente os honra; sabem que nada pagará jamais duas lágrimas de alegria nos olhos de uma pobre mãe, nem o aperto de mão de um homem honesto que se põe em condições de retomar ao trabalho." 

   Não era, assim, em vão, à imitação de São Vicente de Paulo, que Ozanam dizia e nos recorda a todo instante em nossa ação vicentina: 

    "Pobres: vós sois os nossos senhores e nós seremos vossos servos. E,
não sabendo amar a Deus doutra maneira, havemos de amá-Lo nas vossas pessoas." 

5) A Devoção à Santíssima Virgem 

    Sob esse  tema, meus  caros Confrades, fecho de ouro dos característicos do 
"Espírito de ozanam'',  nosso  modelo  na  vida vicentina,  julgo  pouco  ter  a acrescentar ao folheto que ora vos apresento e que fizemos divulgar, em dezembro de 1953, sob o título: "A Devoção de Frederico Ozanam à Santís-sima Virgem", de autoria do mesmo prelado francês Mons. Villepelet, e cuja tradução  do original,  publicado na "Revue du Rosaíre" - Setembro de 1953, de- vemos a uma Monja Dominicana do Mosteiro Cristo Rei, em Vila Formosa,  desta Capital. 


    Essa publicação encarece todo  o  amor  filial que Ozanam  dedicou à Virgem 
Mãe de Deus. Desde os  primórdios da  Sociedade, aos 4 de  fevereiro de 1834, 
foi invocada como excelsa protetora, por proposta de seu devoto filho, escolhen-do-se o dia da Imaculada Conceição para uma das quatro festas regulamentares. 

   Mui comovente a sua peregrinação pelos Santuários dedicados a Nossa Senhora, da qual nos dá notícias seu irmão, Padre Carlos. - Batizado em abril de 1813 na Igreja  de Milão - consagrada a Santa Maria d'Servi, contou Ozanam sempre com a proteção carinhosa de Maria. Em 1833 volta a esse local onde ora longamente e renova as promessas do seu batismo. Passa pela Santa Casa de Loreto, onde é acólito da missa celebrada pelo  seu irmão que menciona a emoção de Frederico. Deve sua cura milagrosa, em certa fase de enfermidade, à proteção maternal de Maria Santíssima. Torna-se ou revela-se poeta maríano. tecendo loas à Virgem, em lindos versos divulgados pelo mano Carlos. (Trechos contidos na publicação de Mons. Villepelet). 



   Como é tocante essa devoção de Ozanam por Maria, em tantas passagens de sua vida,  notadamente na sua "via crucis" em caminho para a eternidade feliz! 
Não foi, pois, mera coincidência e sim maravilhosa ação da Providência, na qual
ele sempre tanto confiara, que o fez fechar os olhos precisamente a 8 de setem-
bro de 1853 - data da Natividade de Maria na terra e de Ozanam no reino celes-
tial. Escrevia o Padre Carlos, na biografia sobre Ozanam, editada em 1882: 

   "A Virgem Maria, para celebrar solenemente o dia do seu bem-aventu-rado nascimento, quis fazer  entrar na glória eterna um de seus mais caros filhos". 

****** 

Conclusão 

   Terminando esta despretenciosa palestra, à qual não saberia  atribuir o nome 
de aula (porque julgo que pouco poderei ter podido ensinar de novo aos preza- 
dos assistentes) - faço votos ardentes  para que o "Espírito de Ozanam" nos 
inflame em todos os atos e nos transforme em autênticos vicentinos, devotados 
à excelsa virtude da Caridade e à causa de Deus Nosso Senhor. 

   Prestando justa homenagem ao autor Mons. Villepelet que tanto me valeu na 
explanação do tema, suprindo as minhas deficiências e a carência  de obras so-
bre Ozanam, e que procurei desenvolver precisamente no dia 13 - em homena-
gem à Nossa Senhora do Rosário de Fátima, quando o Santuário de minha atual paróquia regorgitava de devotos pelas comemorações do 40° aniversário de sua última aparição na Cova da Iria - apraz-me reproduzir o trecho final do belo pre- facio do opúsculo - "L'Esprit d'Ozanam", com a seguinte exortação: 

   "Em contato com os temas (que Ozanam não cessa de iluminar, com rara feli-cidade de expressão e um entusiasmo contagiante, porque  longamente medita-dos por ele que intensamente os vivia) - possam seus confrades em São Vicente de Paulo vivê-los como ele, a fim de poder, como  ele também, dar testemunho, à ultima hora, "de nunca ter  trabalhado  para o elogio  dos homens, mas unica- mente para o serviço da verdade!" (16)


(¹) A. Romero Carranza: Ozanam y sus contemporâneos - pg. 15 
(²) Mons. Víllepeler: L'esprit d'Ozanam (avant-propos) - pg. 8 
(³) Mons. Villepelet: L'esprit d'Ozanam (avaru-propos) - pg. 9 
(4) Mons. Villepelet: L'esprit d'Ozanam (avant-propos) - pg. 9 
(5) Mons. Villepelet: L'esprit d'Ozanam (avant-propos) - pg. 11
(6) Mons. Villepelet: L'esprit d'Ozanam (avant-propos) - pg.11 
(7) A. F. Ozanam: Cartas (2° vol.): "Jour de Quasimodo" - 1844 
(8) A. F.Ozanam: Cartas (2° vol.)  pg. 143 
(9) A. F. Ozanam: Cartas (1º vol.)  pg. 69/70
(10) A. F. Ozanam: Cartas (1º vol.)  pg. 122

(11) A. F. Ozanam: Cartas (1º vol.)  pg.  122
(12) A. F. Ozanam: Cartas (1ºvol.)  pg. 192 
(13) A. F. Ozanam: Cartas (2° vol.)  - 1852 

(14) A. F. Ozanam: Cartas (2" vol.)  - 1852
(15) A. F. Ozanarn: Cartas (1º" vol.)  pg. 142/143 
(16) Mons. víllepelet: L'Esprit d'Ozanam  pg. 1 1/12 

Pensamento de São Vicente
"Se quisermos nos dedicar inteiramente ao nosso próximo não devemos reservar a nós mesmos nem tempo nem espaço".