Apresentação
O grande mestre da oratória sacra, Padre Henrique Lacordaire, ao concluir seu panegírico sobre Frederico Ozanam, proferiu as seguintes palavras:
“Meu caro senhor Ozanam! nenhum de nós deixará o vácuo que nos deixastes, nenhum de nós tirará do coração dos homens o que tirastes do nosso. Vós nos precedestes na morte porque nos haveis precedido na virtude: os pobres rogaram por vós e nos arrebataram vossa alma. Aceitai estas páginas onde eu quis delinear alguma sombra do que éreis para nós. Eu as escrevi para vós, para vós que fostes durante vinte anos, senão o mais forte, pelo menos o mais puro objeto de nossos cuidados, e cujas fraquezas, se alguma existiu em vós escondida porque éreis homem, não fizeram mais que tornar mais querida a vossa inquebrantável constância nas coisas que amastes e defendestes. Fostes o mestre de muitos, o consolador de todos. Escolhido por Deus, após muitos anos de humilhação, para invocar a glória nos campos da verdade, cumpristes até o vosso último dia essa missão de honra e de paz. O pobre vos viu à sua cabeceira, a tribuna literária de pé ante uma geração, e a imprensa, esse outro instrumento do bem e do mal, teve na vossa pessoa um honesto e religioso artífice. Não deixastes mágoa em ninguém, a não ser essa mágoa que sara com a morte porque foi a caridade que a provocou. Tendo ficado atrás de vós, não temos mais a alegria de vos ver e de vos ouvir; mas resta-nos ainda a de vos louvar e, quaisquer que sejam os destinos que nos esperam no limiar extremo de nossa carreira, a alegria maior ainda de vos imitar de longe, se Deus o permitir.”
Não foram menos eloquentes as conclusões de outros estudiosos da vida e obra de Ozanam.
O padre François Méjecase, por exemplo, assim termina o seu estudo intitulado “A alma de um santo leigo”:
“Omne quodcumque facitis in verbo aut in opere, omnia in nomine Domini Jesu Christi gratias agentes Deo”. (Tudo quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei-o em nome do Senhor Jesus Cristo, dando graças a Deus).
Tal é a linha de conduta que São Paulo fixa aos fiéis de Colosso, que ele deseja ver progredir no caminho da salvação: tudo fazer por Deus. Ozanam bem entendeu a senha do Apóstolo das Nações e esforçou-se por observá-la fielmente em todos os dias de sua vida; suas ações ultrapassam com efeito o mundo da matéria e do pensamento para inscrever-se em pleno sobrenatural.
Ele se humilha diante de Deus pelas suas deficiências e fraquezas, e em troca O agradece pelos dons naturais que lhe dispensou.
Ele ama seus pais, seus irmãos, seus amigos, sua esposa, sua filha, em Deus e por Deus.
Seu pensamento está sempre orientado para a glorificação e a defesa da Igreja Católica, visando a assegurar o reino de Deus neste mundo.
A natureza e as artes não são para ele senão o reflexo da imagem divina.
A exemplo dos santos ele cumpre a vontade de Deus pondo em prática todas as virtudes cristãs.
Sua ação política e social não tem outro objetivo que o de fazer conhecer, amar e servir a Deus pelo maior número de almas.
No trabalho e nos lazeres, diante de seus familiares e alunos, na prosperidade e na adversidade, nos sorrisos e nas lágrimas, frente a vida e frente a morte, a alma de Ozanam canta sem cessar à Deus um cântico de fé, de esperança e de amor.”
Tal é a mensagem de Ozanam que conforme escreveu o Papa Leão XIII "ainda que morto, ainda nos fala através dos seus escritos, produzindo os mesmos bons frutos que produzia em vida com seus discursos e seu exemplo".
Carranza, no seu livro "Ozanam e seus contemporâneos" assim se manifesta:
"Um dos historiadores da vida de Ozanam disse que se sua obra literária e apologética se assemelha a uma dessas esplêndidas catedrais góticas cujo coroamento ficou incompleto, sua obra caritativa pode ser comparada a uma árvore que traz em si germes permanentes de vida, e que por isso as Conferências Vicentinas não cessaram de aumentar, como não deixa de crescer a árvore ainda que haja falecido quem a plantou.
Por nossa vez, acrescenta Carranza, se a obra de Ozanam dá abundantes frutos desde há um século, (hoje, mais de 160 anos - ndr), seu plano social, esquecido durante muitos anos, volta hoje a ser conhecido em muitas nações, e é adotado e posto em prática ali onde triunfa e se impõe a doutrina da democracia cristã. E parece-nos que de novo faz-se ouvir na terra a voz de Ozanam, que vem do além para dizer-nos com sua eloquência de então:
- O fim de toda a sociedade não é estabelecer o poder do maior número, mas a liberdade de todos. Lutai pois em prol de uma democracia que vos liberte das tiranias da direita e da esquerda. O chauvinismo conduz a guerra. A força só obtem soluções transitórias. O absolutismo estatal acaba semeando ódios e revoluções. A luta de classes divide a humanidade em dois campos antagônicos que se aniquilam mutuamente. Tão somente a Caridade, a Justiça e a Liberdade - agindo em consonância - podem cimentar o progresso do gênero humano. Se sois cristãos de verdade, deveis interpor-vos entre a burguesia e o proletariado - como se interpôs Monsenhor Affre - e até deveis dar vossa vida - como ele deu a sua - para os pobres e ricos, operários e patrões, governantes e governados possam voltar a olhar-se como irmãos, pois morrendo e não matando é que se consegue a paz social. E com toda a segurança conseguireis essa paz social de modo estável se selardes uma liança, forte e sincera, entre um cristianismo integral e uma autêntica democracia que estabeleça na terra, como lei fundamental das nações, os princípios universais e eternos do Evangelho de Cristo Nosso Senhor."
Vídeo aula nº 7
1a. parte: O Testamento de Frederico Ozanam
2a. parte: Quem é Ozanam?
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