AS VIRTUDES DE MARIA
Desde o seu início a Sociedade de São Vicente de Paulo
colocou-se sob a proteção de Santíssima Virgem Maria e, até os dias atuais, nossa querida
Mãe tem, não só protegido, como abençoado de forma privilegiada a
Sociedade, de maneira carinhosa e efetiva, haja visto as dificuldades que
enfrentou e venceu, ao longo desses 180 anos de sua existência.
A forma que encontrei para agradecer e homenagear Nossa
Senhora foi de trazer ao conhecimento de todos aqueles que nos der a honra de
sua visita, um pouco do muito que se pode dizer de tão amável e bendita Mãe,
através dos escritos de alguns do autores mais renomados, santos e doutores,
que cantaram os louvores e glórias da Mãe de Deus.
NOSSA SENHORA DA DIVINA PROVIDÊNCIA
O
AMOR DE MARIA PARA COM DEUS
Diz santo Anselmo: Quanto
mais puro e vazio de si mesmo é um coração, mais cheio de amor a Deus, sendo
extremamente humilde e vazia de si mesma, foi cheia de amor divino, de modo a
ultrapassar em amor a todos os anjos. É com justiça que São Francisco a chama
de Rainha amor. O Senhor ordenou ao
homem que O amasse de todo o coração; não neste mundo mas no céu, diz São
Tomás, cumprirá o homem perfeitamente esse preceito. No entanto, segundo a
reflexão do bem-aventurado Alberto Magno, não convinha ordenasse Deus um
preceito que por ninguém fora perfeitamente cumprido, se a sua divina Mãe não o
tivesse realizado plenamente: pensamento confirmado por Ricardo de São Vitor. O
amor divino, diz São Bernardo, de tal forma feriu e transpassou a alma de
Maria, que dela não houve parte alguma que deixasse de ser ferida pelo amor;
assim, Ela realizou completamente esse primeiro preceito. Ela bem podia dizer:
Meu amado se deu todo a mim, e eu me dei toda a Ele. Ah! Exclama Ricardo, os
Serafins podiam descer dos céus para aprender, no coração de Maria, o modo de
amar a Deus.
Deus, que
é o próprio amor, veio à terra para acender em todos os homens a chama de seu
de seu divino amor; mas nenhum coração foi tão abrasado quanto o de sua Mãe, o
qual, inteiramente puro de afeição terrenas, achava-se totalmente disposto a
abrasar-se no fogo celeste. O coração de Maria foi portanto fogo e chama, como
se lê nos Cânticos; fogo, segundo São Anselmo, porque ardia interiormente no
virtuoso proceder de Maria. Quando, na terra, Maria levava Jesus em seus
braços, podia dizer-se que o fogo levava o fogo, com mais razão do que
Hipócrates, ao dizê-lo um dia, a respeito de uma mulher que tinha fogo em sua
mão. São Ildefonso penetra neste pensamento. Por seu lado, São Tomás de
Vilanova pretende que o coração da Virgem se achava figurado pela sarça que
Moisés viu queimar-se sem se consumir. E com razão apareceu Ela, a São João,
vestida de sol, pois foi tão unida a Deus pelo amor, diz São Bernardo, que parece
impossível uma criatura unir-se mais ao Criador.
Afirma São
Boaventura que a Santa Virgem não foi jamais tentada pelo inferno e eis o
motivo que apresenta: da mesma forma que as moscas se afastam de um grande
fogo, os demônios se afastavam de seu coração, todo abrasado de amor, e não
ousavam sequer aproximar-se. Ricardo exprime a mesma ideia. Maria revelou a
Santa Brígida que não teve neste mundo outro pensamento, outro desejo, outra
felicidade senão Deus. Estando a sua alma bendita, quase sempre ocupada na
terra em contemplar Deus, eram sem números os atos de amor que formava, escreve
o Padre Suarez. Prefiro ainda o pensamento de Bernardino de Bustis: Maria, sem
repetir os atos de amor um após o outro, como fazem os outros santos, possuía
antes o singular privilégio de amar sempre atualmente a Deus por um único e
contínuo ato de amor. Essa águia real tinha os olhos incessantemente fixos no
sol divino, de modo que, diz São Pedro Damião, as ações cotidianas da vida não
impediam Maria, em absoluto, de amar e o amor não A impedia de entregar-se às
suas ocupações. Segundo São Germano, Maria se achava figurada pelo altar da
propiciação, onde o fogo jamais se extinguia, nem de dia, nem de noite.
O próprio
sono não impedia Maria de amar seu Deus. E se esse privilégio foi concedido a
nossos primeiros pais no estado de inocência como afirma Santo Agostinho,
decerto não foi recusado à divina Mãe. Assim o pensam Suarez, o abade Ruperto,
São Bernardino e Santo Ambrósio, tendo Maria experimentado, por esta forma, as
palavras do Sábio. Enquanto seu corpo bem-aventurado tomava, num ligeiro sono,
o necessário repouso, a alma velava, dizem São Bernardino e Suarez. E, numa
palavra, enquanto Maria viveu neste mundo, amou continuamente a Deus. Além
disso, Ela não fez jamais senão o que conheceu como agradável a Deus, e O amou
tanto quanto julgou dever amá-lo. De modo a se poder dizer, com o
bem-aventurado Alberto Magno, que Maria foi cheia de tanta caridade que uma
simples criatura não poderia receber mais sobre a terra. Por sua ardente
caridade, diz São Tomás de Vilanova, a Virgem se tornou tão bela e tanto
inflamou de amor o seu Deus que Ele, tomado de ternura, desceu-Lhe ao seio para
fazer-Se homem. E exclama São Bernardino: “Uma Virgem feriu, arrebatou o
coração de Deus”!
Mas, pois
que Maria ama tanto a seu Deus, é certo que nada deseja tanto de seus servos
quanto vê-los amando a Deus com todas as forças. Aparecendo um dia à sua
bem-aventurada Ângela de Foligno, que acabava de comungar: Ângela, disse Maria,
para seres bendita de meu Filho, esforça-te por amá-lo com todas as tuas
forças. Minha filha, disse ainda a bem-aventurada Virgem a Santa Brígida, se
queres que me uma a ti, ama meu Filho. Maria não tem maior desejo que o de ver
amar o seu amado, isto é, Deus. Pergunta Novarin porque a Santa Virgem pede aos
anjos, com a esposa dos ânticos, façam saber a Deus o grande amor que lhe
dedicam. Não sabia Deus quanto Ela O amava? E responde ele mesmo que a divina
Mãe queria assim revelar o seu amor não a Deus, mas a nós, a fim de ferir-nos
com o amor divino, como fora ferida Ela própria. Por ser toda de fogo para amar
a Deus, comunica a sua chama aos que A amam e se Lhe aproximam, tornando-os
assim semelhantes a Si mesma. Em consequência, Santa Catarina de Sena Lhe dá o
nome de facho do divino amor. Se desejarmos, por nossa vez, arder nessa bela
chama, procuremos constantemente unir-nos à nossa Mãe por meio de nossas orações
e afetos.
Ah! Rainha
do amor, a mais amável, a mais amada, a mais amante de todas as criaturas, como
dizia São Francisco de Sales, ah! Mãe, que ardeis sempre e inteiramente no amor
de Deus, dignai-Vos comunicar-me uma centelha desse amor. Rogastes a vosso
Filho pelos esposos que careciam de vinho, e não rogareis por nós, que
carecemos de amor a Deus, e somos obrigados a amá-lO? Dizei uma palavra e nos
alcançareis esse amor. Não vos pedimos outra graça senão esta. Ah! Minha Mãe,
pelo grande amor que tendes a Jesus, atendei-nos, rogai por nós. Assim seja.
Santo Afonso Maria de Ligório
Nenhum comentário:
Postar um comentário