"A
Ressurreição de Cristo ilumina com
uma luz nova
as realidades cotidianas.
A Ressurreição de Cristo
é a nossa força”.
Papa Francisco
A UNIÃO DAS PÁSCOAS
Na história da salvação deparamo-nos com quatro Páscoas: a primeira Páscoa
é a que aconteceu quando os hebreus saíram do Egito em demanda da Terra
Prometida. Páscoa significa passagem. Foi a passagem salvífica do senhor Deus
na noite da saída do Egito. É a passagem de uma situação de escravos para uma
situação de libertos.
Essa primeira Páscoa dá origem àquela que
podemos chamar a segunda Páscoa,
a Páscoa dos judeus.
É a celebração memorial, todos os anos, da primeira
Páscoa. E uma memória objetiva
realizada com
o rito da ceia
pascal. Ela assume todos
os elementos da primeira Páscoa: a comida
de ervas amargas,
o pão ázimo (não-fermentado),
a imolação do cordeiro
sem mancha. Na primeira Páscoa
foi o sangue de um cordeiro sem mancha que serviu
para marcar as casas dos hebreus, sangue respeitado
pelo anjo exterminador, poupando os primogênitos
dos hebreus e fazendo
morrer os primogênitos dos egípcios.
A terceira Páscoa é a
de Jesus. É o cordeiro divino
imaculado que se imola
na cruz. E a passagem
de Cristo deste mundo para o Pai (Jo 13, 1), através da
paixão, morte e ressurreição.
É morrendo que Jesus destruiu
a nossa morte e, ressurgindo, deu-nos vida nova. É passagem
de uma situação de pecado
para uma vida nova, vida da graça.
E, finalmente, temos a quarta Páscoa,
que é celebrada todos os anos na liturgia da Igreja e renovada todas as vezes
que a Igreja celebra a Santa Eucaristia,
a Santa Missa. Essa renovação acontece,
sobretudo, aos domingos,
de sorte que cada domingo é a celebração
continuada da
Páscoa de Jesus.
Essa mesma celebração
ou memorial pascal da Páscoa de Jesus realiza-se,
em conexão íntima com a Eucaristia, na celebração
dos demais sacramentos. Cada sacramento
é, de alguma forma,
um memorial da Páscoa do Senhor,
um memorial do mistério pascal.
É a passagem da situação de homem envelhecido pelo pecado para a situação de homem novo,
renovado em Cristo Jesus.
Essas diversas Páscoas
estão interligadas. A Páscoa de Jesus insere-se de alguma
forma no ritual da ceia
pascal hebraica. Por meio
dela, a Páscoa de Jesus se une à
primeira Páscoa, a da saída da terra do Egito, de escravidão
para os hebreus,
para a Terra Prometida,
a Terra Santa, terra de libertação
ou liberdade. A primeira Páscoa é inteiramente
simbólica. Ela está orientada para a futura
libertação a ser
realizada, na plenitude
dos tempos, por Jesus Cristo.
A Páscoa de Jesus
Cristo, que celebramos de modo solene, no dia
da Páscoa, orienta-se, por sua vez, na sua continuidade
cotidiana até a plenitude dos tempos.
A redenção de Jesus
só será completa quando todas as criaturas
humanas tiverem celebrado
a Páscoa de Jesus. Jesus, na instituição da Eucaristia, refere-se ao seu sangue derramado para todos em remissão
dos pecados (Mt
26,28). É a Páscoa destinada para todas
as pessoas humanas.
Se formos até o fundo
do ser da Páscoa, devemos afirmar que é nela que transparece
de modo muito claro a grandeza da pessoa humana,
a sua imensa dignidade.
Foi através da sua humanidade, em indissolúvel ligação com o Verbo Eterno, segunda pessoa
da Santíssima Trindade, que Jesus Cristo,
solidário conosco e obediente ao Pai até a
morte na cruz, elevou ao máximo
o ser humano e toda
a sua enorme atividade, marcada, querendo ou não,
pelo esforço, sacrifício,
dor e sofrimento.
A Páscoa é o
momento de realizar a passagem
do velho para o novo.
Passagem do inverno do pecado e do delito para a primavera
da virtude e da vida nova
derramada em todos os corações pelo espírito de Cristo.
É a passagem de uma cultura de morte para
uma cultura de vida. Vida que brota em plenitude
da ressurreição de Jesus. É na festa da Páscoa que se
deveria inspirar toda a renovação da humanidade.
DOM ALOÍSIO LORSCHEIDER