1º DOMNGO DO ADVENTO

Marcos 13,33 – 37

Ficai de sobreaviso, vigiai; porque não sabeis quando será o tempo. Será como um homem que, partindo de uma viagem, deixa a sua casa e delega sua autoridade aos seus servos, indicando o trabalho de cada um, e manda ao porteiro que vigie. Vigiai, pois, visto que não sabeis quando o senhor da casa voltará, se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã, para que vindo de repente, não vos encontre dormindo. O que vos digo, digo a todos: vigiai!

Comentário

Já é hora de acordar! Eis o apelo de Jesus no Evangelho que inaugura este tempo do Advento. Uma nova aurora surge no horizonte da humanidade, trazendo a esperança de um novo tempo de um mundo renovado pela força do Evangelho. Neste tempo de graça, somos convocados a sair do torpor de uma prática religiosa inócua, a acordar do sono dos nossos projetos pessoais vazios e egoístas. Despertos e vigilantes, somos convidados a abraçar o projeto de Deus que vem ao nosso encontro, na espera fecunda do Tempo do Advento, temos a chance de reanimarmos em nós e os compromissos assumidos em favor da construção do Reino, reavivando as forças adormecidas, para a construção de uma humanidade nova, livre das trevas do sofrimento, da marginalização e da morte.

Frei Sandro Roberto da Costa, OFM - Petrópolis/RJ

2º DOMINGO DO ADVENTO

Marcos 1,1 – 8

Conforme está escrito no Profeta Isaias: Eis que envio meu anjo diante de ti: Ele preparará teu caminho. Uma voz clama no deserto: Traçai o caminho do Senhor, aplainai suas veredas (Mt 3,1); Is 40,3). João Batista apareceu no deserto e pregava um batismo de conversão para a remissão dos pecados. E saiam para ir ter com ele toda a Judéia, toda Jerusalém, confessando os seus pecados. João andava vestido de pelo de carneiro e trazia um cinto de couro em volta dos rins, e alimentava-se de gafanhotos e mel Sivestre. Ele pôs-se a proclamar: “depois de mim vem outro mais poderoso do que eu, ante o qual não sou digno de me prostrar para desatar-lhe a correia do calçado. Eu vos batizei com água; ele, porém, vos batizará no Espírito Santo”.

Comentário

“Preparai o caminho do Senhor, aplainai as suas veredas”. Clamando pelo deserto, João Batista nos indica que procurar viver conforme a Boa-Nova que Jesus nos trouxe não se trata, simplesmente, de viver dentro de um sistema religioso com certas práticas que nos identificam com tais. Talvez ele queira nos indicar que a fé, antes de tudo é um percurso, uma caminhada, onde podemos encontrar momentos fáceis e difíceis, dúvidas e interrogações, avanços e retrocessos, entusiasmo e disposição, mas também cansaço e fadiga. No entanto, o mais importante é que nunca deixemos de caminhar, pois o caminho se faz caminhando. Boa caminhada de Advento e preparação!

Frei Diego Atalino de Melo

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

4. CARTA AO MENINO JESUS



CARTA AO MENINO JESUS


Os Magos encontraram o Menino e o adoraram,
fruto de longo caminho e árduo trabalho. E Deus
encheu de alegria seus corações.   
                     
      Os Magos viajaram até Belém, desde o longínquo 
    Oriente Médio , guiados por uma estrela.

Quem se fixa demais nas coisas da terra, sem 
olhar para o Alto, perde alegria, densidade e o 
sentido da vida. 

Só quem caminha à luz de uma
estrela-guia encontra Cristo em profundidade.  E
empenha sua vida para transformar a sociedade.


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Mais alguns dias, Menino Jesus, e estaremos no Natal. Há dois mil e dezessete anos, apenas um Anjo anunciou aos pastores que havias nascido. Verdade é que, logo em seguida, uma multidão deles começou a cantar de alegria. Em nossa época, contudo, é diferente. Vivemos na era da comunicação e seria impossível fazer uma lista das estações de TV e rádio, das páginas dos jornais e revistas que repetem e insistem que estamos no Natal. 

Contudo, meu caro amigo e Senhor, o mundo evoluiu. Fala-se muito em Natal, mas teu nome quase nem é lembrado. Outros ocupam teu lugar. O Natal de hoje é moderno... Tem até Papai Noel, com todo o calor dessa época em nosso país... São dados, presentes, muitos presentes, embora a maioria das pessoas não saiba bem qual é a razão de se presentear nessa época e nessa festa. Desconhecem que tu, Menino Jesus, és o grande presente do Pai para nós neste Natal, e é por isso que nós nos presenteamos. 


O Natal de Belém, o teu Natal, foi muito simples. Um Natal daquele tipo, hoje, ninguém notaria. É verdade que tua presença numa gruta poderia ser mostrada ao vivo e em cores para todo o mundo, via satélite e em HD. Mas quem iria patrocinar uma cena assim, tão pobre em dramaticidade? Por sinal, continuas nascendo em inúmeras grutas, morros, cortiços e favelas, e poucos estão interessados em te ver.

Por outro lado, caro Menino Jesus, é preciso reconhecer que a paz, da qual os Anjos tanto falaram aos pastores na primeira noite de Natal,continua sendo desejada e procurada. Há muitas crianças, jovens e adultos que a buscam. Há povos inteiros que não sabem o que é viver em paz. Vários países nem conseguem mais contar o número de seus filhos mortos - e a maioria, jovens!... Isso sem falar naqueles soldados que ficam física e psiquicamente marcados para o resto de suas vidas, ou nos que, sem futuro nem esperança,fogem sem saber para onde.

E o que dizer dos jovens de nossa cidade, Menino Jesus, também eles, muitas vezes, sem esperança e sem futuro? Como é triste vê-los assim, atrás de experiências que não os conduzem a nada. Não descobriram, ainda, que há uma estrela nos céus de suas vidas. E que tu és essa estrela!

O pior, Menino Jesus, é que o Natal passará e, para muitos, continuará a mesma situação de sempre. O mesmo corre-corre da vida se repetirá. Ocorrerá, então, em nossos dias o que aconteceu no primeiro Natal: o Filho de Deus estava presente no mundo, e a maioria do povo não tomou conhecimento.                                       

Por outro lado, Menino Jesus, pode-se ver, aqui e ali, luzes que se acendem. Há os que despertam. Outros começam a ver a estrela, a escutar a voz dos teus mensageiros e a correr ao teu encontro. Faz com que se multipliquem esse número. Assim, teus discípulos acordarão outros, e todos acabarão indo ao teu encontro nas numerosas grutas espalhadas pelo mundo.

Essa é a nossa esperança, Menino JesusAcredito Menino Jesus, muito no teu incrível poder de transformar corações e vidas. Acredito e espero. Mas, por favor, vem logo transformar os corações. Apressa-te! Envia novos mensageiros a anunciar tua chegada. Mas que eles não se esqueçam de dizer a todos que és simples, muito simples. Por que, senão, mais gente passará em frente à tua gruta, sem perceber que tu já estás no meio de nós... 

                               (D. Murilo S.R. Krieger, Cardeal Primaz do Brasil).






quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

2. OZANAM, O APÓSTOLO INTELECTUAL




Ozanam
O Apóstolo Intelectual
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                O desenvolvimento do apostolado intelectual de Ozanam caracterizou-se:

a)          pelo estudo intenso e perseverante;
b)          pela incomparável tenacidade;
c)       pelo desejo de atuar sempre junto da Igreja com caridade e justiça.

               
a)          Estudo perseverante:

            Ozanam não desanimava ante as maiores dificuldades. No Colégio Real de Lyon venceu brilhantemente todas as árduas tarefas que lhe proporcionaram invejável cultura humanística.

            Na Universidade dedicou-se de modo ímpar, tanto ao estudo do Direito, como da História e da Literatura. Em ambas as cátedras, procurou cumprir sua promessa dos tempos de colégio: defesa do cristianismo.

            Vale a pena abordar a vida de Ozanam sob o ponto de vista do apostolado intelectual, que nos conduz a recordar a sua formação nos cursos secundários e universitários.

            Seria demais repetir aqui os fatos marcantes de sua vida intelectual, já bastante conhecidos, mas só consideraremos, apenas em resumo, à luz de sua personalidade e de caráter, tendo em vista também o exemplo de São Vicente de Paulo e as condições do mundo moderno, que dizer, dos dias em que vivemos. 

            No Colégio Real em Lião, Ozanam conviveu com muitos jovens que, como ele, receberam as lições dos mesmos  mestres, estando todos sujeitos à mesma disciplina, sendo harmônica a convivência entre eles. No entretanto, dos numerosos alunos desse Colégio Real surgiu apenas um Ozanam que se sobressaiu entre todos os demais. Sem dúvida, este fato digno de reparo, se deve, em primeiro lugar, ao ambiente familiar de onde proveio. Acalentado por uma família exemplarmente católica formada harmoniosamente por MARIA NANTAS e pelo Dr. JOÃO ANTÔNIO OZANAM, da qual saíram um sacerdote, um professor e um médico, respectivamente, ALFONSO, FREDERICO e CARLOS, poder-se-ia imaginar como se desenvolvia a personalidade de OZANAM naquele ambiente sadio e piedoso. Ele mesmo a isso se refere, ao escrever a REVERDY¹°): “... Tão intensamente temos vivido a vida de família, e tão seguros nos achávamos sob as asas de nossa mãe, que nunca nos afastávamos do lar sem que nos acompanhasse o pensamento da volta. Quando se tornava preciso dele nos afastar, mais vivamente o apreciávamos, e a ausência nos estimulava a amá-lo ainda mais. As doenças e as enfermidades que nos poderiam ter preparado para tal separação, apenas a tornaram mais cruel”. E referindo-se à morte de sua mãe, acrescenta na mesma carta: “Doces exortações, exemplos poderosos, fervor que me aquecia o coração tíbio, encorajamentos inculcaram-se a fé, e ela era para mim como imagem viva da Santa Igreja, também nossa mãe, afigurando-me a mais perfeita expressão da Providência. E agora me sinto como os discípulos após a ascensão do Salvador; como se a Divindade se houvesse afastado de mim. Parece-me, por momentos, devo dizê-lo?, que a fé me abandona, fugindo com aquela que foi para mim a sua interprete, e que fiquei  isolado no meu nada”.

            Para testemunhar esse excepcional apego à família, lembraremos que OZANAM sempre teve uma saúde delicada que inspirava cuidados. Talvez isso decorresse da grave moléstia que o manteve no leito aos seis anos de idade. Recordemos rapidamente esta passagem.

            Foi acometido de uma febre tifóide das mais graves, da qual quase morreu. Seu pai, em tais circunstâncias recorreu a seus colegas. Os doutores LEVRAT e MARTIN, após exame minucioso declararam que nada mais havia a fazer e que se devia esperar sua morte. A pobre criança delirava, tinha os olhos apagados e a morte aparecia nos lábios. A boa mãe e sua amiga íntima, MARIA ACCARIAS, recorreram à intercessão de São Francisco de Regis. Toda a família se uniu às suas orações. Procuraram uma relíquia do santo: colocaram-na no pescoço do pobre moribundo. Iniciou-se uma novena.

            Enquanto se implorava a assistência do Céu com todo o fervor, FREDERICO continuava a pronunciar palavras incoerentes, entremeadas de reminiscências sobre noções de cosmografia que havia aprendido. De repente, em meio ao delírio pediu cerveja. A coisa pareceu tanto mais estranha, pois ele sempre manifestara profunda repugnância por esta bebida. Seu pai que lhe prodigalizava todos os cuidados, foi o primeiro a reconhecer o esforço da natureza e lhe deu a bebida. A criança bebeu sem dificuldade e desde então a moléstia cedeu completamente. A convalescença  foi muito longa, mas enfim o jovem doente recuperou-se, teve uma saúde perfeita e não sentiu qualquer  indisposição grave até a idade de 35 anos.

            Bem se pode compreender que o ideal de OZANAM foi acalentado desde sua infância nos joelhos de sua querida mãe e plasmado pela fé que ela lhe inculcara desde a meninice.

            Que lição extraordinária para todos nós, chefes de família! Não está aqui um magnífico exemplo para os dias de hoje? A mãe de nossos filhos tem nesse  belo trecho da carta de OZANAM, uma lição excepcional! Mas, ai de nós, que vivemos nos dias atribulados das distorções do rádio, da televisão, das guerras, da violência! Terão as mães de hoje o mesmo fervor, ou pelo menos um mínimo de tempo para dedicar-se aos seus filhos, como fez MARIA NANTAS? Por maior que seja a distância que nos separa dos tempos de OZANAM é que nós, vicentinos de todas as horas, devemos ter sempre, continuamente presente, esse exemplo tão apropriado para os dias que vivemos, de modo a podermos plasmar as características de nossa família como fizeram os OZANAMS.

            O lar em que OZANAM viveu deverá servir de modelo para todos nós. E especialmente para nossas consócias que deverão ter presente, ao visitarem seus socorridos, a lição inesquecível de MARIA NANTAS. É preciso que aprendam que, na sua visita semanal ao casebre do necessitado, terão de levar muito do calor que tiverem produzido no seu próprio lar. Somente assim, o pobre começará a participar de nossa própria família!

            A atmosfera tão aconchegante do lar do Dr. JOÃO-ANTONIO OZANAM, por assim dizer, continuou no não menos harmonioso ambiente do Colégio Real de Lyon.

b)          Tenacidade

            OZANAM sabia querer. Com firmeza assumia atitudes que revelavam sua tenacidade excepcional. Os estudos básicos do Liceu e a defesa da Igreja foram alguns dos muitos pontos altos de sua brilhante e curta carreira. Somente sua têmpera do incansável batalhador poderia dar-lhe com sua fé inabalável, os recursos, principalmente intelectuais, para vencer as inúmeras barreiras que encontrou em seu caminho.

            No Colégio, OZANAM pode fazer crescer seu ideal. Cultivou seu intelecto. Desdobrou-se nos estudos, entusiasmou-se pela filosofia. Esse mesmo ardor o levou a vencer a crise que o acometera, da qual emergiu rapidamente. Conta-nos CELIER² que um recente biógrafo (GIRARD) (5), pôs em dúvida esta crise religiosa, da qual OZANAM triunfou tão rapidamente. E acrescenta o antigo vice-presidente do Conselho Geral: - “Quem somos nós, para julgar o interior das almas?”.

            Justifica-se, nesta altura, um paralelo entre SÃO VICENTE DE PAULO e OZANAM. Esse paralelismo é tanto mais admirável quando se considera o dinamismo que caracterizou estas duas vidas.

            Sabe-se que SÃO VICENTE DE PAULO teve duas tentações. A primeira refere-se ao fascínio pelas obras. A partir de 1643, diz o Pe. DODIN³, “os deslocamentos e a atividade no Conselho de Regência, transformaram infalivelmente VICENTE, em gerente dos negócios nacionais. Ele tornou-se uma função”.

            Mais precisamente comparável com a crise de OZANAM, é a tentação contra a fé de que SÃO VICENTE foi vítima. Em 1611 encontrou-se com um teólogo devorado por dúvidas e escrúpulos. O capelão dos GONDIS conheceu um verdadeiro drama interior e então tomou a resolução: “generosamente ofereceu-se a Deus para tomar sobre si a tentação do doutor. O homem se viu liberto, mas seu diretor ficou oprimido. E então, salvou-se a si mesmo devotando toda sua vida aos serviços dos pobres”. VICENTE venceu estas crises graças à sua fé inquebrantável na Divina Providência. Uma expressão familiar (DODIN³) traduz o ritmo de sua progressão: “É preciso dar-se a Deus para servir aos pobres... para ir em Missão, para dirigir os Seminários, os ordenandos...”.

            OZANAM teve também sua crise, mas em plena adolescência. Venceu-a com o inestimável auxílio e a orientação do Pe. NOIROT e também pela sua confiança ilimitada na Providência Divina. Referindo-se a esta crise, são suas palavras: “Em meio a um século de ceticismo, Deus me deu a graça de nascer na fé; colocou-me nos joelhos de um pai cristão e de uma santa mãe; deu-me como primeira instrutora uma irmã inteligente, piedosa como os anjos aos quais foi unir-se. Mais tarde chegou-me o tumulto do mundo que não cria. Conheci todo o horror destas dúvidas que corroem o coração durante o dia, e que me encontram à noite sobre um travesseiro banhado em lágrimas”.
           
           “A incerteza de um destino eterno não me deixava em repouso. Aderia, com desespero, aos dogmas sagrados e os sentia fragmentarem-se em minha mão. Foi então o ensino de um sacerdote filósofo que me salvou. Pôs ordem e luz em meus pensamentos; daí por diante adquiri uma fé segura, e, tocado por raro benefício, prometi a Deus votar meus dias ao serviço da verdade, que me proporcionava a paz”. (OZANAM) (9).

            Aqui uma reflexão para nossos tempos. Eles mudaram, sem dúvida. É hoje difícil encontrar um Colégio como o Colégio Real de Lyon. Mas sempre nos será possível manter contato com os professores e auxiliarmos nossos filhos. E mesmo se eles não encontrarem um Pe. NOIROT para esclarece-los, ajudemo-los pelo menos a não desanimar e sejamos seus colaboradores, principalmente nas horas de dúvida. A queda vertical da educação católica de nossos dias está a reclamar de cada um de nós um esforço maior para, pelo menos de longe, tentarmos fazer de nossos filhos outros OZANAMS.

            Poderá argumentar-se que nos tempos de OZANAM tudo era mais fácil, a família mais unida, menor a dispersão. Realmente, não poucos fatores naquela época concorriam para facilitar a tarefa da criação dos filhos. Mas lembremo-nos quão difíceis eram as comunicações, não havia ainda o telefone, nem o radio para radiocomunicações, nem a máquina de escrever, nem o cinema e a televisão, muito menos os sistemas dos computadores. Tudo isto, e muito mais, veio de certo modo facilitar a tarefa dos educadores, que, então, puderam dispor de mais tempo para outros misteres. Talvez facilitar demais!

            Muitos fatores concorreram para que OZANAM desenvolvesse seu apostolado intelectual. Já aos 16 anos, no Colégio Real de Lyon, publicou o opúsculo contra o São Simonismo, trabalho fruto de suas meditações filosóficas, sob a sábia direção de NOIROT, e que serviu de ponto de partida para esse admirável apostolado, que se prolongou por toda a sua vida. OZANAM foi principalmente um grande intelectual!

             Esse apostolado primava pela doçura. OZANAM jamais foi um violento. Possuía o que LAMARTINE dizia dele: “a caridade do espírito”. No discurso de 1843 sobre os deveres dos cristãos, informa OZANAM: “Acusam-me algumas vezes de tratar com muita indulgência e doçura os que não têm fé. Quando se passou pelo suplício da dúvida, cometer-se-ia um crime maltratar os desgraçados aos quais Deus ainda não tenha concedido a graça de crer”. E já em 1834, portanto, muito pouco tempo depois da fundação da SSVP, escrevia no “Univers”: “Felizes os que receberam profundas sementes de virtudes, grandes exemplos de sabedoria; felizes os que sempre amaram a religião de sua infância: porque se os laços com que ela prendia sua inteligência vierem a relaxar, ao menos lhes resta ficarem unidos pelo coração: a dúvida pesa-lhes e deles procura libertar-se; o combate é doloroso e penoso, custa lágrimas secretas, muitas angústias, mas , enfim termina pela vitória; um exame respeitoso esclarece pouco a pouco o espírito e logo o inunda de luzes: se algumas vezes a condição racional lhes faltou, a fidelidade moral permanecia, o Dom de Deus estava neles e a fé não os tinha abandonado. Ela tinha sido somente ocultada, como para ser procurada, como para se fazer amada por mais tempo”. 

            O convívio no Colégio, com o Pe. NOIROT, despertou-lhe o dinamismo que caracteriza seu temperamento.

            E como diz GOYAU(6): “As primeiras lições de sua família e depois a influência do Pe. NOIROT, tinham antecipadamente premunido FREDERICO OZANAM contra o perigo de uma letargia; seus primeiros anos de juventude foram, ao contrário, anos de alarma, anos de ação”.

              Desde os bancos do Colégio Real, OZANAM cuidou de cultivar o apostolado intelectual. A familiaridade com autores célebres, indicando pelo Pe.NOIROT, deu-lhe base sólida. Não se tratava apenas de aumentar e ilustrar sua cultura. Não era unicamente uma leitura apressada, mas ao contrário, era um estudo sério. NOIROT havia fundado “L´Abeille”, a pequena revista que iria dar guarida em suas páginas aos magníficos trabalhos de OZANAM. Assim, o jovem autor amadurecia seu pensamento, todo voltado desde 1828 para a atividade intelectual e nesta época, OZANAM tinha apenas 15 anos!

            Ao mesmo tempo que se operava seu aprimoramento cultural, alimentava sua vocação literária. E assim se compreende que no alvorecer de seu bacharelado, ao sair do colégio, OZANAM aninhava o desejo de demonstrar a verdade do Cristianismo, “pelo exame histórico das crenças da humanidade desde os tempos mais antigos”. (CELIER²).

            Os diversos passos na formação desse ideal intelectual, levam-nos a meditar sobre uma vida apostólica realmente bem formada, sólida, esclarecida. Sem essa formação OZANAM, por certo não poderia ter enfrentado como enfrentou os participantes das Conferências de História.
                 
c)     Atuação junto da Igreja com caridade e justiça
   
            Toda a vida de OZANAM foi voltada à Igreja, ao cristianismo, na série incontável de atos que marcaram as principais etapas de sua vida. E tudo isto sempre envolvido pelo halo da caridade, da perfeita caridade evangélica. 

       Foi a formação católica, sem dúvida, que o conduziu às culminâncias do magistério e o tornou amado pelos seus numerosos discípulos e condiscípulos. Mas tudo isto, em toda sua formação, OZANAM sempre teve em mente a meta principal: o estudo da religião para a demonstração das verdades cristãs.

             Foi realmente essa sólida formação que o transformou no SÃO PEDRO do pequeno cenáculo, no dizer de BAUDRILLART.

             É de todos conhecidas as peripécias de OZANAM para alcançar as cátedras universitárias. Obediente a seu pai, estudou o Direito na Sorbona e foi ensiná-lo na Academia de Lyon. Essa passagem pela Faculdade de Direito rendeu-lhe uma consolidação de seus conhecimentos que ao mesmo tempo se alargaram num campo que lhe era inédito. Mas outro fato talvez de maior importância que se deve assinalar na vida de OZANAM, nessa época, vem a ser o encontro com seus primeiros companheiros, com os quais iria fundar a SSVP.

                  Desígnios insondáveis da Providência! Quem sabe, se não fora o curso de Direito, OZANAM não acharia seus diletos colegas, e, assim, o advento da SSVP seria retardado? Pois ali mesmo, aos pés da Igreja de “Saint-Etienne-Du-Mont” que ele conheceu seus dois primeiros amigos, LALLIER e DE GOY, seus dois primeiros lugares tenentes no exercito da caridade, depois que ele se ligou a BAILLY.

                  Por outro lado, o temperamento de OZANAM favorecia-o nas lutas intelectuais e o resultado delas, principalmente de seus estudos, impelia-o para a Universidade.

                Alicerçado pela sólida cultura adquirida no Colégio de Lyon, e graças à sua invulgar capacidade de apreensão, pode OZANAM desde muito cedo mostrar sua competência.

                 Iniciava-se, assim, sua luminosa trajetória intelectual, que culminaria na Universidade. Lembra-nos LEPETIT(9): “Não se deve esquecer, com a idade de 20 anos somente, criou a primeira Conferência. Tinha apenas 22 anos quando conseguiu fazer subir ao púlpito de Notre Dame o Rev.Pe. LACORDAIRE; contava apenas 28 anos quando deu o primeiro curso na Sorbona e com 35 anos, acompanhou o Arcebispo de Paris, Dom AFFRE, nas barricadas de 1848”.

                 Não foi fácil o acesso à Universidade. Chamado a substituir FAURIEL teve como condição apresentar-se a um concurso duríssimo, com sérios concorrentes sobre literatura estrangeira e com um prazo reduzidíssimo para preparação.

                 Conhecidas de todos as peripécias desse concurso e como OZANAM conseguiu o primeiro lugar. Os maiorais da Sorbona exigiam dele a participação no concurso da literatura estrangeira.

         OZANAM estudante, OZANAM  professor universitário, constituem exemplos dignos de reparo ainda nos dias de hoje. Consciência reta no cumprimento do dever, não media sacrifícios. Seu trabalho intelectual não era fácil. Estudava intensamente para preparar as lições e também se desdobrava nas pesquisas, procurando, sempre ler os textos originais. FUSTEL DE COULANGE(4), caracterizava esse período com a frase significativa: “Um ano de análise por uma hora de síntese”. E seu amigo J.J. AMPERE¹  a ele se refere: “Preparações laboriosas, pesquisas de opiniões nos textos, ciência acumulada com grandes esforços, e mais improvisação brilhante e colorida, tal era o ensino de OZANAM. É raro reunir no mesmo grau os dois méritos do professor, o fundo e a forma, o saber e a eloqüência. Ele preparava suas lições como um beneditino e as pronunciava como orador”.

                 Mas não era somente com o exemplo que OZANAM pregava seu apostolado intelectual. Foi ele também pioneiro ao romper as barreiras julgadas então inexpugnáveis, ao levar para a Sorbona agnóstica o seu credo. Aqui um dos pontos mais elevados de seu apostolado intelectual pouco conhecido.

                Poder-se-à imaginar o ambiente da grande Universidade na época de OZANAM. Ele ali apareceu como um facho luminoso para dissipar as trevas.

             Logo aliciou seus companheiros e passou de imediato à defesa da Igreja. Cumpria assim sua promessa feita nos tempos do Liceu Real de Lyon.

                 A finalidade de FREDERICO OZANAM, vindo a Paris, não era somente prosseguir nos seus estudos jurídicos e literários. No prefácio da “Civilização no V século” ele mesmo havia dito: “Tocado por um benefício tão raro – a fé – prometi a Deus devotar meus dias ao serviço da verdade". E sua correspondência revela-nos por que meios ele entendia tornar frutífero este serviço. Seu sonho era agrupar “jovens pensadores e sentir com eles...trabalhando em conjunto no edifício da ciência, sob o estandarte do pensamento católico”.

                FREDERICO OZANAM conquistou muito depressa, neste meio, uma superioridade indiscutível, não por que ele exercesse ao seu redor uma sedução física: de porte medíocre, e sem elegância, de ar tímido e antes embaraçado, um tanto negligente, olhos cinzentos, doces, antes tristes, em repouso, não atraia, logo de início, a atenção. Não possuía nenhuma destas vantagens exteriores preciosas ao orador. Mas quando sob uma impressão viva, ela tomava a palavra para a defesa das idéias que lhe eram caras, então, ultrapassando o embaraço inicial, definido por LACORDAIRE(8): 

“este mal de eloquência que toma qualquer um que expõe sua alma diante de um auditório, ele revelava todo o brilho de suas faculdades: erudição notável, adquirida por um trabalho intenso, e servida por uma memória prodigiosa; maturidade de espírito surpreendente em um homem tão jovem; imaginação viva e no entretanto disciplinada; palavra elegante, colorida, persuasiva, revelando a sensibilidade encantadora de uma alma empolgada por convicções ardentes, realizando o ideal de uma eloquência tal como FÉNELON a concebeu: a manifestação forte e persuasiva devido à sua superioridade intelectual e reconhecida voluntariamente por seus camaradas, que seu caráter atraia todas as simpatias por uma perfeita modéstia”.

              Quando alguns dentre eles se encontravam feridos em suas convicções religiosas pelos propósitos agressivos dos professores da Sorbona LETRONNE e JOUFFROY, é a OZANAM que eles encarregavam de formular seus protestos, e ele os fez com tal insistência que JOUFFROY, especialmente, se viu obrigado a se desculpar e a prometer para o futuro uma grande reserva, cobrindo sua retirada desta reflexão melancólica, mas agressiva: “Senhores, há 5 anos, eu não recebia objeções senão ditadas pelo materialismo... hoje os espíritos mudaram muito: a oposição é toda católica”.

                Outro aspecto que caracterizava a vida apostólica intelectual de OZANAM, vem a ser a firmeza de suas convicções, decorrente de um estudo sério e profundo. Não se limitava a discorrer sobre as literaturas estrangeiras, mas porfiou em conhecer pessoalmente os lugares em que ocorreram os fatos descritos pelos autores que deveria estudar. Exemplo extraordinário do verdadeiro cientista que ia procurar provas concretas para fundamentar suas afirmações. Ao mesmo tempo que defendia a ciência, defendia a Igreja que ele tanto amava.

                  Neste labutar intenso procurava ele ganhar as almas. Com idéias próprias e quase sempre originais OZANAM, no dizer do Reverendo Padre JANVIER (7) “as gravava na alma de seus contemporâneos, por sua eloquência persuasiva e sobrenatural. Sobe à cátedra pálido, desfeito, os traços alterados pela moléstia que o esgota. No começo sua frase se arrasta, seu olhar se perturba, sua ação é hesitante. Depois, pouco a pouco é arrancado pela palavra, de sua timidez natural. Então sua cabeça se eleva, seus olhos lançam faíscas, sua voz primeiramente sem vibração, sufocada, tornar-se sonora, ampla, viva e seu gesto domina ao mesmo tempo suave e imperioso. O pensamento desembaraçado se desdobra, abre-se à meditação de perspectivas luminosas e largas, exprime-se em uma língua quente, abundante, onde não se pode deixar de admirar a magnificência das imagens, o fogo do entusiasmo, o esplendor da poesia. Os textos se despojam de sua casca e liberam seu segredo, as velhas crônicas se rejuvenescem, os episódios tocantes animam os assuntos áridos, as lendas graciosas temperam as autoridades dos silogismos, os acontecimentos se encadeiam, as figuras revivem, os séculos apagados se erguem. Então, como sobre uma cerca imensa, os grandes personagens da história, papas, bispos, monges, reis, imperadores, povos, poetas, filósofos, heróis, santos, reaparecem para trazer ao presente as lições do passado e para render homenagem à Providência soberana que plana acima de todas as coisas humanas e dirige misericordiosamente seu curso". “Logo, o orador esquece-se de si mesmo, arrebatado por sua emoção, eleva-se aos cimos onde a verdade se serve do homem como de um instrumento dócil para vibrar com mais liberdade, para fazer ressoar seus oráculos com mais potência”.

              “Mas a alma cega pelas paixões, endurecida pelo hábito, resiste vitoriosamente à luz, à razão, à eloquência. Para vence-la é preciso dispor de uma força infinita e meter em seu verbo qualquer coisa de divino. A palavra de OZANAM é sobrenatural, é o grito de um ser estranho aos espetáculos do mundo, às festas profanas, devorado pelo desejo de glorificar seu Deus, de arrancar seus semelhantes do erro e do mal. A oração prepara as lições do professor, a fé penetra-as de seu resplendor e comunica à ciência acentos que a ciência não conhecia, a caridade espalha sobre os lábios do apóstolo a unção evangélica, esta unção que, por um perpétuo milagre, permite ao homem tratar seus irmãos com ternura, descobrir suas chagas sem os exasperar, sublinhar as fraquezas sem abater os fracos, proclamar a verdade sem desencorajar os que gravemente o ofenderam. Não é mais uma criatura que pressiona seus semelhantes para mudar suas idéias, seus costumes; é Deus que, por uma boca mortal, interpela e exorta as almas, que, com a luz deslumbrante de seu espírito e com a força invencível de seu amor, esclarece as inteligências mais tenebrosas e, subjuga as vontades mais recalcitrantes, tanquam Deo exhortante per nos.” (Como se Deus estivesse apelando através de nós).  

            Poder-se-ia argumentar que o estilo eloquente de OZANAM está hoje ultrapassado. É possível, pois mesmo confrades altamente categorizados esposam essa opinião.

             Já foi dito (JANVIER) (7)  "que às vezes as conclusões de OZANAM ultrapassam as premissas, que aqui ou ali sua erudição é defeituosa, sua exegese inexata, sua filosofia incompleta. Se dirá que sua condescendência é excessiva, que ele acreditou demasiado nos adversários mais hábeis que sinceros, que mostrou demasiada indulgência pelas quimeras e pelos princípios incompatíveis com a verdade integral, que ele pendeu enfim para um liberalismo enganador do qual a Igreja sempre desconfiou com razão”. Tudo isto talvez contenha algo de verdade, mas não se pode negar que a apologia de OZANAM  seja plena de verdades claras, idéias gerais, exposição profunda, ciência seria e imparcial, na qual os apóstolos do século XIX e XX não cessarão de beber para defender a honra do Cristianismo. Por esta apologia ver-se-ão os preconceitos confundidos, os sofismas refutados, os erros humilhados, a fé desagravada de mil acusações que lançam a ignorância e os preconceitos.

                  Pela apologia que OZANAM fazia do Cristianismo, uma manhã, foi fixada na Faculdade uma nota com esta inscrição: Curso de teologia. OZANAM limitou-se a sorrir, mas ao descer da cátedra, lança esta réplica altiva ao autor desta impertinência anônima: “Senhores, não tenho a honra de ser um teólogo, mas tenho a felicidade de ser cristão, de crer, com a ambição de por toda minha alma, todo meu coração e todas as minhas forças a serviço da verdade”.

                  Finalmente, como se vê, o apostolado intelectual de OZANAM completa o da caridade. Ambos formam uma unidade adorável. Ele sofria tanto com as dificuldades da vida de seus próximos menos favorecidos, e talvez mais ainda por aquele que sem necessitarem tanto, eram verdadeiros mendigos da fé. Esse apostolado intelectual é tão grande quanto o da caridade, pois, nele OZANAM colocou todas as forças do seu intelecto até a exaustão.

                  Aprendamos. Portanto, como OZANAM, a nos dedicarmos ao estudo intenso e perseverante, a termos a mesma tenacidade para podermos vencer as dificuldades inúmeras; e a agir, em todas as ocasiões propícias, em defesa da Igreja. Em tudo isto tenhamos sempre presentes o sentido elevado de OZANAM sobre a CARIDADE e a JUSTIÇA.

 Bibliografia:

 1 – AMPÈRE,  J. J. – ap. CELIER, L. 1956²
 2 – CELIER, L. – 1956 – Frédéric Ozanam, XII+149 pp. P. Lethielleux, ed. Paris, p.13.
 3 – DODIN, A. – 1960 – St. Vincent de Paul, 188 pp. Ed. Senil, Paris
 4 – FOUSTEL DE COULANGE – ap. CELIER, L. 1956², p.VI.
 5 – GIRARD, H. – 1950 – Un catholique romantique – Frédéric Ozanam. Ap. CELIER           loc.cit.
 6 – GOYAU, G. – 1913 – Ozanam collegian, Ozanam étudian, son apostolate                       intellectual. Em: GOYAU, G.        et al – Ozanam livre du Centenaire. 4º milheiro,           XV+481 pp. G. Reauchesne, Paris, p.9.
 7 – JANVIER, Elogie fúnebre de Frédéric Ozanam prononcé à Notre Dame de Paris.             Em: Le Centenaire de       Frédéric Ozanam, 1813-1913. 413 pp. Ed. SSVP. Paris,           p. 79 – 109, pp.88, 90, 91.
 8 – LEPETIT – 1953 – Ozanam et Etienne-du-Mont. Em: Centenaire de la mort de               Frédéric Ozanam. 172       pp. Ed. do Conselho Geral de Paris, pp. 20, 24.
 9 – OZANAM, C.A. – 1889 – Vie de Frédéric Ozanam. 64 pp. Libr. Poursielgue Fr.,               Paris, p. 63.
10 – OZANAM, A.F. – 1839 – A Reverdy. Em: Lettres 1, p. 315


SUGESTÕES PARA DISCUSSÃO:
                 
I – APOSTOLADO INTELECTUAL

a.       O exemplo de Ozanam:  interesse
                                               tenacidade   
                                                                       perseverança
                                                                              
b.      Atitude de Ozanam em relação:
        - aos companheiros do Liceu
        - aos universitários: condiscípulos
                                          professores

c.       Ozanam e a Conferência de História

d.      Atividade política de Ozanam

e.       Objetivo principal do apostolado intelectual

      OUTRAS SUGESTÕES.


* Palestra proferida durante as comemorações do 1º. Centenário da Fundação do Conselho Superior do Brasil da SSVP.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

1. APRESENTAÇÃO E OZANAM E A SSVP - JUSTIFICATIVA



















Apresentação

É com grande satisfação que escrevo algumas palavras, precedendo este livro que o ilustre Cfd Paulo Sawaya escreveu em 1978 sobre Frederico Ozanam e a Sociedade de São Vicente de Paulo. Será, certamente, de grande utilidade e servirá como subsídio à Escola de Capacitação Antonio Frederico Ozanam. Na escassez de literatura própria em português, a publicação desse material torna-se oportuna e necessária.

Esta publicação é, também uma homenagem a esse ilustre vicentino pela importância do trabalho que realizou e que, além de sua ampla e diversificada atividade que o projetou no país e no estrangeiro, foi um baluarte do vicentinismo em São Paulo, no Brasil e, quiçá no mundo.
Essa pequena obra propiciará aos leitores a oportunidade de conhecer Frederico Ozanam, um do mais culto espírito de seu tempo, unindo a uma inteligência esclarecida e uma fé vivida, determinando o sentido de sua vida de caridade e grandeza moral raro atingida.

Dessa forma o Confrade Paulo Sawaya prestou o serviço de tornar mais conhecido entre nós o principal fundador da Sociedade de São Vicente de Paulo e saber das suas mais significativas qualidades como professor, apóstolo da Caridade e santo.

O primeiro contato pessoal que tive com o renomado Confrade Paulo Sawaya foi em 14 de março de 1966 por ocasião da reunião promovida pelo Conselho Central de São Paulo, onde ele, na qualidade de presidente do Conselho Metropolitano a presidia.

Nesse dia, o Confrade Paulo Sawaya, após discorrer sobre diversos assuntos, fez uma detalhada exposição da Assembléia Panamericana ocorrida em São Paulo meses antes, em janeiro de 1966. Destacou na ocasião que essa Assembléia havia dado um grande destaque quanto à participação da juventude na Sociedade. No final, convocava os cerca de cinqüenta jovens presentes, para trabalharem pela expansão da Sociedade de São Vicente de Paulo, principalmente entre a juventude.

Na reunião realizada em 23 de abril de 1966, por iniciativa do Confrade Paulo Sawaya foi instituído o “Comitê Central de Expansão”, posteriormente denominado Comissão de Jovens.

Teve o Confrade Paulo Sawaya, o maior carinho para a juventude vicentina. Apesar dos seus inúmeros afazeres e ocupações, acompanhou de perto o desenvolvimento do Comitê de Expansão, animando e insistindo junto aos Conselhos Centrais do Estado de São Paulo, para que aplicassem as deliberações e resoluções da Assembleia Pan-americana de 1966, tendo em vista o aprimoramento da formação espiritual e religiosa dos jovens e o rejuvenescimento da Sociedade de São Vicente de Paulo.

Preparou os jovens para a 1ª. Jornada da Juventude Vicentina do Estado de São Paulo, que se realizou nos dias 21 e 22 de janeiro de 1967 na sede dos Conselhos Central e Metropolitano, a Rua da Consolação, 374, São Paulo.

O Movimento de Juventude prosperou e se consolidou graças aos esforços e apelos, especialmente, do Confrade Paulo Sawaya junto aos presidentes dos Conselhos Centrais.

A lembrança nos traz saudades das inúmeras reuniões interprovinciais que participamos e que tivemos a felicidade de aprender e saborear as verdadeiras aulas e lições de vicentinismo e religião que o Confrade Paulo Sawaya nos ministrou.

Muito poderíamos, ainda, dizer sobre a influência do Confrade Paulo Sawaya na vida da Sociedade. Tive a honra de participar, durante muitos anos, da diretoria do Conselho Metropolitano. Tive o privilégio e a honra de ser companheiro de diretoria de quem teve longa e gloriosa carreira profissional. Foi um homem de fé inabalável. Combateu o bom combate. Edificou-nos com seus exemplos de amor ao próximo e de Caridade. Tinha como principal virtude a humildade. Apesar de tantos títulos que ostentava, entre todos, um dos quais mais lhe agradava era ser chamado de Confrade Sawaya!  
                                                                      
                                                                         Cfd. Mário Maríngulo

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JUSTIFICATIVA



 OZANAM E A SOCIEDADE DE SÃO VICENTE DE PAULO

     A edição deste pequeno volume dá-se em circunstâncias especiais  decorrentes da grande busca de informações sobre a vida de ANTÔNIO FREDERICO  OZANAM e sobre a Sociedade de São Vicente de Paulo, por ele fundada em 1833.
          Infelizmente rareiam em nosso país as obras que poderiam propiciar aos vicentinos as informações requeridas e que, sem dúvida, poderiam melhor esclarecer  a respeito do apostolado da caridade, pedra de toque da vida vicentina.
            Já existem algumas publicações a respeito de ambos os temas. À dedicação de LUIZ SUCUPIRA, vice-presidente do Conselho Superior do Brasil para a região Norte, devemos um opúsculo sobre “OZANAM e a Juventude”, bastante oportuno. Sendo difícil a distribuição de obras deste tipo, nem sempre os confrades as encontram acessíveis.
            Por outro lado, a intensificação dos cursos das “Escolas de Caridade Frederico Ozanam”, já incluída no Regulamento da Sociedade de São Vicente de Paulo do Brasil, conduziu a uma demanda cada vez maior das informações de que os vicentinos necessitam para ministrar seus cursos em tais Escolas. Daí a iniciativa do Conselho Metropolitano de São Paulo de publicar este volume, no qual houve oportunidade de reunir alguns trabalhos elaborados em ocasiões diversas, tanto sobre OZANAM como sobre a Sociedade de São Vicente de Paulo.
            Lamentavelmente o reduzido tempo disponível não permitiu se harmonizassem os textos escritos em ocasiões muito diferentes para atender a determinadas circunstâncias. Daí a falta da homogeneidade que se requereria para um trabalho destinado a exercer as funções como as de um livro texto, tanto para os Professores como para os alunos das Escolas supra referidas.
            Desde já solicito aos possíveis leitores muitas desculpas pelas falhas existentes, esperando de sua caridade e de seu amor à nossa querida Sociedade de São Vicente de Paulo, que apontem as lacunas que encontrarem para futura correção.

              São Paulo, 125º aniversário da morte de Antônio Frederico Ozanam,                                                       8 de setembro de 1978.
                       
                                                                            Ass. PAULO SAWAYA
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 Í N D I C E

                                                                                                                           ORDEM                             
          
            Apresentação e Justificativa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .  1                                                            

            OZANAM – O Apóstolo Intelectual. . . . . . . . . . . . . . . . .   2                                                                                                                                                                                                            
         OZANAM – O Apóstolo da Caridade. . . . . . . . . . . . . . . .    3                                                                                  
                                                                                                                             OZANAM -  Mestre e educador no seu tempo e no nosso. 4                                                  

         PROMOÇÃO DE OZANAM. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
                                                                                      

          
             A SOCIEDADE DE SÃO VICENTE DE PAULO E O 
         TESTEMUNHO DA FÉ ATRAVÉS DA CARIDADE.. . . . . . . . . .6                                                                                                  
                                                                                    
            UMA ESPIRITUALIDADE VIVA PARA OS 
         VICENTINOS DE HOJE. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7                                      

            BIBLIOGRAFIA PARA LEITURA ADICIONAL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .8                                                            

BIBLIOGRAFIA
Leituras adicionais

A) - SOCIEDADE DE SÃO VICENTE DE PAULO

AGUIAR, A.A.  1957 – Para que Vicentinos nas Paróquias? 68 pp. Rio de Janeiro.
     
CONS. SUP. BELGIQUE – Pás de Barrière pour la Charité.  183 pp. J.Dupuis ed., Bruxelles

FOUCAULT, A.  1933 – La Société de Saint-Vicent de Paul. Histoire de Cent Ans. 416 pp. Ed.     Spes, Paris.

J.M.J.V. – 1936 – Leituras Vicentinas por cum Confrade.  183 pp. Soc. Ed.Vicentina ed. Belo       Horizonte.

LA SOCIÉTÉ DE SAINT-VINCENT-DE-PAUL – 1951 – 109 pp. Conseil General de la Soc.      St. Vincent de Paul ed., Paris.

TRAINA, A. L. – 1976 – História da SSVP na América Latina. Conf. Reunião Plenária do           Conselho Superior do Brasil.

BOLETIM BASILEIRO DA SSVP. “Órgão do C.S. do Brasil da SSVP. Coleção iniciada em       outubro de 1878. Rio de Janeiro.

VOZ DE OZANAM – Ver. Bimensal. Órgão do Conselho Metropolitano de São Paulo.      Coleção iniciada em julho de 1965. São Paulo.


B) – SÃO VICENTE DE PAULO

DODIN, A. – 1976 – St. Vincent de Paul et la Charité. 188 pp. Paris.

MACHNIEWCZ, M. & BOBATO, X.P. – 1977 – O Homem da apa Preta. 94 pp. Ed. Gráfica       Vicentina Ltda., Curitiba.

REDIER, A. – São Paulo de Paulo, O Apóstolo da Caridade. 3ª. Ed., 201 pp. Ed. Vecchi. Rio de Janeiro.

RENAUDIN, P. – 1945 – São Vicente de Paulo. 207 pp. Atlântica Ed., Rio de Janeiro.

UM PRÉTRE DE LA MISSION – 1949 – Saint Vincent de Paul. 127 pp. Tolra ed., Paris.

VAESSEN, G. 1958 – São Vicente de Paulo. 132 pp. Ed. Mensageiro da Fé, Ltda., Salvador-Ba


C) – ANTONIO FREDERICO OZANAM

AMPÈRE, G.G. – 1953 – Biografia di A.Frederico Ozanam, 2ª.ed. Trad. Di Pietro Fanfani. 17     pp. “Vogliamoci Bene”, ed. Milano.

BAUNARD, L. – 1922 – Frédéric Ozanam d´aprés as correspondance, XX+ 616 pp. J. de Gigord, ed. Paris.

CAMUS, L. Y. – 1953 – Um Pionier et um Précurseur Frédéric Ozanam, VIII + 158 pp. Téqui     ed., Paris.

CARON, J. – 1971 – Lettes de Frédéric Ozanam. Premiére Annés à la Sorbonne. 655 pp. Celse    ed. Paris.

CARRANZA, A.R. – 1953 – Ozanam y sus contemporâneos. 2ª. Ed. 470 pp. Editorial        Guillermo Kraft Ltda., Buenos Aires.

CELIER. L. – 1956 – Frédéric Ozanam. XII+149 pp. P.Lethielleux ed., Paris.

CELIER, L., DUROSELLE, J.B.             ET OZANAM, D. – 1976 – Lettres de Frédéric Ozanam, 461   pp. Bloud & Gay, ed., Paris.

LE CENTENAIRE DE FRÉDÉRIC OZANAM – 413 pp. Soc.St.Vincent de Paul.ed. Paris.

CENTENAIRE DE LA MORT DE FRÉDÉRIC OZANAM. 172 PP. Conseil Gen.de la Soc. De St.Vincent de Paul, ed., Paris

COJAZZI, D. – 1942 – OZANAM, 96 pp. Editorial Difusion, Buenos Aires.

COLOMBO, P.C.J.M. – 1937 – Frederico Ozanam. 208 pp. Almanak Laemmert Ltda., ed. Rio    de Janeiro.

CRAWFORD, V.M. – 1947 – Frederic Ozanam. Catholic and Democrat. 144 pp. Catholic
            Social Guilde ed., Oxford.

GALOPIN, E. – 1933 – Essai de Bibliographie Chronologique sur Antoine Frédéric Ozanam.
            XVI+169 pp. Soc.Ed. Lês Belles Lettres, Paris.

GOMES, A.F. – 1944 – Frederico Ozanam. 183 pp. Casa Nun ´Alvares, ed. Porto.

GOYAU, G. – 1913 – Ozanam Collégien, Ozanam étudiant: son apostolat intellectuel. Em:  
            GOYAU, G. ET AL. OZANAM – livre du centenaire. 1: XV+481 pp. Beauchesne ed.,   
            Paris.

LABELLE, E. – 1939 – Frédéric Ozanam. Une ame de lumiére et de charité. VIII+188 pp. La   
            bonne Presse, Paris.

LACORDAIRE, H.D. – 1920 – Frédéric Ozanam. Em: Lacordaire, H.D. Notices et  
            Panégyriques.  8:359 pp. Lib.J.de Gigord, ed. Paris.

MÉJECAZE, F. – 1935 – L´Ame d´um Saint Laique Frédéric Ozanam. XII+273 pp.Bernard  
            Grasset ed. Paris.

O´CONNOR, E. – 1961 – The Secret of Frederick Ozanam. X+101 pp. Soc.St.Vincent de Paul.            Council of Ireland ed. Dublin.

O´MEARA, K. – 1892 – Frédéric Ozanam – Sa vie et ses oeuvres. XII+337 pp. Perrin & Cie.   
            Ed. Paris.

OZANAM – Cem páginas. Seleção. Trad. E Prefácio de Alberto F.Gomes. XXVII+101 pp. Liv.  
            Bertrand ed. Lisboa.

OZANAM, A.F. – 1952 – CARTAS. 1° vol. Trad. J.P. Duprat, 1ª. Ed. Brasileira – Cons.Sup.do
            Brasil e Metropolitano de S.Paulo. Ed. São Paulo. XXI+303 pp. São Paulo.

OZANAM, A.F. – 1953 – Cartas. 2° vol. Idem, ibidem

OZANAM, C.A. – 1889 – Vie de Frédéric Ozanam, 648 pp. Ch. Poussielgue ed., Paris.

SUCUPIRA, L. – 1976 – Ozanam e a Juventude, 53 pp. Cons.Metrop. do Ceará, ed., Fortaleza

VAUGELLE, M.E. – Ozanam. 205 pp. La bonne Presse ed. Paris.


D) DIVERSOS
                                                                                
BAETEMAN, J. – 1942 – Na Escola de São Vicente. Trad. De Vicente Jr. 187 pp. Tip. Baptista
            de Souza ed., Rio de Janeiro.

BULLA DE CANONIZAÇÃO DE S. VICENTE DE PAULO – 1937 – Trad. de Dokingues
            Carneiro. Ed. Vozes. Petrópolis.

GIELEN, C. – 1960 – La Charité Demeure. 268 pp. Ed. Universitares, Paris.

HERRERA, J. y PARDO, V. – 1950 – San Vicente de Paul. Biografia y Selecíon de Escritos.        XI+907 pp. 1 mapa. Bibl.autores Cristianos, ed. Madrid.

HENRI, J. – 1954 – Silhouettes et Esprit de Saint Vincent de Paul. 126 pp. Ed. “Luz”, Madrid

SOCIETÉ DE ST.VINCENT DE PAUL – Livre du Centenaire. 2: Lês Commémorations, 291
            pp. Imp. Auxiliaire, Paris.

TRICENTENAIRE de “Monsieur Vincent”. 128 pp. 10 t.des Jeunes de Paris. Ed. Paris.

URIBE, A.J. – 1908 – Sociedad Central de San Vicente de Paul de Bogotá, Cellebr, del 50° Aniv. IX + 303 pp. Imprensa Nacional, ed. Bogotá.

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