1º DOMNGO DO ADVENTO

Marcos 13,33 – 37

Ficai de sobreaviso, vigiai; porque não sabeis quando será o tempo. Será como um homem que, partindo de uma viagem, deixa a sua casa e delega sua autoridade aos seus servos, indicando o trabalho de cada um, e manda ao porteiro que vigie. Vigiai, pois, visto que não sabeis quando o senhor da casa voltará, se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã, para que vindo de repente, não vos encontre dormindo. O que vos digo, digo a todos: vigiai!

Comentário

Já é hora de acordar! Eis o apelo de Jesus no Evangelho que inaugura este tempo do Advento. Uma nova aurora surge no horizonte da humanidade, trazendo a esperança de um novo tempo de um mundo renovado pela força do Evangelho. Neste tempo de graça, somos convocados a sair do torpor de uma prática religiosa inócua, a acordar do sono dos nossos projetos pessoais vazios e egoístas. Despertos e vigilantes, somos convidados a abraçar o projeto de Deus que vem ao nosso encontro, na espera fecunda do Tempo do Advento, temos a chance de reanimarmos em nós e os compromissos assumidos em favor da construção do Reino, reavivando as forças adormecidas, para a construção de uma humanidade nova, livre das trevas do sofrimento, da marginalização e da morte.

Frei Sandro Roberto da Costa, OFM - Petrópolis/RJ

2º DOMINGO DO ADVENTO

Marcos 1,1 – 8

Conforme está escrito no Profeta Isaias: Eis que envio meu anjo diante de ti: Ele preparará teu caminho. Uma voz clama no deserto: Traçai o caminho do Senhor, aplainai suas veredas (Mt 3,1); Is 40,3). João Batista apareceu no deserto e pregava um batismo de conversão para a remissão dos pecados. E saiam para ir ter com ele toda a Judéia, toda Jerusalém, confessando os seus pecados. João andava vestido de pelo de carneiro e trazia um cinto de couro em volta dos rins, e alimentava-se de gafanhotos e mel Sivestre. Ele pôs-se a proclamar: “depois de mim vem outro mais poderoso do que eu, ante o qual não sou digno de me prostrar para desatar-lhe a correia do calçado. Eu vos batizei com água; ele, porém, vos batizará no Espírito Santo”.

Comentário

“Preparai o caminho do Senhor, aplainai as suas veredas”. Clamando pelo deserto, João Batista nos indica que procurar viver conforme a Boa-Nova que Jesus nos trouxe não se trata, simplesmente, de viver dentro de um sistema religioso com certas práticas que nos identificam com tais. Talvez ele queira nos indicar que a fé, antes de tudo é um percurso, uma caminhada, onde podemos encontrar momentos fáceis e difíceis, dúvidas e interrogações, avanços e retrocessos, entusiasmo e disposição, mas também cansaço e fadiga. No entanto, o mais importante é que nunca deixemos de caminhar, pois o caminho se faz caminhando. Boa caminhada de Advento e preparação!

Frei Diego Atalino de Melo

segunda-feira, 22 de maio de 2017

6. AMOR E BONDADE



AMOR   E  BONDADE





   Amor e Bondade


A professora disse aos alunos para falarem sobre bondade e amor.

Um garoto levantou-se e disse:

“Bem, se eu tivesse com fome e alguém me desse um pedaço de pão, isso seria bondade.”. “Mas se passasse geleia no pão, isso seria amor”.

A bondade proporciona uma casa, mas o amor proporciona um lar.

A bondade entrega o lanche num pacote bonito, mas o amor coloca um bilhete de incentivo dentro do pacote.

A bondade proporciona um aparelho de TV  ou um computador, mas o amor toma conta do controle remoto e insiste para que a criança o desligue no momento certo.

A bondade manda a criança para a cama na hora certa, mas o amor a cobre com carinho e lhe dá um beijo e um abraço de boa noite.

A bondade prepara uma refeição, mas o amor escolhe seus pratos prediletos e os serve à luz de velas.

A bondade escreve uma nota de agradecimento, mas o amor toma o cuidado de colocar uma brincadeira, uma fotografia ou um marcador de livros dentro do envelope.

A bondade mantém uma casa limpa e em ordem, mas o amor acrescenta um buquê de flores viçosas.

A bondade oferece um copo leite, mas o amor acrescenta um pouco de chocolate.

A bondade faz o que é decente, básico, delicado e necessário para que a vida flua de modo tranquilo, suave e agradável.

O amor dá um passo a mais para fazer com que a vida seja
verdadeiramente excitante, criativa e sugestiva!

O amor transforma as coisas simples em especiais!

Que sua vida seja repleta não só de bondade ...
mas de muito amor!

sexta-feira, 19 de maio de 2017

1. CARTA-CIRCULAR DE 30/06/2008 DA PRESIDÊNCIA GERAL




"A humildade atrai para a alma todas
as outras virtudes; e de pecador que se era,
pelo fato de se humilhar, torna-se agradável a Deus".


Paris, 30 de Junho de 2008 

CARTA-CIRCULAR AOS MEUS QUERIDOS CONSÓCIOS MEMBROS DAS CONFERÊNCIAS DE SÃO VICENTE DE PAULO NO MUNDO.

Queridos amigos e consócios: 

Quero deixar três temas à reflexão dos meus consócios no mundo, neste contato íntimo e fraterno que, tradicionalmente, tenho com todos vós em meados de cada ano. 

 "Quando Jesus bebeu o vinagre, disse: tudo está     
  cumprido, e inclinando a cabeça, entregou o espírito"
 (Evangelho de São João - 19, 30) 
A) Que queres de mim, Senhor? 

O Evangelho de São João que a Santa Igreja nos propõe para Sexta-feira Santa recorda-nos, um ano após outro, estas palavras, as últimas de Jesus, antes de exalar o Espírito. Verdadeiramente tudo estava cumprido. O Redentor tinha vindo com uma missão clara para habitar entre os homens: oferecer-nos o perdão de Deus dando a sua vida em troca. Tudo estava consumado após uns anos de ensinamentos sobre a forma como nós deveríamos se dirigir ao Pai e até como deveríamos entender a nossa relação com os outros homens, com a introdução do novo mandamento: "Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei" (São João - 13, 34). Apenas faltava entregar a Sua vida e entregou-a. 

O Filho de Deus, Aquele que se fez homem entre nós, tinha vindo ao mundo com uma missão e tinha-a cumprido. Isto é, o seu nascimento, vida pública, entrega a uma morte com suplício e posterior ressurreição, não foi fruto de uma casualidade. Não foi um acidente. Não. Foi a assunção plena, consciente e responsável de uma missão encomendada e aceite até às últimas consequências. Jesus vence também a tentação de se escapar, de evitar o suplício que Ele conhece de antemão, mas exclama dirigindo-se a Quem O havia enviado: "Não se faça a minha vontade, mas a Tua" (Lucas - 22, 42). É o último ato de uma vida plenamente entregue à missão que Lhe foi confiada. 

Não apenas Jesus, ainda que em menor medida e, fundamentalmente, sem podermos comparar com a grandeza da missão que o Redentor recebe, todos nós viemos ao mundo com uma missão encomendada, isto é, quando o Bom Deus contempla o nosso nascimento, o de cada um de nós, sonha para cada um uma vida, uma missão, um compromisso que deseja que descubramos e nos entreguemos a Ele para contribuir para melhorar o mundo e a própria História da Salvação. Depois segue, com interesse, a maneira como cada um de nós fazemos uso da liberdade que Ele próprio nos concedeu e observa, a maioria das vezes com tristeza, como correspondemos à semente que depositou na nossa alma. Melhor, como não correspondemos, correndo atrás de vãs ilusões que nos hão-de ir afastando daquela missão que nos foi confiada. 


Cada consócio, cada membro das Conferências de São Vicente, deve meditar profundamente nesta passagem do Evangelho de São João e perguntar-se qual é a sua missão, para poder dizer ao findar a vida: "tudo está cumprido". O que nos pede o Criador do mundo e como espera a resposta de cada um de nós, para a desenvolver. 

Porque não é algo que afete apenas os outros. É uma chamada que afeta também cada um de nós: a cada um dos membros das Conferências de São Vicente de Paulo e em que falhamos com a mesma intensidade que o resto dos homens. Chegar às Conferências, integrar-se nelas e passar anos no meio dos consócios participando da dor dos mais pobres, não é suficiente se não conseguirmos  descobrir o  que  é  que  o Bom Deus quer de cada um ao serviço das Conferências, que é o lugar no qual temos vindo caminhando atrás da nossa vocação de serviço aos mais pobres. 

Até o mais humilde de nós tem uma missão sonhada para ele pelo Bom Deus e que temos a obrigação de descobrir e entregar-nos a ela. 

Para cada um dos consócios, é necessário um processo de discernimento, de conhecimento íntimo dos seus valores mais profundos e também dos seus defeitos. Um processo de discernimento no qual temos de encontrar, sem dúvida, a ajuda dos que nos rodeiam quando os ouvimos, escutando atentamente, para que nos considerem mais ou menos úteis. Um processo de discernimento que encontraremos sempre no encontro com o Bom Deus através da oração individual e comunitária no seio da Conferência. 


Senhor, que queres de mim? Poderia e deveria ser a pergunta de todos nós. Que quer o Bom Deus de ti, querido amigo que lê estas linhas, no seu serviço, nas Conferências. No seu serviço, em concreto, na Conferência que serve. Senhor, que queres de mim? Pois é certo que descobrirá qual é essa missão particular e íntima que o Bom Deus lhe tem reservada e que será, sem dúvida alguma, diferente da que me estabelecerá a mim como meta ou à de qualquer outro dos restantes consócios. Senhor, que queres de mim? 


Esse processo de discernimento obriga-nos a estar permanentemente em guarda com o que acontece à nossa volta. Pois, o Bom Deus, não nos fala  diretamente, mas  fala  com  muita  frequência através dos que nos acompanham na vida ou, em algum momento, se cruzam nos nossos caminhos. Quem não se sentiu interpelado pelas palavras de um consócio, de um amigo, de um acontecimento fortuito sucedido ao nosso redor? 

A Conferência, cada uma delas no serviço que presta aos mais pobres e também aos  consócios  que a  compõem, não é mais do que a soma das vontades dos seus componentes. Isto é: o seu serviço está diretamente influenciado pela qualidade de cada um dos seus membros na sua entrega à vida comunitária da Conferência. Portanto, a vida de cada uma das nossas Conferências estará diretamente influenciada, na sua capacidade de serviço, pela nossa capacidade de ter escutado o que o Bom Deus quer de cada um e de como o ponhamos ao serviço da mesma, escutando então todos juntos o que o Espírito de Verdade, o Senhor que dá a Vida, espera de nós como comunidade cristã ao serviço dos pobres. ¹


Senhor, que queres de mim?² É uma pergunta fundamental para cada um dos consócios, que há-de iluminar a sua própria vida e enriquecer a da Conferência a que pertença. Aprofundando inclusivamente para além da individualidade, é uma pergunta que cada uma das Conferências no mundo deve fazer, cada vez que examinem o seu serviço a favor dos mais pobres. É verdade que estamos a fazer o que Deus quer que façamos e o que os pobres necessitam? 

Temos que imaginar, queridos consócios, o que cada um de nós será capaz de dar ao mundo se escutarmos a chamada, a descodificarmos, a aceitarmos e, em seguida, a aplicarmos à nossa maneira de viver. Temos de estar conscientes de que faremos um mundo melhor se cada um for capaz de responder afirmativamente à missão que Deus nos encomenda. Temos de estar conscientes de que, se não o fizermos assim, algo permanecerá sem enriquecer o mundo, devido ao nosso desleixo, e que ele será um pouco menos bom porque nós não fomos capazes ou não quisemos entregar-nos à missão que o Criador nos tinha confiado. 

São perguntas já feitas individual ou também coletivamente e que cada um de nós, vicentinos, devemos fazer-nos continuamente para poder dizer um dia imitando o Bom Deus: "tudo está cumprido". São perguntas que nos farão abandonar a complacência em que muitos vivemos e que nos aproximarão da autêntica inquietação em que devemos viver enquanto estamos, realmente, respondendo às expectativas que o Bom Deus, desde o princípio dos tempos, esperou de cada um de nós. 

Há uma pergunta que a todos nos parecerá incrível, inconcebível e próxima do irreverente. Mas permitam-me fazê-la para terminar a reflexão desta primeira parte da minha Carta. Que seria de todos e de cada um de nós, de toda a Humanidade, se Jesus, fazendo uso da Sua liberdade, tivesse atraiçoado a vontade do Seu Pai? Se jamais tivesse podido dizer "tudo está cumprido"? Que esperança teríamos hoje? 

Não terá a mesma repercussão. Evidentemente. Mas para a continuidade da História da Salvação, Deus quer contar com as pequenas dádivas com que ilumina cada um dos que nascem. Cada um dos baptizados. Que deixaremos de trazer ao mundo se não nos fizermos a pergunta: Senhor, que queres de mim? Se depois fugimos do cálice que nos confiaram. É uma pergunta que todos devemos fazer-nos, permanentemente, ao longo da nossa vida. 

20. ORAÇÃO PELOS POVOS SUBDESENVOLVIDOS







ORAÇÃO PELOS POVOS SUBDESENVOLVIDOS



Senhor,
estavam em volta de Ti cinco mil homens,
cansados, esfomeados,
e lhes deste pão e peixe.

Senhor,
há agora em torno de Ti mais de um bilhão 
de esfomeados e maltrapilhos,
e não sabemos como socorrê-los! 
Nosso próximo mais próximo
é toda a humanidade sofredora...
O ocidente acostumou-se a viver como senhor.

É preciso que haja vilões e
que haja nobres,
que haja operários e que haja patrões,
que haja subalimentados e pessoas fartas.

Senhor,
eu rezo, angustiado, por esses infelizes,
plantadores de café e cultivadores de arroz, 
pelos que trabalham em minas 
de cobre e de ferro,
pelos plantadores anônimos que 
carregam nas costas,
pelos estivadores hirsutos dos grandes portos.

Rezo, também, por aqueles que 
não exploramos diretamente,
pelos que morrem de fome
ao lado dos animais sagrados,
pelos que ainda não inventaram o arado,
pelos que cultivam nas encostas vertiginosas
e pelos que estão imersos
nas florestas alagadas...
Divertimo-nos com o seu folclore
e não temos dó de sua fome.

Senhor, 
fazei que não amemos
somente com palavras!
Eu, Senhor, 
que fiz eu para que eles 
se tornem mais homens?

Senhor!
Despertai a consciência dos que
se julgam civilizados.
               
                                                  Pe. J. Lebret




terça-feira, 16 de maio de 2017

6. PEREGRINA NA FÉ E PERFEITA DISCÍPULA: MARIA EM LUCAS





(clicar no centro)


PEREGRINA NA FÉ E PERFEITA DISCÍPULA:

MARIA EM LUCAS

Lucas é um habilidoso artesão da Palavra de Deus. Costura o seu evangelho sobre o tecido do evangelho de Marcos. Junta-o com muitos retalhos de pregações de Jesus, como o sermão da montanha (Lc 6). Acrescenta várias parábolas, especialmente sobre a misericórdia de Deus (Lc 15). Põe em destaque a preferência de Deus pelos pobres e a necessidade de cultivar a justiça. Exalta a alegria como o grande sinal da presença do Reino de Deus. Faz o elo entre as esperanças judaicas e a salvação cristã, estendida a todos os povos. Mostra a bondade Infinita do Pai, na ação de Jesus, animada pelo Espírito. E, especialmente, pinta os traços da figura de Maria. 

Normalmente, os católicos dizem que Maria é importante porque foi a mãe de Jesus. Lucas mostra que não está ai a sua principal qualidade. Vamos entrar no evangelho de Lucas, passear por ele, olhar as costuras e os detalhes, percebendo o que diz sobre Maria.
  





1. MARIA, A DISCÍPULA DO SENHOR


Jesus é o Messias e o Salvador (Lc 2,11). Inaugura o Reino de Deus, novo tempo de felicidade e alegria para todos, especialmente para os pobres (Mc 1,15; Lc 4,18, 5,20s; 8,1). Fala e mostra como Deus Pai é tão bom, ao acolher e perdoar os pecadores (Lc 7,36-49). Mas Jesus não realiza sozinho essa missão. Desde o começo, chama algumas pessoas para segui-lo mais de perto. Convoca Simão e Levi (Lc 5,11.27), que renunciam a tudo para ir com ele. Depois de rezar muito, Jesus escolhe os doze (Lc 6,12-16), que estão mais perto dele, dia e noite, aprendendo a viver de outro jeito a relação com Deus e com os outros. Além dos doze apóstolos, algumas mulheres acompanham a Jesus (Lc 8,2s). E há ainda um grupo de 72 discípulos (Lc 10,1). A todos Jesus envia em missão (Lc 9,1-6; Lc 10,1-11), para que testemunhem a misericórdia de Deus e anunciem o seu Reino.


Jesus acolhe pessoas muito diferentes. Oferece a todas elas a possibilidade de se tornar seus discípulos, aprendizes na arte de viver o amor de Deus. Não importa a vida passada, a fama, a riqueza ou a instrução. Pode ser um pescador, um cobrador de imposto ou mesmo uma prostituta. Na explicação da parábola da terra e das sementes, Jesus deixa claro que o seu seguidor necessita desenvolver algumas atitudes básicas: 
                     
Os que caíram em terra boa são aqueles que, ouvindo com um coração 
bom e generoso, conservam a Palavra e dão fruto pela perseverança
(Lc 8,15).

Assim, três palavras-chave resumem a condição de ser discípulo de Jesus: ouvir, guardar, frutificar. Com esse molde nas mãos, Lucas vai pintar os traços da figura de Maria. Mostra que ela tem exatamente as qualidades que caracterizam o seguidor de Jesus. Maria ouve a palavra de Deus com fé, guarda no coração e a põe em prática. Vejamos.




1.1. MARIA ACOLHE A PROPOSTA DE DEUS (LC 1.26-38)

Você Já deve ter lido muitas vezes a cena da anunciação (Lc 1,26-38). Ela se assemelha a outras cenas de anúncio de nascimento na Bíblia, como Abraão (Gn 17,19-21) e à mãe de Sansão (Jz 13,1-6). Está construída em paralelo com o anúncio do nascimento de João Batista ao pai Zacarias (Lc 1,5-20). Em todos os relatos citados, temos um gênero literário com os mesmos elementos. Compare-os. Sempre Deus toma a iniciativa. Anuncia que virá uma criança importante, para contribuir no processo de libertação e salvação do povo. Às vezes, há obstáculos a serem superados. A pessoa questiona e Deus lhe oferece um sinal. Mas o anúncio a Maria, em Lucas, tem algo original. Não só prepara o nascimento de Jesus, mas também mostra a vocação de Maria e sua resposta generosa.

O enviado de Deus começa com uma saudação simples: "Alegra-te, cheia de graça" (Lc 1,28). Convida Maria a participar da alegria do novo tempo, que começa com a vinda de Jesus (Lc 1,14.44.58 e 2,10). Lucas destaca a alegria como um sinal próprio de Jesus e de seus seguidores (Lc 10,17.21; 19,37; 24,52). Maria também é chamada a se alegrar.

Maria recebe um nome especial, que nenhuma outra pessoa tem na Bíblia: "cheia de graça", ou "agraciada" (Lc 1,28). A seguir, diz-se que "o Senhor está contigo". Na Sagrada Escritura, quando a pessoa tem uma missão importante e difícil, recebe de Deus a promessa que não estará sozinha, pois Ele vai lhe dar força para realizá-la. Veja, por exemplo, na vocação de Isaac (Gn 26,3.24), de Jacó (Gn 28,15), de Moisés (Ex 3,11s e 4,12), de Gedeão (Jz 6,12) e de Jeremias (Jr 1 ,19). Ao dizer: "o Senhor está contigo", pede-se que a pessoa não tenha medo, confie em Deus e se comprometa. Assim também acontece com Maria.

Portanto, as expressões iniciais colocadas nos lábios do enviado de Deus estão repletas de sentido e nos falam de Maria e de sua missão:
  • Alegra-te: Maria, venha participar da alegria do tempo do Messias, que está chegando! 
  • O Senhor está contigo: Você terá uma missão exigente, mas o Senhor estará do seu lado, dando-lhe força para realizar o que ele lhe pede.
De acordo com o gênero literário do anúncio, no qual aparece uma dificuldade para realizar a promessa de Deus, Maria coloca uma objeção: "Como acontecerá isso, se eu não conheço homem?" (v. 34). A expressão bíblica "conhecer" quer dizer aqui "ter um relacionamento sexual". A frase expressa uma situação existencial, não um propósito. Ou seja, não se pode afirmar, com base no texto de Lucas, que Maria teria feito um voto de castidade antes de receber a proposta de Deus para ser mãe de Jesus. Tal ideia não aparece no evangelho de Lucas. Ela surgirá mais tarde, no apócrifo proto-evangelho de Tiago, escrito provavelmente no final do século 11. E será defendida por muitas pessoas, em épocas posteriores, como Gregório de Nissa, Agostinho e Jerônimo.

Diante da proposta de Deus, Maria responde prontamente. O seu "sim" ecoa forte e sem dúvidas, repleto de generosidade. Disponível a Deus, Maria une a liberdade com a vontade: "Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra" (cf. Lc 1,37). Essa entrega do coração a Deus tem um nome muito simples: fé. Significa arriscar-se e jogar-se nas mãos do Senhor com confiança. Na visita a Isabel, esta lhe diz:

§                       Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido (Lc 1,45).

Maria não somente ouviu, mas escutou a palavra, acolheu-a no coração. Abriu seu espaço interior, deixou Deus entrar. Saiu de si e investiu sua vida num grande projeto, a que se sentiu chamada. Lucas nos apresenta Maria como a primeira discípula cristã. Com a anunciação, ela inicia um longo caminho de peregrinação na fé, acolhendo o apelo de Deus. Aceita a proposta do Senhor com o coração aberto, num grande gesto de generosidade e de fé.

Como Maria, nós também recebemos um apelo divino. Temos na lembrança alguma ocasião na vida na qual Deus nos tocou de forma especial. Um retiro, um encontro, conhecer uma pessoa, conseguir uma vitória almejada, superar o sofrimento. Situações na qual sentimos que Deus nos comunicou algo novo, original, forte, que mudou para melhor nosso caminho de vida. A anunciação a Maria nos lembra de que somos também agraciados por Deus, que ele está conosco, que nos chama a uma missão, e que sua presença produz alegria em nós. A vocação de Maria é como um espelho para a vocação cristã. Olhando para ela, a gente se vê melhor, enquanto discípulo e seguidor de Jesus.



   ORAÇÃO

     Senhor, na tua presença me alegro, como uma criança diante do              brinquedo  desejado. E tu brincas comigo, e eu contigo.
     Em ti me alegro, pois tu és a grande Boa-Notícia. 
     Obrigado por receber tantos dons. 
     Sinto muitos sinais do teu amor e da tua misericórdia na minha vida. 
     Assim, venho, agradecido me alegrar na tua presença. 
     E, como Maria, digo que podes contar comigo.
     Quero ajudar a realizar o teu sonho sobre a humanidade. 
     Eis-me aqui, como teu servo. 
     Eu quero que se faça em mim segundo a tua vontade.
     Tu estás comigo, teu Espírito repousa sobre mim. Tu estás em mim.
     Ouço a tua voz: Alegra-te, agraciado, o Senhor está contigo!
     Eis-me aqui!

1.2. Maria guarda a Palavra no coração (Lc 2.19.51)

Por duas vezes Lucas diz que Maria guarda no coração os acontecimentos e procura descobrir o seu sentido. Na primeira vez, depois do nascimento de Jesus (Lc 2,19). Ela está contente e surpresa, como toda jovem mãe. Deve ter olhado seu bebê e o amamentado com carinho. O menino Jesus está envolvido em panos e deitado no local onde o gado se alimenta. Então eles recebem a visita dos pastores. Quanta coisa para pensar, para meditar, para descobrir o sentido. O que vai ser desse menino, como educá-lo bem, de que maneira amá-lo ...

Na segunda vez, o menino está crescido. É adolescente, um rapazinho com seus doze anos. Curioso, cheio de iniciativa, ousado, Jesus se encontra no templo, conversando com os doutores. Ouve e questiona. Já antecipa, com esse gesto, o que vai fazer bem mais tarde. Diz uma frase que Maria e José não compreendem: "Não sabíeis que eu devo estar naquilo que é de meu Pai"? (cf. Lc 2,46-49). Maria, mesmo sem entender, guarda no coração. Pensa, reflete, medita, procura o sentido. Conserva a lembrança dos fatos. Faz memória (Lc 2,51).

Quando o evangelista põe duas vezes essa mesma atitude, no começo e no fim da "vida familiar" de Jesus, quer dizer que era algo constante em Maria. Ela cultivava um hábito, um jeito de ser. Maria vive um dos traços marcantes da espiritualidade do povo da Bíblia: a memória, a recordação. A Escritura judaica continuamente apela para que, recordando o passado, tenhamos gravado na mente e no coração como Deus fez maravilhas pelo seu povo, escolheu-o e deu-lhe uma missão. (Veja, por exemplo, Dt 4,32-40.)

Para ser fiel a Deus e somente a ele servir, o povo deve sempre recordar que foi libertado do Egito, da casa da escravidão (Dt 6,12s), que caminhou muitos anos no deserto, passando enormes dificuldades e sendo educado por Deus (Dt 8,2-5). Que o Senhor fez com ele uma aliança, válida no passado e no presente (Dt 5,1 -4). A infidelidade e o pecado começam com o esquecimento. Apaga-se da memória da mente e da memória do coração como Deus foi misericordioso com o seu povo. Os profetas trazem de volta a consciência perdida, denunciam o esquecimento, resgatam a atualidade da aliança. Por isso, clamam com tanta insistência: "Ouvi isto" (Is 48,1), "lembrai-vos"! (Is 46,9). Recordar não é nostalgia, volta saudosa ao passado. Trata-se de recordar para acordar, tomar consciência, voltar-se para o Deus da Vida.

Diferentemente de outros povos, que faziam do culto religioso   predominantemente um resgate simbólico do ciclo da natureza, o povo de Israel cultua a Deus recordando-se da sua ação criadora e libertadora e renovando o compromisso com a aliança. Muitos salmos são orações de memória, atualizadas para o presente em forma de súplica, louvor ou ação de graças (Veja Salmos 44, 48, 78, 80, 85, 95, 98, 105, 135, 136). A recordação tem um efeito estimulador. No momento do sofrimento, da perseguição e do fracasso, mostra que a situação atual não é definitiva. Da mesma forma como Deus atuou no passado, criando a partir do caos e libertando desde a escravidão, irá conduzir seu povo para um momento novo (cf. Is 43,5-9).

Ao desvendar a personalidade espiritual de Maria como discípula do Senhor, que ouve e medita os acontecimentos, Lucas está tocando numa característica básica da espiritualidade bíblica. Mais ainda. Em leitura contemporânea, diríamos que esse traço de Maria diz respeito a todo o ser humano maduro e equilibrado.

Vivemos numa sociedade onde as coisas acontecem com muita rapidez. O ritmo de vida da cidade é acelerado. Levantar cedo, comer depressa, enfrentar o tráfego pesado, trabalhar e estudar, e voltar tarde para casa faz parte da rotina de muitas pessoas. E nem o lar é lugar de sossego. Estamos cercados de sons do rádio e do CD, e do bombardeio de imagens da televisão. Com toda essa agitação e barulho, temos muita dificuldade em parar e escutar a voz interior. Então os acontecimentos passam por nós, mas não entram. São como água de tempestade sobre a terra, que cria enxurrada e erosão, mas não penetra.

Somos parte de um mundo com pouca memória. Fatos Importantes, ocorridos há um ou dois anos, desaparecem da nossa lembrança, como se fossem de um passado remoto. Some-se a isto a sobrecarga de informações, que não temos tempo de assimilar. Vivemos um fenômeno pessoal e social, intimamente relacionados. Somos uma geração que cada vez menos alimenta a consciência histórica. A mídia cria fatos novos, que facilmente desaparecem de cena, dando lugar a outros. Não há tempo para deter-se, refletir, pensar, elaborar. A sociedade moderna gera jovens e adultos que vivem como um barco sem rumo, ao sabor do vento e da maré, pois não assumem sua história individual e coletiva. São conduzidos por outros e não encontram a ocasião de tomar nas mãos o leme de sua existência. Simplesmente não têm tempo para pensar nem se dispõem a criá-lo.



Ora, as pessoas e os povos somente nutrem a consciência histórica quando refletem sobre os fatos, conferindo-lhes sentido e estabelecendo relação entre eles. E uma existência equilibrada e saudável exige a criação de um espaço interior, no qual a pessoa vai conectando os acontecimentos e procurando o seu sentido. Ela percebe, então, que sua vida não é um mero suceder de fatos, de experiências prazerosas e tristes, de vitórias e fracassos. Toma consciência dos processos, das metas a estabelecer. Avalia os passos dados. Saboreia as experiências afetivas e amorosas significativas, faz uma "memória do coração", que a alimenta nos momentos difíceis. Com isso, pode manter vínculos afetivos duradouros e profundos. Pois o amor necessita de memória para não se perder diante das crises.

À medida que a pessoa exercita essa atitude de "guardar no coração" e "buscar sentido para os fatos", transforma-se num aprendiz, num discípulo. Quando acontece alguma experiência forte, ela vai além do nível elementar, da satisfação ou dor. Procura descobrir o que aprendeu com a experiência. Cada novo desafio se transforma em aprendizagem existencial. Então ela não envelhece. Mesmo que tenha idade avançada, está sempre aprendendo com a vida. Vai conquistando a sabedoria, que é o conhecimento com sabor e sentido, o saber que alimenta e unifica a existência.

O homem e a mulher espiritualizados não se caracterizam pela quantidade de orações e devoções exteriores que praticam. Antes, são seres humanos capazes de interpretar sua história à luz de Deus e aprender com ela. Percebem os sinais de sua presença na existência pessoal e social. Cultivam a interioridade como capacidade de dar sentido e unidade às múltiplas experiências da vida. Depois do ruído das muitas palavras, entram no silêncio de quem reverencia o mistério de Deus. Nele repousam e dele buscam forças. Pois a meditação avançada alcança um estágio no qual escasseiam as palavras e os raciocínios. É entrega e presença. Recordação orante, silêncio, ação de graças, adoração e louvor.

Se compreendermos assim o cultivo da meditação como uma dimensão humana indispensável, como o caminho para o auto equilíbrio e ser aprendiz da existência, descobriremos também um novo sentido para a relação entre ação e contemplação, pastoral e espiritualidade. De um lado, colocamo-nos à disposição do projeto de Deus, realizando ações eficazes. De outro lado, precisamos recolher-nos e silenciar. Quanto mais intensa e forte nossa missão, mais necessitamos "mergulhar em Deus". Como diz o poema do compositor brasileiro Beto Guedes: "A abelha fazendo o mel, vale o tempo que não voou".

Maria nos ensina a cultivar a interioridade, a meditar. Guardar as coisas no coração, buscar sentido nos acontecimentos e preparar-se para o que vai acontecer. Ela se parece com uma abelha que recolhe o néctar de Deus na vida e o transforma em mel. Colhe, recolhe, elabora e oferece doçura.

Oração

    Senhor dá-me memória!
     Tantas vezes tu me visitaste, em quantos momentos fortes senti              tua presença!
     Como cores vivas de um dia de primavera, ou o cheiro único da               pessoa amada. Mas me esqueci. As cores vivas desbotaram, o suave       o misturou a outros. Perdi a memória? Ou ela está escondida num            canto qualquer do armário de meu quarto?
     Senhor dá-me a memória da fé.
     Para que os acontecimentos não sejam somente fatos, mas sinais           do teu amor. Cria em mim, Senhor, a atitude de Maria, de meditar e         guardar no coração.
     Quero crescer no teu amor e manter-me sempre encantado com a       
     vida. Amém.
  


1.3. Maria. a discípula que dá bons frutos (Lc 1.42·45)

Lucas nos conta que, logo depois da anunciação, Maria sai às pressas para visitar sua parenta Isabel. Parte de Nazaré, na Galileia, para outra região, a Judeia, distante dali no mínimo 50 quilômetros. Leia o relato de Lc 1,39-45, que tem muitos elementos simbólicos.

Talvez Lucas não tivesse clara essa intenção, mas o povo simples, ao ler o texto da visitação, descobre que Maria é missionária.Transbordando da graça de Deus, não quer retê-la para si. Vai partilhar com sua parenta, de idade avançada, que está grávida e necessita de cuidados. Discretamente, ela já leva Jesus para os outros. Isabel sente logo o resultado. O feto se movimenta dentro dela. Quando se saúdam e se abraçam, o Espírito Santo inunda o ambiente e elas transbordam de alegria. Maria está cheia de Deus. Isabel também. Nessas duas mulheres grávidas se encontram, em semente, seus filhos João Batista e Jesus. Já estão, lado a lado, o precursor e o Messias, o que prepara e o que realiza a Boa-Nova, o profeta de Deus e o Filho de Deus. Que lindo encontro! Isabel proclama:

Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! 
(Lc 1 ,42). 

O que significa a frase: "Bendita és tu entre as mulheres"? Lucas coloca na boca de Isabel um louvor que faz eco de duas passagens das Escrituras judaicas, nas quais se reconhece a participação de mulheres especiais na luta e na vitória do povo de Deus. Em Juízes 5,24, bendiz-se a Héber, por participar da luta contra a opressão dos cananeus, golpeando o homem Sísara. Em Judite 13,18-20 se louva Judite, que com imensa coragem e inteligente estratégia, eliminou o general do exército da Assíria, Holofernes. Maria é colocada, assim, dentro da história das mulheres fortes do povo de Israel, que contribuíram para mudar a sorte da sua nação.


"Bendita" significa um louvor à pessoa e reconhecimento que ela é destinatária da bênção e do favor de Deus. Reforça o sentido das expressões "cheia de graça" ou agraciada (Lc 1,28) e "encontraste graça junto a Deus" (Lc 1,30), do relato da anunciação. "Bendita entre as mulheres" quer dizer: a abençoada por excelência. Mas isso não significa um mero privilégio, e, sim, graça que possibilita uma resposta mais intensa ao apelo de Deus. Em Maria se encontram a gratuidade do amor superabundante de Deus e a entrega generosa do ser humano, ou seja, a graça e a fé.

"Bendito é o fruto do teu ventre" significa que a fé torna Maria fértil de corpo e alma. Por causa de sua adesão a Deus, do seu compromisso com o projeto divino, Maria realiza a bênção de fertilidade prometida ao povo de Deus no livro do Deuteronômio:

Se obedeceres fielmente à voz do Senhor teu Deus, observando e praticando todos os mandamentos que hoje te prescrevo, o Senhor teu Deus te elevará acima de todos os povos da terra. Se obedeceres à voz do Senhor teu Deus, virão sobre ti e te seguirão todas as bênçãos: Bendito serás na cidade e bendito no campo. Bendito será o fruto do teu ventre, o fruto da terra, a cria dos animais, do gado e das ovelhas. Bendito serás ao entrar e bendito ao sair. O Senhor fará a bênção estar contigo nos celeiros e em todo o trabalho de tuas mãos. E o Senhor teu Deus te abençoará na terra que te dá (Dt 28,1-4.6.8).

Conhecendo a fé de Maria, semeada, cultivada e amadurecida em belos frutos, podemos entender as reações e expressões de Jesus, narradas por Lucas, nos relatos da vida pública de Jesus. Longe de ser uma ofensa à mãe, as palavras de Jesus revelam o segredo de Maria. Seu principal mérito está em ser uma pessoa de fé, que acolhe a palavra de Deus e a concretiza. Ser mãe é uma consequência de sua fé e uma forma de ela realizar a vontade de Deus. Quando os familiares de Jesus vão procurá-lo e não conseguem alcançá-lo por causa da multidão, ele diz: 



Minha mãe e meus irmãos são estes aqui que ouvem a Palavra de 
Deus e a põem em prática (Lc 8,21).

Outra vez, Jesus está falando à multidão, quando uma mulher grita repentinamente: "Feliz o ventre que te trouxe e os seios que te amamentaram". As imagens de "ventre e seios" aludem claramente à maternidade biológica. Dentro da cultura judaica da época, a mãe deveria receber os méritos de ter um filho tão importante. A frase de Jesus, na visão de Lucas, rompe o esquema de privilégio familiar e destaca novamente que a importância de Maria vem, em primeiro lugar, de sua fé ativa, ao escutar a palavra de Jesus e a transformá-la em gesto.

Jesus respondeu: "Felizes, sobretudo, são os que ouvem a Palavra de
Deus e a põem em prática"
(Lc 11 ,27s).


Alguns séculos depois, santo Agostinho  dirá que  Maria concebeu Jesus 
primeiro no coração e depois no corpo.  Antes  de ser a sua mãe carnal, 

acolheu-o pela fé. Sem a fé, de nada adiantaria ela ter-se tornado a mãe do Senhor. Agostinho captou bem a mensagem do evangelista.


Resumidamente, qual é a principal característica de Maria, segundo Lucas? Ela encarna com fé a Palavra de Deus. Guarda-a no coração e a coloca em prática, dando muitos frutos. Esses também são os traços básicos de todo o discípulo de Jesus.Pela sua fé, Maria é o exemplo do cristão seguidor, e aprendiz do Senhor. Em Maria, a fé se traduz em ser mãe, educadora e discípula de Jesus. Mas sua importância não reside, em primeiro lugar, na maternidade. E, sim, na fé, compromisso radical e inteiro a Deus e ao seu projeto.

ORAÇÃO

        Obrigado, Senhor, pois nos deste Maria como tua perfeita discípula. Ensina-nos a escolher a tua palavra, na fé. Ajuda-nos a cultivar a interioridade. Faze de nós “realizadores da Palavra”. Multiplica em nós as sementes do Bem e os frutos do teu Reino. Amém.

                                                       Pe. Afonso Murad


(Extraído do livro Maria, Toda de Deus e tão Humana, pag. 33-41).

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segunda-feira, 8 de maio de 2017

5. MARIA DE TODAS(OS) NÓS



 Maria de todas(os) nós

Quando pousares teus olhos sobre o mundo, teu coração poderá sentir um pouquinho do que vai dentro de nós. 

Foste o que fomos, somos e seremos; estás presente na pureza de cada menina, nos sonhos de cada jovem, no amor de cada mãe e no silêncio de cada anciã. 



Estás continuamente a ouvir gritos de dor, cantos de amor, sonhos sufocados e risos forçados. 


No dia-a-dia de muitas existe a dor, a ingratidão, o machismo, a mão pesada e cruel, esmagando a doçura de quem só vive para servir; o pranto escondido, a ruga precoce, a mão calejada, que nunca se ausentou da casa, da roupa lavada, da comida na mesa e do cuidado dos seus. 

Um pouco de ti se esconde em outras Marias, em tantas Teresas, Anas e Luzias. 



Na irmã de caridade, na mãe de família, na mulher objeto, na mulher boia-fria, que luta por seus direitos e pelo bem de uma sociedade que a colocou em segundo plano. 


No fundo de uma aparente fraqueza, oculta-se uma força imensa, que só pode vir de Deus, que é a fortaleza dos fracos. 

Que cada mulher saiba ser o que tu foste: livre sem ser libertina, feminina sem ser feminista, forte e firme sem ser ditadora; que lute pelos mesmos direitos sem querer ser igual. 



Teu canto é um grito de libertação por todas as mulheres que já passaram por este mundo: pela mulher de teu tempo que nada valia; 

pela mulher medieval, que por poucas coisas foi queimada como bruxa; 

pela escrava negra, cujo filho foi vendido; pela mulher de nosso tempo, que ainda não se libertou; pela jovem viciada, prostituída e desorientada; pela mãe solteira e por todas as mulheres de todos os tempos, que, apesar de marginalizadas, continuam dando à sociedade um toque de graça e beleza. 

Como vês, na história de cada uma há um traço de discriminação e preconceito. E contigo não foi diferente. 

Todavia, soubeste ser livre. Não com uma liberdade ilusória, que consiste apenas em fazer tudo que se quer, mas em fazer a vontade de Deus. 



Foste feliz porque acreditaste, e no teu sim colocaste toda a tua vida, 

e foi ele quem te libertou. 



Queremos tua fé, queremos ser como tu. Independente do que somos, queremos tua presença de mãe, porque és mulher como nós e és Maria de todas nós. 
                                                                     Sílvia Aparecida Caetano Alves      
                                                                    
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Extraído do Mensageiro do Coração de Jesus de maio de 1990.