Apresentação
“Por
vezes, quando reflito sobre
as tremendas consequências que
resultam das pequenas coisas
fico tentado a pensar que não
há pequenas coisas.”
(Bruce Barton)
“A questão que
divide os homens de nossos dias não é mais uma questão de formas políticas, é uma
questão social, consistindo em saber-se qual levará a melhor, se o espírito do
egoísmo ou o do sacrifício; se a sociedade não será apenas uma exploração, em
larga escala, em proveito dos mais fortes, ou uma consagração de cada um em
benefício de todos, e principalmente, para a proteção dos mais fracos. Existem
muitos homens que têm muito e outros que não têm o suficiente ou que nada têm.
Entre estas duas classes de homens, uma luta se prepara; e esta luta deverá ser
terrível: de um lado a posse do ouro e do outro, a posse do desespero. Entre
estes dois inimigos armados, é preciso que nos precipitemos, senão para
impedir, pelo menos para diminuir o choque. Eis a utilidade possível da
Sociedade de São Vicente de Paulo”
Frederico Ozanam, 13/12/1836
Inicialmente,
nós gostaríamos de trocar um pouco de infor- mações sobre os Princípios da Sociedade de São Vicente de Paulo e tirar um pouco de lição daquilo que ela
representa para a vivência da nossa vocação vicentina.
Mas
afinal, por quê conhecer os Princípios da SSVP:
- para
conhecer a Regra Francesa?
- para
entender o que se passava na cabeça de Ozanam?
- para
aumentar a nossa cultura?
A
importância de conhecer os Princípios da SSVP é compreen-der o fato de que ser
vicentino é uma vocação – um chamado de Deus – para uma vida missionária.
Portando,
a Espiritualidade e Vocação Vicentina tem por obje-tivo entender a essência de
ser vicentino.
Neste
tema, nós vamos falar sobre o verdadeiro significado da nossa vocação
vicentina. Nós vamos ver que:
·
A vocação vicentina é feita de espírito e ação
·
Nós somos uma associação
profundamente fraternal
·
Somos uma família
de leigos cristãos
·
Somos uma Sociedade
de espírito jovem
·
Somos uma Sociedade
Universal
·
Somos uma “unidade
na diversidade”
·
Somos uma Sociedade
pobre
·
Somos uma Sociedade
feita de membros com espírito de pobreza
·
Somos uma Sociedade modesta e eficiente
· Somos uma Sociedade preocupada com a Justiça Social
· Somos uma “rede universal de caridade” reunida em torno de Ozanam”
●●●●●
1.
A VOCAÇÃO VICENTINA É FEITA DE ESPÍRITO E AÇÃO
A
vocação vicentina é um resultado do
espírito primitivo e da ação vicentina no dia-a-dia. É esta vocação que faz a
SSVP viver durante tantos anos.
VOCAÇÃO
= “Chamamento
da consciência esclarecida pela graça do Espírito Santo”.
É também esta vocação que nos faz iguais entre nós e
nos faz sentir “especiais” por servimos diretamente o Senhor na pessoa do
Pobre.
Os vicentinos compartilham entre si o mesmo espírito primitivo
e se sentem “especiais” por terem recebido
a graça de conhecer o
Senhor pelo Pobre.
De
fato, o espírito da SSVP é o mesmo em qualquer lugar e o mesmo desde o começo
com Ozanam e seus companheiros.
VOCAÇÃO
VICENTINA: Elementos básicos
1. Chamados
à SANTIDADE
2. Chamados
à SOLIDARIEDADE
3. Chamados
à FRATERNIDADE
A
ação vicentina tem uma parte que é voltada para o Pobre e outra para os seus
membros : uma é tão importante quanto a outra.
AÇÃO
VICENTINA
·
Dar
dignidade ao Pobre através do contato pessoal
·
Criar
um grupo de amigos unidos entre si pelo amor à vocação vicentina
“Viver
em tal contato com os que sofrem, viver unidos em comum e com tal espírito, é a
própria essência, o conteúdo original da SSVP".
(Frederico Ozanam)
Boa aula.
Quer saber mais, leia abaixo.
1.
A VOCAÇÃO VICENTINA, CORAÇÃO DA UNIDADE DA SOCIEDADE DE SÃO VICENTE DE PAULO
A
palavra “vocação”, é empregada diversas vezes por Paulo VI, dirigindo-se à
Sociedade de São Vicente de Paulo, exprime claramente a significação profunda da
unidade, sentida de modo tão concreto por todos os seus membros.
UMA
VOCAÇÃO, UM APELO: O SERVIÇO DIRETO AOS POBRES
Uma
vocação, no sentido lato, é um chamamento da consciência esclarecida pela graça
do Espírito Santo. Ter querido um dia experimentar vir a ser “vicentino”, é
traduzir em atos uma consciência de nossa fé de cristão: isto não é somente o
chamamento absolutamente universal do Cristo ao espírito da caridade, é uma
nota particular desse apelo: o desejo íntimo de participar pessoal e
diretamente do serviço aos pobres por um contato de pessoa a pessoa, pelo dom
pessoal do seu coração e de sua amizade e de fazê-lo numa comunidade fraternal
de leigos animados pela mesma vocação.
No
início, ela exprimiu-se pela visita aos pobres em seu domicílio, considerada
como o protótipo das atividades vicentinas. É preciso traduzir o seu sentido
numa linguagem mais moderna: não se trata de contentar-se com “esmolas”, mas é
necessário chegar ao diálogo pessoal com os desamparados, sem o menor traço de
paternalismo, em atitude de confiança mútua, de respeito às pessoas, bem como
ao lugar sagrado, que é o seu lar, de partilha da amizade e de reciprocidade
dos serviços prestados e de todas as delicadezas do amor.
Toda
atividade caritativa, vivificada por tal atitude, por ser considerada uma obra
da Sociedade de São Vicente de Paulo.
Essa
vocação poderia ser vivida isoladamente, mas ela não é plenamente sentida e
sustentada, senão em certa comunidade: encontra-se aí a alegria de partilhar
fraternalmente o mesmo ideal, mais completo respeito à dignidade dos pobres,
que são auxiliados anonimamente pelo grupo, do qual tanto o mais pobre como o
mais rico pode ser agente.
UMA
MOTIVAÇÃO, UMA FINALIDADE
A
fonte da vocação vicentina é, ao mesmo tempo, humana e divina: é a angústia
sentida ante o espetáculo da miséria de outro ser humano, a reação espontânea
de simpatia: é até a indignação diante das injustiças sofridas por nosso
próximo.
É também a atitude do cristão impregnada pela palavra de Deus, vivendo
da esperança do mistério pascal da Ressurreição, portadora dessa mensagem que
contém toda a fraternidade humana pelos que suportam sua cruz, pela fé nesse
mistério da presença do Cristo nos pobres.
A
finalidade é o socorro humano aos infelizes, no cuidado com a realização do seu
destino de homens; é, também, pelas únicas vias interiores da graça e do
testemunho, a salvação comum na participação do Reino de Deus.
(Preâmbulo da Regra da SSVP aprovada pelo
C.G. em agosto de 1977).
2. NÓS SOMOS UMA ASSOCIAÇÃO PROFUNDAMENTE FRATERNAL
A
CONFERÊNCIA é um grupo de irmãos que, através do encontro frequente e do
objetivo comum de servir forma
uma família realmente fraterna.
Desde
seus primeiros encontros, os fundadores da Sociedade de São Vicente de Paulo
sentiram tal conforto nessa experiência de vida comum, que se consideraram
verdadeiramente “irmãos” e instituíram o costume de reencontrarem-se, com
grande alegria, uma vez por semana. Em nossos dias, um mínimo de assiduidade e
de regularidade das reuniões continua essencial.
A
afeição mútua, a igualdade fraternal no seio da Conferência, como entre todas
as Conferências do mundo, fazem da Sociedade de São Vicente de Paulo verdadeira
“família” humana e espiritual, aberta a todos os que aspiram à sua vocação própria.
(Preâmbulo
da Regra da SSVP aprovada pelo C.G. em agosto de 1977).
3.
SOMOS UMA FAMÍLIA DE LEIGOS CRISTÃOS
LAICIDADE
= Uma Sociedade de leigos cristãos, unidos à Igreja Católica Apostólica Romana.
Apesar
de vivermos em profunda união com a Igreja, temos a nossa própria vocação,
nossas próprias regras e nossa autonomia de ação.
É
uma associação de leigos (sem que isto exclua os seminaristas, religiosos ou
padres que queiram participar da vida vicentina). Vivem no mundo, assumem
encargos e responsabilidades. Suas origens são de extrema diversidade: jovens
ou idosos, sem a menor distinção de riqueza ou de limitações, não importa qual
seja a condição social, étnica ou nacional. Basta que se entendam sobre a mesma
finalidade e compartilhem suas experiências e sua preocupação comum de servir
aos pobres.
São
homens ou mulheres, solteiros, casados, viúvos, ou mesmo casais iluminando seu
lar pelo amor ao próximo.
As
características jurídicas deste estatuto de sociedade de leigos foram
reconhecidas por diversos Papas, assim como pelos decretos e constituições conciliares
do Vaticano II, acentuando que a caridade é o pilar de todo o apostolado,
colocando no mesmo ato o destaque sobre o lugar das obras caritativas da Igreja.
A
Sociedade de São Vicente de Paulo estabelece livremente suas regras, elege seus
responsáveis com toda a independência, administra o seu patrimônio de maneira
autônoma.
Mas
trata-se de leigos cristãos: a estrutura da Sociedade está em harmonia com sua
unidade na fé cristã; batizados, filhos adotivos de Deus pela redenção realizada
pelo Cristo, membros de seu Corpo Místico, que é a Igreja Universal, aí se
encontra o sentido profundo de sua fraternidade, de seu amor aos pobres, de seu
apego à hierarquia. Embora independentes dela, como membros de um grupo de leigos,
testemunham-lhe um fidelidade ainda mais espontânea do que se lhe fossem
ligados juridicamente.
Nesse
clima de liberdade, é de tradição prestar conta da atividade vicentina ao Papa,
ao Bispo, ao Pároco e estar sempre prontos a associar a ação do Movimento à das
organizações eclesiais que o desejem. Jamais a intimidade de tais relações foi
desmentida e não se desmentirá, pois mais do que na “lei”, é no “espírito” que
ela está escrita. A Igreja tão bem o sentiu na cúpula, que jamais cessou de
renovar sua confiança na Sociedade de São Vicente de Paulo.
(Preâmbulo
da Regra da SSVP aprovada pelo C.G. em agosto de 1977).
4.
SOMOS UMA SOCIEDADE DE ESPÍRITO JOVEM
A
Sociedade de São Vicente de Paulo foi fundada por jovens e dirigida aos jovens.
O
espírito jovem independe da idade física.
A
SSVP, desde a sua fundação tem características essencialmente jovens.
- ENTUSIASMO
- DINAMISMO
- PROJEÇÃO PARA O FUTURO
- ACEITAÇÃO DE RISCOS
- CRIATIVIDADE ●●●●●
Fundada
por jovens e para jovens, cuja fraternidade se prolonga durante a vida inteira,
o espírito de juventude é uma característica original e permanente da Sociedade
de São Vicente de Paulo. Ela foi gravada desde o começo no Regulamento e aí
permanecerá. Mas é também o ponto sobre o qual é mais necessário estar
vigilante, pois a juventude do corpo se desvanece em cada um e é preciso
renová-la constantemente no nível do coração e do pensamento.
O
Espírito de juventude é o dinamismo, o entusiasmo, a projeção no futuro. É a
aceitação generosa dos riscos, é a imaginação criadora, quer dizer, acima de tudo,
a “adaptabilidade”, essa propriedade essencial da mocidade, bem mais importante
que a adaptação que se torna esclerosada, quando não se sabe mais readaptar-se.
Neste
sentido, a Sociedade de São Vicente de Paulo pode ser chamada “movimento de
caridade e de apostolado”. No entanto, a juventude de idade não basta sempre
para garantir a juventude de espírito, mas predispõe a isso. Dar amplo lugar
aos jovens, compreende-los, dialogar com paciência recíproca, conferir-lhes
encargos, ser jovens com eles, é tanto uma necessidade de recrutamento, como
exigência de fidelidade à tradição vicentina de Ozanam.
(Preâmbulo
da Regra da SSVP aprovada pelo C.G. em agosto de 1977).
5. SOMOS UMA SOCIEDADE UNIVERSAL
UNIVERSALIDADE
significa que as ações variam de acordo com as necessidades, mas mantendo o mesmo
espírito.
Na
atualidade, de fato
1. existimos em mais de 140 países
2. com mais de 200 línguas diferentes
3. temos os mesmos princípios fundamentais
4. temos programas de auxílio mútuo, como p.ex.: Jumelage 5. adaptamos nossa ação às necessidades
6. "somos todos parecidos”
7. temos uma coordenação mundial
Sabe-se
como a primeira “Conferência de Caridade” se dividiu em duas “Conferências de
São Vicente de Paulo, porque crescia desmesuradamente; depois proliferou no
mundo inteiro, como um enxame e por geração espontânea. A tristeza da separação
foi compensada por essa alegria e por este mistério: em qualquer lugar, onde o
vicentino encontre uma Conferência, acha uma família – a mesma família – não
obstante a extrema diversidade das ocupações e das particularidades nacionais.
Entre
as centenas de milhares de “confrades” e “consocias” demais de cem nações dos
cinco continentes, realiza-se a mesma vocação, a mesma regra, o mesmo vínculo,
simbolizado pelo Conselho Geral Internacional, do qual as
Conferências do mundo
inteiro recebem sua “Agregação”.
Desde
1947, a possibilidade de cumprir regularmente, em Paris ou em outra cidade,
Assembleias Plenárias reunindo os responsáveis nacionais, tem reforçado essa
unidade: a colegialidade é a regra, ao passo que o Presidente exprime as decisões
do Conselho, como representante do colegiado.
(Preâmbulo
da Regra da SSVP aprovada pelo C.G. em agosto de 1977).
6.
SOMOS UMA UNIDADE NA DIVERSIDADE
O
segredo para existir durante tanto tempo é a Unidade na Diversidade.
Unidade
de espírito + Diversidade de ação = Universalidade
A
universalidade implica, ao mesmo tempo, a unidade e a diversidade: as formas da
pobreza evoluem como o mundo. Em todo lugar, a todo momento, é necessário
imaginar uma “sondagem” da miséria e do alívio que lhe pode ser dado. A unidade
fundamental da vocação vicentina está aberta a todas as disparidades de ações
readaptadas constantemente para o mesmo fim. A sociedade permanece “una” no pluralismo
de ações.
Esta
unidade na universalidade estende-se naturalmente à abertura ecumênica da era
pós-conciliar. É um sinal providencial que, desde a primeira metade do século
XIX, apenas a palavra “cristão” tenha sido inscrita na Regra, para definir a
comunidade essencial dos vicentinos. No entanto, a Sociedade de São Vicente de
Paulo ia desenvolver-se durante mais de um século com fisionomia estritamente
católica.
Por
sua extensão e seu caráter universais, por sua franqueza e seu caráter leigo,
por sua predisposição a cooperar com todas as espécies de ações caritativas dos
cristãos e de todos os homens de boa vontade, pela própria natureza da
“caridade contra a qual não há lei”, por um apostolado de testemunho, e não de
proselitismo, a Sociedade de São Vicente de Paulo está preparada para
experiências ecumênicas. Ela as considera, ao mesmo tempo, com prudência e com
esperança. Reza pela unidade dos cristãos; tem sede dessa unidade; sente-se
chamada a contribuir para isso.
(Preâmbulo
da Regra da SSVP aprovada pelo C.G. em agosto de 1977).
7.
SOMOS UMA SOCIEDADE POBRE
● Não juntamos por juntar, mas apenas
para servir o pobre e os vicentinos da forma mais eficiente...
● Damos no dia-a-dia o que recebemos...
● As despesas de funcionamento são
reduzidas ao mínimo compatível com a eficiência...
● Temos uma administração mínima para
evitar a desordem e garantir a sobrevivência no futuro: nada de exageros administrativos.
Critério
de posse de recursos: serve ao pobre ou ao vicentino?
Aspiração
a uma vida mais evangélica
No
seio desta Sociedade de São Vicente de Paulo, cujas características
constitutivas foram aqui evocadas, seus membros aspiram, tanto quanto lhes
permite sua fraqueza, a responder à sua vocação por uma vida caritativa e
apostólica, isto quer dizer: testemunho de sua fé pelo amor pessoal aos que
sofrem. À luz das fontes evangélicas, como dos ensinamentos do Vaticano II, e
em presença deste mundo de hoje, do qual assumem o encargo como leigos, os
vicentinos redefinem sua missão e suas aspirações.
Pobreza
da Sociedade de São Vicente de Paulo
A
Sociedade é tradicionalmente pobre, isto é, não entesoura; dá, dia-a-dia, o que
recebe de seus membros e benfeitores, pouco ou muito, segundo as circunstâncias.
As despesas de funcionamento são reduzidas ao mínimo compatível com a eficacia:
não se envolve com capitais mobiliários ou imobiliários de investimento, nem
tem administração além da que é necessária para evitar a desordem.
(Preâmbulo
da Regra da SSVP aprovada pelo C.G. em agosto de 1977).
8.
SOMOS UMA SOCIEDADE FEITA DE MEMBROS COM ESPÍRITO DE POBREZA
“Não
se pode entrar em diálogo com o Pobre, senão sendo também pobres em alguma
coisa”. (Preambulo da Regra).
ESPÍRITO
DE POBREZA SIGNIFICA ESPÍRITO DE PARTILHA.
Doamos
ao Pobre e aos membros da SSVP aquilo de mais
importante que temos:
· ●nossos
POUCOS RECURSOS MATERIAIS QUE SOBRAM
Espírito
de pobreza dos vicentinos
A
palavra “pobreza” tem significado complexo e ambíguo: pode-se dizer que a
pobreza é uma condição econômica, mas pode considerar-se também que é uma
disposição interior. As traduções da Bíblia empregam a palavra nos dois
significados, que se interpenetram. Trata-se de aqui analisar brevemente a
virtude da pobreza que acompanha a da caridade.
Não
se pode entrar em diálogo com os Pobres, senão sendo também pobre em alguma
coisa. Sentir isto é uma das graças mais profundas que pode receber o
“visitador dos Pobres”. A cada um, segundo a sua vocação própria, compete ser
testemunha da primeira das beatitudes, vivendo o espírito de pobreza, inseparável
de algum despojamento voluntário ou acidentalmente sentido ou aceito de maneira
concreta e vivida.
O
espírito de pobreza é, antes de mais nada, espírito de partilha: a vontade de
não reter as riquezas sem bom uso.
Salvo caso excepcional, o “voto de pobreza”
(no sentido dos religiosos) não é algo compatível com as responsabilidades de
um leigo, mas é ainda maneira de pobreza, em sentir nossas riquezas, nossos
talentos, como dirigidos incondicionalmente ao serviço do bem comum e, antes de
tudo, ao serviço de nosso próximo mais deserdado.
O
espírito de partilha exprimi-se, pelo menos, na vontade de partilhar totalmente
alguma coisa: um dá o seu tempo e pratica a virtude da disponibilidade; outro
dá seu dinheiro; este dá seu saber; aquele que usa sua saúde; aquele outro
oferece o conforto que irradia de sua pessoa... Todo cristão, mesmo o mais
indigente, pode, sem heroísmo excepcional, participar de tais partilhas, de
tais trocas e, assim fazendo, apreende, pouco a pouco e livremente, a dar-se
ele mesmo, no sentido que lhe é revelado pelas graças pessoais que recebe. A
partilha é bem diversa de um donativo e completamente diferente da esmola; é feita
de reciprocidade e de troca.
(Preâmbulo
da Regra da SSVP aprovada pelo C.G. em agosto de 1977).
9.
SOMOS UMA SOCIEDADE MODESTA E EFICIENTE
A exemplo de São Vicente de Paulo,
procuramos juntar a modéstia à eficiência.
§
● Afastamos a publicidade que vise a
glória do que fazemos
§ ● Não buscamos grandes obras
§ ● Não buscamos a fonte de nossa vocação:
o contato pessoal
§
● Buscamos os melhores meios disponíveis
para a ação aos Pobres e aos Vicentinos
§
● Utilizamos a criatividade para
resolver os problemas e desenvolver a SSVP
§
● Adaptamos a ação à necessidade e não a
necessidade à ação
Essa
caridade vai além da esmola: implica constante disposição de humildade e de
modéstia. O contato direto com os infelizes afasta primeiramente toda publicidade
e demonstra até que ponto somos meros instrumentos inúteis, valorizados apenas
pela graça de Deus. E, portanto, é preciso ir às raízes da miséria. Muitas
vezes isto não se pode fazer sem meios poderosos. As grandes obras de beneficência
e de assistência não são próprias dos vicentinos, que nunca as procuram, pois
sabem que são pessoalmente chamados ao discreto papel de “soldado raso” na luta
contra a miséria.
Mas, se as circunstâncias os conduzem a tais obras, não as
rejeitam, mas esforçam-se por conservar aí algo do contato humano para o qual foram
formados pelo exercício da caridade vicentina.
Quanto
à publicidade, ela situa-se entre o dever de informação (“não conservar a luz
sob o alqueire”) e o dever de discrição.
(Preâmbulo
da Regra da SSVP aprovada pelo C.G. em agosto de 1977).
10.
SOMOS UMA SOCIEDADE PREOCUPADA COM A JUSTIÇA SOCIAL
a) Buscamos o conhecimento da miséria universal,
porque vamos à casa do Pobre saber suas necessidades.
b) Lutamos contra todo o tipo de
subdesenvolvimento, procurando dar dignidade ao Pobre.
C) Procuramos nos juntar a todo o tipo de instituição que partilhe do espírito de caridade e de serviço.
PREOCUPAÇÃO COM A JUSTIÇA SOCIAL, DISPONIBILIDADE EM FACE DO "DESENVOLVIMENTO SOLIDÁRIO DA HUMANIDADE"
Se é necessário ser modesto, é também preciso ser lúcido. O excesso de modéstia arrisca encobrir a expressão das respon-sabilidades de uma sociedade tornada providencialmente universal, através de tantos países do mundo: a constituição conciliar “gaudium et Spes”, as encíclicas “Mater et Magistra” e “Populorum Progressio” são elementos fundamentais de lucidez para todas as vocações caritativas, mesmo e princi- principalmente para as que desejem ser mais discretas.
Também a Sociedade de São Vicente de Paulo, em seu conjunto, e seus membros individualmente, sentem-se mais claramente interessados pelas novas dimensões da solidariedade global dos homens. Os entraves à justiça social, as misérias da fome, os sofrimentos do subdesenvolvimento, interessam a todos os vicentinos, mesmo que pareçam estar afastados no espaço. Não lhes é possível esquivarem-se a eles: a imaginação criadora deve conduzi-los a dedicar as virtudes do diálogo direto e pessoal a todos esses problemas mundiais, que não estão reservados unicamente à política internacional.
As dimensões do nosso próximo de hoje têm crescido; é preciso responder a isso. O Terceiro Mundo, por seus estudantes, seus trabalhadores, seus emigrantes, está presente no seio das cidades tecnicamente avançadas. O engajamento nas ações de cooperação pode ser considerado como uma expressão de vocação vicentina. Nas jovens comunidades cristãs dos países do Terceiro Mundo, o ideal vicentino já leva os mais pobres a socorrer eficazmente outros pobres, e a viver as dimensões do amor cristão. Tudo está por construir nesta etapa do mundo moderno.
(Preâmbulo da Regra da SSVP aprovada pelo C.G. em agosto de 1977).
De fato, no meio da caridade, da pobreza e da
justiça, existe sempre um vicentino.
CARIDADE
POBREZA <-----> JUSTIÇA
●●●●●
11.
SOMOS UMA “REDE UNIVERSAL DE CARIDADE”
REUNIDA EM TORNO DE OZANAM
OZANAM:
“Eu gostaria que o mundo inteiro fosse colocado
em uma rede de caridade”
É
esta nossa vocação: sermos uma “rede de caridade” universal em torno de Ozanam!
●●●●●
PRESENÇA
DA SOCIEDADE DE SÃO VICENTE DE PAULO NO MUNDO
Reencontrar
eficazmente os que sofrem misérias as mais diversas não é apenas tema de
meditação; é também exigência de aprendizado, de conhecimento técnico dos
problemas sociais, da psicologia dos que sofrem alguma frustração, experiência
do contato direto com os infelizes. A Sociedade de São Vicente de Paulo tem por
missão fazer desenvolver essa técnica e, como todas as organizações da igreja,
ela se faz presente e disponível, em cada um de seus membros, onde pude servir.
Toda unidade social pode ser campo de
recrutamento e de atividade de uma Conferência de São Vicente de Paulo: escola,
universidade, usina, hospital ou sanatório, mesmo prisão, etc., mas tradicionalmente
a Conferência está presente em primeiro lugar, na Paróquia, e também nas
comunidades mais diversas. Os vicentinos sabem que não têm o monopólio da
caridade, que são apenas modesta família cristã possuindo experiência
caritativa humilde e fecunda, e que por isso estão prontos a partilhá-la com
todos e para todos. Seu serviço deve exprimir-se pela orientação pastoral:
cooperar e servir, mas não desaparecer!
Sua
colaboração pode estender-se igualmente às grandes organizações, como às “Caritas”
nacionais e internacionais que empregam meios poderosos, e àquelas às quais
podem fornecer a sua experiência do contato individual.
Esta
presença e esta abertura devem manifestar-se enfim na sua família, na sua
profissão, na sua vida cívica. Ela impregna toda a vida pessoal dos vicentinos.
PROCURA
DE VIDA EVANGÉLICA, TESTEMUNHO DE ESPIRITUALIDADE E DE APOSTOLADO
A
vocação vicentina não abrange só o serviço dos Pobres, mas também a entrada em
comum no grupo: a Conferência de São Vicente de Paulo. É aí e a partir daí que,
o mais das vezes com a ajuda de um assistente eclesiástico, é explicada,
meditada, aprofundada, toda essa parte da espiritualidade que se refere às
relações entre a pobreza, a justiça e a caridade, como a que viveu São Vicente
de Paulo e que legou a seus filhos na religião. Diz-se de bom grado atualmente
que há no serviço ao próximo e sobretudo aos mais pobres, uma espécie de
“sacramento”, que é a aproximação ao Cristo sofredor, presente nos Pobres. Aí
se situa o centro da espiritualidade vicentina: ela experimenta, ao mesmo tempo, o que pode significar a
presença de Cristo na Eucaristia, como sua presença nos Pobres. Esta comporta
em valor de salvação, quer dizer, de acesso ao Reino dos Céus (Mt 25, 34-36). A
espiritualidade vicentina sente como um escândalo o fato de ser-se indiferente
à segunda, quando se tem tanta piedade pela primeira!
Cada
um aproveita, segundo a graça que recebe e o acolhimento interior que lhe
reserva. A esperança de todo vicentino, se corresponder à graça, é de chegar ao
desejo expresso em uma das orações tradicionais do fim das reuniões: “...a fim
de que, tendo dado aos Pobres de todo o coração o que possuem, terminem por
dar-se a si mesmos”: linguagem antiga que exprime a mesma aspiração à vida das
beatitudes, isto é, à vida segundo o Evangelho.
Será
um ideal excessivo e abusivamente constrangedor? Não! A Regra vicentina não
obriga em consciência, e isto pode tranquilizar os mais escrupulosos. A
experiência de mais de um século mostra que a aspiração a esse ideal de vida
evangélica é expressa, às mais das vezes, por cristãos simples, desprovidos do
menor sentimento de heroísmo: camponeses pobres de um país tropical, estudantes
oprimidos por seus estudos, operários prostrados de fadiga, responsáveis
esmagados por preocupações...
É
entre os “cristãos médios” que o sopro do Espírito Santo chama a maioria para a
Sociedade de São Vicente de Paulo, e engaja-os, à sua medida, por vezes além
dessa medida, para o serviço aos mais pobres. É um ideal de solidariedade no acesso
ao Reino de Deus; é o que há de mais antigo e de mais novo como testemunho
apostólico.
(Preâmbulo
da Regra da SSVP aprovada pelo C.G. em agosto de 1977).
PREÂMBULO:
Escrito por Pierre Chouard - Presidente Geral de 1954 a 1969.
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